10 de setembro de 2016

Início do reinado colombiano: Quintana o rei, Chaves o príncipe. E Froome é um verdadeiro 'gentleman'

É a segunda grande volta conquistada por Nairo Quintana (Fotografia: Team Sky)
Pode-se questionar onde esteve este Nairo Quintana na Volta a França. Mas a verdade é que o Tour terá sido uma dura lição que o colombiano claramente aprendeu. E rapidamente. Nesta Vuelta, o colombiano foi tudo e fez tudo o que deveria ter sido e feito no Tour para o tentar ganhar e no final até Chris Froome se rendeu a Quintana com um aplauso em plena meta do Alto de Aitana. O dia da consagração de Quintana é também o dia da confirmação de Johan Esteban Chaves que num ataque a 40 quilómetros da meta recuperou o terceiro lugar perdido para Alberto Contador no contra-relógio. A geração de talento da Colômbia começa a alcançar resultados e poderemos muito bem estar a assistir a um início do reinado de colombianos nas grandes voltas.

Para Nairo Quintana até é a segunda vitória numa grande volta, depois de conquistar o Giro em 2014. No entanto, a dedicação exclusiva da suas preparações para vencer o Tour afastou o colombiano de potencialmente até já ter mais um ou duas voltas garantidas. 2017 o confirmará, mas é muito possível que exista um Quintana antes do Tour de 2016 e depois desta prova. O colombiano irá enfrentar as provas de três semanas de outra forma e, aos 26 anos, tem muito tempo para cimentar o seu nome como um dos melhores da história.

Chaves fez uma etapa excepcional (Fotografia Team Sky)
E Quintana poderá muito bem ter como grandes rivais outros colombianos, a começar desde já por Johan Esteban Chaves. Mostrou-se na Vuelta em 2015 (quinto lugar), foi segundo no Giro e de regresso a Espanha foi simplesmente brilhante a forma como esteve nas três semanas, mas principalmente como reagiu à adversidade de ter perdido o terceiro lugar no contra-relógio e de ter de recuperar 1:11 minutos para um ciclista como Alberto Contador. O ataque que realizou neste sábado foi o que se pode chamar de um "ataque à Contador" e o espanhol não teve antídoto para não sofrer uma última derrota numa Vuelta que foi de luta e desilusão para o espanhol.

O ataque de Chaves comprovou ainda como a Orica-BikeExchange está cada vez melhor tacticamente e a preparar-se para ser uma séria candidata a vencer uma grande volta, ainda mais contando com o talento do colombiano. A equipa australiana colocou Damien Howson na fuga, que depois foi uma preciosa ajuda para Chaves na descida e ainda durante os primeiros quilómetros na derradeira ascensão. No grupo de favoritos, Simon Yates ia fazendo o papel de destabilizador, enquanto também testava a forma de Andrew Talansky (Cannondale-Drapac), que defendeu o seu quinto lugar.

O dia quase foi 100% de festa colombiana. Porém. John Darwin Atapuma voltou a falhar um triunfo numa grande volta (este ano soma três segundos lugares, um no Giro e dois nesta Vuelta). Parecia estar tão perto de conquistar o Alto de Aitana, mas Pierre Latour vai despontando como um dos grandes talentos franceses e a 300 metros da meta recuperou a distância que Atapuma lhe tinha ganho num ataque e no final foi mais forte perante um desalentado colombiano. No entanto, também ele realizou uma Vuelta positiva. Liderou e finalmente confirmou o talento que há muito se sabia que tinha, mas que demorava em aparecer. Não será um ciclista para ganhar uma grande volta, mas seja qual for a sua equipa em 2017 (está em final de contrato com a BMC), Atapuma tem potencial para dar vitórias e fazer grandes exibições como as do Giro e Vuelta deste ano.

Num dia de colombianos, destaque então para o jovem francês Pierre Latour (22 anos) que com esta primeira vitória numa grande volta (mais um estreante nesta edição) começa a confirmar todo o potencial que a AG2R acredita poderá render muitos mais triunfos.

Porém, foram duas atitudes de Froome que mais deram brilho a esta etapa, além do ataque de Chaves e da disputa Latour/Atapuma. O britânico sabia que Quintana era o mais forte na montanha, mas não baixou os braços. Quando faltavam 3,7 quilómetros para o fim começou a tentar com as suas famosas mudanças de ritmo. Tentou, tentou e voltou a tentar mesmo vendo que o seu rival tinha uma pedalada fácil e que não o ia largar. Quintana nunca descolou nem num milímetro. O espírito de luta de Froome é de um grande ciclista e para confirmar - como se fosse preciso - o aplauso com que presenteou o rival na meta são atitudes só ao alcance de um verdadeiro senhor... Melhor, um 'gentleman'. E ainda reforçou o gesto no Twitter:

As palavras do vencedor, com um pedido de desculpas a Froome

Há 29 anos que a Colômbia não vencia a Vuelta (então por Lucho Herrera) e a Movistar  - única equipa espanhola no World Tour - desde 2009, quando Alejandro Valverde conquistou a sua única grande volta. Quintana junta a Vuelta ao Giro (2014) e disse que este triunfo lhe deu confiança para enfrentar Chris Froome no Tour em 2017. O colombiano deixou elogios ao rival: "Estou orgulhoso por o ter batido. Ele é o maior rival e lutou muito, de forma incrível e não se pode dar-lhe um único metro."

Depois de fazer a subida na roda do britânico, Quintana acabou por sprintar e terminar à frente de Froome, até ganhando dois segundos. Uma atitude que provocou algumas críticas: "Peço desculpa se o ofendi pelo que fiz no final da etapa. Foi apenas uma acção fruto da emoção do momento." Mas este "sprint" não manchou em nada a exibição de Quintana nesta Vuelta, que agradeceu à sua equipa o trabalho feito.

Quem mais subirá ao pódio em Madrid

Na montanha, Omar Fraile (Dimension Data) conseguiu roubar a camisola a Kenny Elissonde (FDJ), vencendo a classificação por um ponto. Fabio Felline - que quase conseguiu entrar na luta pela vitória de etapa, mas não aguentou um acelerar de Latour e Atapuma - também tirou uma camisola que Alejandro Valverde usou praticamente toda a competição, ainda que esta seja uma classificação que fique em aberto para a última etapa. O italiano da Trek-Segafredo tem sete pontos de vantagem sobre o espanhol e seis sobre Quintana, que não irá certamente entrar nesta luta. Quanto às equipas, a BMC aguentou a pressão da Movistar e venceu, tendo 4:43 minutos de vantagem. 

Além da classificação por pontos, faltará apenas saber quem é o último vencedor. Será mais um estreante? É que nesta Vuelta venceram pela primeira vez numa grande volta 13 ciclistas.

Etapa 21: Las Rozas-Madrid (104,8 quilómetros)




Chegou o momento da consagração. Madrid recebe o campeão numa etapa curta, sem dificuldades e para os sprinters lutarem para subirem ao pódio no dia em que 2016 se despede das grandes voltas.


Resumen - Etapa 20 (Benidorm / Alto Aitana... por la_vuelta

Veja o resultado da 20ª etapa entre Benidorm e Alto de Aitana/Escuadrón Ejército del Aire (184 quilómetros) e as classificações da Volta a Espanha.

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