18 de fevereiro de 2018

Quatro segundos separaram Ruben Guerreiro de mais um grande momento português no Malhão

Ruben Guerreiro foi segundo na etapa final da Volta ao Algarve
Tão rapidamente se passou de uma etapa que parecia destinada a ser algo anticlímax depois de uma Volta ao Algarve de tanto espectáculo e indefinição, como afinal se teve uns quilómetros finais emotivos graças a um português. É impossível não estar no Malhão e pensar que há um ano se assistiu a um grande momento para o ciclismo nacional, quando Amaro Antunes venceu na subida que tanto gosta, frente ao "seu" público. Desta feita o algarvio assistiu de fora - ou melhor, dentro do carro da W52-FC Porto, como convidado -, a um Ruben Guerreiro a mostrar todo o seu potencial. O campeão nacional está simplesmente fantástico nesse início de temporada e se restavam dúvidas, então afastem-nas: estamos perante um ciclista que pode dar muito mais do que um já por si brilhante segundo lugar na etapa que encerrou a 44ª edição da Volta ao Algarve.

Há um ano passou-se o vencedor da Algarvia, Primoz Roglic (Lotto-Jumbo), para segundo plano. Era impossível não o fazer perante o feito de Amaro Antunes. É difícil resistir tentação de não fazer o mesmo com Michal Kwiatkowski! O ciclista da Sky esteve perfeito. A Sky esteve perfeita perante todas as imperfeições das possíveis (mas claramente pouco) equipas adversárias. A táctica saiu sem mácula por quatro segundos. Foi o tempo que separou Guerreiro do polaco, campeão do mundo em 2014. Muito rapidamente se descreve aqui o que aconteceu: Kwiatkowski foi para a fuga de 31 ciclistas e teve o compatriota da Sky, Michal Golas no apoio. Lá atrás ninguém se mostrou particularmente interessado em perseguir, até porque havia praticamente um representante por equipa na frente. O pensamento passava a ser mais vencer uma etapa e entregar a corrida a Kwiatkowski, com Geraint Thomas a abdicar de uma terceira conquista.

Lukas Postlberger (Bora-Hansgrohe e vencedor da primeira etapa do Giro100) tentou escapar, Zdenek Stybar (Quick-Step Floors) apanhou-o e isolou-se, mas Kwiatkowski esteve tranquilo na fuga. Golas trabalhou, o já mais do que claro vencedor da Algarvia atacou. E assim se parecia ir escrever uma história com pouco mais para dizer. Porém, lá veio Ruben Guerreiro. O ciclista da Trek-Segafredo obrigou o polaco a não relaxar se queria proclamar-se rei do Malhão, depois de o ter feito na Fóia. Num ano a evolução de Guerreiro é notória. Mental e fisicamente está um ciclista a amadurecer a olhos vistos e que bem deve saber ter uma equipa com a qualidade da americana a confiar tanto no português, quando em prova estava um Bauke Mollema que poderia muito bem ter dito que queria ser ele a disputar pelo menos um pódio (foi quarto a seis segundos do pódio).

Foi dia para Guerreiro. Subiu o Malhão a fazer jus ao nome. Iríamos ter um sucessor português a Amaro Antunes? Por quatro segundos não aconteceu. Contudo, o campeão nacional foi ovacionado como um vencedor e assim o mereceu. Esteve perto de uma vitória na Herald Sun Tour e na geral fez quarto. Antes, no Tour Down Under, fechou num excelente nono lugar e segundo da juventude. Agora, no Algarve, teve uma demonstração de como se está a tornar num ciclista muito completo. Num ciclista de enorme futuro.

Axel Merckx, seu antigo director desportivo na Axeon Hagens Berman, bem tinha dito que se Ruben Guerreiro (23 anos) alcançasse uma regularidade que as lesões tanto tinham tendência em não deixar, que Portugal estaria perante uma grande referência da modalidade. Quando chegou à Trek-Segafredo em 2017, começou, mas um problema nos dentes interrompeu-lhe a auspiciosa entrada no World Tour. Foi campeão nacional e terminou o ano a mostrar que ia arrancar 2018 novamente em força. Aí está Ruben Guerreiro e ainda tem tanto para mostrar. Lesões ou qualquer outro problema, fiquem longe, por favor.


Pódio final, ao qual faltou Geraint Thomas
Mas sejamos justos. Kwiatkowski merece o destaque. O polaco quer fazer uma época de clássicas no mínimo idêntica há de 2017. A Strade Bianche e a Milano-Sanremo foram dois triunfos memoráveis. Porém, estamos perante um ciclista que também ganhou confiança para as grandes voltas e já exige a sua oportunidade. E aos poucos vai mostrando que a merece. Não se pode retirar mérito só porque no pelotão, ou o que restou dele principalmente depois da primeira passagem no Malhão, não o quis perseguir. Kwiatkowski foi o mais forte nesta Volta ao Algarve e só Geraint Thomas estava ao seu nível. A vitória ficou na Sky e o polaco, segundo há um ano depois de uma intensa batalha com Roglic, regressou ao primeiro lugar quatro anos depois.

O polaco ficou com a camisola amarela e com a vermelha dos pontos, tirando-a novamente a Dylan Groenewegen. A branca da juventude foi a única que nunca mudou de corpo desde Lagos. Sam Oomen (Sunweb) começou a Algarvia com dúvidas sobre o seu joelho e terminou com garantias que não só está bem fisicamente, como, estando sem limitações, não tinha concorrência. Benjamin King deu à Dimension Data a camisola azul da montanha.

Não houve um português no pódio. Nelson Oliveira (Movistar) não resistiu à dureza de uma dupla passagem no Malhão e caiu para o 10º lugar, a 2:54 do vencedor. Ainda assim um resultado muito animador para o ciclista de Anadia. Ruben Guerreiro ficou a quatro segundos de um pódio ao qual acabou por subir por instantes para deixar umas palavras e receber o merecido aplauso do público português. O corredor salientou precisamente como mesmo sendo um segundo lugar, era importante para o ciclismo nacional.

Porém, no pódio também não esteve Geraint Thomas. Segundo classificado, a 1:31 do colega de equipa, regressou ao autocarro sem passar pelo momento da consagração. Não lhe ficou bem... Já Tejay van Garderen não faltou. Foi terceiro e o seu sorriso deixou subentender que, apesar de preferir uma vitória de etapa, pódio é pódio! Ficou a 2:16 minutos de Kwiatkowski.

Entre as equipas portuguesas, o melhor foi Vicente Garcia de Mateos (Aviludo-Louletano-Uli), 17º na geral, a 3:47, com o melhor português a ser César Fonte (W52-FC Porto), a 5:18. Uma palavra ainda para Joaquim Silva (Caja Rural) que alcançou o objectivo de terminar no top 25. Fez precisamente essa posição a 4:22 do vencedor. Ruben Guerreiro foi 20º, a 3:54. (pode conferir as classificações neste link).

Assim se fechou mais uma Volta ao Algarve. Uma corrida que teve a marca histórica de 13, das 18, equipas do World Tour presentes. Agora é esperar um ano para que os melhores do mundo regressem a Portugal e seguir em frente numa longa temporada de ciclismo que está apenas a dar as primeiras pedaladas.





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