17 de outubro de 2017

Um Tour para testar ainda mais Chris Froome e a Sky

É a pergunta do dia. Será este Tour mais difícil de ganhar para Chris Froome? O britânico está concentrado exclusivamente no objectivo de alcançar a quinta vitória na Volta a França e assim igualar a marca de Miguel Indurain, Bernard Hinault, Eddy Merckx e Jacques Anquetil. O percurso de 2018, apresentado esta terça-feira, segue os exemplos recentes de um Tour que se tenta aproximar da Vuelta, mas sem que consiga ter o nível de emoção e espectáculo que se tem vivido em Espanha. É difícil dizer que tal poderá acontecer ou não no próximo ano, mas no papel, esta Volta a França apresenta alguns novos desafios ao sempre favorito Chris Froome, com os seus adversários a terem a oportunidade de não deixar a balança desequilibrar tanto a favor do britânico. Porém, também há um factor a ter em conta: o britânico tem tido uma capacidade de adaptação de classe. A organização do Tour, a ASO, tenta inovar, colocando mais descidas, pavé, subidas curtas mais muito complicadas... Com maior ou menor dificuldade, a Sky e o seu líder lá foram resolvendo os problemas.

Quanto à edição de 2018, espera ao pelotão cinco chegadas em alto, mais quatro etapas de montanha; regressa o contra-relógio por equipas (terceira etapa), o pavé (nona) e o Alpe d'Huez (12ª); haverá sterrato e a grande novidade é uma curtíssima tirada de 65 quilómetros, cerca de 38 a subir. Começando por esta última. A sua apresentação até valeu aplausos. Tanto se critica o Tour de não inovar, que agora surge com a etapa mais curta de sempre (gráfico do lado direito). Será a 17ª, entre Bagnères-de-Luchon e Saint-Lary-Soulan (Col de Portet). Alberto Contador lamentou que tenha aparecido uma etapa assim quando resolveu retirar-se, enquanto os restantes ciclistas nem sabem bem o que pensar. Será curioso ver como vão as equipas preparar uma tirada tão curta. É algo novo, sem dúvida.

Já se estará nos Pirenéus, que em 2018 vão surgir depois dos Alpes, o que faz com que o Alpe d'Huez não surja numa fase tão decisiva como em 2015, quando Nairo Quintana fez uma última tentativa de assustar Froome. Ainda assim é para o britânico a etapa rainha e percebe-se porquê: em 175 quilómetros haverá um desnível de cinco mil metros a ser ultrapassado pelos ciclistas. O Alpe d'Huez marcará o final da tirada. De referir ainda que esta Volta a França contará igualmente com outra subida mítica, pois o Tourmalet manteve-se no percurso (etapa 19).

Serão duas semanas com muito sobe e desce, mas a primeira manterá a tradição de ser mais para os sprinters. A camisola amarela estará à espera de um deles logo no arranque. Etapas longas, mas que poderão ter um interesse acrescido devido à possibilidade de vento em algumas. Por isso mesmo Chris Froome disse que o que teme mais são precisamente os primeiros dias. Ao todo serão oito etapas classificadas como planas.

Mas vamos à nona tirada. Para os amantes de clássicas e principalmente do Paris-Roubaix, será um dia especial. 21,7 quilómetros de pavé, distribuídos por 15 sectores e claro que Roubaix tinha de receber o final. Aqui está uma etapa que não mete ninguém em vantagem. Talvez Tom Dumoulin possa adaptar-se um pouco melhor, mas será um dia doloroso para todos os homens da geral. É um dia que poderá acabar com as aspirações de alguns ciclistas. A ver vamos se haverá quem até vá mesmo ao monumento em Abril para tentar perceber melhor o que é pedalar no pavé a um ritmo elevado. Gianni Moscon poderá assumir uma importância grande na ajuda a Froome nesta etapa. Não é uma novidade no Tour haver pavé, mas se é apreciado por quem assiste, é temido por quem quer ganhar uma corrida. Por outro lado, Peter Sagan e Greg van Avermaet (o belga poderá ter de ajudar um pouco Richie Porte, mas será difícil não ter liberdade para lutar pela vitória), por exemplo, estarão ansiosos por esta etapa. E no dia seguinte, que tal um pouco de sterrato, ou terra batida se se preferir, para animar um pouco mais coisas?

Se o contra-relógio por equipas (35 quilómetros) assumirá grande importância, com muito trabalho a ser feito pela Movistar e AG2R para garantir que Nairo Quintana e Romain Bardet não perdem contacto com Chris Froome (Sky), Tom Dumoulin (Sunweb - equipa campeã do mundo na especialidade) e Richie Porte (BMC), o contra-relógio individual (31) terá o condão de permitir que não se verifique um desequilíbrio tão grande entre aqueles melhores nesta vertente e aqueles que basicamente tentam sobreviver. Chega a ter uma pendente de 21%. Este foi um rumor que não se confirmou, já que se falava de um contra-relógio plano. Ciclistas como os três referidos terão sempre vantagem, mas Quintana e Bardet podem pelo menos não perder tanto tempo. Claro que é na penúltima etapa, a que fechará a classificação geral, pelo que se pode dizer que estes dois ciclistas podem ter uma hipótese de defender a sua posição.

Tudo começa em na região de Vendée (7 de Julho), com Paris (29) a ser o tradicional palco final. 3329 quilómetros, um dos Tour mais curtos dos últimos anos, com alterações que serão relevantes. Primeiro, as equipas terão oito ciclistas em vez de nove (o mesmo acontecerá no Giro e Vuelta). Mais um factor que há quem pense que possa colocar em causa o domínio da Sky. Segundo, haverá bonificações perto do fim das etapas, além das da meta, mas apenas nas primeiras etapas. O objectivo é tentar que ou as fugas durem um pouco mais, ou então que alguém lance ataques à procura daqueles três, dois ou um segundo. É pena que este sistema não esteja nas etapas de montanha. Poderia animar bastante as tiradas. A luta pela camisola das "bolinhas" também será animada pelos pontos a dobrar nas etapas dos Pirenéus.

Há outra pergunta que aguarda resposta: será que Tom Dumoulin gostou do percurso? O holandês não tem presença confirmada, depois de ter dito que queria primeiro conhecer as etapas e só depois perceber se valeria a pena ir até França. Um frente-a-frente com Froome não é uma prioridade para o campeão do mundo de contra-relógio e do Giro, mas é um dos maiores desejos dos fãs da modalidade. Um pouco de suspense não faz mal nenhum!

De referir ainda, que antes da apresentação, Chris Froome foi galardoado com o seu terceiro Vélo d'Or. O prémio criado pela revista Vélo Magazine teve como primeiro vencedor Miguel Indurain (1992) e Alberto Contador é o recordista, com quatro distinções, pois Lance Armstrong perdeu as suas cinco.



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