12 de maio de 2018

O dia que Carapaz não irá esquecer

(Fotografia: Giro d'Italia)
Em 2013, Eusebio Unzué ficou impressionado com um jovem equatoriano que foi figura nos Jogos Pan-Americanos de sub-23. Desde então que Richard Carapaz entrou no radar da Movistar, apenas e só, uma das melhores equipas do World Tour e que muito bem tem ajudado a formar jovens ciclistas. Três anos depois, Carapaz estava na equipa colombiana Strongman-Campagnolo Wilier (actual Bicicletas Strongman Colombia Coldeportes), quando Unzué o foi buscar como estagiário. Em 2017 assinou contrato com a Movistar e o responsável considerou que Carapaz era um diamante em bruto. Neste sábado, o ciclista escreveu um momento de história no ciclismo, ao ser o primeiro equatoriano a vencer uma etapa numa grande volta. Porém, se hoje se olha para Carapaz como um talento que começa a afirmar-se, estamos, no entanto, perante um ciclista que quase viu a carreira terminar quando ainda só sonhava com o que poderia vir a ser.

Há quatro anos, Carapaz foi atropelado e o prognóstico não era animador. Temeu-se que poderia não voltar a andar. O jovem ciclista teve a sua primeira grande batalha e venceu-a. O equatoriano é natural da província de Carchi, onde cresceu a ajudar os pais nas tarefas de campo. O site El Comercio conta como gostariam de ver o filho seguir os estudos, mas aos 15 anos ingressou na equipa Panavial-Coraje Carchense. Carapaz sabia o que queria. Um ano antes tinha conhecido a rapariga que viria a tornar-se na sua mulher e com quem tem dois filhos (um casal).

Na América do Sul, a Colômbia tem centrado as atenções do ciclismo. Actualmente já não é só um ou dois ciclistas de qualidade, pois são várias as equipas que têm colombianos prontos para ganhar. O Equador encontrou agora o seu herói e Carapaz espera que possa ser ele o exemplo a seguir no ciclismo no seu país. Para já, vai escrevendo história a cada dia que passa. No ano passado tornou-se no primeiro equatoriano a participar na Volta a Espanha. O mesmo acontece neste Giro. Na sexta-feira, após a subida ao Etna, Carapaz foi o primeiro a vestir a camisola branca, de líder da juventude. Agora venceu uma etapa e Montevergine di Mercogliano será sempre uma marca memorável na sua carreira e no ciclismo do Equador.

"Sinto-me extasiado com este triunfo. É algo que todas as crianças sonham quando começam a andar de bicicleta", disse um emocionado Carapaz, que no dia 29 celebrará o 25º aniversário. O jovem da Movistar até estava com dificuldades em acreditar no que tinha acabado de alcançar. É que não foi só o vencer. O ciclista arrancou com tremenda autoridade e se não era preocupante para nenhum dos homens da geral, aquela velocidade, aquela força quando faltava pouco mais de um quilómetro, foram uma pequena amostra da qualidade de Carapaz. Sim, uma pequena amostra. Este equatoriano ainda tem muito para dar, seja no Giro, seja no que o futuro o reserva.

Quando se estreou na Vuelta, já havia muita curiosidade a rodear Carapaz. No entanto, numa equipa sem líder, o equatoriano andou algo perdido entre companheiros que tinham liberdade para perseguir os seus resultados. A experiência não resultou para ninguém, mas no Giro tudo é diferente. Carlos Betancur surgiu como líder, mas Carapaz não foi chamado com a função de ser apenas um homem de trabalho. Pelo contrário. Ao ganhar a Volta às Astúrias ficou claro que este ciclista merecia e teria mais liberdade.

Com oito etapas realizadas, Carapaz é oitavo a 1:06 minutos, enquanto Betancur está a 1:44. A partir de agora, o jovem talento da Movistar terá mais dificuldades para fazer o que fez hoje, se se mantiver tão perto da frente. O top dez poderá estar no planos, mas a classificação da juventude será certamente um objectivo, com a luta a estar bastante aberta por agora, com Sam Oomen (Sunweb) - o melhor jovem da Volta ao Algarve - a 36 segundos e Ben O'Connor (Dimension Data), a 54.

Pouca acção a pensar no domingo. Mas Froome conseguiu ser uma das figuras


Espectacular imagem da oitava etapa do Giro101
(Fotografia: Giro d'Italia)
Era expectável que perante a longa etapa de amanhã, com 225 quilómetros a incluírem uma subida de segunda categoria e duas de primeira de forma consecutiva nos últimos 50 quilómetros, o pelotão não procurasse desgastar-se demasiado durante este sábado. Foram também mais de 200 quilómetros na bicicleta (209), com uma segunda categoria a fechar o dia. O mau tempo fez-se sentir, o que resfriou ainda mais alguma possível intenção de alguém atacar.

É o típico Giro com frio, vento, chuva, sol e calor. Na Volta a Itália apanha-se de tudo, ainda que no ano passado tenha sido algo estranho, com o bom tempo a presentar a 100ª edição. Chris Froome acabou por se destacar, mas ainda não foi desta que o fez por boas razões em Itália. O líder da Sky caiu desamparado em plena subida. Recuperou rapidamente e há que sublinhar que a resposta foi peremptória. Não demorou muito à equipa em colocar-se na frente do grupo que então perseguia os sobreviventes da fuga do dia, com Froome numa posição que é bem mais habitual vê-lo.

Ainda assim, é difícil não pensar que o britânico está a ser atingido por aquela malapata que tem afectado os líderes da Sky no Giro. Bradley Wiggins, Richie Porte, Geraint Thomas e Mikel Landa, os últimos dois em 2017... A todos algo aconteceu para os afastar da luta pela geral e só Landa chegou ao fim.

De referir ainda que a Mitchelton-Scott teve uma actuação convincente e de quem está disposta a impor-se na defesa da maglia rosa de Simon Yates. A formação australiana consegue, por agora, proteger o britânico e também Johan Esteban Chaves (terceiro, a 26 segundos e líder da montanha). Roman Kreuziger, Mikel Nieve, Christopher Juul-Jensen e um exemplar Jack Haig estão a realizar um grande trabalho na montanha.

Todos os homens da geral terminaram no grupo a sete segundos de Richard Carapaz. José Gonçalves fechou na 32ª posição, a 19 segundos. O português da Katusha-Alpecin é 21º na geral, a 2:18 minutos de Simon Yates.

Nona etapa: Pesco Sannita-Gran Sasso d'Italia (Campo Imperatore), 225 quilómetros



Mesmo que o mau tempo possa aparecer de novo, com o segundo dia de folga à porta, é altura para uns tentarem recuperar tempo - sempre a insistência na necessidade de Miguel Ángel López em reduzir os 2:12 - e outros para tentar aumentá-lo. Naturalmente que é Simon Yates o mais interessado nesta parte. O britânico tem repetido que tem de ganhar segundos a pensar no contra-relógio. É só na 16ª etapa, mas os dias passam rápido e há que agarrar todas as oportunidades...

Em baixo, o gráfico da última subida. Muito constante, sem grande dificuldade (tirando os quilómetros que os ciclistas já terão feito e as duas subidas anteriores!), mas a parte final ultrapassa os 8%, chegando a ter 10% e uma máxima de 13%.



Pode ver aqui as classificações completas.




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