14 de março de 2018

Espectáculo ou esperteza? Sagan anima contagem decrescente até à Milano-Sanremo

(Fotografia: Bettiniphoto/Bora-Hansgrohe)
Não há nada como uma troca de palavras entre dois grandes ciclistas antes do primeiro monumento do ano para animar a contagem decrescente. Peter Sagan começou, Michal Kwiatkowski respondeu e bem se pode dizer que estão abertas as hostilidades! É um aquecimento fora da estrada para a Milano-Sanremo que volta a ter o tricampeão do mundo como um dos grandes favoritos, senão o principal, mas que terá outro campeão do mundo, de 2014, como forte candidato, não fosse ele o vencedor em 2017 e estar a realizar um 2018 brilhante. Para já fica a questão: o que é preferível, o espectáculo ou esperteza?

Claro que o ideal são os dois factores coincidirem, mas se não for possível, para Sagan não há dúvidas que o importante é dar espectáculo, enquanto Kwiatkowski prefere a eficácia que a esperteza pode dar. Mas vamos à declaração que iniciou a troca de palavras: "Se analisares como o Kwiatko ganhou no ano passado... Se eu ganhar assim, não fico feliz com a minha exibição. Ou estamos a jogar de forma justa ou então é muito fácil."

Na edição passada, Sagan atacou na subida do Poggio e só Kwiatkowski e Julian Alaphilippe seguiram o eslovaco. Enquanto o ciclista da Quick-Step Floors ainda ajudou a aumentar a vantagem para os perseguidores, o polaco da Sky jogou de forma muito fria, tentando manter-se o máximo de tempo possível na roda dos colegas de ocasião. No final, um filme já muito visto: Sagan trabalhou intensamente e depois foi batido ao sprint por um ciclista que de sprinter nada tem! "Ele deve-me umas cervejas", disse então Sagan a Kwiatkowski.

Regressando às recentes declarações. O eslovaco garante que se tivesse de fazer tudo de novo, as opções seriam as mesmas. "Prefiro dar espectáculo para as pessoas e o que acontecer, acontece. Não interessa se se ganha ou se perde!" Há uma razão porque Sagan é dos ciclistas mais populares, precisamente porque dá espectáculo. E muito! Porém, é capaz de haver quem não concorde tanto com a postura de as vitórias não serem o mais importante... A Bora-Hansgrohe, a sua equipa, certamente que não se importaria nada de o ver como vencedor mais vezes, ainda que não exista actualmente um ciclista com o potencial de marketing de Sagan, mesmo que não ganhe.

O homem do contrato dos seis milhões de euros tem um currículo impressionante aos 28 anos, já tendo ultrapassado as cem vitórias, mas só tem um monumento, a Volta a Flandres. Na Milano-Sanremo soma uns quantos top dez, entre eles dois segundos para juntar a colecção que tem. Além de 2017, ficou atrás de Gerald Ciolek em 2013, na inesquecível edição em que o frio, chuva e vento obrigaram a encurtar a corrida, que chegou mesmo a estar parcialmente neutralizada.

"Às vezes não se ganha a corrida por se ser o mais forte, precisas de ser o mais esperto", respondeu Kwiatkowski quando confrontado com as declarações de Sagan. O polaco acabou de ganhar o Tirreno-Adriatico, enquanto Sagan somou mais três segundos lugares em etapas na corrida italiana. E só para juntar mais um segundo, foi essa a posição na classificação por pontos. "Eu sei o que é competir com a camisola do arco-íris. Faz parte do jogo que ele diga essas coisas. Muitos dos ciclistas colocam-no sob pressão e colocam-me a mim sob pressão. Faz parte do jogo", disse Kwiatkowski, longe de tentar alimentar polémicas.

Aliás, diga-se, que mesmo com as afirmações que fez, Sagan também procurou não criar nenhuma guerra: "Todos somos diferentes e temos personalidades diferentes. É por isso que a vida é bonita. Todos somos diferentes!" Como Kwiatkowski disse, tudo não passa dos famosos mind games (jogos mentais). São apenas pequenas pequenas provocações que ajudam a animar o ambiente antes de uma grande corrida.

Também o polaco actuará da mesma forma se assim considerar que é a melhor forma para voltar a ganhar e Kwiatkowski está super motivado para a Milano-Sanremo depois de num mês ganhar o Tirreno-Adriatico e antes a Volta ao Algarve. Quanto a Sagan, o ciclista da Bora-Hansgrohe não quer falar de tácticas, se vai ou não atacar novamente no Poggio. "Talvez vá ser mais esperto no Poggio, mas decidirei no momento, não agora", afirmou em mais uma pequena provocação.

Muito se fala sobre como a forma de correr de Sagan lhe tem custado algumas vitórias. Ao eslovaco falta acertar a dose certa de espectáculo com a dose certa de esperteza. Kwiatkowski é um ciclista completamente diferente, que jogou com as armas que tinha e bateu Sagan (e não foi vez única), mas também ele sabe dar espectáculo e já o fez em clássicas como a Strade Bianche ou na Amstel Gold Race, que já venceu. Certo, é que quando se fala de Sagan, a equipa exige-lhe vitórias, mas os adeptos esperam que nunca perca aquela veia de showman que o ciclismo tanto precisa.

E começa-se a desejar que o tempo passe rápido para a Volta a Flandres (1 de Abril) e Paris-Roubaix (8 de Abril). É que Sagan poderá ter o parceiro perfeito para atacar as corridas, pois o jovem belga Wout van Aert, da Vérandas Willems-Crelan - outro tricampeão do mundo mas no ciclocrosse -, tem demonstrado que partilha a 100% a mentalidade de Sagan. Dá espectáculo e não é claramente ciclista de ficar na roda de ninguém. Mas primeiro que venha a Milano-Sanremo, no sábado.

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