5 de janeiro de 2018

AMA poderá abrir caso contra Froome. Aumentam as vozes que defendem suspensão do ciclista da Sky

(Fotografia: Christophe Badoux/Wikimedia Commons)
Chris Froome vai tentando manter uma aparente normalidade enquanto prepara a nova temporada. Mantém-se afastado das atenções mediáticas, vai colocando umas mensagens (poucas) no Twitter. Porém, com o aproximar do início de temporada, o caso do salbutamol está, inevitavelmente, no centro de muitas discussões e vão surgindo mais vozes que falam numa suspensão como sanção mais justa. Ainda se desconhece onde o britânico pretende começar a temporada, tendo em conta que pretende atacar a Volta a Itália. Porém, seja qual for o plano, o ruído em redor de Froome aumenta e de que maneira. quando se aproxima o regresso à competição.

A equipa de advogados do ciclista da Sky está a tentar provar que o resultado adverso tem uma justificação, ou seja, deu o dobro do permitido, mas não por Froome ter desrespeitado o limite, mas sim devido ao funcionamento do seu metabolismo. Outra teoria que entretanto surgiu, foi que Froome terá recorrido à substância - através de uma bomba visto ser asmático - depois da etapa, para evitar tossir nas entrevistas. O caso está a ser dirigido pela UCI, mas a Agência Mundial Antidopagem (AMA, ou WADA na sigla em inglês) poderá intervir, mesmo que Froome não seja sancionado.

"Se a UCI não impor uma sanção, então é possível que a AMA intervenha. Se a AMA intervir então imagino que [o caso] vá para o Tribunal Arbitral do Desporto como último recurso", afirmou ao The Times Dick Pound, que liderou a AMA entre 1999 e 2007. Pound foi um dos homens que enfrentou Lance Armstrong, numa luta que durou muitos anos até à admissão do americano naquele que é considerado o mais sofisticado esquema de doping no ciclismo.

O antigo dirigente avisa que o caso poderá durar muito tempo a ficar concluído e tudo dependerá da postura da defesa de Froome. "Se a defesa estiver ansiosa por ganhar e adoptar a táctica normal de arrastar, então poderá demorar algum tempo", afirmou.

Froome sem perdão para LeMond

O antigo ciclista e três vezes vencedor da Volta a França tem um discurso muito crítico quanto ao caso de Chris Froome. E começou logo ao ataque: "É a desculpa mais ridícula que já ouvi. Se é isso que alega, então é simples, ele desrespeitou as regras e deve ser castigado de acordo [com a violação dos regulamentos]." Para Greg LeMond toda esta situação expõe a Sky que para o ex-ciclista não se pode encostar à tese de estar na dianteira a nível científico. LeMond recordou como as suspeitas estão a arrastar-se há já um ano, desde o caso do pacote suspeito que envolveu Bradley Wiggins.

"Não acredito no Dave Brailsford [director da Sky]. Ele é secreto, desvia-se às questões e pelo que leio e ouço, a equipa não é assim tão científica e conhecedora como diz ser", realçou LeMond ao The Times. E concluiu: "A história já demonstrou que quando as coisas são boas de mais para ser verdade, normalmente são."

Tom Dumoulin, vencedor do Giro100, considera esta situação "terrível" para o ciclismo. Realçando que até o processo estar terminado há que respeitar a presunção de inocência, ainda assim afirmou que se tivesse acontecido com ele, a Sunweb teria logo optado pela suspensão imediata. "Isso não se passa na Sky", afirmou. A Sunweb anunciou recentemente que terá um controlo próprio e mais rígido na luta contra o doping, além do que é feito pelas instituições existentes para o efeito. Quanto a Froome, Dumoulin considera que "ficaria bem a todos se as autoridades tomassem uma decisão rápida".

Richie Porte foi companheiro de Chris Froome na Sky e mantém uma amizade, apesar de no último Critérium du Dauphiné não ter gostado muito de ver o britânico atacá-lo, o que contribuiu para o australiano perder a corrida. No entanto, voltou a referir Froome como amigo, admitindo que ficou em choque quando soube do resultado adverso no teste anti-doping, realizado durante a Volta a Espanha, que o britânico ganhou. "Não há muito a dizer. Seja o que for que se diga, não se pode ganhar. É uma grande pena. A ver vamos o que acontece", disse. Richie Porte, que se apresenta como adversário do britânico da Sky para o Tour. O ciclista da BMC afirmou ainda que a situação o deixou "chateado".

Rohan Dennis será o líder da BMC no Giro e é bem mais ríspido nas declarações: "Não faço segredo que não tenho tolerância para qualquer tipo de teste positivo." Jan Bakelants, belga da AG2R, considera que a suspensão é a decisão mais justa, recordando como Diego Ulissi teve um resultado muito idêntico, ligeiramente menor, e foi afastado da competição por nove meses.

Greg LeMond alertou para um ponto que acaba por ser bastante consensual: "O pelotão conta com a igual aplicação das regras. Se estas não foram seguidas, enfraquecerá o desporto."

Indefinição do calendário

Como foi escrito no início do texto, Froome ainda não anunciou o seu calendário, sendo apenas conhecida a pretensão de estar no Giro e no Tour. Ainda antes de ser tornado público o caso do salbutamol, a Volta ao Algarve ou a Ruta del Sol, na Andaluzia, era duas hipóteses. Ambas realizam-se entre 14 e 18 de Fevereiro. O ciclista da Sky não foi suspenso provisoriamente, visto ser uma substância permitida até determinado limite (mil nanogramas por mililitro). Apesar de o ter ultrapassado, é considerado um resultado adverso e o ciclista tem a oportunidade de tentar demonstrar que não infringiu as regras.

Não é só Dumoulin a abordar a questão de ser a própria a Sky a optar pela suspensão. O movimento pelo ciclismo limpo, que conta com várias das equipas dos três escalões, defende que a Sky deveria ter suspendido o seu ciclista até à resolução do caso, tal como aconteceu quando Sergio Henao teve problemas com o seu passaporte biológico. Brent Copeland, director da Bahrain-Merida, salientou que "se existe um código de ética, então este deve ser seguido".

Até Lance Armstrong apareceu para comentar o caso, como gosta de o fazer quando em causa está uma suspeita de doping. Desta feita, o americano referiu um pormenor que certamente Froome e a Sky têm em conta. Se não estiver suspenso, ou já a tiver cumprido e correr a Volta a França, vai possivelmente viver um inferno nas estradas gaulesas. Já assim foi em edições anteriores quando apenas havia suspeitas a serem lançadas em alguns meios de comunicação social, mas nunca comprovadas. Cuspidelas e até agressões físicas, além das verbais, foram formas de ataque que Froome e companheiros tiveram de suportar.

Seja qual for a decisão, este será sempre um ano complicado para Chris Froome e a Sky. No entanto, já se vai falando que Froome poderá reagir aparecendo mais forte do que nunca. Mas como diz Richie Porte, a ver vamos o que acontece.

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