20 de setembro de 2016

A recepção digna de um grande campeão

(Fotografia: Twitter @NairoQuinCo)
Recuemos a 29 de Setembro de 2013. Rui Costa sagra-se campeão do mundo em Florença. Pela primeira vez um português veste a camisola de arco-íris, naquela que é a maior conquista do ciclismo nacional. Para muitos foi uma grande surpresa, para outros foi o culminar de uma grande temporada e principalmente de um trabalho árduo de anos de uns dos mais inteligentes ciclistas tacticamente no pelotão. Mas a maioria do país ficou surpreendido, ainda que se tenham seguido muitas reportagens, muitas opiniões, muitas mensagens a congratular o feito de Rui Costa.

Em Portugal não houve parada, ou festa no Marquês de Pombal. Como portugueses apenas consideraríamos tal estranho, afinal são festas guardadas para um Benfica campeão ou um Portugal com o título europeu. Coisas do futebol, portanto. Talvez seja por isso que ao se ver como Nairo Quintana foi recebido na chegada a Colômbia, seja inevitável pensar: "uau, fantástico!". Milhares de pessoas nas ruas da capital Bogotá, autocarro personalizado aberto para saudar o campeão, centenas de ciclistas (estamos mais habituados aos motards) a segui-lo na chegada à sua terra Boyacá. Num país onde o futebol é vivido com muita intensidade e emoção - como é imagem da América Latina - há espaço para celebrar e honrar outros ídolos de outras modalidades.

Na Colômbia o ciclismo é um desporto que soma muitos fãs e muitos praticantes e durante sete anos o próprio Estado financiou uma equipa que competiu a nível Profissional Continental. Nos últimos anos, têm sido vários os ciclistas que vão recolocando o país ao mais alto nível nas corridas mais importantes, com Nairo Quintana a ser o expoente máximo desse sucesso.

Quintana tornou-se uma referência na Colômbia que ao ver o seu ídolo vencer mais uma das provas mais importantes do ciclismo mundial, a Volta a Espanha - depois de ter ganho o Giro em 2014 -, deu-lhe a recepção merecida de um campeão, que não escondeu a emoção e um simples obrigado parecia não chegar para agradecer tamanha festa.

Em Portugal o ciclismo já viveu tempos em que eram muitos os fãs e os atletas eram autênticos ídolos. Sim, inevitavelmente pensa-se de imediato em Joaquim Agostinho, mas não só. Outros tempos, que tinham também a influência do futebol, com Benfica, FC Porto e Sporting a terem equipas na estrada. Talvez Rui Costa não precisasse de um autocarro descapotável ou de um Marquês de Pombal a entoar "campeão, campeão" - tal parece impensável acontecer em Portugal -, mas a questão é que fica sempre a sensação que não se dá o devido reconhecimento quando grandes atletas, sejam de que modalidade for, conquistam um título mundial, ou uma medalha olímpica, ou outro grande resultado.

Felizmente que tal não impede de se continuar a formar grandes atletas e o ciclismo é um exemplo disso, com cada vez mais portugueses a chegarem ao principal escalão e outros com potencial para um dia lá estarem. E até há grandes recepções, ainda que sejam mais locais. Ricardo Mestre foi recebido como um herói em Tavira quando ganhou a Volta a Portugal em 2011 e em Sobrado os seus campeões têm sido homenageados nos últimos anos, que o digam Gustavo Veloso e Rui Vinhas. São apenas dois exemplos, pois pode faltar o reconhecimento a nível nacional, mas há quem tenha sempre feito alguns campeões sentir o apoio e carinho dos adeptos desta modalidade.

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