15 de março de 2018

Não mexam no Giro e na Vuelta... ou então, mexam também no Tour

(Fotografia: Giro d'Italia)
A sugestão de reduzir a Volta a Itália e Espanha para no máximo 17 dias não foi recebida com agrado, principalmente pelos organizadores das duas grandes voltas. Ambos defendem a importância que as corridas têm actualmente a nível desportivo e financeiro. Para Mauro Vegni, se for para mexer nas duas provas, então o Tour não pode ficar de fora: "Se eles [UCI] conseguirem demonstrar a validade [da redução], então poderemos considerar [a hipótese], mas também terá de ser para o Tour, senão é como se todas corridas as fosse alteráveis menos as francesas!"

Um recado bem claro para o presidente da UCI, o francês David Lappartient, que foi quem adiantou a ideia de reduzir o Giro e a Vuelta, mas considerando que a Volta a França é "o evento mundial de ciclismo" e que não deve ser alterado. "Estamos a caminhar para um mundo onde só o Tour importa. Não gosto disso", salientou Vegni, director do Giro, em declarações ao Cycling Weekly. Javier Guillén, responsável da corrida espanhola, foi o primeiro a responder a Lappartient: "A Vuelta e o Giro são monumentos do ciclismo que crescem a cada ano a nível desportivo, social e mediático. Seria um erro tirar-lhes dias de competição."

À agência EFE, citado pelo As, Guillén afirmou não perceber porque razão o presidente da UCI tem esta pretensão, considerando que se viesse a acontecer a redução de dias, tal poderia prejudicar "a possibilidade de crescimento das marcas que apoiam esta modalidade e as equipas".

Mauro Vegni referiu precisamente como a parte financeira pode ser colocada em causa. "Somos um negócio. Ele [Lappartient] pode provocar-nos danos económicos por dizer coisas dessas", realçou. O director do Giro acrescentou que gostaria que Lappartient consultasse primeiro os organizadores. Mesmo tendo falado publicamente sem conversar antes com os visados, o responsável da UCI disse na altura que qualquer possível alteração teria sempre de passar pelos organizadores do Giro e Vuelta.

As mudanças no ciclismo não é algo que Vegni esteja contra. O próprio recordou como até há pouco mais de dez anos a Volta a Itália terminava em Junho, por vezes até já durante a segunda semana do mês. "Antecipámos [a data], mas isso não significa que estejam mais ciclistas a fazer o Giro e o Tour. Se calhar há menos", disse.

Segundo Guillén, a Vuelta foi mesmo o segundo evento de ciclismo mais visto em 2017, só ultrapassado pelo Tour. No entanto, algo que talvez seja mais difícil de medir, seja o sucesso entre os amantes da modalidade. A corrida espanhola tem sido cada vez mais elogiada por quem assiste, cuja a aposta em etapas de muita montanha ou então com chegadas em alto, tornou-a diferente das outras duas grandes voltas. Também os ciclistas - mais os trepadores, não tanto os sprinters que criticam um percurso pouco dado para eles - estão cada vez mais rendidos. Os grandes nomes colocam cada vez mais a Vuelta como objectivo.

Também o Giro tem vindo a ganhar terreno. Mesmo por vezes não conseguindo chamar o pelotão do Tour ou mesmo da Vuelta, tem sido palco de dias de muito espectáculo, algo que tem faltado à histórica volta francesa que vive cada vez mais precisamente dessa sua história, da sua tradição. Falta-lhe a incerteza do resultado, as etapas de grande espectáculo, os ciclistas arriscarem mais em ataques... E como aqui já foi escrito, a culpa não é só do controlo da Sky.

Esta intenção de Lappartient não é inédita e foi levantada há poucos anos, mas acabou por nunca avançar. E esta não é a única ideia do presidente da UCI que está a encontrar resistência. Depois de reduzir o número de ciclistas nas grandes voltas de nove para oito e de oito para sete nas restantes competições, o responsável quer ainda menos corredores por equipas. Já este ano algumas estruturas cortaram não só no número de atletas, mas também nos elementos do staff, pelo que a pretensão de reduzir ainda mais os ciclistas por parte da UCI, está a levantar questões como os postos de trabalho que estão a ser colocados em causa. Muitos consideram que a nível competitivo não há muito a ganhar com esta diminuição.

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