31 de março de 2018

Na Volta a Flandres não serão todos contra Sagan. O principal alvo será outro

Philippe Gilbert venceu a Volta a Flandres em 2017. Este ano é novamente
candidato, tal como quase todos os seus companheiros de equipa
Por uma vez não se pode dizer que será todos contra Peter Sagan. Pode estar inevitavelmente no topo da lista da favoritos na Volta a Flandres, contudo, esta época de clássicas tem sido marcada pela falta de um ciclista dominador, como foi Greg van Avermaet em 2017, por exemplo. No entanto, uma equipa que está a ser simplesmente irrepreensível e quase não houve clássica belga que lhe escapasse. A Quick-Step Floors será um alvo a abater porque dos sete corredores inscritos, quatro são candidatos e é melhor não tirar os olhos dos restantes três. É uma das edições em que não se pode destacar claramente um ou dois ciclistas. São vários os que surgem em condições de ganhar, mas falta saber como se irá jogar contra uma equipa tão perfeita neste tipo de provas e que irá obrigar os adversários a terem de controlar praticamente todos os seus corredores.

Esperam-se 264,7 quilómetros muito intensos entre Antuérpia e Oudenaarde. E fica já a boa notícia: o Eurosport vai transmitir toda a corrida, devendo começar às 9:15 (hora portuguesa, mais uma na Bélgica), com a prova a arrancar meia hora depois.

O circuito final que inclui duas passagens no Kwaremont e Paterberg é um momento muito esperado, mas é difícil, mesmo impossível, prever como estará a corrida quando aí se chegar, pois nessa altura já se estará a cerca de 50 quilómetros da meta. Há um ano foi quando faltavam cem que as movimentações começaram a revelar-se decisivas para Philippe Gilbert. Aos 121 quilómetros haverá uma primeira passagem no Kwaremont antes das duas da fase final. Esta subida tem 2,2 quilómetros, pendente máxima de 11,6%, mas média de 4% e tem uma parte em alcatrão e outra em pavé.

O Kapelmuur esteve ausente do percurso durante cinco anos, mas regressou em 2017 e volta a ser incluindo na edição deste domingo. Vai surgir a 95 quilómetros da meta e aqueles 750 metros, que chegam a ter 20% de inclinação, costumam ajudar a seleccionar quem estará em condições de discutir a corrida. Regressando ao conjunto Kwaremont/Paterberg, se a primeira subida é mais extensa e com uma pendente mais simpática, apesar de tudo, a segunda é de grande intensidade: 360 metros, com 12,9% de média e 20,3% de máxima. Em baixo fica a altimetria da 102ª Volta a Flandres, contudo, para conhecer em pormenor todas (e são muitas) as dificuldades da corrida, então carregue neste link e veja no site oficial o percurso que espera o pelotão.


Os candidatos

O principal, ou melhor, a principal, é a Quick-Step Floors. Desta feita é uma equipa que tem de surgir como a mais temível em vez de uma individualidade. Nesse aspecto, Sagan e Avermaet - o belga ainda sem vitórias nas clássicas em 2018 - são os crónicos candidatos, juntamente com Gilbert e Sep Vanmarcke (já se sabe que confirmar créditos de vencedor não tem sido fácil para o ciclista da EF Education First-Drapac powered by Cannondale, mas também a Avermaet custou-lhe começar a ganhar e depois foi o que se viu).

Este ano Tiesj Benoot  (Lotto Soudal) entra definitivamente no lote de candidatos de primeira linha. E não podia faltar Michal Kwiatkowski, da Sky, e Oliver Naesen, da AG2R. Jasper Stuyven está em boa forma, o mesmo não se pode dizer do colega da Trek-Segafredo, John Degenkolb. Os dois ficam numa segunda linha de candidatos, com o belga está ali bem perto da primeira. Ainda da Sky, atenção a Gianni Moscon e é melhor ninguém se distrair com Dylan van Baarle.

Edward Theuns (Sunweb) não deve passar despercebido. O belga está a precisar de um grande resultado para subir na lista de candidatos, mas qualidade não lhe falta para este tipo de corridas. Arnaud Démare é dos ciclistas que tem tido uma equipa, a FDJ, a dar-lhe um bom apoio, mas na Flandres a vida nunca é fácil para os blocos controlarem. Ainda assim o francês tem estado a melhorar no pavé, mas os muros na Bélgica têm tendência a complicar as ambições de Démare. Paris-Roubaix encaixa melhor nas suas características, como mostrou no ano passado (foi sexto). Ainda assim, não se pode afastar por completo a sua candidatura na Flandres.

Falta o outsider dos outsiders e que só não está junto de Sagan e companhia, porque está a dar os primeiros passos a este nível e ainda há que mostrar que consegue manter os bons resultados. Mas certo é que talento não lhe falta e Wout Van Aert já é um ciclista belga que muito entusiasma. Ganhar a Volta a Flandres não seria uma surpresa total. Será que alguém ainda acredita que ficará na Vérandas Willems-Crelan em 2019?

Para terminar a lista dos candidatos... a principal candidata. A Quick-Step Floors venceu sete corridas de um dia na Bélgica e só Niki Terpstra repetiu os festejos. Peter Sagan intrometeu-se neste domínio ao bater Elia Viviani na Gent-Wevelgem. Terpstra estará presente, assim como Philippe Gilbert, vencedor do monumento no ano passado. Aquela fuga solitária de 50 quilómetros ficará como um dos grandes momentos do ciclismo. Segue-se Yves Lampaert. O belga foi decisivo em ajudar Terpstra em Harelbeke e depois ganhou pelo segundo ano consecutivo a Dwars door Vlaanderen (Através da Flandres). O checo Zdenek Stybar afirmou que espera que neste domingo ou então no próximo, no Paris-Roubaix, possa festejar uma vitória nestas corridas míticas.

Iljo Keisse, Tim Declercq e Florian Sénéchal até podem ser vistos mais como homens de trabalho, mas nesta Quick-Step Floors todos trabalham e todos têm a sua oportunidade de ganhar. Nunca é de mais recordar que a equipa belga soma 20 vitórias em 2018, distribuídas por 10 ciclistas.

Apenas uma referência a Vincenzo Nibali que tem recebido muita atenção. O italiano da Bahrain-Merida vai estrear-se na Volta a Flandres aos 33 anos e mesmo que não seja visto como favorito, é um ciclista que pode não conhecer os muros e o pavé do monumento, mas vai estar certamente a ser controlado pelos adversários.

Os portugueses

Aparecem no final do texto não significa que não tenham hipóteses. Pelo contrário, é como que deixar o melhor para fim, ou seja, o sonho de ver um ciclista português pelo menos no pódio. Que bom seria que José Gonçalves tivesse liberdade e é bem provável que assim seja. Tony Martin surge como líder da Katusha-Alpecin, mas uma corrida como esta encaixa melhor no gémeo de Barcelos. Gonçalves irá fazer a sua estreia no monumento da Flandres e a falta de experiência poderá ser um handicap. Porém, a sua qualidade compensa este factor. Há que não esquecer que foi 11º na primeira Strade Bianche que fez.

Já Nelson Oliveira conhece bem esta corrida e conta com dois top 20. É uma prova que aprecia muito e o ciclista da Movistar tem mostrado que está a subir de forma rumo precisamente à Volta a Flandres. Entrar no top dez não seria surpresa nenhuma e se a sorte estiver do seu lado - se há provas em que este factor é quase tão importante como a condição física, são as do pavé -, atenção a Oliveira. A sua lado estará Nuno Bico, que procura um resultado positivo que o lance para uma boa temporada, que não tem sido fácil.

»»Nibali pode igualar feito de há 46 anos na estreia na Volta a Flandres««

30 de março de 2018

Nibali pode igualar feito de há 46 anos na estreia na Volta a Flandres

(Fotografia: © Bahrain-Merida)
Vincenzo Nibali conseguiu retirar um pouco das habituais atenções em Peter Sagan, Philippe Gilbert, Greg van Avermaet e o restante contingente (grande parte belga) que atacará a Volta a Flandres e que na fase das clássicas do pavé são reis. O italiano quis ir até à mítica corrida e pode igualar um feito que ninguém repete há 46 anos. Porém, mostra-se cauteloso e lá vai dizendo que não vai arriscar uma época na Volta a Flandres. Alejandro Valverde disse o mesmo quando esteve na Dwars door Vlaanderen e depois fez uma excelente corrida, com um 11º lugar a deixar todos a desejar vê-lo no monumento. O espanhol talvez para o ano, mas neste domingo, ninguém acredita que Nibali deixará de lutar por uma vitória, se conseguir "inventar qualquer coisa", como disse o italiano.

Começando pela marca que está intocável há quase cinco décadas. Foi em 1971 e 1972 que pela última vez um ciclista conquistou três monumentos consecutivos, então a Liège-Bastogne-Liège, Lombardia e Milano-Sanremo. Nibali venceu a Lombardia (pela segunda vez na carreira) em Outubro - último monumento do ano - e bateu uma concorrência de luxo de sprinters, e não só, com um arranque fenomenal a caminho de Sanremo, há duas semanas, no primeiro monumento de 2018. Agora tem a Flandres no horizonte. Se vencer iguala... pois claro: Eddy Merckx. Quem mais!

Esta época os chamados voltistas têm andado pelo pavé, para prepararem a etapa de Roubaix da Volta a França. No entanto, ir a um monumento é mais do que treinar para o Tour. Ainda houve alguma dúvida se o italiano iria mesmo ser o líder, mas isso é certo, com a Bahrain-Merida a levar uma equipa com o intuito de proteger Nibali, ainda que tenha outras alternativas, como é o caso de Sonny Colbrelli e Heinrich Haussler.


Equipa da Bahrain-Merida para a Volta a Flandres (Imagem:  © Bahrain-Merida)

Aos 33 anos, o italiano está a viver uma nova experiência e há muitos segredos a desvendar na Flandres para um estreante, mesmo que já tenha uma longa carreira. Tem 32 presenças em monumentos, mas nenhuma nas duas do pavé. No entanto, não se pode dizer que Nibali não saiba andar no empedrado. Quando em 2014 ganhou a Volta a França, nessa edição houve uma etapa neste tipo de piso e o ciclista, então da Astana, bateu alguns dos especialistas. Esta sexta-feira foi dia de reconhecer a fase final do percurso, com Nibali a protagonizar um momento insólito na conferência de imprensa horas depois. Kwaremont e Paterberg são nomes bem conhecidos da Volta a Flandres, mas o italiano não conseguiu lembrar-se do primeiro.

Depois de pedir desculpa pelo lapso, o italiano salientou como a sequência de subidas no final endurece muito a corrida e espera poder contar com a experiência de alguns companheiros da equipa, já que não conhece bem a Flandres. Será uma estreia ambiciosa como Nibali sempre encara qualquer desafio a que se propõe, mas também cautelosa, pois o ciclista não quer arruinar a temporada com uma queda grave. Quanto a tácticas, parece que ideias não faltam, mas... "Ao andar no pavé esta manhã tive muitas ideias, contudo, penso que é necessário conhecer uma corrida como esta antes de avançar com uma ideia ou inventar qualquer coisa. A minha condição [física] é boa e talvez eu seja capaz de inventar qualquer coisa. No entanto, penso que na Flandres pode-se inventar muito pouco."

Este ano, Nibali voltou a colocar o Tour como principal objectivo nas grandes voltas. Porém, também resolveu tentar aumentar a sua conta de monumentos. A Liège-Bastogne-Liège surgia como uma das principais corridas de 2018. Vencer a Milano-Sanremo foi um daqueles bónus que não contava e vencer na Flandres será algo de excepcional. Está longe de surgir entre os favoritos, mas quando o "Tubarão" planeia a atacar uma corrida, então é melhor que ninguém o perca de vista.

»»Nibali surpreendido com dureza do percurso dos Mundiais««

»»Nibali deixou todos a verem-no pelas costas numa grande vitória frente aos sprinters««

Antigo ciclista da Efapel atropelado em Espanha e dois colombianos agredidos em Itália

(Fotografia: © Burgos BH)
Os últimos dias têm sido tristes para o ciclismo. Dois colombianos foram agredidos enquanto treinavam em Itália, um corredor espanhol que já representou a Efapel chocou de frente com um automóvel que circulava fora de mão e uma paraciclista morreu numa colisão com um camião. Nestes dois países tem crescido movimentos que apelam a uma maior segurança na estrada, sendo que em Espanha a luta tem sido intensa. #PorUnaLeyJusta tem sido a causa que está a apelar junto do governo a penas mais pesadas.

Esta sexta-feira, Diego Rubio, companheiro de José Mendes na Burgos BH e que em 2014 e 2015 representou a Efapel, publicou uma imagem no Twitter a mostrar o seu capacete partido depois de ter chocado de frente com um automóvel. O ciclista espanhol, de 26 anos, treinava em Navaluenga, zona de Ávila, quando o carro saiu da sua faixa. Rubio não conseguiu desviar-se e acabou por embater de frente. Já o companheiro que estava com o corredor teve mais sorte e evitou o embate. O ciclista foi transportado para o hospital, mas já garantiu que está bem, sem nada partido. "Seguimos sem endurecer as regras na estrada?" Lê-se na mensagem deixada por Rubio.

Na terça-feira, Daniel Martínez e Kristian Yustre foram agredidos por um condutor, num incidente que faz lembrar o que aconteceu no ano passado com Luís Mendonça e que afastou o ciclista do Louletano-Hospital de Loulé da Volta a Portugal. Os dois jovens colombianos, de 21 e 24 anos respectivamente, treinavam em Pistoia, na região da Toscana quando um condutor partiu para a agressão. Martinez chegou mesmo a perder a consciência.

Martinez e Yustre estavam acompanhados por outros dois ciclistas. O primeiro explicou ao El Tiempo o que aconteceu: "Estava a trabalhar e um carro queria praticamente matar-nos. Protestámos e ele ficou louco. Saiu do carro e agrediu-me, deu-me um murro e deixou-me KO. A um companheiro [Yustre] abriu-lhe o lábio e depois fugiu." A situação de Martinez foi preocupante, pois o ciclista da EF Education First-Drapac powered by Cannondale chegou a perder a memória.

Ao mesmo jornal, Yustre explicou que o compatriota já está a recuperar da amnésia, mas na terça-feira viveu momentos difíceis. O corredor da equipa italiana Amore & Vita-Prodir contou que algumas pessoas que estavam perto do local do incidente sabem quem é o homem e que ele e os companheiros apresentaram queixa na polícia. Yustre e Martinez foram levados para o hospital. O segundo passou lá na noite, mas ambos já estão em casa a recuperar. A formação americana que este ano contratou Martinez, ainda não sabe quando o seu ciclista poderá voltar à competição.


Novamente em Espanha, na quarta-feira o campeão nacional de 2016 de paraciclismo, José Angel Aceitón Chaparro, morreu após uma colisão com um camião, em Badajoz. A informação foi avançada pela Guarda Civil espanhola, mas não foram divulgados pormenores do acidente. O atleta tinha 34 anos.

Em Janeiro, Laurens De Plus e Petr Vakoc foram atropelados durante um treino na África do Sul e ainda estão a recuperar. Ainda não se sabe se Vakoc irá competir este ano. Bob Jungels treinava com os colegas da Quick-Step Floors, mas não foi afectado. O luxemburguès deixou uma mensagem a apelar ao respeito de todos os que andam na estrada, seja em que veículo for: "Todos devem considerar se vale a pena perder um ou dois minutos a ultrapassar-nos, ou a ver-se envolvido numa situação como a que estivemos há dois dias. Não estou a dizer que os ciclistas fazem tudo bem. Muitas vezes ocupamos demasiado da estrada, muitas vezes não respeitamos as regras, o que é justo dizer que também não é correcto."

São vários os casos e não apenas com ciclistas profissionais ou pertencentes a equipas. Em 2016, seis ciclistas da então Giant-Alpecin (actual Sunweb) foram atropelados em Espanha por uma condutora britânica que conduzia em contra-mão. No ano passado Michele Scarponi foi atropelado mortalmente perto de casa, a poucos dias do início da Volta a Itália. O homem que conduzia a carrinha estaria alegadamente a ver um vídeo no telemóvel. Em Portugal, o sub-23 Tiago Alves, da equipa Sport Ciclismo de São João de Ver, faleceu ao ser atingido por um veículo ligeiro.


29 de março de 2018

Bernal com objectivos bem definidos pela Sky: ganhar as três grandes voltas

(Fotografia: © Team Sky)
Egan Bernal está a conquistar o World Tour com uma rapidez que eleva ainda mais as já altas expectativas que pairam sobre o colombiano. 21 anos e demonstra uma enorme maturidade e capacidade para enfrentar alguns dos grandes nomes do ciclismo actual. Para a Sky não é surpresa nenhuma o rendimento nas poucas corridas que fez com a equipa e já está delineado um plano que inclui levar Bernal à vitória no Giro, na Vuelta e, claro, no Tour.

"Esperávamos este rendimento e esperamos muito mais dele nos próximos anos. Temos muitas expectativas para com o Egan. São muito altas. O que demonstrou deixa-nos muito satisfeitos e seguros que não nos equivocámos ao contratá-lo", afirmou Xabier Zandio ao El Tiempo. O antigo ciclista terminou a carreira na estrutura britânica e é hoje um dos directores desportivos. A confiança que Zandio deposita em Bernal é total. Ele e toda a equipa: "A ideia é a longo prazo ganhar o Giro, o Tour e a Vuelta com o Bernal. Foi para isso que o trouxemos. Já demonstrou que pode ser um líder. Assinámos com um jovem para isso, para prepará-lo. Tem qualidade, ainda que tenha de melhorar muito. Trabalhamos para isso."

Para o responsável estamos perante um puro voltista e alguém destinado a liderar uma grande equipa. "É um líder, tem ambição. A alguns custa assumir uma responsabilidade. A ele não. É um ciclista diferente dos outros que são da sua idade", salientou. Bernal chegou à Europa pela mão da Androni e durante os dois anos que esteve na formação italiana, a Sky seguiu-o de perto. Somou vitórias, mas o destaque vai inevitavelmente para a conquista do Tour de l'Avenir (ou Volta a França do Futuro), a grande competição para os sub-23 e que conta com campeões como os compatriotas Nairo Quintana, Johan Esteban Chaves e Miguel Ángel López.

A adaptação ao World Tour é sempre um passo delicado, que preocupa os responsáveis das principais equipas quando contratam um jovem ciclista. Porém, Bernal não está a demonstrar qualquer problema. Na Androni teve a oportunidade de correr em provas como o Tirreno-Adriatico, Volta aos Alpes e mesmo o monumento Il Lombardia. Estar na Sky é muito diferente, mas o colombiano não teve problema em sentir-se como membro de uma das equipas mais poderosas do pelotão. "Não é fácil um ciclista de 21 anos chegar ao World Tour e abrir caminho. Para a maioria a mudança é difícil, mas para ele não. Adaptou-se de uma forma impressionante. É como se estivesse a correr cá há vários anos e isso é bom", realçou o director desportivo.

Essa adaptação tem ficado bem clara desde a estreia no Tour Down Under. Então foi sexto na geral e vencedor da classificação da juventude. Foi campeão nacional de contra-relógio e ainda no seu país, ganhou a Colombia Oro y Paz. Na Volta à Catalunha conquistou definitivamente muitos adeptos ao ter sido exemplar na subida a La Molina. Foi o único que acompanhou Alejandro Valverde (Movistar), ainda que o espanhol tenha acabdo por ser mais forte nos últimos metros. Porém, Valverde elogiou o jovem ciclista da Sky. O segundo lugar no pódio escapou a Bernal devido a uma queda na derradeira etapa, a sete quilómetros da meta.

O colombiano encontra-se a recuperar da fractura na clavícula e na omoplata. A Sky não quer precipitar o regresso de Bernal à competição. Qual a sua próxima corrida? Para quando a estreia numa grande volta? São questões que serão respondidas em breve, mas não restam dúvidas que enquanto Chris Froome está a lutar pela sua credibilidade (tal como a própria equipa) e mesmo pela sua carreira, a Sky já está a formar o seu próximo grande líder. O seu próximo campeão. E talvez não seja assim tão a longo prazo. Todos os passos já estarão certamente muito bem definidos. Da Sky não se esperaria outra coisa.

»»Egan Bernal, o talento que nem com o capacete nos olhos deixou de ganhar««

»»A geração de ouro da Colômbia já tem a sua corrida e só pensa em conquistar as três grandes em 2018««

28 de março de 2018

"Já tenho um papel mais importante em certas corridas"

Ruben Guerreiro está a ter o início de temporada que desejava. Sem azares. Há um ano teve uma estreia auspiciosa na Trek-Segafredo e no World Tour. Porém, a época acabaria marcada por problemas que foram quebrando o seu ritmo. Em 2018, tudo está a ser diferente. "Finalmente tenho boa saúde e assim é tudo mais fácil. Tenho estado na discussão das corridas, tento sempre fazer o meu trabalho da melhor maneira e encaro todas as provas com a maior ambição", salientou o campeão nacional. Demonstra muita confiança e ao mesmo tempo calma para encarar uma temporada importante para se afirmar ao mais alto nível. Mesmo em final de contrato, está descansado com o futuro e acredita que depois de já ter estado tão perto de vencer, a vitória irá chegar.

"Vou continuar a trabalhar, mas não vou estar muito obcecado com isso [triunfo]. Acho que as coisas acontecem naturalmente e a época é muito longa. Espero conseguir uma vitória", afirmou Ruben Guerreiro, depois de este ano já ter dois terceiros lugares na Herald Sun Tour, um segundo na Volta ao Algarve, além do nono lugar na geral no Tour Down Under e o quarto numa Herald Sun Tour que não irá esquecer tão cedo. Claro que correr em Portugal tem sempre um sabor especial, pelo que recorda orgulhoso a subida ao Malhão, no final da Algarvia. Guerreiro fez uma perseguição feroz a Michal Kwiatkowski (Sky), com o português a dizer que o polaco foi mais forte e que se está perante um dos melhores ciclistas do mundo: "Pensava em tentar acabar o mais rápido possível. Já ia bastante justo porque a etapa tinha sido muito desgastante e nos últimos metros vi que o Kwiatkowski não tinha assim tanta vantagem e tentei anulá-la, mas já não foi possível."


"Este ano tudo tem corrido bem e consegui atingir um bom nível de condição física e espero manter até ao final da época"

Agora é altura de olhar para a frente. A Trek-Segafredo tem apostado no jovem de 23 anos e Ruben Guerreiro está determinado em agarrar as oportunidades. "Como não temos assim tantos corredores de geral, já tenho um papel mais importante em certas corridas, mas sem muita pressão", realçou ao Volta ao Ciclismo, acrescentando que esta confiança também foi ganha com os resultados que está a apresentar. E para as próximas competições, o ciclista português irá ser um dos homens ao lado do líder da equipa para a Volta a França: "Posso dizer que vou correr com o Bauke Mollema. Ele é o líder, mas se ele falhar poderemos ter mais cartas para jogar, digamos assim. Dentro dessa perspectiva posso ter oportunidades."

Volta ao País Basco - que começa na segunda-feira - e semana das Ardenas vão preencher o calendário de Abril de Ruben Guerreiro, mas para quando a estreia numa corrida de três semanas? "Volta a Espanha. Acho que é a ideal para mim. Será um orgulho lá estar", frisou. Mas muito irá acontecer até ao arranque da Vuelta a 25 de Agosto e o campeão nacional espera conseguir manter a evolução física que tem alcançado nos últimos meses. "No ano passado já estava a realizar esse trabalho, mas não tive muita sorte com a saúde. Ora por isto ou por aquilo, tinha sempre uma quebra e assim era difícil ser constante. Este ano tudo tem corrido bem e consegui atingir um bom nível de condição física e espero manter até ao final da época", afirmou.


"Sinto-me bastante bem nesta equipa. Se não for aqui, penso que encontrarei um boa equipa para mim"

A renovação de contrato é, por isso, algo que não o preocupa, pois acredita que se cumprir os objectivos não terá problemas em definir o seu futuro: "As coisas são faladas quando têm de ser e sinto-me bastante bem nesta equipa. Se não for aqui, penso que encontrarei um boa equipa para mim. Mas isso não é importante. Estou focado no meu trabalhado e em realizar boas corridas. Tento mostrar o meu valor e tenho tido sorte em fazer grandes corridas com a Trek-Segafredo."

Apesar de reiterar que está a pensar prova a prova, foi irresistível questionar Ruben Guerreiro sobre os Mundiais de Innsbruck, na Áustria. "É um Campeonato do Mundo que me assenta bastante bem, mas a época é longa. No entanto, sim, está no meu horizonte", admitiu o ciclista português, que não escondeu o "sabor amargo" dos últimos Mundiais, em Bergen, nos quais uma apendicite o obrigou a abandonar. Antes, haverá, em Junho, os Nacionais, que também entram nos seus planos, para assim tentar manter a camisola que agora veste.


27 de março de 2018

Valverde quer estar na Volta a Flandres antes de terminar a carreira

(Fotografia: Movistar Team)
Quando se fala de monumentos, a Liège-Bastogne-Liège tem sido sinónimo de vitórias para Alejandro Valverde. Já conta com quatro e com a forma que vai apresentando, é um sério candidato a somar mais um triunfo este ano. Antes de se concentrar na semana das Ardenas, entre 15 e 22 de Abril, o espanhol vai passar esta quarta-feira pela Dwars door Vlaaderen, ou seja, a clássica Através da Flandres, em mais uma corrida belga antes da principal neste país do calendário do pavé: a Volta a Flandres. O objectivo é simplesmente preparar a etapa no Tour que terá empedrado. Os voltistas, que normalmente "fogem" das provas de pavé, estão este ano a ir escolhendo algumas para não apanharem surpresas quando chegar a Volta a França. No entanto, Valverde até pensa um pouco mais além e admite que gostaria de estar no monumento da Flandres, apesar de considerar que irá provavelmente sofrer bastante.

"Antes de parar gostaria de fazer uma vez a Volta a Flandres. Peso apenas 61 quilos e, por isso, salta-se ao passar no empedrado o que torna as coisas mais difíceis. Não me perguntes como eu poderia ir daqui ao Kwaremont. Correr em Flandres é para mim uma enorme aventura", salientou Valverde ao Het Nieuwsblad. Este ano, Vincenzo Nibali será um estreante aos 33 anos. Valverde está a menos de um mês de cumprir 38, tendo ainda mais um ano de contrato com a Movistar. Pelo menos, pois o mais próximo que se ouviu em terminar a carreira, foi precisamente agora o ter dito que antes de colocar um ponto final quer estar no monumento da Flandres.

Talvez para o ano, pois por agora, a única aventura no pavé será mesmo na Através da Flandres, ao lado de Nairo Quintana. Mikel Landa já esteve na E3 Harelbeke e passou um mau bocado, tendo inclusivamente estado numa queda que afectou muitos ciclistas. "Não se consegue imitar nos treinos. Tens de te atirar para uma corrida como esta", salientou Valverde. "Penso que é importante para o Nairo e para mim correr na Flandres a pensar na etapa do Tour em Roubaix, a 15 de Julho, que terá vários sectores de pavé", acrescentou.

A previsão de mau tempo faz com que Valverde - que no domingo garantiu a sua terceira Volta à Catalunha (sete vitórias em 2018, entre etapas, classificações gerais e de montanha) - não esteja a pensar em estar com grande ambição na corrida desta quarta-feira. Para o espanhol "não vale a pena arriscar". E quanto a Quintana, não se pense que estará apenas a correr porque lhe convém. O colombiano disse que até gosta de provas como a Através da Flandres: "Na televisão estas corridas são sempre um espectáculo fantástico e também é o que acontece quando se está lá. Apesar de eu não ser feito para elas, gosto muito."

Outro voltista presente será Romain Bardet. O francês da AG2R já esteve no sterrato da Strade Bianche e foi segundo. Agora vai até ao pavé da Flandres, mas mais com o objectivo de também ele se preparar para a etapa que poderá ser decisiva no Tour, principalmente se alguém com pretensões à vitória final perder tempo.

Ao lado de Valverde e Quintana estará Nelson Oliveira. O ciclista da Movistar será o único português em prova, ele que estará na Volta a Flandres, uma corrida que admite gostar bastante. A grande ausência, na corrida de amanhã, será Peter Sagan. Depois de vencer a Gent-Wevelgem, o tricampeão mundial preferiu apontar baterias apenas ao monumento. Porém, haverá Greg van Avermaet, Sep Vanmarcke, Jasper Stuyven, Tiesj Benoot, Alexander Kristoff, Gianni Moscon... E claro, uma super Quick-Step Floors, que soma este ano 19 vitórias e na última década venceu esta prova cinco vezes, incluindo em 2017 com Yves Lampaert. O belga estará com o dorsal um, com Niki Terpstra também presente, ele que venceu em 2012 e 2014 e na sexta-feira ganhou a E3 Harelbeke. Recuando a 2009, o vencedor foi Kevin Van Impe e dois anos antes, Tom Boonen.

A Dwars door Vlaaderen terá transmissão no Eurosport a partir das 13:30. E não esquecer que no domingo de Páscoa teremos o monumento da Volta a Flandres, uma semana antes do Paris-Roubaix.

»»Froome poderá ser impedido de estar na Volta a França««

»»Vakoc regressa aos treinos com a bicicleta pendurada no tecto««

Peraud acredita que já se utilizaram motores, mas agora "seria um suicídio"

Antigo ciclista da AG2R é agora o responsável da UCI
pelo combate ao doping mecânico (Fotografia: AG2R)
Jean-Christophe Peraud foi o escolhido para liderar a luta contra o doping mecânico, quando David Lappartient assumiu a presidência da UCI em Setembro do ano passado. O antigo ciclista francês apresentou há poucos dias o resultado do trabalhado realizado nos últimos meses, um novo mecanismo para detectar possíveis motores nas bicicletas, sendo igualmente eficaz se a fraude tecnológica for a utilização de rodas electromagnéticas, segundo foi garantindo pelos responsáveis pela máquina de raio-X. Peraud destaca a importância da tecnologia estar a ser melhorada para encontrar infractores, ainda que acredite que neste momento funcione mais como elemento dissuasor. Para o ex-ciclista, actualmente esta é uma realidade que talvez possa ser encontrada em corridas amadoras ou mais pequenas, mas não ao mais alto nível.

"Penso que no passado foram utilizados [motores], mas agora não. Um motor numa bicicleta de um profissional seria agora um suicídio. Estamos atentos e colocámos muitos meios para detectar batotas", salientou Peraud ao jornal As. Contou que quando era ciclista ouviu rumores, "como quase todos nestes últimos tempos", mas garantiu que nunca soube de nada fraudulento. "Temos de fazer tudo para evitar qualquer problema. Antes de encarámos um escândalo, é preferível utilizar a tecnologia ao nosso alcance para prevenir e dissuadir", explicou Peraud, para assim justificar o muito dinheiro que está a ser investido nesta luta. O francês destacou a importância de "salvaguardar a credibilidade do ciclismo". "Sofremos demasiados golpes e há que procurar oferecer aos adeptos um produto sólido, livre de mentiras", realçou.

Apesar da carreira de ciclista, grande parte passada na AG2R, Jean-Christophe Peraud também foi uma pessoa dedicada aos estudos, tendo diplomas em Engenharia Química ou ainda em Engenheiria Energética e do Meio Ambiente. "Tento aproveitar tanto a experiência académica como a de ciclista", referiu sobre a nova fase da sua vida, depois de ter deixado as corridas em 2016. O segundo classificado do Tour em 2014, atrás de Vincenzo Nibali, explicou que a sua função inclui "regular materiais, estar atento a novidades e implementar planos contra a utilização de motores".

E nos próximos tempos, o pelotão irá habituar-se a ver uma máquina de raio-X que permitirá colocar a bicicleta sem a desmontar e assim, em tempo real, averiguar se há algo de irregular.


26 de março de 2018

Trek-Segafredo não perde tempo e anuncia primeiro reforço para 2019

(Fotografia: Trek-Segafredo)
Depois de ter estagiado na Trek-Segafredo no ano passado, Matteo Moschetti assinou pela equipa Continental de Alberto Contador, que conta com o apoio da estrutura americana. Na Polartec-Kometa, o jovem italiano soma seis vitórias o que levou a formação do World Tour a não esperar mais e a garantir a contratação de Moschetti para 2019 e 2020. Se para o ciclista a notícia não poderia ser melhor, também para o projecto de Contador é um momento importante. Com tão pouco tempo de existência, a equipa está já a cumprir a sua missão de colocar jovens corredores no principal escalão.

"Conseguir concretizar esta primeira transferência tão cedo deixa-nos muito orgulhosos e felizes. Motiva-nos a continuar a trabalhar na mesma linha e a preparar mais ciclistas para estarem prontos a mudarem-se para o mais alto nível do ciclismo profissional", salientou  Francisco Contador, irmão do ex-ciclista e responsável operacional da Polartec-Kometa. Reiterou ainda o objectivo de formar jovens corredores, pelo que Moschetti ficar tão pouco tempo na equipa faz parte do processo.

Moschetti venceu duas etapas na Volta a Antalya, na Turquia, em Fevereiro, e este mês foi à Grécia ganhar o Grande Prémio Internacional de Rhodes e a segunda etapa da Volta a Rhodes. Este semana venceu duas etapas na Volta à Normandia. "Tivemos o Matteo como estagiário e já estávamos convencidos das suas qualidades nessa altura. No entanto, considerámos que seria prudente deixá-lo amadurecer mais um ano na equipa Continental", explicou Luca Guercilena. O director geral da Trek-Segafredo não tem dúvidas depois de seis vitórias em dois meses: "Ele provou que está preparado para subir ao World Tour."

O campeão italiano de sub-23 pode muito bem ser um bom elemento para o bloco das clássicas, além de ter capacidade para discutir etapas que não sejam muito montanhosas. "Depois de ter estagiado com a equipa em Agosto, no Colorado, tive a possibilidade de conhecê-los e desde então que tenho trabalhado muito para melhorar. Estou muito entusiasmado por me juntar à Trek-Segafredo em 2019, mas primeiro quero continuar e terminar este época com a Polartec-Kometa", afirmou Moschetti que tem como próxima corrida o Grande Prémio Miguel Indurain.

Ainda enquanto competia, Alberto Contador criou equipas de juniores e sub-23, além das escolas de ciclismo com o nome da sua fundação. Já depois de anunciar que 2018 seria o seu último ano como ciclista, Contador confirmou que iria ter uma equipa no escalão Continental, mas sempre com o objectivo de formar jovens corredores. A Trek-Segafredo tornou-a a sua equipa de desenvolvimento, com Contador a ter a seu lado outro nome bem conhecido da modalidade, Ivan Basso.

Na equipa de sub-23 está um português: Daniel Viegas. O ciclista está no seu segundo ano em Espanha e recentemente explicou ao Volta ao Ciclismo (ver link em baixo) como existe a perspectiva de ser chamado à equipa principal. Com a notícia sobre Moschetti, a Polartec-Kometa cria certamente uma ambição ainda maior aos jovens que tem nos seus plantéis e começa a dar passos importantes para se tornar numa estrutura de referência na formação de ciclistas.


Nibali surpreendido com dureza do percurso dos Mundiais

(Fotografia: Bahrain-Merida)
Ainda faltam seis meses, com muito por discutir até aos Mundiais de Innsbruck. Porém, o percurso muito montanhoso fez com que a camisola do arco-íris se tornasse objectivo para alguns dos principais trepadores do pelotão, como Vincenzo Nibali e Mikel Landa, por exemplo. E o italiano está determinado em juntar mais uma grande vitória a um currículo que este ano já conta com mais um monumento, a Milano-Sanremo, depois de ter vencido duas Lombardias. Para quem também venceu as três grandes voltas é normal que olhe para os Mundiais como a prova que lhe falta vencer.

Por isso mesmo, Nibali já está a preparar essa participação e foi até Innsbruck conhecer o que lhe espera. A reacção? "Esperava um percurso difícil, mas após o reconhecimento fiquei ainda com mais respeito. Muitos outros ciclistas vão ficar surpreendidos como eu!"

Nibali esteve na Áustria juntamente com Alessandro De Marchi e Franco Pellizotti. A equipa italiana testou as duas subidas que vão ser determinantes. A última é mesmo apelidada de "secção infernal", ou simplesmente "o inferno". Os oito quilómetros de Igls, com uma pendente média de 5,7% vão ser passados sete vezes durante a prova e depois será o momento de atacar a fase final a caminho de Gramart, onde estará à espera dos ciclistas uma pendente que chega aos 28%. "Espero uma corrida dura com muito para se ponderar: onde aplicar a minha força, quando comer, qual o equipamento a usar. E o factor decisivo será também a escolha certa dos companheiros de equipa por parte do seleccionador", salientou Nibali, citado pela federação italiana.

Davide Cassani admitiu ter ficado impressionado com o percurso quando o foi ver pela primeira vez e tirar as impressões necessárias para começar a escolher os ciclistas que irão acompanhar Vincenzo Nibali. O seleccionador levou De Marchi e Pellizoti para este reconhecimento, com o segundo a ser um veterano de 40 anos, mas é um homem de confiança que Nibali levou para a Bahrain-Merida. Experiência também não falta a De Marchi (31 anos). O homem da BMC afirmou que poder-se-á muito bem estar perante os mais difíceis Mundiais da história. A grande questão será que papel terá Fabio Aru, que também está muito interessado em aparecer forte em Innsbruck. Não admira que Nibali vá falando na importância na escolha da equipa, pois ter ajuda quando a corrida for atacada poderá fazer toda a diferença.

Desde 1995 que não se via uns Mundiais assim. Na altura foi Duitama, na Colômbia, que recebeu uns Mundiais direccionados aos trepadores, com Abraham Olano a vencer, deixando o compatriota espanhol Miguel Indurain em segundo e o italiano Marco Pantani a fechar o pódio. Em Innsbruck serão 265 quilómetros, com um desnível total a ultrapassar os cinco mil metros.

Além de Nibali e Landa, este será um ano em que Daniel Martin, Rafal Majka, o fortíssimo bloco colombiano com Nairo Quintana e Rigoberto Uran à cabeça, Tom Dumoulin, Romain Bardet... aqueles nomes que estamos habituados a ver lutar nas grandes voltas, irão atrás da camisola do arco-íris que Peter Sagan veste há três anos e já avisou que não a vai de deixar de lutar por mais uma, só porque o percurso não é o ideal para ele. E há outro nome a ter em conta. Landa dificilmente será líder indiscutível na selecção espanhola, pois a Alejandro Valverde também lhe falta este título no impressionante currículo. Faltam seis meses, mas este Mundiais estão a criar uma enorme expectativa desde cedo esta época.


25 de março de 2018

"Estava com a convicção que era hoje. Disse-lhes que era o meu dia"

O cenário foi bem diferente de há um ano. A Clássica Aldeias do Xisto deslumbrou em 2017 com uma primeira edição de paisagens de uma beleza inesquecível. Os incêndios deram outra cor a uma zona do país tão devastada pelos fogos, mas como o pensamento da organização nunca esteve em esconder a realidade que tem no negro das árvores e nas casas queimadas o constante relembrar de uma tragédia, neste segundo ano de corrida, o pelotão passou por algumas das zonas e aldeias afectadas. A paisagem triste não deixou ninguém indiferente, mas na estrada esteve uma competição com muito em jogo. O espectáculo que desta feita não teve o verde forte das florestas circundantes como pano de fundo, teve muita cor na estrada, numa corrida atacada desde muito cedo e que no final viu a "equipa da casa" vencer. Daniel Mestre deu o primeiro triunfo de 2018 à Efapel, num dia também de festa para a Aviludo-Louletano-Uli, que cumpriu com o objectivo de ficar com o Troféu Liberty Seguros.

Daniel Mestre foi o mais forte na subida terceira categoria que levou à meta os ciclistas na Aldeia das Dez, em Oliveira do Hospital, após 145 quilómetros de prova. Depois de algum azar o ter impedido de estar na luta por etapas na Volta ao Alentejo, este era um triunfo desejado, mas que não desesperava por conseguir. Nem ele, nem a equipa. "A nossa união faz com que não haja pressão nenhuma. Nós tentamos sempre ganhar. Não conseguimos, levantamos a cabeça e voltamos a tentar. Está aqui a prova disso", salientou ao Volta ao Ciclismo. E acrescentou: "Eu sei o meu valor, a equipa sabe o meu valor. Não tinha de provar nada a ninguém. É claro que as equipas vivem das vitórias, não escondo isso. Consegui vencer aqui na casa do patrocinador, Aldeias do Xisto, e fico feliz não só por mim, mas também pelos meus colegas que trabalharam ao longo de todas as provas que fizeram até agora."

E numa fuga que contou com quase todos os principais intervenientes do pelotão, Mestre teve ao seu lado Sérgio Paulinho e Bruno Silva. "Estava com a convicção que era hoje. Disse-lhes que era o meu dia", frisou Mestre, pouco depois de ter dito a Paulinho, num sentido cumprimento ao colega: "Bem disse que era hoje."

Foi um final bem ao estilo deste ciclista que no sprint final bateu outros dois nomes de peso do pelotão nacional. Atrás ficou Joni Brandão (Sporting-Tavira) que também tem razões para estar bem satisfeito, já que é o melhor resultado do ciclista deste que regressou à competição, depois de ter falhado a Volta a Portugal devido a problemas de saúde. A compor um pódio de luxo esteve o aniversariante do dia e vencedor da Grandíssima, Raúl Alarcón (W52-FC Porto), que esteve na fuga juntamente com Gustavo Veloso, enquanto Brandão teve a companhia de Frederico Figueiredo.

Contudo, o dia foi quase todo da Efapel, que foi ainda a melhor equipa da clássica. "É lógico que era uma vitória que ambicionávamos. Com o patrocinador Aldeias do Xisto diz-nos muito e não podia ser melhor", afirmou um muito satisfeito Américo Silva. O director desportivo referiu que estavam cientes "do porquê de alguns resultados e de alguns maus desempenhos". "Soubemos esperar e as coisas aconteceram", disse, realçando que o triunfo "é muito bom para o Daniel". "A primeira já está, que é sempre a que custa mais!"

Festa partilhada

A Aviludo-Louletanto-Uli partiu determinada da Aldeia de Álvaro a ficar com o Troféu Liberty Seguros, que há um ano conquistou com Vicente Garcia de Mateos, que também venceu a primeira edição da Clássica Aldeias do Xisto. Agora foi outro espanhol a triunfar. "Objectivo cumprido. A ideia era ganhar o troféu e a equipa trabalhou muito bem. Foi uma corrida muito complicada, pois deixaram-nos fazer o trabalho todo", explicou Óscar Hernández. Acompanhado na fuga por Luís Mendonça, que também tinha a possibilidade de ganhar, David de la Fuente e Luís Fernandes - que ficou com o prémio da montanha -, Hernández teve de estar atento para quando houve o ataque final, cortando a meta na quinta posição. A maior ameaça vinha de Domingos Gonçalves (Rádio Popular-Boavista), que apesar de acabar um lugar acima de Hernández, foi insuficiente para se sagrar vencedor.

Para a equipa algarvia é o fechar de um mês de Março que não irá esquecer. Uma semana depois de conquistar a Volta ao Alentejo com Luís Mendonça, Óscar Hernández ficou com o Troféu Liberty Seguros e a equipa foi ainda melhor desta competição, que englobou além da Clássica Aldeias do Xisto, a Clássica da Arrábida e a Prova de Abertura Região de Aveiro.

Enquanto a Efapel deixou o patrocinador feliz pela vitória na corrida, André Carvalho fez o mesmo ao ser o melhor jovem do troféu. O ciclista da Liberty Seguros-Carglass realçou precisamente esse pormenor: "Era uma prova que era importante para a equipa, visto ser patrocinada pela Liberty Seguros. Foi um dia em que a equipa esteve bastante bem e ajudou-me ao máximo e eu consegui cumprir com as expectativas. Foi uma corrida dura, com constante sobe e desce e o vento complicou, mas o que interessa é que acabou tudo bem." O jovem foi 19º, mas o melhor sub-23 do dia foi o espanhol da Caja Rural Javier Fuentes.

Depois de um Março intenso em corridas pelas estradas nacionais, o regresso do pelotão será entre 12 e 15 de Abril, no Grande Prémio Internacional Beiras e Serra da Estrela. Quanto à Clássica Aldeias do Xisto, ficou a garantia que para o ano há mais.


24 de março de 2018

Louletano na Clássica Aldeias do Xisto à procura de fechar um mês perto da perfeição

Se se perguntar a Jorge Piedade se esperava estar a ter um arranque de temporada tão positivo, o director desportivo da Aviludo-Louletano-Uli é peremptório em dizer que vai sempre para uma corrida com a intenção de a ganhar. Logo: "Temos concretizado os nossos objectivos." A confiança é grande na equipa algarvia. A conquista da Volta ao Alentejo há uma semana, por intermédio de Luís Mendonça, foi o culminar de um conjunto de resultados bons, mas a que faltava juntar um triunfo. E nada melhor do que ganhar uma das mais importantes competições em Portugal e com categoria internacional (2.2). Agora é altura de pensar na próxima possível vitória que está bem definida para este domingo: o Troféu Liberty Seguros.

Óscar Hernández vestiu a camisola amarela desta competição há 15 dias. A Clássica Aldeias do Xisto é a última corrida das três que compõem o troféu. Tudo começou na Prova de Abertura Região de Aveiro e depois houve a Clássica da Arrábida. E há mais do que a conquista da Alentejana para Jorge Piedade estar confiante na vitória. Hernández lidera e o "rival" mais próximo é Luís Mendonça, a 23 pontos. Portanto, a Aviludo-Louletanto-Uli vai para a decisão numa posição bem simpática. Olhando para a classificação, retirando da equação os ciclistas que não estarão presentes - como Tiago Machado, Dmitry Strakhov e até João Matias - a maior concorrência deverá vir da Rádio Popular-Boavista, que tem Luís Gomes e Domingos Gonçalves a 33 e 40 pontos, respectivamente, de Hernández. A vitória na corrida dá 75.

"Vamos tentar vencer o Troféu Liberty Seguros, ou com Hernández ou com o Mendonça. Está a ser um excelente início de temporada. Espero bem que as coisas continuem a decorrer assim", disse Jorge Piedade ao Volta ao Ciclismo, depois de ter garantido a Alentejana. Se conseguir, repetirá a vitória de 2017. Então, Vicente Garcia de Mateos ganhou a clássica, o que acabou por lhe valer também o troféu.

Hernández consegue defender-se em algumas subidas. Já no caso de Mendonça é um atributo que o português está a trabalhar e a evoluir bastante. Há um ano não apareceria como candidato a estar na frente na Clássica Aldeias do Xisto, agora Jorge Piedade deixa o aviso que é um ciclista que poderá estar muito em destaque durante o ano no ciclismo nacional. "Eu acreditei no Mendonça. Comecei a vê-lo em amador, fiz uma análise e acreditei que poderia ser o ciclista que está a ser. Foi uma aposta bem conseguida", salientou o director desportivo.

Está em disputa um troféu, mas também uma vitória numa clássica que tem tudo para se tornar numa das mais importantes do calendário. Tal como a corrida da Arrábida, é internacional (1.2) e se uma tem o sterrato como imagem de marca, pelas Aldeias do Xisto temos um constante sobe e desce, que proporcionam ataques e contra-ataques, sendo difícil controlar a corrida. Estas são duas provas que não ficariam nada mal com um pelotão com equipas de maior gabarito. Mas estão apenas a começar, por isso há que construir uma base sólida antes de dar um passo maior.

Às equipas Continentais portuguesas e às de clube, juntam-se este ano as espanholas da Aluminios Cortizo/Anova, Bicicletas Rodríguez/Extremadura, Caja Rural-Seguros RGA (sub-23), CC Rías Baixas e Supermercados Froiz.

A Clássica Aldeias do Xisto começa desta feita na Aldeia de Álvaro, concelho de Oleiros (12:00), e termina na Aldeia das Dez, concelho de Oliveira do Hospital (cerca das 16:00), com uma terceira categoria à espera dos ciclistas no final, depois de muita montanha, como se pode ver o gráfico em baixo. Nos 145 quilómetros de distância, o pelotão passará pelas aldeias de Janeiro de Baixo, Janeiro de Cima, Fajão e Vila Cova de Alva.


A corrida promete animação, com as equipas portuguesas a terem aqui uma boa oportunidade para se mostrar, já que neste início de temporada, ciclistas de fora têm estragado os planos dos que por cá estão. Domingos Gonçalves triunfou na Clássica da Primavera - a única prova em Março na qual a Aviludo-Louletano-Uli não subiu ao pódio -, Edgar Pinto já deu uma vitória à Vito-Feirense-BlackJack na Volta ao Alentenjo, tal como fez Gustavo Veloso para a W52-FC Porto.

A pressão vai crescendo na Efapel e no Sporting-Tavira. A equipa algarvia até já venceu, logo em Janeiro, com Rinaldo Nocentini a levar duas etapas no Gabão, mas por cá, ambas estão a zero. A expectativa começa a aumentar para ver se Joni Brandão está a recuperar as melhores sensações. Já na Efapel, atenção a Henrique Casimiro que poderá ser a principal aposta, com a equipa a querer não só abrir a sua conta de triunfos, como oferecê-lo a um dos seus patrocinadores: Aldeias do Xisto.

Também as três que este ano subiram ao escalão Continental, Miranda-Mortágua, LA Alumínios e Liberty Seguros-Carglass procuram a primeira vitória. A última tem André Carvalho bem colocado para garantir a classificação da juventude no troféu do mesmo patrocinador. André Ramalho (Jorbi-Team José Maria Nicolau) e André Crispim, companheiro de Carvalho, são os que estão mais próximos - daqueles que estarão em prova -, a 30 e 35 pontos, respectivamente, do líder.

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Bouhanni a cair do pedestal

(Imagem: Team Cofidis)
Vida difícil para Nacer Bouhanni. A nova visão para sua equipa tirou ao sprinter francês o lugar de total destaque na Cofidis, mas a reestruturação implementada pelo novo director Cédric Vasseur está a ir mais longe. O ciclista não rende vitórias, foi deixado de fora da Milano-Sanremo e nas últimas duas corridas abandonou devido a uma bronquite. Bouhanni foi contratado em 2015 com a única função de trazer vitórias a uma equipa que queria desesperadamente ser vista outra vez como ganhadora, mesmo estando no segundo escalão. O sprinter conseguiu algumas, mas longe do esperado. E falhou no objectivo máximo: Volta a França. Alguns episódios fora de competição e umas cabeçadas em sprints também não ajudaram à reputação de Bouhanni.

"Nos últimos anos, tudo tem estado centrado nele [Bouhanni] e isso significa que os outros ciclistas perderam o seu instinto ganhador. Se se trabalha apenas para um ciclista, então nunca se irá estar nas fugas e isso tem de mudar. Quero ver a equipa ser mais agressiva. Quero ver as camisolas da Cofidis nas fugas e isso irá ajudar a retirar a pressão do Nacer." As palavras de Vasseur, quando chegou à equipa, eram claras quanto ao estatuto de Bouhanni. É o ciclista mais bem pago da Cofidis, pelo que a responsabilidade continua a ser enorme, contudo, Vasseur cortou com a mentalidade anterior do director que trouxe o ciclista para a estrutura, Yves Sanquer. Despedido para dar lugar a Vasseur, Bouhanni evitou fazer comentários à saída de quem o colocou no centro das atenções na Cofidis, como queria quando bateu com a porta à FDJ, equipa do World Tour, mas onde recusou partilhar estatuto com Arnaud Démare.

No entanto, no pouco que disse ficou a ideia de algum mal-estar. Sobre as novas ideias de Vasseur, Bouhanni limitou-se a dizer: "Penso que preciso de algum tempo para me adaptar ao novo método de trabalho." A grande diferença está no comboio que ajudava o sprinter. Foi cortado para metade. Porém, houve mais. Christophe Laporte passou a ser aposta e este ano já tem três vitórias. Bouhanni está a zero. Para alimentar ainda mais uma possível ruptura entre ciclista e director, o sprinter foi excluído da Milano-Sanremo, com Laporte a ser chamado e a fazer 13º. Dias antes, Bouhanni tinha abandonado o Paris-Nice devido a uma bronquite. Ao seu estilo, o ciclista de 27 anos reagiu dizendo que o médico lhe tinha dado alta e que já estava a treinar, pelo que não percebia a decisão. Na equipa a justificação era que o ciclista não estava a 100%. Regressou na Volta à Catalunha e novo abandono por uma bronquite. Passaram as três corridas que Bouhanni tinha colocado como objectivo no início de temporada e as exibições do sprinter acabaram por ser uma nota de rodapé.

Em 2014, Bouhanni venceu três etapas no Giro, duas na Vuelta, mas pelo meio ficou de fora do Tour, com a FDJ a escolher Arnaud Démare como sprinter para essa corrida. Bouhanni assinou então pela Cofidis, onde lhe foi garantido que não haveria dúvidas que seria o líder indiscutível. Mesmo sendo Profissional Continental, é uma equipa cronicamente convidada para o Tour, até porque é um patrocinador que vai além da equipa de ciclismo nesta modalidade. Era o que Bouhanni queria e com o registo que trazia o sprinter na época de 2014, na Cofidis acreditava-se que se regressaria às vitórias na Grande Boucle.

Foi o quebrar com o passado, quando a equipa se mostrava mais na montanha, ou em fugas. O último triunfo no Tour foi por intermédio de Sylvain Chavanel em 2008! Em grandes voltas, Daniel Navarro venceu uma etapa na Vuelta em 2014 e depois o registo fica a zero em corridas de três semanas, precisamente porque tem sido no Tour que tem estado e Bouhanni não rende. Até chegou a ficar de fora numa edição por ter agredido um homem no hotel por alegadamente estar a fazer barulho. Faltava uma semana para o Tour e a lesão na mão acabou por ser impeditiva para competir e viu a prova em casa.

Em três temporadas na Cofidis, Bouhanni somou 28 vitórias. Muitos são os ciclistas que gostariam de ter registo idêntico. O problema é que apenas sete são do nível World Tour e duas HC. Sabe a pouco para uma equipa que apostou tanto (para não dizer tudo) neste ciclista de tanto potencial, mas que começa a dar indicações que poderá passar ao lado de uma grande carreira. E pode continuar a ganhar, mas sem aparecer no Tour, na Cofidis será sempre difícil, senão impossível, pensar que a aposta em Bouhanni foi algo perdida.

É um sprinter que se espera ter lugar no World Tour, mas no ano passado renovou por dois na Cofidis, pois Bouhanni não queria perder o seu estatuto. As suas pretensões acabaram por esbarrar na ambição da equipa que quer mais e percebeu que só com Bouhanni não iria lá. Quando Vasseur chegou os Herrada já tinham sido contratados, numa clara ideia de voltar a discutir mais do que sprints, sempre com o Tour em mente. Quando Vasseur chegou, não só se percebeu que os espanhóis teriam ainda mais destaque, como outros ganharam outro espaço, caso de Laporte (25 anos).

Não se sabe quando Bouhanni irá regressar à competição, apesar de estarem previstas participações em corridas francesas no final deste mês e início de Abril. A paciência com o sprinter poderá estar a atingir os limites. O corredor disse uma vez que não conhecia Vasseur, só de o ver na televisão a fazer comentários ou de quando era ciclista (representou precisamente a Cofidis entre 2002 e 2005). Agora já o conhece o suficiente para perceber que tem todo o poder para colocar em risco o estatuto de intocável da estrela da equipa. Em 2017, Bouhanni sofreu uma grave queda no Tour de Yorkshire, que lhe provocou problemas na visão que o perturbaram durante seis meses, segundo explicou o próprio. Porém, a bronquite de agora não irá servir de desculpa para continuar com um grande zero a nível de vitórias.

Com contrato até 2019, não seria de surpreender que a Cofidis esteja disposta a deixar sair Bouhanni. Talvez mais do que disposta, esteja mesmo com vontade de se livrar de um enorme peso salarial que poderá permitir a contratação de ciclistas que reequilibrem a equipa em todos os sectores, tornando-a mais competitiva em qualquer tipo de corrida, como quer Vasseur. Lá está, vida difícil para Nacer Bouhanni, que talvez esteja a precisar de uma dose do mundo real para recuperar a sua melhor versão, pois ao ser colocado num pedestal tão cedo na sua carreira, no seu caso, acabou por não ser o que precisava para continuar a senda de grandes vitórias que se pensava que estava apenas a começar em 2014.