28 de fevereiro de 2018

"Acho que este ano tenho mais pressão e estou mais nervoso!"

Apenas 19 anos e João Almeida já está numa equipa Profissional Continental e logo aquela que é uma referência na formação de jovens ciclistas. Um ano depois de ter optado por ir para o estrangeiro - representou a Unieuro Trevigiani-Hemus 1896 - assinou pela Hagens Berman Axeon. É um enorme passo na carreira e, apesar da ascensão estar a acontecer muito rapidamente, João Almeida considera ser importante não saltar etapas no seu desenvolvimento: "Ainda sou um adolescente e tenho muito a evoluir. Quero ir com calma." Axel Merckx assegurou mais um português que como júnior demonstrou um enorme potencial e que agora junta-se aos gémeos Oliveira na estrutura americana.

"No ano passado realizei uma boa época. Dei nas vistas e reparam em mim. Tive a ajuda do Matxin e do João Correia, que facilitaram bastante a entrada na equipa. Na altura do Giro d'Italia, já estava tudo bem encaminhado", contou ao Volta ao Ciclismo. Significa que em Junho de 2017, João Almeida já conhecia o seu destino e era do mais animador possível. Ter Matxin e João Correia (antigo ciclista e empresário) ajuda comprovar ainda mais a enorme expectativa que rodeia o jovem corredor. Joxean Fernández 'Matxin' é actualmente director desportivo na UAE Team Emirates, de Rui Costa, sendo um dos principais nomes do ciclismo. Recentemente foi olheiro na Quick-Step Floors.

João Almeida admitiu que não esperava chegar tão cedo a uma equipa desta importância. "Tenho de corresponder à expectativa", afirmou. No entanto, a exemplo do que se tem visto acontecer com os outros jovens que chegam à Hagens Berman Axeon, não é colocada uma pressão excessiva nos ciclistas. "Não me pediram nada de especial. Apenas para estar numa boa forma e para gostar do que faço. Basicamente pediram para conviver com os outros e sermos todos unidos", referiu, acrescentando que o que querem na equipa é que os ciclistas vão desenvolvendo as suas capacidades. "Esta equipa dá-me condições e oportunidades nas grandes corridas, muita aprendizagem....Afinal de contas estou a trabalhar com o Axel Merckx e com o staff. Acho que estou bem entregue", realçou.

"[Os gémeos Oliveira] disseram-me que a equipa era top e que não havia falha nenhuma. Cinco estrelas!"

Em 2017, surpreendeu ao escolher Unieuro Trevigiani-Hemus 1896, uma equipa Continental de nacionalidade búlgara, mas com fortes ligações italianas, país onde fez grande parte da temporada. "Não ia muito stressado. Foram os primeiros tempos fora de casa e nunca é fácil, mas não foi nada fora do normal. Dei-me muito bem na equipa", recordou. Apesar de se descrever como uma pessoa calma, admite que na Hagens Berman Axeon a responsabilidade é diferente: "Acho que este ano tenho mais pressão e estou mais nervoso!"

Foi com a camisola da equipa da Bairrada que João Almeida mostrou todo o seu talento. Títulos nacionais, a Volta a Portugal de juniores, o ciclista somou vitórias e também recebeu a confiança da selecção nacional. Na Unieuro Trevigiani-Hemus 1896 venceu uma etapa no Tour de Mersin (Turquia), na Toscana Terra di Ciclismo Eroica e na Volta à Ucrânia, onde foi ainda o vencedor da classificação da juventude. Somou ainda mais top dez, mas, ainda assim, não ficou completamente satisfeito: "Gostaria de ter sido mais regular." Sofreu uma queda que considera que o prejudicou um pouco, mas frisou que logo entre Março e Abril começou a sentir uma maior evolução, quando ficou frente-a-frente com ciclistas de maior nível. "Foi uma aposta certa", garantiu.

Os gémeos Oliveira e João Almeida (na fotografia em representação da selecção)
 são três das grandes promessas portuguesas naquela que é vista
 como a melhor equipa de formação mundial, a Hagens Berman Axeon
Agora tem dois anos de contrato com a equipa que tem colocado muitos ciclistas no World Tour, incluindo um português, Ruben Guerreiro, actual campeão nacional de elite que representa a Trek-Segafredo. Ao saber que ia para a Hagens Berman Axeon, João Almeida falou com Ivo e Rui Oliveira: "Disseram-me que a equipa era top e que não havia falha nenhuma. Cinco estrelas!"

Vestir a camisola da selecção nacional continua nos seus planos, também a pensar em corridas como o Tour de l'Avenir (Volta a França do Futuro). Na Hagens Berman Axeon ambiciona estar na Volta à Califórnia, principal corrida do calendário dos EUA, que desde o ano passado pertence ao World Tour. Sabe que não será fácil, mas nesta nova fase da sua carreira, que ainda está no início, João Almeida prefere destacar o quanto está entusiasmado e como quer aproveitar o dia-a-dia.

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Nelson Oliveira é o primeiro líder do ranking

A excelente prestação na Volta ao Algarve valeu ao ciclista da Movistar a liderança do ranking nacional após o primeiro mês de competições em Portugal. Nelson Oliveira foi 10º na Algarvia, tendo feito o quinto tempo no contra-relógio, na terceira etapa. Nesta primeira tabela de 2018, no pódio estão apenas corredores que representam equipas do World Tour. Tiago Machado (Katusha-Alpecin) beneficia da fenomenal vitória na Prova de Abertura Região de Aveiro, na qual esteve em fuga solitária durante 80 quilómetros. A fechar aparece o campeão nacional Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo), segundo classificado na etapa do Malhão, na Volta ao Algarve, a apenas quatro segundos de Michal Kwiatkowski (Sky).

Quanto a ciclistas que representam as equipas portuguesas, João Matias (Vito-Feirense-BlackJack) surge na quarta posição, seguido por Luís Mendonça (Aviludo-Louletano-Uli). Ambos subiram ao pódio na Torreira, ao lado de Tiago Machado. O melhor sub-23 é Rui Oliveira. O ciclista da Hagens Berman Axeon somou os 20 pontos que tem ao serviço da selecção nacional, precisamente na prova de abertura.

A equipa algarvia Aviludo-Louletano-Uli começa 2018 na liderança do ranking, mas apenas com dois pontos de vantagem sobre a Vito-Feirense-BlackJack. Mais longe surge a Rádio Popular-Boavista, contudo, estamos apenas no início de temporada que terá um mês de Março muito ocupado, com quatro corridas. A primeira é já neste domingo, com a Clássica da Primavera (Póvoa de Varzim), seguindo-se a Clássica da Arrábida (11), Volta ao Alentejo (de 14 a 18) e a Clássica Aldeias do Xisto (25).

De recordar que em 2018, Amaro Antunes foi o vencedor do ranking nacional, com a sua equipa, a W52-FC Porto, a conquistar por equipas.

Ranking individual

1º Nelson Oliveira (Movistar), 85 pontos
2º Tiago Machado (Katusha-Alpecin), 70
3º Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo), 63
4º João Matias (Vito-Feirense-BlackJack), 50
5º Luis Mendonça (Aviludo-Louletano-Uli), 36
6º Rui Oliveira (Hagens Berman Axeon), 20
7º Luís Gomes (Rádio Popular-Boavista), 15
8º Vicente Garcia de Mateos (Aviludo-Louletano-Uli), 13
9º Rafael Silva (Efapel), 10
10º Daniel Freitas (W52-FC Porto), 7
11º Samuel Caldeira (W52-FC Porto), 5
12º Oscar Hernandez (Aviludo-Louletano-Uli), 3
13º César Martingil (Liberty Seguros-Carglass), 1

Equipas

1ª Aviludo-Louletano-Uli, 52 pontos
2ª Vito-Feirense-Blackjack, 50
3ª Radio Popular-Boavista, 15
4ª W52-FC Porto, 12
5ª Efapel, 10
6ª Liberty Seguros-Carglass, 1

Daryl Impey lidera ranking World Tour

A vitória do sul-africano no Tour Down Under foi importante para este posicionamento inicial do ciclista da Mitchelton-Scott, que começou muito bem o ano. Daryl Impey soma 800 pontos, com Richie Porte (BMC) em segundo, com 460 e Dries Devenyns (Quick-Step Floors) em terceiro, com 400. O pódio é constituído por ciclistas com mais de 30 anos. O melhor português é Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo), que ocupa a 27ª posição, com 120 pontos.

As 12 vitórias que já soma este ano coloca a Quick-Step Floors no topo do ranking por equipas (1169 pontos), seguida pela Mitchelton-Scott (1056) e pela Bora-Hansgrohe (823).

Quanto ao ranking mundial Greg van Avermaet (BMC) mantém-se na primeira posição (3839 pontos), com Chris Froome (Sky, 3682) e Alexander Kristoff (UAE Team Emirates, 3002) imediatamente atrás do belga. Rui Costa, companheiro de Kristoff, é o melhor português: 84º lugar, com  743 pontos. Por nações, temos a Itália (14.677) na liderança, tendo tirado o lugar à Bélgica (14.384), com uma grande ajuda do início de época fulgurante de Elia Viviani. Em terceiro lugar está a França (12.541). Portugal está na 23ª posição (2498).

Estes rankings internacionais são actualizados semanalmente e podem ser consultados neste link, no site da UCI.



27 de fevereiro de 2018

E se o Giro e Vuelta fossem mais curtos? Mas no Tour não se mexe

(Fotografia: Giro d'Italia)
David Lappartient não tem parado de disparar em todas as direcções, querendo ser um presidente da UCI que pretende implementar várias mudanças no ciclismo que façam muita diferença. O doping mecânico tornou-se numa bandeira do seu mandato, abriu guerra aos rádios e aos medidores de potência, quer reduzir ainda mais os ciclistas por equipa nas corridas e agora quer mexer no calendário. Para o francês, Giro e Vuelta deveriam ser mais curtos, mas no Tour não se mexe.

"Creio que o percurso da Volta a França deve-se deixar em três semanas. É o evento mundial de ciclismo", afirmou Lappartient ao jornal italiano La Stampa. Quanto ao Giro e Vuelta, aponta para os 17 dias, mas com três fim-de-semanas: "Falaremos, sem forçar nada. Respeitaremos a vontade dos organizadores." Mas há mais. Para o presidente da UCI exagerou-se na expansão do ciclismo que actualmente chega a todos os continentes. "O ciclismo deve confiar nas suas raízes, que estão na Europa", afirmou, considerando que o aumento de corridas fora do Velho Continente se deveu há globalização.

O que para a anterior direcção foi visto como uma vitória levar o World Tour até à China, por exemplo, ou cimentar a presença na Austrália e na América do Norte com as recentes inclusões no principal calendário da Cadel Evans Great Ocean Race e da Volta à Califórnia, já Lappartient não parece estar tão convencido. Ainda assim, este não parece ser um ponto que esteja a pensar mexer. Já o das grandes voltas tem intenções de pelo menos abordar os organizadores.

Mas fica desde logo a questão: porquê mexer no Giro e na Vuelta e não no Tour, que nos últimos anos tem sido a corrida de três semanas com menos espectáculo e menos indefinição quanto ao resultado final? Lappartient dá valor à história e ainda bem que o faz. Muitas têm sido a corridas que nem o factor histórico as salva. E é francês, isso também terá a sua influência.  A Volta a França foi pioneira. Começou em 1903, sete anos antes do Giro. A Vuelta só em 1935 teve a sua primeira edição. Durante décadas o Tour foi a corrida onde nasceram heróis, criaram-se mitos, viveram-se momentos que sem qualquer dúvida marcam o ciclismo. Mas também o Giro e mesmo a Vuelta têm as suas histórias marcantes.

Porém, nas edições mais recentes, tem sido o Tour que tem perdido para as outras grandes voltas. A domínio da Sky tirou espectáculo e principalmente uma maior indefinição, ainda que seja em França que o melhor do pelotão para este tipo de corridas continua a estar e também continua a ser aquela prova que todos querem estar e eventualmente ganhar. No entanto, a culpa está longe de ser apenas da Sky. O próprio percurso tem sido criticado. As longas etapas planas são desesperantes, as de montanha têm sido perfeitas para o controlo da Sky... Falta um elemento que quebre com o normal e esse até será este ano levar um pouco de Vuelta para França, com uma etapa curta e montanhosa.

Já o Giro e a Vuelta têm sido mais inovadores. Principalmente em Espanha, que se tornou na volta dos trepadores de excelência. Não há praticamente espaço para os sprinters e de ano para ano vai conquistando a preferência de cada vez mais grandes figuras. E o espectáculo? Fica ao gosto de cada um, é certo, mas tem sido uma corrida com muito bom ciclismo quase dia sim, dia sim. E mesmo com a Sky a querer ganhá-la, não houve aquele controlo do Tour, pois o percurso (e os muitos quilómetros nas pernas no final da temporada) torna-o mais complicado. Em Itália há uns anos melhores do que outros, mas só o facto de ser difícil apontar um vencedor, de ser uma das grandes voltas onde têm aparecido novas figuras, beneficiando da fixação das estrelas pelo Tour, tudo isso tem contribuído para três semanas bem interessantes de ciclismo.

Em suma, o Tour... é o Tour, mas deixem as grandes voltas serem três, cada uma com a sua própria alma, cada uma com a sua própria história, cada uma com o seu próprio espectáculo. E com três semanas. O ciclismo evoluiu, como qualquer desporto. Deixou as etapas de mais de 200 quilómetros (até 300), que duravam quase um dia inteiro a completarem, ou as tiradas de montanha de enorme violência... A Vuelta, por exemplo, reinventou-se para encontrar o seu lugar de destaque. O ciclismo não está perfeito, mas dá vontade de dizer, não mexam nas grandes voltas. Principalmente quando há tanto para fazer... Doping, doping mecânico, viabilidade das organizações das corridas, viabilidade e condições das equipas de todos os escalões, das estruturas de formação...

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Volta ao Alentejo recupera contra-relógio e terá quatro equipas do segundo escalão

A Volta ao Alentejo regressa ao mês de Março, depois de um ano de experiência no calendário logo a seguir à Volta ao Algarve. O objectivo era tentar manter em Portugal mais tempo algumas equipas do World Tour, mas o facto da classificação da corrida ser 2.1, acabou por não ser atractiva para as grandes formações. Só a Movistar por cá ficou, ainda que tenha aproveitado para rodar alguns ciclistas. E até ganhou, por intermédio de Carlos Barbero, o primeiro a conseguir vencer duas edições da prova alentejana. A equipa espanhola não estará presente em 2018, mas estarão as três do escalão Profissional Continental - Caja Rural, Burgos-BH e Euskadi Basque Country-Murias -, assim como a belga WB Aqua Protect Veranclassic, que ainda esta terça-feira viu o luxemburguês Alex Kirsch - o único não belga da formação - ser sexto na corrida Le Samyn, ganha por Niki Terpstra (Quick-Step Floors).

Há nove anos que a Volta ao Alentejo não tinha um contra-relógio. Este ano não só reaparece, como estará num dia de jornada dupla, com uma curta etapa de montanha de manhã e o esforço individual à tarde. Outra das novidades é o regresso de Vendas Novas neste caso como cidade de partida. Será mesmo de onde a Alentejana arrancará no dia 14 de Março. Já Évora mantém-se como a eleita para consagrar o vencedor, no dia 18, naquela que será a 36ª edição da corrida.

Esta é uma competição sempre apetecível para os homens rápidos, pois a maioria das montanhas são de quarta categoria. No entanto, há sempre uma dificuldade maior para que também os trepadores se possam mostrar. Será no sábado, na quarta etapa, ou seja, na que se realiza de manhã, antes do contra-relógio. Serão "apenas" 64,2 quilómetros, com partida em Monforte e com a meta em Portalegre. A Serra de São Mamede será o palco de duas contagens de montanha de segunda categoria, a última quando ficam a faltar 5,5 quilómetros para o final. Horas depois realiza-se então o esforço individual de 8,4 quilómetros, em Castelo de Vide.

Percurso:
1ª etapa (14 de Março): Vendas Novas-Serpa, 173,5 km (partida às 11:15/chegada prevista às 15:43)
2ª etapa (15): Beja-Sines, 205,2 km (10:45/16:00)
3ª etapa (16): Grândola-Arraiolos, 149,3 km (11:50/15:43)
4ª etapa (17): Monforte-Portalegre, 64,2km (10:15/11:58)
5ª etapa (17): Castelo de Vide-Castelo de Vide, 8,4 km (primeiro ciclista sai às 16:00 para o contra-relógio)
6ª etapa (18): Castelo de Vide-Évora, 151,3 km (11:55/15:36)

As 21 equipas

O pelotão será maioritariamente constituído pelas estruturas nacionais, as nove do escalão Continental e quatro sub-23, a que se junta também uma espanhola dedicada aos jovens ciclistas. Quanto às do nível Profissional Continental, de salientar a possibilidade de se voltar a ver nas estradas portuguesas Rafael Reis e Joaquim Silva, que recentemente estiveram na Volta ao Algarve com a Caja Rural. Na Burgos-BH está o campeão nacional de 2016, José Mendes. Tanto a Burgos-BH e a Euskadi Basque Country-Murias já eram presenças habituais em Portugal quando pertenciam ao escalão Continental, tendo este ano subido de categoria.

De destacar ainda a presença da Team Wiggins, equipa do ex-ciclista Bradley Wiggins, que estará por Portugal desde a Clássica da Arrábida (11 de Março). A russa Lokosphinx também regressa ao país, recordando que em 2016 venceu a classificação da juventude da Volta a Portugal com Alexander Vdovin.

Aqui fica a lista completa:

Profissional Continental: Caja Rural-Seguros RGA (Espanha), Burgos-BH (Espanha), Euskadi Basque Country-Murias (Espanha) e WB Aqua Protect Veranclassic (Bélgica).

Continental: Aviludo-Louletano-Uli, Efapel (Portugal), LA Alumínios, Liberty Seguros-Carglass, Miranda-Mortágua, Rádio Popular-Boavista, Sporting-Tavira, Vito-Feirense-BlackJack, W52-FC Porto, Team Euskadi (Espanha), Lokosphinx (Rússia), Team Wiggins (Reino Unido).

Sub-23: FGP-CUBE-Bombarral, Fortuna-Maia, Jorbi-Team José Maria Nicolau, Sicasal-Constantinos-Delta Cafés, Peña Beniopa Ginestar (Espanha).



26 de fevereiro de 2018

"GFNY será a festa do ciclista amador"

(Imagem: Facebook GFNY Portugal)
Seja um profissional por um dia! E porque não? Foi sob este lema que nasceu o GFNY (Gran Fondo Nova Iorque) em 2011. Sete anos depois expandiu-se e tornou-se num autêntico campeonato para ciclistas amadores, que, por um dia, podem viver toda a experiência de uma corrida como se fossem profissionais. Por um dia ou não só, caso escolham fazer mais do que um dos 15 GFNY que fazem parte de um calendário, que se está a tornar numa viagem pelo mundo. Em 2018, uma das paragens será em Portugal, com Cascais a receber a partida e chegada, num percurso - o mais longo - que passa por Ericeira, Mafra e testará a resistência de todos na Serra de Sintra. "Aqui temos condições excepcionais. Temos serra, mar, toda a orla, beleza natural, história... Unimos tudo num sítio", salientou Ana Paula Cavalcanti, a responsável pela inclusão de Portugal no GFNY.

Depois da experiência de organizar a prova no Brasil, Ana Paula Cavalcanti juntou agora duas paixões: Portugal e o ciclismo. Viver cá era algo que desejava há muito e ao concretizar esse objectivo foi desafiada pelos fundadores do GFNY em organizar a competição em território português. "Quando lhes disse que me estaria desligando do gran fondo do Brasil porque estava a mudar-me para Portugal, já era um sonho deles fazer a prova aqui. Eles estão falaram comigo para levar o GFNY para Portugal e eu respondi: 'agora'", contou ao Volta ao Ciclismo.

O número de gran fondos no país tem vindo a aumentar e este ano Lisboa também terá o seu. Mas afinal, no que difere o GFNY? "A diferença primordial é que nós não estamos a fazer o GFNY para ganhar dinheiro. Primeiro temos a preocupação de trazer um grande evento para Portugal, para Cascais, para todos os ciclistas que vão fazer o gran fondo. O nosso lema é oferecer a todos os ciclistas a experiência profissional por um dia. Toda a estrutura será uma para profissionais. Desde a cronometragem por chip, haverá rei/rainha da montanha, policiamento em toda a via, vias completamente fechadas ou parcialmente, mas com o trânsito controlado - os ciclistas terão a prioridade -, segurança, saúde, ambulâncias... Enfim, toda a estrutura! Carros e motos de apoio, apoio mecânico em todo o percurso, tanto nas tendas de hidratação, como apoio móvel... Toda a estrutura oferecida a um atleta profissional, será oferecida no GFNY em Portugal", assegurou Ana Paula Cavalcanti.

Dia 9 de Setembro haverá dois desafios à espera de quem quiser participar nesta festa do ciclismo. O mais curto será de 82 quilómetros, com um desnível de 1120 metros, já o mais longo será de 162 quilómetros e 2281 metros de desnível. O mediofondo não terá carácter competitivo, que basicamente significa que não terá pódio, pois todas as restantes condições são iguais nas duas provas. "GFNY será a festa do ciclista amador. Um lugar de encontro, para conhecer as novidades, para fazer uma prova bacana, bem organizada. E com esta paisagem sensacional!" Ana Paula Cavalcanti explicou que não será apenas um domingo de corrida, será todo um fim-de-semana prolongado (a partir de sexta-feira) dedicado ao ciclismo. Na Marina de Cascais, onde estará instalada a partida e a meta, também haverá uma bike expo, concertos e a organizadora referiu que juntamente com a Associação de Ciclismo de Lisboa, um dos parceiros desta prova em Portugal, está a ser pensada uma forma de também proporcionar aos mais novos uma oportunidade de também ter a sua prova.

Sérgio Paulinho e Vanessa Fernandes são dois dos embaixadores do GFNY Portugal. Dois medalhados olímpicos, duas referências do desporto nacional. E escolher uma mulher era importante para Ana Paula Cavalcanti: "Queremos incentivar as mulheres a pedalar. No Brasil tivemos um boom. Nós estamos muito próximas do número de homens, se é que não estamos quase a ultrapassar." Ficou ainda a expectativa de por cá estar também um ciclista de renome estrangeiro.

A partida será às 8:00 e há muito tempo para completar as distâncias, pois até às 17:00 a estrutura estará toda a funcionar em prol dos muitos ciclistas que são esperados. As inscrições estão a decorrer e o limite é de três mil (pode ver aqui). "Tudo será feito para o ciclistas preocuparem-se exclusivamente com o seu dia de prova, em completar o seu percurso e atingir o seu objectivo", garantiu.

O norte do país é a zona que está mais tradicionalmente mais ligada à modalidade, sem esquecer, naturalmente, que há duas equipas profissionais algarvias, assim como a corrida de categoria mais elevada a ser realizada no país: a Volta ao Algarve. Portanto, porquê Cascais para o GNFY? "Justamente para trazer para esta região o ciclismo. Trazer a paixão para aqui. Há aqui muitos praticantes e há uma carência neste tipo de provas", referiu. Depois coloca-se a questão geográfica, com Cascais a ser também um local importante para atrair estrangeiros, com Ana Paula Cavalcanti a salientar a proximidade com o aeroporto.

Visto já como um dos eventos do ano em Cascais, apesar da componente de lazer que rodeia o GFNY, há um lado competitivo que atrairá certamente muitos ciclistas amadores, portugueses e de outras nacionalidades. À espera dos vencedores, tanto nos homens como nas mulheres, está uma Specialized Tarmac 2018. Apesar de existirem categorias, as bicicletas serão o prémio para quem cortar a meta primeiro, independentemente da idade. "Isto é uma novidade para os gran fondos em Portugal. Os portugueses e os atletas que participarem merecem", realçou. Como em todos os GFNY, quem ganhar tem também entrada directa na prova original, ou seja em Nova Iorque, e no primeiro pelotão. A organizadora disse ainda que está a ser negociado um prémio adicional, mas teremos de esperar para o conhecer.

Ana Paula Cavalcanti convida todos a participarem nesta festa do ciclismo amador, seja com que bicicleta for, excepção feita às eléctricas e nada de motores! E ficou ainda uma garantia: "Vamos ficar em Cascais durante cinco anos."

Um pouco de história

Lidia e Uli Fluhme são os fundadores do GFNY. Antiga bancária em Wall Street e ele um advogado são apaixonados pelo desporto. Lidia já terminou sete vezes Ironman no Havai. Quando em 2010 começaram a tentar organizar o primeiro gran fondo, Lidia tinha como condição que a partida fosse na ponte George Washington e, apesar de ter ouvido muitos 'não', não desistiu e quando em 2011 a prova foi pela primeira vez para a estrada, o arranque foi onde queria. Em 2014, Terracina (fica a cerca de 80 quilómetros de Roma) recebeu o primeiro GFNY fora de Nova Iorque, seguindo-se Cozumel, no México.

Desde então que o calendário tem vindo sempre a crescer. No domingo, foi precisamente no México que arrancou o primeiro GFNY em 2018, em Monterrey. Colômbia, Costa Rica, Uruguai, Brasil, Panamá e Chile, completam uma viagem pelas Américas. Na Europa, além de Portugal, Alemanha, França e Polónia recebem a competição. A prova polaca também será uma estreia. Em Israel, Jerusalém é o local eleito, com a Indonésia e a Malásia a levar o pelotão amador até ao continente asiático.

"Cascais é, sem dúvida, o melhor destino de ciclismo em Portugal. Com tantas opções de percursos para antes e depois da corrida, uma viagem ao GFNY Portugal irá proporcionar umas divertidas férias de ciclismo. O percurso será uma montra da beleza de Cascais e dos locais em redor e, ao mesmo tempo, irá providenciar um grande desafio a todos", afirmou Lidia Fluhme, citada no site Endurance Sportswire.




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25 de fevereiro de 2018

Avermaet prefere ter Sagan ao seu lado nas clássicas

(Fotografia: Chris Auld Photography/BMC)
Não há razões para se preocupar, mas o início das clássicas não foi o desejado por Greg van Avermaet. O belga avisou que se sentia melhor e que estava mais em forma do que em 2017, contudo, apesar de se ter mostrado na frente das corridas, acabou com resultados discretos. E é fácil explicar porquê. Avermaet foi o principal alvo das atenções de toda a concorrência, estatuto que normalmente pertence a Peter Sagan. O eslovaco adiou este ano o seu início nesta fase da temporada para o próximo sábado, falhando as duas primeiras corridas este fim-de-semana. Avermaet disse logo que preferia ter o seu grande rival em prova e tinha razão.

Nos últimos dois anos, o belga começou as clássicas deixando Sagan em segundo na Omloop Het Nieuwsblad. Apenas dois exemplos do eslovaco ser sido batido por Avermaet. É já uma das rivalidades que não se esquecerá e a prova como ter ciclistas de elevado nível como adversários, não só traz o melhor de cada um ao de cima, como, no caso de belga, o ajuda mesmo a vencer. "Parece estranho dizer, mas às vezes é mais fácil ter alguém como ele contigo, do que se ser o favorito para que todos olham. Acho que vai ser mais difícil." A frase foi de facto um prenúncio do que se veio a ver tanto na Omloop, no sábado, como este domingo na Kuurne-Bruxelles-Kuurne.

O que Avermaet disse ainda, explica bem o porquê de querer ter Sagan rapidamente ao seu lado: "Para mim não é uma vantagem o Peter não estar. Gosto de correr com o Peter. Ele abre a corrida e pedala a todo o gás." Esta é uma característica que marca de facto o tricampeão mundial e que tanto faz dele um dos melhores ciclistas, como também lhe traz muitos dissabores, pois trabalha tanto, para depois, por vezes, perder no último esforço.

Avermaet soube usar esta característica de Sagan a seu favor e bem sentiu a falta do rival. Depois da Omloop, corrida na qual andou na frente, mas não conseguiu discutir a vitória - foi 50º a 12 segundos de Michael Valgren (Astana) - o belga referiu como houve ataques, mas não houve cooperação no grupo que se formou na frente. Disse como tentou atacar, mas não quis ser apenas ele a puxar, enquanto todos ficavam na sua roda... Faltou-lhe Sagan!

Na Kuurne-Bruxelles-Kuurne ficou na 56ª posição, numa corrida decidida ao sprint. Avermaet ainda se mostrou, mas rapidamente percebeu que dificilmente seria o seu dia. Ele vestiu a pele de Sagan e não foi agradável ver-se no papel de alvo a abater, ou pelo menos de alvo a receber muita (quase toda) a atenção. Na perspectiva dos adversários, os seus ataques eram para ser anulados ou aproveitados para ter uma roda a seguir, não para cooperar numa fuga. E pensamos: sina de Sagan!

Mas, como se começou este texto, não há razões para se preocupar. Até haverá muitas ilações a tirar. É que mesmo quando tiver Sagan a seu lado, Avermaet vai continuar a estar debaixo de olho da concorrência. É o preço de ter começado a ganhar muito e em grande em 2016 e 2017. O campeão olímpico está a apontar as baterias à Volta a Flandres, depois de ter conquistado o seu primeiro monumento no Paris-Roubaix. Quebrou um enguiço que estava difícil, mas é Flandres que mais quer. Ele e Sagan até se aliaram no ano passado para perseguir Philippe Gilbert, mas aquele casaco nas grades traiu os dois. Sagan caiu e levou com ele o belga. Aliás, os dois belgas, pois Oliver Naesen também lá estava.

As boas notícias para Avermaet (e para quem gosta de clássicas) é que Peter Sagan estará de volta no sábado, na Strade Bianche, e andará de "mãos dadas" no calendário com o rival até à Amstel Gold Race. Ou seja, depois da corrida do sterrato virá o Tirreno-Adriatico, Milano-Sanremo, E3 Harelbeke, Gent-Wevelgem, Volta a Flandres, Paris-Roubaix e depois, então, a corrida que abre a semana das Ardenas. Antes de Roubaix, Sagan estará na Scheldeprijs, já Avermaet prefere saltar essa competição.

Foi um estranho início de clássicas sem Peter Sagan. Até Avermaet sentiu a sua falta! Mas a normalidade está prestes a regressar.

»»Dia de espectáculo da velha e da nova geração««

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»»Um estranho início das clássicas sem Peter Sagan««

Dia de espectáculo da velha e da nova geração

Duas corridas por etapas, duas vitórias para Valverde
(Fotografia: Facebook Volta a Abu Dhabi)
A época está a começar a aquecer. Arrancaram as clássicas, mas vão continuando as provas por etapas e hoje foi um daqueles dias de muito bom ciclismo com a velha e a nova geração a mostrarem-se. E de que maneira! Alejandro Valverde retomou definitivamente a forma de 2017. Não parecem restar sequelas da grave queda no Tour, depois de se ter temido que a carreira poderia chegar ao fim. Duas corridas por etapas, duas vitórias. Por outro lado tivemos Dylan Groenewegen. Ganhou recentemente os sprints de Lagos e Tavira na Volta ao Algarve, antes venceu na primeira tirada da Volta a Omã e agora foi até à Kuurne-Bruxelles-Kuurne bater novamente Arnaud Démare. Não foi apenas melhor, foi de uma superioridade que já só se pede (quase se implora) vê-lo na discussão com mais concorrência, em luta com os principais sprinters, além de um Démare que já deve estar a ficar algo frustrado com o holandês.

Mas há que respeitar quem já tem um enorme currículo - que continua a aumentar - e começar por Alejandro Valverde. Iniciou a temporada a dizer que estava à procura de perceber como estava fisicamente nas corridas. Essa questão ficou resolvida com um 40º lugar na primeira das clássicas espanholas e depois foi terceiro e quarto lugar. Na Volta à Comunidade Valenciana ganhou duas etapas e a geral, fez segundo em Múrcia (prova de um dia) e agora venceu a etapa rainha em Abu Dhabi e a geral. "Começar desta maneira o ano dá muita motivação e anima-te para continuar a trabalhar", salientou o espanhol. E a motivação está mesmo em alta. O "Bala" já fala até em ir à Strade Bianche no próximo sábado, ainda que a próxima corrida no seu calendário fosse a Volta à Catalunha, que começa a 19 de Março.

Caminha para os 38 anos e simplesmente quer mais, mais e mais. Numa equipa que tenta mostrar união numa clara divisão entre Nairo Quintana e o reforço Mikel Landa, Valverde mantém o seu lugar intocável na Movistar. Onde vai, é para ganhar e se ninguém duvida que estará mais do que disponível para ajudar os outros dois líderes quando chegar a altura, ainda são menos as dúvidas que este Valverde, que pareceu estar tão perto de terminar a carreira devido à queda no contra-relógio no Tour, ainda tem tanto para dar. Abram alas, Valverde tem mais umas vitórias para amealhar e o olhar começa a ficar muito fixo nos Mundiais, a grande conquista que lhe falta na carreira.

Groenewegen deixou Démare bem distante (Imagem: print screen)
Quem também tem muitas vitórias pela frente é certamente Dylan Groenewegen. Está feito num sprinter fortíssimo e vai confirmando credenciais nas clássicas. 24 anos, 27 vitórias e vencer nos Campos Elísios em 2017 foi provavelmente apenas o início de uma senda grandes triunfos. O na Kuurne-Bruxelles-Kuurne confirma também a sua apetência para este tipo de clássicas. É certo que esta é das provas de pavé mais "simpática" para os sprinters, mas Groenewegen teve a oportunidade para ganhar experiência nestas corridas nos últimos anos e tem agora a liberdade e a responsabilidade de começar a recolher os frutos dessa fase de aprendizagem. E bem pode dar umas dicas a Fernando Gaviria (Quick-Step Floors), outro sprinter a tentar vingar nas clássicas do pavé, mas com um início desanimador: caiu na Omloop Het Nieuwsblad e abandonou na Kuurne-Bruxelles-Kuurne.

O trabalho da Lotto-Jumbo - descendente da Rabobank - com ciclistas jovens, a paciência que teve em esperar que se fizessem ciclistas, poderá a curto prazo colocar esta equipa noutro nível. Groenewegen está a fazer a sua parte, segue-se George Bennett (27 anos), que se irá tornar na grande aposta para as grandes voltas, sem que se tenha perdido totalmente a esperança em Steven Kruijswijk (30).

Em baixo ficam as classificações, via ProCyclingStats, da Volta a Abu Dhabi, com Rui Costa (UAE Team Emirates), vencedor em 2017, a terminar na oitavo posição, a 1:28 de Valverde (por defeito está a aparecer a classificação por equipas, basta carregar na "general" para ver a individual)...


... e da Kuurne-Bruxelles-Kuurne, que não contou com ciclistas portugueses.


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24 de fevereiro de 2018

Astana perdeu Aru, está sem financiamento, mas reencontrou-se com as vitórias

Valgren venceu com um ataque a que ninguém respondeu
(Fotografia: Twitter Omloop Het Nieuwsblad)
Quase dá vontade de dizer "Fabio Aru, para que te quero". A Astana perdeu a sua principal figura, não substituiu o italiano, mas substituiu os resultados. Há um ano a equipa estava a zero em termos de vitórias e ainda teria de esperar mais dois meses pela primeira. Este ano já são cinco os triunfos e os ciclistas têm demonstrado uma enorme confiança que em 2017 andou algo perdida entre a falta de resultados e a trágica morte de Michele Scarponi. E no dia em que foram tornados públicos os problemas financeiros que ameaçam a continuidade da equipa, a resposta foi enorme. Michael Valgren venceu a Omloop Het Nieuwsblad. Mas além da vitória ficou bem clara toda a atitude agressiva (no melhor dos sentidos) da Astana, pois no grupo que discutiu a corrida estavam três homens da formação cazaque. Pode ter perdido a referência das três semanas, mas a Astana reencontrou-se com a forma que lhe era habitual e entra na fase das clássicas a merecer o maior do respeito.

Este sábado foi Michael Valgren, o primeiro dinamarquês a vencer nesta clássica belga que abriu a temporada destas corridas com espectáculo, mesmo sem Peter Sagan. Valgren ficou no grupo decisivo juntamente com Oscar Gatto e Alexey Lutsenko, ciclista que recentemente venceu a Volta a Omã. Zdenek Stybar (Quick-Step Floors), Daniel Oss (Bora-Hansgrohe), Matteo Trentin (Mitchelton-Scott), Sep Vanmarcke (EF Education First-Drapac powered by Cannondale), Wout van Aert (Vérandas Willems-Crelan) - um campeão do mundo de ciclocrosse e que já promete na estrada - Oliver Naesen (AG2R) e o vencedor das últimas duas edições Greg van Avermaet (BMC) estavam no grupo, entre outros, e mantiveram a corrida em aberto até bem perto do final. Dependia da Astana jogar as suas cartas e acertou em cheio com Valgren que viu a concorrência ficar a marcar-se e não responder ao seu ataque final.

Horas antes tinham sido publicadas as bombásticas declarações de Alexander Vinokourov: "A situação é crítica." O director da equipa referiu, numa entrevista ao meio de comunicação social cazaque Vesti,  que o financiamento do governo para 2018 ainda não chegou e que o próprio futuro da estrutura está em causa. "Estamos a ir para as corridas com as nossas poupanças. Os rapazes não receberam os seus salários", disse. Porém, é neste ponto que surgiram algumas dúvidas. O Cycling Weekly falou com membros do staff e alguns ciclistas e estes garantem que têm recebido o que lhes é devido.

"Não sabíamos de nada em Omã, mas penso que é algo que passará. Ouvimos, pensamos nisso, mas estamos confiantes e calmos. Vamos ficar calmos que tudo ficará bem", afirmou Miguel Ángel López ao site. O director desportivo Dmitri Sedoun também afirmou que está a receber o salário. "Ouvimos que houve um atraso no financiamento, mas a equipa está a agir normalmente, como podem ver", disse.

A Astana vai na sua 13ª temporada, sempre com o forte apoio do governo do Cazaquistão. Alexander Vinokourov, o actual director, foi das suas primeiras figuras, juntamente com um jovem Alberto Contador. A equipa conta com vitórias nas três grandes voltas, duas na Liège-Bastogne-Liège, uma das quais por intermédio de Vinokourov que foi também campeão olímpico. Dos 256 triunfos no historial é notória a maior apetência para as provas por etapa.

Tem sido das estruturas com maior orçamento, contudo, nos últimos anos tem visto sair as suas principais referências, sem que as tenha conseguido substituir com ciclistas com o mesmo estatuto no pelotão. Primeiro foi Vincenzo Nibali que não quis ficar em segundo plano e foi para a nova Bahrain-Merida, mas a aposta em Fabio Aru da Astana acabou igualmente com a saída do italiano, agora o líder da UAE Team Emirates. A decisão de Aru fechou um ano atribulado para a equipa. Ia apostar forte no Giro100, mas Aru caiu e ficou de fora da corrida. Scarponi foi chamado à liderança, até venceu uma etapa da Volta aos Alpes, mas dias depois foi atropelado mortalmente durante um treino.

Só em Junho, com Jakob Fulgsang a vencer o Critérium du Dauphiné, é que regressou uma certa normalidade, mas os resultados ficaram sempre aquém dos esperado (18 triunfos, três dos quais no habitual domínio no Tour de Almaty). Valeu a vitória de etapa de Aru no Tour - e ainda andou de amarelo - e as três na Vuelta, duas por López e uma por Lutsenko. A saída de Aru parecia ser algo mais do que anunciado, mas quando finalmente o italiano confirmou que estava a caminho da UAE Team Emirates, Vinokourov ficou furioso e acusou Aru de deixar a equipa sem possibilidade de contratar alguém, por ser demasiado tarde e por os principais ciclistas já terem definido o seu futuro. Chegou mesmo a ameaçar judicialmente o corredor.

Na estrada, a reacção da Astana à perda de uma individualidade foi mostrar-se mais forte colectivamente. Cinco vitórias em dois meses são importantes, principalmente depois de um 2017 tão negativo e ainda mais se se confirmar a falta do apoio financeiro que segura a estrutura. Os ciclistas estão a responder da melhor maneira às adversidades e às suspeições que a Astana poderia estar a perder competitividade. A verdade é que, para já,  o que se vê é uma equipa vencedora e as expectativas começam a ficar altas pensando já no Giro, que terá Miguel Ángel López como líder e o Super-homem, como é chamado, tem muito (mas mesmo muito) para mostrar e talvez fazer rapidamente esquecer Fabio Aru.

De realçar que há também uma estrutura Continental, a Astana City, que serve principalmente de formação aos jovens cazaques, que ambicionam chegar a equipa do World Tour.

Quanto à Omloop Het Nieuwsblad, aqui ficam as classificações, via ProCyclingStats. Este domingo é dia da Kuurne-Bruxelles-Kuurne, corrida que não pertence ao World Tour, mas tem sempre um pelotão de luxo (basicamente o mesmo que hoje competiu). Peter Sagan venceu em 2017, mas este ano só se irá estrear nesta fase da temporada na Strade Bianche, a 3 de Março.


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23 de fevereiro de 2018

Um estranho início das clássicas sem Peter Sagan

Sagan não estará nas primeiras clássicas do ano
(Fotografia: Bettiniphoto/Bora-Hansgrohe)
Quando este sábado o pelotão arrancar para a corrida que se pode dizer que abre a época das clássicas, a Omloop Het Nieuwsblad, será estranho não ver Peter Sagan e a sua camisola de campeão do mundo. O eslovaco, segundo classificado nas últimas duas edições atrás de Greg van Avermaet, escolheu um calendário um pouco diferente, de forma a aproveitar mais a sua recente paternidade. Só na Strade Bianche regressará à competição (3 de Março), mas haverá até lá umas corridas que servem para começar a aquecer os motores e a fazer crescer o apetite pela Volta a Flandres e, claro, o Paris-Roubaix.

O pavé marca então esta primeira fase de clássicas e há alguns frente-a-frente que se espera ver. Mesmo com Sagan menos presente, não faltará espectáculo. Basicamente, o eslovaco é rival de todos, mesmo tendo uma tendência para os segundos lugares. Seja em que clássica participar, será sempre candidato (provavelmente, "o" candidato) e mais do que nunca parte para a época determinado em confirmar as expectativas de amealhar monumentos. Mas há outras rivalidades e aproveitando que Sagan começa de fora, aqui ficam alguns exemplos a ter em atenção.

Greg van Avermaet/Philippe Gilbert
Quando estavam na BMC já havia rivalidade. É o próprio Greg van Avermaet (31 anos) que admite que a saída do compatriota para a Quick-Step Floors foi positivo para que ficasse mais livre e sem concorrência interna. Avermaet ganhou em 2017 o seu primeiro monumento no Paris-Roubaix, depois de muito esbarrar em azares, ou em segundos lugares frustrantes. A Gilbert (35) fez muito bem a mudança de ares. Regressou às grandes vitórias e que grande vitória foi aquela na Volta a Flandres! Em 2018 surgem os dois extremamente motivados e com a ambição em alta. Avermaet diz estar em melhor forma do que no ano passado e quer mais uns monumentos. Gilbert vai apostar forte na Milano-Sanremo e no Paris-Roubaix para tentar entrar na história, ficando com os cinco monumentos no currículo. São os dois belgas, estão com objectivos idênticos e esta promete ser uma rivalidade quentinha...

Oliver Naesen/Tiesj Benoot/Jasper Stuyven
Tom Boonen saiu de cena após o Paris-Roubaix de 2017, mas na Bélgica não há crises de quem poderá tomar o seu lugar. Até porque Gilbert e Avermaet são duas referências a ter em conta, ainda que sem o currículo no pavé de Boonen. Mas no país já se olha além dos dois ciclistas referidos. Oliver Naesen (27 anos), Tiesj Benoot (23) e Jaspert Stuyven (25) são os senhores que se seguem. Candidatos são certamente. Naesen confirmou no ano passado o seu potencial para estas corridas e a AG2R pode continuar mais concentrada em Romain Bardet e no Tour, mas já percebeu que tem muito a ganhar com este belga, que irá contar com uma ajuda preciosa do reforço Silvan Dillier (ex-BMC). Quanto a Benoot, terá este ano maior responsabilidade na Lotto Soudal, depois de ter demonstrado enquanto sub-23 que tem capacidade e principalmente inteligência táctica para estar ao nível dos mais experientes. Benoot e Naesen são a rivalidade da nova geração belga, juntamente Jasper Stuyven. Mesmo tendo Degenkolb na equipa, a Trek-Segafredo tem todo o interesse em dar liberdade ao jovem belga. Em 2016 venceu a Kuurne-Bruxelles-Kuurne e no ano passado foi segundo e depois quarto em Roubaix.

Arnaud Démare/Fernando Gaviria
Dos sprints para as clássicas. É a primeira rivalidade lógica que Gaviria terá, muito por ambos serem sprinters. Démare (FDJ) já tem um momumento, a Milano-Sanremo (2016) e este ano preparou-se muito para tentar melhorar as suas exibições nas corridas de um dia e não focar-se apenas na Volta a França. Já Gaviria (Quick-Step Floors), depois de ter sido avassalador na estreia numa grande volta, no Giro100 - quatro vitórias de etapa e a classificação dos pontos -, não só quer ir fazer o mesmo no Tour, como decidiu que vai já para as clássicas. Há uma enorme curiosidade para o ver em acção na Volta a Flandres e no Paris-Roubaix. Fisicamente tem o poderio que se pede, mas isso não chega e que o diga Démare. Antes dos monumentos do pavé, haverá a Milano-Sanremo e os dois partirão como fortes candidatos. Dois sprinters, que passam bem certas subidas... Junta-se Sagan e temos um potencial pódio... Se Michal Kwiatkowski não aparecer para surpreender outra vez!

Sep Vanmarcke/Sep Vanmarcke
Sendo a Bélgica terra de classicistas aqui temos um que causa enorme frustração. Em 2012 venceu esta corrida e juntou mais uns quantos resultados promissores. Somou top dez, uns pódios, mas vitórias nem vê-las. Pelo meio apareceram umas quedas ou outros azares. Vanmarcke consegue ser o seu principal rival. Não precisa de ninguém para o tirar da luta. Aos 29 anos ainda se acredita que poderá fazer algo. Afinal, praticamente todos os anos mostra o seu talento. Mas fica sempre a faltar algo. Vanmarcke (EF Education First-Drapac powered by Cannondale) precisa de superar-se a si próprio. Se o conseguir, será um espectáculo vê-lo e quem sabe alcance finalmente a grande vitória que lhe parecia estar destinada. Tem Greg van Avermaet como exemplo... Nunca é tarde!

John Degenkolb/John Degenkolb
Mais um caso de um ciclista tem ele próprio como principal rival. Desde o atropelamento que foi vítima durante o estágio em 2016 que o alemão nunca mais se reencontrou com a confiança. Esteve em forma no ano passado. Isso mesmo demonstrou quando conseguia estar na frente das corridas. Porém, nunca respondeu nos momentos decisivos e não pareceu ser por falta de pernas. Estamos a falar de um ciclista que venceu a Milano-Sanremo e o Paris-Roubaix em 2015. Porém, na Trek-Segafredo não só está longe de fazer esquecer Fabian Cancellara, como está longe de se lembrar de como é vencer grandes corridas. Degenkolb (29 anos) está a precisar urgentemente de um triunfo numa clássica para assim, talvez, reencontrar o seu caminho e afastar certos certos fantasmas.

Fabio Fellline/Matteo Trentin
Talvez haja a tentação para se dizer que os italianos estão a jogar por fora. Porém, principalmente Matteo Trentin, é um ciclista a ter muito em conta. Nesta disputa transalpina, o ciclista que agora representa a Mitchelton-Scott está, aos 28 anos, a viver a melhor fase na carreira. Fechou o ano, na Quick-Step Floors, com quatro etapas na Vuelta e um quarto lugar nos Mundiais. Trentin não quis mais ser lançador de ninguém e surge agora com convicção que pode também no pavé conquistar uma vitória. A rivalidade com Felline (27 anos) será interessante, tendo em conta que o homem da Trek-Segafredo até se tem mostrado, mas no ano passado foi um dos que aprendeu de quanto custa tentar deixar Sagan fazer o trabalho todo. O eslovaco aprendeu de vez que ou ajudam, ou não leva ninguém à frente para depois perder. Kwiatkowski foi uma grande lição para Sagan! Felline tem o potencial, mas tacticamente não é tão forte como Trentin. Ainda assim, Itália tem aqui dois ciclistas que pode suceder a Alessandro Balan (2009) como vencedores da Volta a Flandres, com Trentin a ir também a Roubaix, onde um italiano não ganha desde Andrea Tafi, em 1999.

Estas são apenas uma rivalidades particulares, numas clássicas de pavé que tanto espectáculo costumam proporcionar. Zdenek Stybar, Niki Terpstra (vencedor do Paris-Roubaix em 2014) e Yves Lampaert, todos da Quick-Step Floors, são armas a jogar por uma equipa belga sempre muito forte para esta altura do ano. Dylan van Baarle tem nesta fase da época a oportunidade para se mostrar na Sky, depois de bons resultados, principalmente na Volta a Flandres, ao serviço da então Cannondale-Drapac; Edvald Boasson Hagen (Dimension Data) tem a experiência do seu lado, mas falta-lhe uma grande clássica no seu currículo; Michael Matthews (Sunweb) vai aparecer em algumas provas do pavé, mas apostará mais na semana das Ardenas e antes na Milano-Sanremo (e cuidado com ele); Alexey Lutsenko (Astana) ganhou há poucos dias a Volta a Omã e o cazaque vem com grandes ideias para este fim-de-semana de clássicas.

Omloop Het Nieuwsblad abre então a temporada de clássicas e terá transmissão neste sábado no Eurosport2, a partir das 14:30. E no domingo, será a vez da Kuurne-Bruxelles-Kuurne, que apesar de não fazer parte do calendário World Tour, é sempre muito bem frequentada pelos corredores especialistas nestas corridas (13:00, no Eurosport2).

»»Tom Boonen vai ser conselheiro na rival da Quick-Step Floors««

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Lobato pensou que a carreira tinha terminado, mas equipa italiana deu-lhe uma nova oportunidade

(Fotografia: Nippo-Vini Fantini-Europa Ovini)
Ser despedido por recorrer a medicamentos não autorizados pelos médicos da equipa é meio caminho andado para colocar a carreira em risco. Juan José Lobato percebeu isso mesmo. Pode não ter perdido a esperança de que alguém lhe voltasse a dar a mão, mas admite que pensou o pior. O espanhol vai ter uma nova oportunidade que lhe é dada pela Nippo-Vini Fantini-Europa Ovini e tem bem a noção que não a pode desperdiçar. "Os triunfos não se podem prometer, mas posso garantir que vou deixar a pele para lhes agradecer a confiança depositada em mim", salientou o ciclista.

Depois da Lotto-Jumbo ter terminado o contrato quando descobriu que o espanhol e mais dois ciclistas tinham ingerido medicamentos para dormir não autorizados pela equipa - mas legais, pois não foi colocado em causa a violação do regulamento anti-doping -, Lobato esteve dois meses a treinar perante a incerteza se, aos 29 anos, voltaria a receber um contrato. A equipa holandesa manteve os jovens Antwan Tolhoek e Pascal Eenkhoorn, mas não perdoou Lobato. "Foram uns meses muito difíceis e que cheguei a pensar que a minha etapa como profissional tinha acabado. Porém, não deixei de treinar com a esperança de encontrar uma equipa que confiasse em mim", afirmou, num texto publicado nas redes sociais.

"Confiança" é a palavra-chave nesta nova fase de Lobato, que bem precisa de a reconquistar. O espanhol foi encontrado no estágio da equipa, em Dezembro, a dormir sem que os responsáveis o conseguissem acordar. Antes já os dois jovens holandeses tinham levantando suspeitas por comportamentos estranhos. Os três chegaram a ser transportados para o hospital, com Lobato e Eenkhoorn a passarem a noite sob observação.

Seria o segundo ano de Lobato na Lotto-Jumbo, depois de três na Movistar. O espanhol foi à procura de mais liberdade para obter os seus resultados, mas não confirmou as expectativas, somando apenas uma vitória, na primeira etapa do Tour de l'Ain. Na Nippo-Vini Fantini-Europa Ovini, Lobato certamente que terá a sua liberdade, mas na apresentação foi destacado como será um membro importante para ajudar os líderes.

"Conheço as razões que levaram a Lotto-Jumbo e o Juan a chegarem a acordo e depois de ter recebido garantias da equipa do comportamento do atleta durante 2017 que, apesar de uma fase complicada da sua carreira, mostrou ser profissional durante a época, decidimos dar-lhe uma segunda hipótese", referiu Franceso Pelosi, director geral da Nippo-Vini Fantini-Europa Ovini. O responsável explicou que no ano passado Lobato separou-se da mulher pouco depois do nascimento do filho e que sofreu a perda de um "familiar e mentor no ciclismo", que morreu aos 43 anos.

"O Juan José percebeu completamente como trabalhar nas equipas que colocam as regras como base do projecto. Por essa razão, estou convencido que ele já pagou pela distracção que cometeu e que nunca irá repetir os mesmos erros. Agora só precisa desta nova oportunidade e desta nova camisola para voltar a brilhar e continuar a sua bela e promissora carreira", disse Pelosi.

A Nippo-Vini Fantini-Europa Ovini é uma parceria entre empresas italianas e japonesas, que pelo segundo ano consecutivo ficou de fora dos convites para a Volta a Itália. No entanto, estará presente na Strade Bianche, Tirreno-Adriatico e no primeiro monumento do ano, Milano-Sanremo. Damiano Cunego é a grande figura da equipa  do escalão Profissional Continental e que tinha previsto retirar-se após o Giro, mas o plano terá de ser alterado depois de saber que não estará presente por falta de um wildcard.