16 de março de 2018

Todos os olhos em Sagan. Será desta?

(Fotografia: Bettiniphoto/Bora-Hansgrohe)
Não será Peter Sagan contra os outros, mas perto disso. E com o lote de candidatos que se apresenta na Milano-Sanremo, até marcado por importantes ausências, parece redutor que se fale tanto de Sagan. Mas perante tudo o que este ciclista já alcançou, todo o seu talento e qualidade e tudo o que já deixou escapar, faz de Sagan aquele corredor para que todos olham. É ele que lidera qualquer lista de favoritos, de apostas, seja que lista for que o meta como vencedor e depois de dois segundos lugares nesta corrida quer finalmente quebrar o enguiço. E o segundo posto do ano passado deixou-o bem frustrado, o que o levou até a trocar algumas palavras com quem o bateu, Michal Kwiatkowski. Chegou a altura de levar para a estrada a ambição, a frustração, tudo o que Sagan tenha que o possa colocar onde ele finalmente quer: em primeiro.

Aos 28 anos já se pensaria que o tricampeão do mundo teria um número mais interessante de monumentos, mas "só" tem a Volta a Flandres. Pela postura do ciclista, a forma como alterou a sua temporada - também pela influência de agora ser pai -, deixa antever um Sagan mais do que nunca determinado em colocar-se no lugar que ele e certamente que muitos que acompanham a modalidade sentem que o ciclista da Bora-Hansgrohe deveria estar. Pode até dizer que prefere dar espectáculo a ganhar da forma como Kwiatkowski o fez há um ano, mas o próprio já pensará que chega de trabalhar e de "ficar perto" e  depois ver outro levantar os braços.

A Milano-Sanremo é este sábado o primeiro monumento do ano a realizar-se. Muitas vezes considerada como o monumento dos ciclistas, a verdade é que a Cipressa e o Poggio também têm tendência a deixar para trás o mais puro dos homens rápidos. Michal Kwiatkowski (Sky) de sprinter nada tem e estará em Itália com o objectivo de repetir o triunfo de há um ano. E depois de um início de época com vitórias na Volta ao Algarve e Tirreno-Adriatico, o polaco está numa forma que o colocam perto do favoritismo de Sagan.

Greg van Avermaet (BMC), Arnaud Démare (FDJ) - vencedor em 2016 - e Alexander Kristoff (UAE Team Emirates) - ganhou em 2014, completam uma lista de candidatos de primeira linha, por assim dizer. O norueguês, campeão europeu, parece ter recuperado a confiança perdida na Katusha-Alpecin e está a fazer um 2018 bem mais animador, já com três vitórias, pelo que consegue novamente estar entre aqueles que ninguém vai querer dar muito espaço de manobra.

Numa corrida com 294 quilómetros, ainda mais com mau tempo à espera dos ciclistas - mas nada como em 2013, quando chuva, vento e frio (muito frio) levou mesmo à neutralização de uma parte da corrda -, as maiores dificuldades estarem quando o pelotão já tem muitos quilómetros nas pernas, abrem as portas a vários tipos de ciclistas. Vejamos o caso da Quick-Step Floors. A equipa belga tem um renascido Elia Viviani como número um, mas pode muito bem voltar a jogar com Julian Alaphilippe num ataque (foi terceiro em 2017) ou mesmo Philippe Gilbert, que está desejoso de completar os cinco monumentos. Faltam-lhe a Milano-Sanremo e o Paris-Roubaix.

Oliver Naesen (AG2R) é sempre um corredor a ter debaixo de olho. Não tem qualquer interesse numa chegada em sprint, mas pode aliar-se a quem atacar numa das subidas. Também Jasper Stuyven (Trek-Segafredo) poderá optar por táctica idêntica. É mais um belga e em boa forma. A equipa americana parecia estar a arrancar para uma boa temporada com seis vitórias até ao início de Fevereiro. Porém, John Degenkolb está outra vez "de baixa", tal como Giacomo Nizzolo. É a oportunidade para Stuyven de confirmar o que já lhe é mais do que reconhecido. Pode ser mais perfeito para ele as corridas do pavé, mas não o tirem da equação.

Vamos tentar evitar escrever aqui um testamento, portanto aqui ficam alguns nomes a ter em atenção para a corrida que terá transmissão no Eurosport2 (13:30). Matteo Trentin (Mitchelton-Scott) tem tido um início de temporada marcado por alguns azares, mas depois de ter terminado 2017 em grande, surge com liberdade para lutar pela vitória na sua nova equipa. Será provável que seja o homem para tentar escapar ao pelotão, enquanto Caleb Ewan será a opção mais viável se a chegada for em grupo.

Mark Cavendish (vencedor em 2009) vem de duas quedas em duas primeiras etapas de corridas e respectivos abandonos. Mesmo com uma costela partida vai competir. Diz que estará presente para ajudar os colegas. Pois... é um pouco difícil acreditar que vá fazer tamanho esforço por puro altruísmo, mas quem sabe a idade esteja a mudar o britânico... Edvald Boasson Hagen é talvez a melhor hipótese para a Dimension Data, ainda que o norueguês tenha começado a época mais tarde também devido a problemas físicos. Stephen Cummings é sempre homem para uma daquelas fugas... à Cummings. Fica como outsider.

Michael Matthews também vem de uma lesão, pelo que é uma incógnita como se irá apresentar. Mas terá Tom Dumoulin como homem de trabalho! Ou para uma surpresa... Por parte da Sunweb, atenção ainda a Edward Theuns. Danny van Poppel (Lotto-Jumbo), Sacha Modolo (EF Education First-Drapac), André Greipel (Lotto Soudal) - bem que precisa de um grande resultado e que falta faz este sprinter no seu melhor -, Sonny Colbrelli (Bahrain-Merida e com Vincenzo Nibali na equipa), Christophe Laporte (Cofidis e atenção a este francês), Alexey Lutsenko (Astana e numa perspectiva de um final mais selecto), Gianni Moscon (Sky e caso Kwiatkowski falhe) e Jakub Mareczko (Willier Triestina-Selle Italia) são ciclistas que apresentam argumentos.

E deixamos a supresa (ou se calhar meia) para o fim. Com duas vitórias no Tirreno-Adriatico e finalmente alcançados os primeiros triunfos pela Katusha-Alpecin, Marcel Kittel disse sim à Milano-Sanremo. Claro que para ele passar as duas dificuldades será um martírio e certo é que ninguém quererá levá-lo à meta. Kittel veio dar mais uma razão para as subidas serem muito atacadas. Mas é muito bom ver este sprinter ter o objectivo de tentar um monumento na sua carreira e só lhe ficaria bem.

Quanto a portugueses, só teremos José Gonçalves (Katusha-Alpecin). Está a tornar-se num homem de extrema confiança de Marcel Kittel, mas dêem-lhe liberdade e porque não inclui-lo na lista de outsiders. Um top dez já lhe assentaria muito bem, mas estará sempre dependente do que irá fazer Kittel.

Além de Sagan, apostar em alguém... Fica ao critério e porque não ao feeling (sensação) de cada um...

Ausências

Já aqui foram referidas as duas ausências da Trek-Segafredo, Degenkolb e Nizzolo, mas as duas principais - com todo o respeito que Degenkolb, o vencedor de 2015, merece - são Fernando Gaviria e Nacer Bouhanni. O colombiano da Quick-Step Floors queria apostar tanto nas clássicas e, diga-se, correu francamente mal. Gaviria tem dividido as quedas com as vitórias! Caiu logo na Volta a San Juan, antes das provas de um dia, e história idêntica aconteceu na Kuurne-Bruxelles-Kuurne e antes, a Omloop Het Nieuwsblad também não foi memorável. De baterias apontadas à Milano-Sanremo, talvez o principal objectivo que procurava em 2017 além das etapas no Tour, Gaviria fracturou a mão no Tirreno-Adriatico e regressou a casa para recuperar.

É uma pena não ter este enorme ciclista na Milano-Sanremo. Teremos de esperar por 2019. Já Nacer Bouhanni não sabe o que esperar. Abandonou o Paris-Nice devido a doença, disse que o médico da equipa já lhe deu alta e que até treinou. Porém, Cédric Vasseur, novo director desportivo da Cofidis, deixou-o de fora e elegeu Christophe Laporte, que já soma três vitórias este ano. Bouhanni não escondeu o desagrado e a surpresa pela decisão, mas já começa a transparecer que há mais do que uma simples decisão técnica por trás da ausência do francês em Itália. E deve ser bem frustrante para Bouhanni ficar de fora, ainda mais quando lhe está "atravessado" o que lhe aconteceu em 2016, ano em que ganhou o seu rival gaulês, Arnaud Démare (FDJ). Quando tentou arrancar para o sprint, teve um problema mecânico que o atrasou ligeiramente, o suficiente para o deixar em quarto.

Mais dois pormenores

A Milano-Sanremo vai marcar a estreia do vídeo-árbitro no ciclismo. Além dos três comissários que estarão nos carros ou motos na corrida, haverá um quarto, que estará a atento às diferentes imagens de televisão a que terá acesso. Com o recurso a este método será possível, por exemplo, excluir rapidamente um ciclista que tenha aproveitado agarrar-se a um carro para ganhar terreno, por exemplo. Normalmente são decisões feitas após a corrida, agora o infractor pode ser imediatamente "encostado". De salientar que, ao contrário do futebol, a decisão é efectiva, ou seja, o comissário que está a ver as imagens tem o poder de ditar logo a sanção, enquanto no futebol a palavra final é sempre do árbitro principal.

Outro pormenor de destaque é a presença da Novo Nordisk, equipa Profissional Continental americana, composta somente por ciclistas que têm diabetes. Será a primeira vez que tal se irá verificar na Milano-Sanremo e este convite é também um reconhecimento do trabalho que tem sido feito na Novo Nordisk para não só chamar a atenção para a doença, mas para mostrar como estes corredores podem ser atletas de alta competição e estar entre os melhores.

De recordar que a Cipressa tem 5650 quilómetros de extensão, pendente média de 4,1%, 9% de máxima. O Poggio tem 3700 metros, 3,7% de média, num máximo de 8%. Em baixo fica a altimetria do primeiro monumento do ano. E para os amantes das clássicas é caso para dizer, até que enfim!

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