2 de março de 2018

Ivo sorri, é um orgulho e um feito ganhar uma medalha de prata nos Mundiais

(Fotografia: Simon Wilkinson/Federação Portuguesa de Ciclismo)
Aquelas horas entre a qualificação e a final pareceram intermináveis. Para agravar a ansiedade, eis que há uma queda na corrida de eliminação das senhoras, a contar para o omnium, que obrigou a uma paragem algo longa. O programa atrasou, pois claro! Depois de se ver João Matias na corrida por pontos, já só se queria o grande momento. Aquele momento em que Ivo Oliveira tinha a camisola de campeão do mundo à distância de quatro quilómetros. O problema é que também Filippo Ganna via essa camisola à mesma distância! Era a repetição da final dos Europeus de Outubro, mas Ivo estava determinado a escrever um final diferente.

Um pequeno enquadramento: Ivo fez o melhor tempo nas qualificações, 4:12.365 minutos, menos 1,257 que Ganna. Em Outubro viu-se na mesma posição, mas com 4:14.570. Então foi um tempo espectacular. De nível mundial. O que dizer então do que fez esta sexta-feira?... Era permitido a todos sonharem. Ivo tem apenas 21 anos, mas a evolução que tem tido na pista, coloca-o entre a elite, mesmo que só tenha começado a competir a este nível recentemente.

Mas regressemos à corrida de perseguição individual. Ivo Oliveira começou muito bem, ao contrário do que tinha acontecido nos Europeus, onde logo nos primeiros metros começou a perder tempo, que já não conseguiria recuperar. Não. Desta feita Ivo partiu forte, ganhou cerca de um segundo. A distância era animadora, mas nesta prova não é garantia de nada. Na luta pela medalha de bronze, o russo Alexander Evtushenko esteve quase dois segundos atrás do britânico Charlie Tanfield e, ainda assim, foi quem no fim subiu ao pódio.

Ganna tem mais competições nas pernas, tanto na estrada, como nestes Mundiais. Porém, apesar de ter a mesma idade de Ivo, a experiência já é outra. Quando começou a recuperar, durante o segundo quilómetro, não mais parou de tirar tempo e quando passou para a frente, a superioridade tornou-se por de mais evidente. No final, Ivo fez 4:15.428 e Ganna 4:13.607.

(Fotografia: Simon Wilkinson/Federação Portuguesa de Ciclismo)
Quase se cai na tentação de dizer que a ansiedade deu lugar ao desânimo. Mas não. Estava-se a assistir a um momento histórico. Ivo Oliveira tinha assegurado a primeira medalha para Portugal nuns Mundiais. Quando em 2010 o projecto de pista arrancou em força, talvez poucos esperassem que tão rapidamente se estivesse a tirar estes dividendos. Os gémeos Oliveira têm conquistado medalhas, títulos e outras grandes vitórias na pista, numa vertente tão esquecida em Portugal e que agora vai ganhando uma vida em que se espera muito sucesso. Sim, queremos ver pelo menos um português nos Jogos Olímpicos.

Ivo Oliveira ganhou a medalha de prata. É assim que teremos de recordar este momento de ciclismo de pista. Ao vê-lo determinado a pedalar no velódromo de Apeldoorn, na Holanda, fica a inevitável sensação que estamos apenas nas primeiras páginas de uma história que trará grande resultados e, há que acreditar, a camisola de arco-íris. E porque não uma medalha olímpica... Mas vamos com calma! No final, Ivo bateu com a bicicleta. Era natural a frustração. Contudo, ao receber a medalha beijou-a, com o passar do tempo, essa frustração deu lugar ao orgulho que Ivo tem todas as razões para sentir.

Ao Ivo ficam os parabéns pela excelente prestação, um dia depois do irmão, Rui, ter feito então a melhor classificação de sempre de Portugal em Mundiais de elite, com o quinto lugar no scratch. Os gémeos têm feito uma carreira sempre com a curiosidade: quando um faz um grande resultado, o outro trata de ir fazer melhor e assim sucessivamente. Ivo detinha a melhor classificação nuns Mundiais (sexto na perseguição individual em 2017), Rui tratou de a bater na quinta-feira com o quinto lugar no scratch. Ivo respondeu em grande estilo.

Rui não terá a oportunidade de tentar algo ainda mais histórico já este sábado, como estava previsto. O ciclista apresenta sintomas gripais. Já correu assim no scratch (e foi quinto!), mas o seleccionador Gabriel Mendes, vai poupá-lo, substituindo-o por Ivo. As provas do omnium começam às 13:40.

Não vamos esquecer João Matias. O ciclista tem apostado muito na pista e conseguiu o objectivo de melhorar o resultado de há um ano na corrida por pontos, de 19º passou a 14º, numa prova ganha pelo australiano Cameron Myer... pela quinta vez!

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