15 de maio de 2018

Chaves nem sabe o que aconteceu. Mitchelton-Scott forçada a mudar a táctica

(Fotografia: Giro d'Italia)
A espera foi longa. 25 minutos desde que Matej Mohoric (Bahrain-Merida) festejou a vitória de etapa até um desiludido Johan Esteban Chaves cortar a meta. 25:25, mais precisamente, ainda que pouco importe mais ou menos segundos perante tanta perda de tempo. Um ciclista que é tão conhecido pelo seu sorriso rasgado, irá demorar a encontrar razões para o mostrar novamente neste Giro. Era segundo classificado, a 32 segundos do companheiro de equipa, Simon Yates, quando a corrida foi para o seu segundo dia de descanso. Os planos da Mitchelton-Scott poderiam incluir jogar com estes dois excelentes ciclistas para garantir a vitória na grande volta. Agora é preciso repensar as ideias. Repensar a táctica. Chaves está completamente fora da discussão e de candidato passará a gregário. A estrada tratou de esclarecer quem é o líder na equipa australiana e a Chaves não deverá restar muito mais que não seja estar ao lado de Yates.

Já com uma etapa ganha, o colombiano arrisca a nem sequer ter a oportunidade de tentar procurar mais um triunfo. Yates também ganhou uma, o que faz com a Mitchelton-Scott só queira pensar em garantir a maglia rosa. Agora é tudo o que interessa. A classificação da montanha poderá se um bónus, mas dificilmente um objectivo principal (Yates lidera com 55 pontos, com Chaves a ter 47). Muito se fala que o dia de descanso faz por vezes mal a alguns ciclistas. Os responsáveis da equipa garantiram que o seu corredor não deu indicações de ter algum problema, mesmo antes de começar a etapa mais longa do Giro. Foram 244 quilómetros (mais cinco do que os estavam previstos no gráfico disponível ontem), com uma segunda categoria logo a começar, antes dos primeiros dez quilómetros. Foi logo aí que tudo de desmoronou para Chaves.

Caiu? Estava doente? Estava mal colocado? Eram tantas as dúvidas e só a da queda foi rapidamente esclarecida. Essa possibilidade foi afastada durante a etapa. "Ainda temos de compreender os meus problemas. Simplesmente não tive força e não consegui ficar com os melhores na primeira subida", desabafou no final um frustrado Chaves, que viu esfumar-se um dos objectivos da temporada, lutar pelo Giro. "Tenho uma difícil relação com Itália. É de amor e ódio. Há uns dias estava a viver um dos melhores dias da minha carreira e agora é duro para o meu moral", disse à Rai.

Apesar de inicialmente ainda ter tentando recolar no grupo de favoritos, com uma ajuda da Quick-Step Floors que procurava levar à frente o seu sprinter Elia Viviani, quando a equipa belga abandonou a perseguição, também não demorou muito à Mitchelton-Scott a fazer o mesmo.

É um rude golpe nos planos da equipa, mas como tanto o ciclista, como os directores salientaram, nada muda. No aspecto de ter Simon Yates de rosa, de facto, nada muda. O britânico continua a mostrar que está bem e foi inclusivamente buscar mais segundos de bonificação no sprint intermédio. Porém, tudo estava a correr muito bem à Mitchelton-Scott e o que aconteceu a Chaves é a dolorosa lembrança que tudo muda num instante. Já não será possível ter duas armas para "atirar" aos adversários. Agora será a disputa mais normal entre equipas e, quando chegarem os momentos decisivos, os seus líderes.

Será preciso perceber se Chaves está em condições para se tornar num gregário de luxo para Yates, ou se tem algum problema que o continue a limitar. A equipa quererá manter a ter um bloco unido em redor (a partir de agora somente) de Yates. Será uma situação a gerir também psicologicamente. Se tudo estava a correr bem, será um teste importante de passar agora que enfrenta uma enorme contrariedade.

O que custa a Chaves e à Mitchelont-Scott, é um ânimo extra para as equipas adversárias. Não é muito habitual ver praticamente todas as que têm um homem para a geral a revezarem-se na frente para garantir que não só Chaves não recuperasse, como para aumentar o máximo possível o tempo, garantindo que ficava mesmo como uma carta fora do baralho. E muitas das formações até tinham ficado com vários ciclistas também para trás, mas a união fez mesmo a força.

A queda na geral de Chaves (de segundo para 39º) permitiu que Tom Dumoulin regressasse ao segundo lugar, ainda que tenha perdido mais uns segundos devido às bonificações de Yates. Está a 41 e não ganhou para o susto quando furou e teve de recuperar numa altura em que o grupo seguia a grande velocidade. Os maiores testes do holandês da Sunweb vão chegar já nas etapas do fim-de-semana, nas quais haverá expectativa para ver Thibaut Pinot (Groupama-FDJ). O francês anda atrás da bonificações como Yates e esta terça-feira até sprintou com o britânico. Perdeu, mas os 46 segundos ainda não são uma enorme preocupação. Pinot continua a parecer ser quem está com maior capacidade para fazer frente a Yates.

A segunda semana do Giro começou então com uma etapa que alterou mais a corrida do que se esperava. Para Chaves foi muito mau. Para a emoção da corrida, não melindrou em nada e este Giro cresce de interesse a cada etapa que passa.


Esta quarta-feira será, na teoria, menos dura. No entanto, haverá um sobe e desce constante (ver imagem em cima). São menos quilómetros que esta terça-feira: "só" 156 entre Assisi e Osimo, com duas terceiras categorias e uma quarta no final. Mas, no Giro não há descanso. Na segunda subida, de 1800 metros, haverá uma parte com 16% de pendente. No final a mesma pendente volta a surgir e poderá proporcionar alguns ataques para tentar conquistar mais uns segundos. Depois de um dia tão duro - o mau tempo regressou e dificultou ainda mais a missão do pelotão -, não será de afastar que uma fuga possa ter uma oportunidade de vingar novamente.

José Gonçalves fechou em 10º, entrando inserido no grupo de favoritos, é 20º na geral, a 4:35 e continua a espreitar a possibilidade de vencer uma etapa. O perfil da tirada 11 poderá ser interessante para o português da Katusha-Alpecin. Pode ver aqui as classificações.




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