29 de novembro de 2017

E não é que Froome vai mesmo ao Giro!

Chris Froome quer juntar a camisola rosa à colecção
(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Muito se tem falado de Chris Froome ir ao Giro. Parecia impossível dado o objectivo de entrar no exclusivo grupo de ciclistas que venceu o Tour por cinco vezes. Só lhe falta uma vitória. Nos últimos dois dias surgiram notícias que o britânico e a Sky estariam decididos a arriscar e ir à Volta a Itália. Esta quarta-feira, durante a apresentação do Giro101, eis que a Sky lança a bomba. Por mais que se tenha falado desta possibilidade, não deixa de ser uma surpresa. Chris Froome vai ao Giro para tentar ser o terceiro ciclista a ganhar as três grandes voltas de forma consecutiva. Nunca ninguém o fez no mesmo ano, mas Eddy Merckx fez entre 1972 e 73 e Bernard Hinault entre 1982 e 93. De recordar que a Vuelta realizava-se em Abril nessa altura.

Se se decidiu a ir ao Giro, é porque o quer ganhar e claro que entra na equação outro feito: a famosa dobradinha Giro/Tour. O britânico foi o primeiro a fazer Tour/Vuelta com a corrida espanhola na actual posição do calendário. Desde 1998 que ninguém consegue vencer em Itália e França no mesmo ano. Marco Pantani permanece como o último a alcançar o feito. Recentemente Alberto Contador tentou, ganhou o Giro, mas falhou por completo no Tour. Este ano, Nairo Quintana fez segundo em Itália e mal se viu em França... Agora o actor principal passa a ser Froome.

O britânico conta com duas passagens sem história na Volta a Itália. Em 2009 foi 35º e no ano seguinte foi excluído por se ter agarrado a uma moto. Regressa não como figura secundária da Sky, mas como a estrela maior das grandes voltas, como rei da Volta a França e que também já tem uma Vuelta. Era inevitável que tentasse eventualmente fechar o ciclo em Itália, mas colocando em risco um quinto Tour... Surpresa total! (Surpresa é a palavra que mais ocorre neste momento, mas estas reviravoltas inesperadas também contribuem para que tanto se goste desta modalidade!)

Vamos então à pergunta da praxe nestes casos: pode Froome conquistar o Giro e o Tour no mesmo ano? Resposta: pode. Também Contador o podia, tal como Quintana. Quanto a características como ciclista, os três são diferentes, mas os três têm as necessárias para enfrentar o desafio. A pergunta mais importante acaba por ser: o que diferencia Froome dos outros dois corredores? Resposta: tem toda uma Sky preparada a pensar nele - e pode muito bem ter dois grupos de colegas de elevada qualidade (com um ou outro repetente), para cada competição - e beneficia ainda do facto de ter mais uma semana para recuperar do esforço. O Tour foi adiantado uma semana devido ao Campeonato do Mundo de Futebol. E uma semana pode fazer toda a diferença... Serão seis de "descanso" em vez das habituais cinco.

Falta saber onde fica Geraint Thomas. O britânico a quem foi dada a oportunidade de liderar a Sky no Giro em 2017, queria lá regressar na mesma posição depois do frustrante abandono devido a uma queda, provocada por uma moto da polícia mal parada. A Vuelta fica agora em aberto e talvez seja a solução para manter Thomas motivado, já que certamente estará em pelo menos numa das corridas ao lado de Froome.

E por falar em momentos azarados, a Sky não tem sido nada feliz na Volta a Itália. Em 2010, Bradley Wiggins até andou de rosa, mas duas quedas numa etapa custaram a liderança e a partir daí começou a pensar no Tour. Só em 2013 a equipa regressou com intenções de ganhar, novamente com Wiggins, agora como vencedor da Volta a França. Quando se fala de mau tempo no Giro, este ano foi um exemplo. Wiggins caiu mais do que uma vez e no contra-relógio furou. O britânico ficou inseguro e a descer com chuva até media dó! Abandonou.

Em 2015 foi Richie Porte quem apostou tudo em ganhar, na oportunidade que recebeu de correr sem ser gregário de Froome. O australiano começou por chamar a atenção por ter uma autocaravana de luxo só para ele. Mas a competir foi o descalabro. Começou com um furo, cuja a roda dada por Simon Clarke valeu-lhe uma penalização, porque o ciclista era de outra equipa. Noutra etapa foi apanhado numa queda e perdeu tempo. O contra-relógio foi para esquecer e na 15ª etapa, um abatido Porte perdeu 27 minutos. Abandonou.

A Sky contratou Mikel Landa para ganhar definitivamente o Giro. A prova de 2016 não teve muita história. Abandonou na 10ª etapa devido a uma gastroenterite. Este ano surgiu numa liderança partilhada com Thomas. Os dois foram afectados pela queda devido à moto. Landa continuou até final e anda ganhou uma etapa e classificação da montanha. Porém, era o Giro que queria conquistar. Vai Froome quebrar o enguiço? (Cá está outra pergunta.)

"Sabemos que será um feito significativo na era moderna ganhar o Giro e o Tour na mesma temporada, mas alcançámos coisas este ano que me dão confiança que posso apontar às duas corridas com sucesso", explicou Chris Froome. O ciclista da Sky recorda quando viveu em Itália no início da carreira, considerando que, de certa forma, estará a fechar um ciclo. O responsável da equipa, Dave Brailsford, salientou que tem uma enorme respeito pelo desafio que irá enfrentar com Froome e não deixou dúvidas que o objectivo é fazer história: conseguir uma dobradinha que parece impossível, ganhar três grandes voltas consecutivas... e depois a quarta, ganhando o quinto Tour com Froome, igualando Bernard Hinault, Eddy Merckx, Jacques Anquetil e Miguel Indurain.

Naturalmente que muito se vai falar também de quanto estará o britânico e a Sky a receber. Há dois dias foi avançado que Israel, que irá receber as três primeiras etapas, teria oferecido dois milhões de euros para convencer Froome e a Sky. Verdade ou não, uma das maiores referências do ciclismo estará à partida em Jerusalém. Aposta mais do que ganha no investimento feito pelo país em receber a Volta a Itália.

Teremos então o frente-a-frente desejado com Tom Dumoulin, a não ser que o holandês cause mais uma surpresa e não vá ao Giro. Esteve na apresentação na condição de último vencedor, mas não confirmou se irá repetir a presença em 2018. A acontecer o desejado embate, poderá então não ser no Tour, território de Froome, como se esperava, mas sim no território do ciclista da Sunweb. Se se juntar Mikel Landa, Ilnur Zakarin (já pensa mais no Tour, mas nunca se sabe), um Thibaut Pinot em forma, os irmãos Yates ou Johan Esteban Chaves, Vincenzo Nibali... Que elenco! Fabio Aru já confirmou, Louis Meintjes também. Outras grandes figuras vão centrar-se quase de certeza no Tour, até porque pensarão que, por uma vez, podem estar mais frescos fisicamente que o crónico candidato número um, Chris Froome...

À espera dos ciclistas no Giro estão oito finais em alto e dois contra-relógios individuais que somam 44,2 quilómetros: 9,7 a abrir e 34,5 na 16ª etapa. As três etapas nos Alpes prometem.

Há que marcar na agenda: Giro101, de 4 a 27 de Maio. Pode ser um ano histórico.

»»Uma batalha nos Alpes para decidir um Giro que já é histórico««



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