31 de dezembro de 2018

Cinco momentos para recordar da época em Portugal

Em Portugal teremos de esperar até 10 de Fevereiro para ver o pelotão nacional na estrada, com a região de Aveiro a receber mais uma vez o arranque de temporada. Foi precisamente nessa prova que se assistiu a um primeiro grande momento de ciclismo em 2018. Aqui ficam cinco exemplos do melhor que houve nas corridas portuguesas esta temporada. A modalidade por cá é muito mais do que a Volta a Portugal. Se a sexta vitória consecutiva da W52-FC Porto é visto como o ponto alto, vale a pena recordar outros grandes momentos.

Tiago Machado no seu melhor (4 de Fevereiro)
Preso ao trabalho de gregário na Katusha-Alpecin, em anos recentes têm sido poucas as oportunidades para Tiago Machado ser... ele próprio. Ou seja, aquele ciclista sem medo de cometer o que muitas vezes parece ser uma autêntica loucura. De vez em quando, as loucuras são premiadas e no arrancar de época em Portugal, Tiago Machado veio cá mostrar que vale a pena acreditar e arriscar.

Esteve 135 quilómetros dos 155,5 da Prova de Abertura Região de Aveiro em fuga, 80 dos quais sozinho. Chegou à Torreira a olhar para trás, com um pelotão a tentar fechar uma perseguição feroz. Mas Tiago Machado resistiu à concorrência, ao muito vento, ao frio e selou um triunfo com a camisola da Selecção Nacional.

É um ciclista de categoria World Tour e a partir de 2019 poderemos vê-lo a tempo inteiro no pelotão nacional, estando de regresso a Portugal pela mão do Sporting-Tavira. Agora que se libertará novamente do papel de gregário, vamos poder ver mais vezes este lado que tanto caracteriza Tiago Machado.

»»Não digam que está velho e acabado! Eis Tiago Machado««

Ruben Guerreiro quase conquistou o Malhão (18 de Fevereiro)
Quando este ciclista conseguir ter uma temporada sem azares, sejam eles quedas ou problemas de saúde, Ruben Guerreiro vai conseguir certamente mostrar mais vezes e em mais grandes corridas aquela versão do ciclista que subiu ao Alto do Malhão com um nível de quem tem tudo para ser um dos melhores.

Michal Kwiatkowski foi fantástico nessa etapa, numa jogada inesperada da Sky, que lançou o polaco na frente, mesmo que isso significasse que Geraint Thomas perdesse a camisola amarela para o colega. Ruben Guerreiro não baixou os braços. Encetou uma perseguição Malhão acima. Vai apanhar? Não vai apanhar Kwiatkowski? Foram momentos que fizeram suster a respiração. Haveria nova vitória no Malhão um ano depois de Amaro Antunes lá vencer? Por quatro segundos apenas Kwiatkowski ganhou. A etapa e garantiu também a Algarvia. Quatro segundos apenas tiraram a Ruben Guerreiro a primeira vitória no World Tour e logo em território português.

Ruben, o campeão nacional de 2017, vai mudar-se para a Katusha-Alpecin, depois de dois anos na Trek-Segafredo. Para 2019 só se pode desejar que venham mais exibições deste nível de um ciclista de quem muito se continua a esperar.

»»Quatro segundos separaram Ruben Guerreiro de mais um grande momento português no Malhão««

Luís Mendonça conquistou a Alentejana (18 de Março)
Pode ter começado a dedicar-se a 100% ao ciclismo já tarde, mas Luís Mendonça tem, ano após ano, demonstrado que nunca é tarde para concretizar os sonhos. Já estava tinha feito 30 anos quando conseguiu o seu primeiro contrato profissional, com Jorge Piedade a abrir-lhe as portas da equipa de Loulé. Mendonça é um daqueles atletas que acredita sempre ser possível ir mais além. Faltava-lhe uma grande vitória e não fez por menos: conquistou uma das corridas mais importantes em Portugal e uma de categoria internacional.

Em Évora, Luís Mendonça cortou a meta num misto de felicidade extrema e de algum alívio por finalmente ter concretizado o objectivo, depois de quilómetros de algum natural nervosismo, de quem está tão perto de um triunfo. Foram seis etapas intensas, um contra-relógio em que deu tudo e mais um pouco de si, para no dia seguinte selar a vitória que só o fez acreditar ainda mais que tem tempo para alcançar outras conquistas.

Mendonça recompensou assim a aposta feita nele da Aviludo-Louletano-Uli e durante a restante temporada continuou a aparecer sempre na frente de várias corridas, incluindo na Volta a Portugal. Uma etapa na Grandíssima continua a escapar-lhe, mas em 2019 terá outra liberdade numa Rádio Popular-Boavista que vê em Mendonça um ciclista com tudo o que é necessário para ir atrás de vitórias. Na Alentejana o seu triunfo teve ainda um significado especial para o ciclismo nacional, pois desde 2006 que um português não a vencia. Então tinha sido Sérgio Ribeiro o vencedor.

»»Luís Mendonça: muito trabalho, ainda mais dedicação e uma aposta ganha do Louletano««

»»"Sinto-me mais respeitado e que as pessoas acreditam que posso fazer coisas bonitas"««

Dobradinha de Domingos Gonçalves nos Nacionais (22 e 24 de Junho)
Foi um ano sensacional para Domingos Gonçalves. Seis vitórias, vários top dez, com aquele triunfo na etapa de Boticas na Volta a Portugal a ter certamente um sabor muito especial. Porém, houve um fim-de-semana que demonstrou como o gémeo de Barcelos era um dos ciclistas mais em forma em 2018. Os Nacionais foram de Domingos Gonçalves. Forte no contra-relógio, tendo revalidado o título, exímio na prova de estrada. Em 2017 uma queda tirou-lhe a possibilidade da dobradinha. Em 2018 ficou mesmo com as duas camisolas de campeão nacional.

No contra-relógio deixou o irmão, José, a 12 segundos, na prova de estrada - e o percurso de Belmonte de fácil pouco ou nada tinha - partiu para uma fuga solitária, num daqueles ataques cirúrgicos que tão bem sabe fazer e que lhe valeram vitórias em 2018. Joni Brandão, Henrique Casimiro, Tiago Machado, César Fonte, houve um grupo de respeito na sua perseguição. Mas quando Domingos Gonçalves está a 100% é um ciclista difícil de bater.

O gémeo regressou a Portuga em 2016l, vendo a Rádio Popular-Boavista como a equipa ideal para relançar a sua carreira. Ao segundo ano foi o ciclista que se sabe que pode ser, mas que nem sempre aparece. Vai a caminho de uma segunda oportunidade na Caja Rural, com as duas camisolas de campeão nacional para mostrar lá fora e, espera-se, também por cá.

Mais uma referência a uns Nacionais interessantes, com os gémeos Oliveira a conseguirem os títulos de contra-relógio (Ivo) e de estrada (Rui) na categoria de sub-23, eles que vão passar agora a ser ciclistas de elite, tanto na categoria de idade, como a nível de equipa, pois vão para o World Tour. Foram contratados pela UAE Team Emirates de Rui Costa. E nas senhoras foi Daniela Reis quem fez a dobradinha, a primeira ciclista portuguesa a chegar ao nível mais alto do ciclismo feminino e que em Belmonte demonstrou porquê.

»»José Santos tinha razão. "Não há anos iguais". Desta vez, Domingos fez mesmo a dobradinha««

»»"Já digo há algum tempo que o Domingos é o melhor contra-relogista nacional"««

O destemido Joni Brandão na Serra da Estrela (5 de Agosto)
(Imagem: Print Screen)
A Volta a Portugal foi novamente resumida ao domínio de uma W52-FC Porto, que, por momentos, parecia mostrar alguma fraqueza, mas que afinal apenas mudou um pouco a estratégia, com todo o seu poderio a vir eventualmente ao de cima. Raúl Alarcón venceu sem surpresa a sua segunda Volta, mas houve um dia, durante uma subida em que um ciclista deixou alguma esperança que talvez pudesse haver maior indefinição na corrida. Não conseguiu, é certo, mas a atitude de Joni Brandão foi importante, por ter sido o único que encarou de frente e de forma destemida o desafio de fazer algo que ninguém consegue desde 2013, quando começou a senda de vitórias da equipa do Sobrado.

A etapa rainha ficou sem a subida à Torre devido ao calor, numa decisão criticada por Brandão. O ciclista do Sporting-Tavira não percebeu porque não tinha sido assumida postura idêntica quando pelo sul do país os termómetros passaram dos 40 graus. A etapa perdeu alguma da sua espectacularidade e ficar-se-á sem saber o que poderia ter acontecido se a mítica subida tivesse sido cumprida. Assim, fica para a história o ataque de Brandão e a resposta precisa de Alarcón que arruinou o sonho do adversário do Sporting-Tavira e comprovou que seria quase impossível tirar-lhe uma nova vitória.

A Joni Brandão restou-lhe um segundo lugar na Volta, mas naquele dia ofereceu aos adeptos do ciclismo espectáculo. Não conseguiu repeti a performance. Alarcón não deixou, mas este é o Joni Brandão que a Efapel espera ter de novo nas suas fileiras em 2019.

»»É assim mesmo Joni!««

Momentos extra: um russo em Portugal
Por cá houve um russo que andou a somar conquistas e de forma peremptória. Dmitry Strakhov, ciclista da Lokosphinx, de 23 anos, começou por arrebatar a Clássica da Arrábida, depois foi ao Alentejo ganhar duas etapas e a camisola dos pontos e no Grande Prémio Beiras e Serra da Estrela venceu uma tirada e a geral. Por Espanha também somou resultados relevantes, o que o levou a ser chamado para um estágio na Katusha-Alpecin a partir de Agosto. Depois de tanto conquistar em Portugal, Strakhov vai agora ser companheiro de José Gonçalves e Ruben Guerreiro. O director da Katusha-Alpecin, José Azevedo, contratou-o para 2019.

»»Strakhov bate César Fonte por um segundo««

»»Russo Strakhov mantém amor por Portugal««

Cinco momentos marcantes de 2018

Numa altura em que já se olha para as primeiras corridas de 2019, recorda-se um 2018 recheado de muito e bom ciclismo. Aqui ficam cinco dos vários momentos que marcaram a temporada e um extra. Ganhar uma das grandes voltas é sempre do mais importante e as conquistas de Froome, Thomas e Yates estarão sempre no topo de qualquer escolha, mas houve muito mais para recordar.

Sagan cumpriu o seu destino no Paris-Roubaix (8 de Abril)
(Fotografia: © BORA-Hansgrohe/Bettiniphoto)
Quando Peter Sagan entrou no velódromo de Roubaix, acompanhado por Silvan Dillier (AG2R), houve aquela sensação que o eslovaco estava prestes a, finalmente, cumprir o seu destino. O Inferno do Norte sempre foi uma corrida que se apontou a ser conquistada por Sagan, mas o Paris-Roubaix não parecia querer nada com este fantástico ciclista. Azares, má tácticas, o facto de ninguém querer arriscar em estar com ele numa fuga... Sagan não encontrava forma de vencer este monumento.

Mas, finalmente (palavra a repetir) Sagan conseguiu. Vê-lo com a determinação que surgiu na altura certa, com a determinação de quem pensou que "vou em frente, seja lá como for", foi ver um ciclista disposto a fazer a exibição de uma vida para ganhar em Roubaix. Curiosamente até arranjou quem não quisesse ficar apenas na sua roda. Dillier teve o seu papel, numa postura de poder não ganhar, mas pelo menos poder discutir a corrida. E no ciclismo tudo pode acontecer.

Sagan atacou a pouco mais de 50 quilómetros da meta, passou por quem estava na frente, quase caiu no último sector de pavé e no velódromo não deu espaço para surpresas, batendo Dillier no sprint. Custou, mas a conquista do Paris-Roubaix foi acompanhada por uma exibição memorável de um ciclista que é dos melhores do mundo e já dos melhores das história.

»»Se era para ganhar assim, então valeu a pena esperar para ver Sagan conquistar Roubaix««

A passagem de testemunho na Flèche Wallonne (16 de Abril)
(Fotografia: Twitter Flèche Wallonne)
A história recente da Flèche Wallonne está intimamente ligada a Alejandro Valverde. O espanhol havia vencido as últimas quatro edições e já tinha um triunfo em 2006. O muro de Huy quase que estava a ser chamado o muro de Valverde. Para bater um campeão, só outro verdadeiro campeão. Esse foi Julian Alaphilippe. O D'Artagnan da Quick-Step Floors lutou até final, num último quilómetro de tirar a respiração.

Depois de dois segundos lugares, atrás do inevitável espanhol, e de um 2017 em que ficou afastado da clássica das Ardenas por problemas físicos, Alaphilippe arrancou no muro de Huy, quebrando Valverde, que, desta feita, não escolheu bem o momento de aceleração. Ao cortar a meta, Alaphilippe pensou que tinha sido novamente segundo. É que Vincenzo Nibali tinha tentado uma fuga solitária quilómetros antes e francês não se apercebeu que o italiano tinha sido apanhado.

A vitória foi dele. E se Sagan parecia estar destinado a ser o rei do pavé, Alaphilippe tem destino idêntico, mas nas Ardenas. Até Valverde se rendeu ao francês, num momento que teve um certo simbolismo de passagem de testemunho.

»»Só um grande ciclista, um verdadeiro campeão, poderia bater outro. Até Valverde se rendeu a Alaphilippe««

O nascer de uma estrela (18 de Maio)
(Fotografia: Facebook Volta à Califórnia)
Já se esperava muito de Egan Bernal, mas chegar a uma equipa do World Tour, ainda mais a Sky e impor-se como se impôs... só está ao nível dos melhores. 21 anos de puro talento e que marcou a época de 2018. Logo na sua primeira corrida na equipa britânica, foi o melhor jovem no Tour Down Under e sexto na geral. Foi campeão nacional de contra-relógio e foi vencer a Colombia Oro y Paz, deixando Nairo Quintana e Rigoberto Uran atrás de si. Começaram os elogios que não mais terminaram nos meses seguintes.

Quando chegou à Europa ficou a poucos quilómetros do seu primeiro pódio numa corrida World Tour. Uma queda afastou-o dessa honra na Volta à Catalunha. Na Romandia conseguiu. Fez segundo, com Primoz Roglic a ser o único mais forte. Viajou até à Califórnia para deixar tudo e todos completamente rendidos ao seu talento. Já tinha ganho a segunda etapa, mas foi na sexta que impressionou ainda mais.

Parecia um senhor ciclista, com enorme experiência a ultrapassar a última e difícil subida. Nem Adam Yates ou Rafal Majka e muito menos Tejay van Garderen (o líder no início dessa etapa) conseguiram acompanhar, isto sem esquecer o brilhante trabalho de preparação de outro jovem, Tao Geoghegan Hart. Bernal acelerou nos momentos exactos, foi a ritmo (elevado) nos metros desejados. Já tem aquele hábito de olhar para o seu ciclocomputador e assim medir todos os pormenores do seu esforço. Goste-se ou não deste estilo, foi uma enorme exibição. E Bernal estava apenas a começar.

No seu primeiro ano no World Tour, ganhou logo uma corrida desse nível - venceu essa sexta etapa e garantiu a geral na Volta à Califórina - e estreou-se ainda no Tour e Chris Froome bem pode agradecer o seu pódio ao colombiano. Nasceu uma estrela.

Chris Froome e a inacreditável fuga até Bardonecchia (25 de Maio)
(Fotografia: Giro d'Italia)
Quando se falar de Froome em 2018, muito mais se falará do caso do salbutamol. Porém, e visto que foi ilibado e os seus resultados não foram anulados, então há que colocar aquela 19ª etapa da Volta a Itália como uma das melhores e mais marcantes da própria história da centenária corrida, não apenas do ano.

Quando Froome partiu naquele dia, numa etapa de montanha, com passagem no Colle delle Finestre, o britânico já não era visto como um candidato forte à vitória final, com 3:22 minutos a separá-lo de Simon Yates (Mitchelton-Scott) e com Tom Dumoulin (Sunweb) e Domenico Pozzovivo (Bahrain-Merida) pelo meio. Em 80 quilómetros tudo mudou.

Parecia inacreditável como um só homem arrancou de tão longe, com tanta dificuldade pela frente e ninguém o conseguia apanhar. Mesmo sendo Chris Froome. O ciclista metódico, que tem sempre tudo tão estudado, partiu numa aventura atípica nele, mas que foi fantástica e épica. Excelente a subir, ainda melhor a descer - onde fez as maiores diferenças - Froome ganhou em Bardonecchia e vestiu a maglia rosa. Yates quebrou, Dumoulin, Pozzovivo e Miguel Ángel López não tiveram capacidade para acompanhar o britânico.

Não foi tão espontâneo como à primeira vista se poderia pensar. Mais uma vez até estava tudo muito bem pensado. Uma loucura planeada, por assim dizer, com todos os membros do staff espalhados naqueles 80 quilómetros para garantir que o ciclista ia recebendo o abastecimento necessário para se alimentar e hidratar.

Com um Froome assim, foi inevitável ficar com o Giro, a grande volta que lhe faltava, fechando as três de forma consecutiva, ainda que em épocas diferentes. De referir ainda que Froome iniciou um ano histórico para o ciclismo britânico. Com Geraint Thomas a vencer o Tour e Simon Yates a Vuelta, a Grã-Bretanha conquistou as três grandes voltas.

»»A batalha mais esperada afinal vai mesmo acontecer«

Sagan entrega medalha de campeão do mundo a Valverde (30 de Setembro)
(Fotografia: © Bettiniphoto/Facebook UCI World Championships Innsbruck)
Já tinha seis pódios em Mundiais, mas o título não queria nada com ele. Innsbruck foi um dos objectivos da época para o espanhol de 38 anos. Nem era o máximo favorito, com aquela subida final a baralhar muito as apostas. Pendentes tão brutais não assentam bem a ninguém e qualquer um poderia falhar. Ou melhor quebrar. Valverde não falhou. Já chegava de segundos e terceiros lugares. A oportunidade foi, desta feita, agarrada com todas as forças que restavam naqueles metros finais (e já não era muitas), para garantir que não veria novamente outro ciclista vestir a icónica camisola do arco-íris.

Nada rouba o momento a quem acaba de se sagrar campeão do mundo, mas Valverde partilhou-o com outro senhor do ciclismo. Peter Sagan foi autor de um dos gestos do ano. O tricampeão do mundo, que não terminou a corrida de Innsbruck, surgiu no pódio para ser ele a entregar a medalha de ouro a Valverde. Um final perfeito para um dia de muito e bom ciclismo, num percurso que não será esquecido pela sua enorme dificuldade, mas que apenas contribuiu para tornar a vitória de Valverde ainda mais especial. Sagan viu isso e quis pessoalmente e à frente de todos dar o sinal de maior respeito por um ciclista que marcará a modalidade. Dois grandes atletas, dois senhores do ciclismo, nas vitórias e nas derrotas.

»»Finalmente Valverde««

Um momento extra: a exibição de um júnior que fica para a história (27 de Setembro)
(Fotografia: © Bettiniphoto/Facebook UCI World Championships Innsbruck)
Não é todos os dias que assistimos a exibições de um ciclista ainda júnior e temos a certeza que não a vamos esquecer. Uma coisa é ver como um corredor tem potencial e demonstra poder ter um futuro promissor. Outra coisa é simplesmente ficar de boca aberta, perante uma exibição tão inacreditável e impensável de um jovem. Se calhar, só ele acreditaria ser possível fazer a recuperação como a fez e assim, aos 18 anos, ter o mundo do ciclismo rendido a um novo talento.

Remco Evenepoel deixou o futebol para se dedicar ao ciclismo e em boa hora o fez. Em 2018 ganhou praticamente todas as corridas em que participou. Ficou com os títulos nacionais, os europeus, venceu o contra-relógio nos mundiais e ficava a faltar o de estrada. Caiu, perdeu mais de dois minutos e, em circunstâncias normais, estava perante uma missão praticamente impossível de chegar à frente da corrida. Evenepoel não esperou por ninguém. Foi um contra-relógio até à meta, deixando toda a concorrência - que não era fraca -  para trás. Ninguém conseguia seguir o seu ritmo, nem igualar a sua determinação. Acreditou até ao fim e até teve tempo para cortar a meta a pé, com a sua bicicleta erguida lá bem no alto.

Uma corrida de juniores que fica entre os melhores momentos de 2018. E por ter sido tão marcante ver aquela exibição de Evenepoel, não se poderia deixar de a aqui colocar. Para 2019, este belga, que não quer ser chamado de novo Merckx, mas sim de novo Evenepoel, vai estar no World Tour, na Deceuninck-Quick Step. 

»»O novo Merckx? Não. É o novo Remco Evenepoel, um nome a não esquecer««

30 de dezembro de 2018

Quando ganhar é completamente natural

Alaphilippe foi um dos ciclistas que muito contribuiu para a sensacional
época da equipa belga (Fotografia: Facebook Quick-Step Floors)
Resumir a época da Quick-Step Floors até se consegue fazer numa só palavra: ganhar! Será mais justo repeti-la: ganhar, ganhar, ganhar! A histórica equipa belga está habituada a ser das que mais vence, ou mesmo a que mais vence. Mais de 50 vitórias, não é nada de anormal, nem chegar às 60, mas 73? Número impressionante (um recorde da formação) ainda mais se se tiver em conta que entre elas estão monumentos, vitórias de etapas em grandes voltas e nem entra outros grande resultados que foram o pódio de Enric Mas na Vuelta, ou a camisola da montanha no Tour de Julian Alaphilippe.

Patrick Lefevere tem construído ano após ano equipas com um espírito de luta e união que se traduz em vitórias, divididas por vários dos seus ciclistas. Em 2018 foram 14 em 28 que compunham o plantel (acresce dois estagiários a partir de Agosto). Pode haver um ou outro que se destaque mais, mas há espaço para todos irem atrás do seu momento. Não foi há muito tempo que Lefevere via a Quick-Step Floors ter dificuldades em ganhar nas clássicas da casa. Uma pequena crise mais do que resolvida nas últimas duas épocas.

2018 foi simplesmente memorável: Volta a Flandres (Niki Terpstra) e Liège-Bastogne-Liège (Bob Jungels), cinco etapas do Giro, quatro no Tour e outras tantas na Vuelta. Mas há mais: E3 Harelbeke, Através da Flandres, Flèche Wallonne (que enorme exibição de Julian Alaphilippe para quebrar a senda de Alejandro Valverde), Clássica de San Sebastian, uma etapa no Critérium du Dauphiné, duas na Volta à Catalunha e no País Basco, três na Volta à Califórnia... Recorrendo ao ProCyclingStats, aqui fica o link para a lista de vitórias deste ano em que ganhar pareceu ser algo absolutamente natural para os ciclistas de azul.

E talvez esta naturalidade tenha uma base de que todos terão a sua oportunidade, tal como todos terão de ajudar outros, quando assim se impõe. É de salientar isso mesmo, que corredores como Alaphilippe, Bob Jungels e o capitão Philippe Gilbert são líderes natos que são também os primeiros a trabalharem para os companheiros. Esta capacidade e respeito pela entre-ajuda faz com que além das principais figuras, possam surgir as potenciais figuras do futuro. Álvaro Hodeg e Fabio Jakobsen são a prova disso. Quando lhes foi dada liberdade, estes dois jovens não só tiveram a ajuda dos colegas mais experientes, como aproveitaram para vencer.

A comprovar como esta equipa consegue tirar o melhor de todos os ciclistas há Elia Viviani. Quebrou contrato com a Sky, onde era um sprinter solitário, que lá ia conquistando umas vitórias, para assinar por uma equipa que fez dele o homem mais ganhador da temporada entre as formações do World Tour. Foram 19, mais nove do que em 2017, que até tinha sido a sua melhor época. A diferença esteve ainda na qualidade dos triunfos: quatro etapas no Giro e três na Vuelta como maior destaque, além do título nacional, por exemplo.

Ranking: 1º (13.385,97 pontos)
Vitórias: 73 (incluindo Volta a Flandres, Liège-Bastogne-Liège, cinco etapas no Giro, quatro no Tour e Vuelta)
Ciclista com mais triunfos: Elia Viviani (19)

Chegou para ocupar a vaga deixada por um Marcel Kittel que não queria competir por espaço com Fernando Gaviria. Viviani parecia ser uma segunda opção possível, mas foi uma de primeira categoria. De tal forma, que com a saída do colombiano, Viviani irá assumir o papel principal nos sprints e já pisca o olho ao Tour.

Gaviria teve uma temporada de altos e baixos. A aposta nas clássicas correu francamente mal, muito devido a quedas. Porém, no principal objectivo, a Volta a França, Gaviria confirmou tudo o que era esperado. Vestiu de amarelo logo a abrir e na sua estreia no Tour. Foram duas etapas ganhas antes de um abandono na fase montanhosa da corrida. Questão a melhorar se quiser ir discutir o mais famoso dos sprints, nos Campos Elísios. Kittel tinha ganho cinco em 2017, mas para quem foi pela primeira vez ao Tour, Gaviria confirmou que quer e pode ser o sprinter de referência desta grande volta nos próximos anos.

Falta saber se na UAE Team Emirates irá encontrar o comboio de qualidade que tinha na Quick-Step Floors. Custa acreditar que uma equipa que ganha o que ganha tenha dificuldades em garantir a sua estabilidade financeira. Sem um patrocinador principal para 2019 - a Quick-Step mantém-se, mas com um investimento menor - Lefevere viu-se obrigado a abrir mão de alguns dos seus ciclistas para aliviar o gasto com os ordenados, precavendo a eventualidade de ter um orçamento menor para o próximo ano.

Não renovou com Terpstra e permitiu que Gaviria ouvi-se propostas, ainda que tivesse  contrato com a Quick-Step Floors. Apesar de ter aparecido a Deceuninck, Lefevere percebeu que o dinheiro da UAE Team Emirates tinha dado a volta à cabeça de Gaviria. Deixou o seu sprinter sair e agora irá ver-se se o colombiano consegue quebrar o famoso enguiço do ciclista que sai da Quick-Step Floors e não mais consegue atingir o nível que tinha quando ali estava.

Max Schachmann (Bora-Hansgrohe), Laurens de Plus (Jumbo-Visma) e Jhonathan Narváez (Sky) também seguem novos rumos nas carreiras. Contudo, perante o historial desta estrutura, é difícil dizer que a Quick-Step Floors fica mais fraca, mesmo que tenha perdido Gaviria. A capacidade de se auto-renovar é incrível e o que mais se espera é ver como Hodeg, Jakobsen, Kasper Asgreen e Rémi Cavagna possam aparecer anda mais. E claro, ficaram Alaphilippe, Jungels, Stybar, Gilbert, Enric Mas...

O espanhol acaba por ser uma das questões que se coloca para 2019. Depois da tremenda exibição na Vuelta - vitória numa etapa e segundo na geral -, será que Lefevere aumentará a sua aposta nas grandes voltas, pensando também mais numa eventual vitória ou em mais pódios? Esta é uma equipa cuja génese se prende às clássicas e etapas. Jungels é outro voltista, mas dá mais indicações de ser um top dez, do que homem de discutir essas corridas, pelo menos para já.

Contudo, Enric Mas deixou indicações bem diferentes, de que pode ir mais longe e o seu discurso não engana. Vai atrás de ganhar e até já pensa em conquistar o Tour, onde estará em 2019, época que começará na Volta ao Algarve. Vai entrar no seu último ano de contrato, pelo que o director terá uma decisão a tomar, ainda que não se adivinhe ser fácil ficar com Mas tendo em conta o interesse que despertou.

Já Alaphilippe, apesar do Tour a todos os níveis impressionante - duas etapas e foi o rei da montanha -, o francês quer continuar a ser um ciclista para vencer corridas de uma semana, apostar tudo e mais alguma coisa nas Ardenas e depois ir até ao Tour fazer mais uns brilharetes. Tem 26 anos e não está afastada a hipótese de ainda se tornar num voltista, mas não para já.

Quase parece mal não falar de mais ciclistas que se mostraram em 2018 e contribuíram para o memorável ano, mas a época da Quick-Step Floors daria um livro de muitas páginas. De texto e de bonitas fotografias! Uma delas seria a da última equipa a vencer o contra-relógio colectivo nos Mundiais, vertente que o presidente da UCI decidiu terminar.

Termina-se com uma das contratações que vai receber muita atenção. O "miúdo maravilha" da Bélgica só podia assinar por esta equipa. Remco Evenepoel dá o salto de júnior directamente para o profissionalismo, depois de vencer quase todas as corridas em que participou em 2018. Títulos nacionais, europeus, mundiais, foi tudo dele. A exibição na corrida de estrada, em que fez uma recuperação incrível até chegar à frente da corrida e vencer, deu logo a entender que Evenepoel não ia ficar longe dos holofotes do World Tour.

A diferença de realidades é muita, pelo que 2019 será um ano de adaptação para Evenepoel. Não será ciclista para clássicas do pavé, querendo tornar-se num voltista. É quase inevitável colocá-lo no topo da lista de ciclistas jovens a seguir em 2019. Para já, o belga é apenas um dos dois reforços da equipa que se chamará Deceuninck-Quick Step.


Permanências: Philippe Gilbert, Julian Alaphilippe, Bob Jungels, Elia Viviani, Yves Lampaert, Enric Mas, Zdenek Stybar, Kasper Asgreen, Eros Capecchi, Rémi Cavagna, Tim Declercq, Dries Devenyns, Álvaro Hodeg, Fabio Jakobsen, James Knox, Iljo Keisse, Davide Martinelli, Michael Morkov, Fabio Sabatini, Maximiliano Richeze, Pieter Serry, Florian Sénéchal e Petr Vakoc.

Contratações: Remco Evenepoel e Mikel Frolich Honoré (Virtu Cycling).

»»A Sky de grandes vitórias, da revelação do ano e da polémica««

»»Uma Bora-Hansgrohe que não foi só Peter Sagan««

29 de dezembro de 2018

A Sky de grandes vitórias, da revelação do ano e da polémica

(Fotografia: Facebook Team Sky)
Ano de exibições memoráveis que irão marcar a história do Giro e do Tour, mas que não apagam toda uma polémica que rodeou a Sky e que também não será esquecida. Falou-se praticamente tanto do caso do salbutamol de Chris Froome, como da sua épica vitória em Bardonecchia e no Giro e da enorme conquista da Volta a França por parte de Geraint Thomas. Talvez só Egan Bernal tenha conseguido mudar o tom do discurso de desconfiança que acompanhou a Sky. Este jovem colombiano é um puro talento de quem muito se esperava antes de começar a temporada e de quem agora se espera... o mundo!

Mas não há forma de contornar o ciclista que marcou novamente a temporada da Sky. Foi Chris Froome, mas não pelas razões das últimas épocas. O positivo por salbutamol, o dobro do permitido da substância para a asma, detectado na Vuelta de 2017, foi um caso que deu uma mais machadada na reputação da equipa. Ainda a tentar recuperar do "pacote suspeito" de Bradley Wiggins e das desconfianças que praticamente sempre acompanharam a Sky e os seus ganhos marginais, a equipa viu inclusivamente outros ciclistas e directores desportivos criticarem a escolha de manter Froome em competição enquanto decorria o processo. As regras assim o permitiram, pelo que o ciclista viveu tempos difíceis. Mas foi ao Giro ganhá-lo, vencendo assim as três grandes voltas de forma consecutiva, ainda que em anos diferentes.

Ficou a faltar o quinto Tour, só que foi mais um ciclista que pagou o esforço da Volta a Itália e ainda não foi Froome que quebrou o enguiço que dura desde 1998, quando Marco Pantani fez a dobradinha Giro/Tour. O arrastar do processo - só no final de Junho ficou resolvido - não ajudou em nada em abrilhantar aquela exibição que foi uma das mais marcantes da história centenária do Giro. Como Froome foi absolvido pela UCI e os seus resultados mantiveram-se, então, aquele 25 de Maio será sempre o dia em que o britânico concluiu uma fuga solitária de 80 quilómetros, que começou no Colle delle Finestre e só terminou em Bardonecchia, na meta. Uma etapa de montanha em que Froome, então já quase afastado de poder vencer a corrida, tirou este autêntico coelho da cartola para vestir a camisola rosa. E quando veste uma camisola de líder, raramente a perde.

Foi também o dia em que Simon Yates (Mtichelton-Scott) quebrou e que Tom Dumoulin (Sunweb) não conseguiu acompanhar Froome nas descidas, que fizeram mais diferenças do que as subidas. Mas o mérito é todo do britânico. De Froome continuou-se a falar muito de salbutamol, enquanto, quase pela calada, Geraint Thomas cumpriu o prometido: preparou o Tour para o disputar, mesmo que a Sky tenha durante a corrida mantido a aposta em Froome. Mais uma vez foi deste ciclista que muito se falou, quando a organização tentou impedi-lo de estar na prova francesa. A UCI fechou o processo e Froome foi mesmo ao Tour. Thomas roçou a perfeição, mesmo com o companheiro a querer atacá-lo, como o galês admitiu e com a equipa a dizer que o deixava para trás no contra-relógio colectivo se tivesse algum problema.

A única oportunidade que tinha recebido para liderar numa grande volta havia sido no Giro em 2017. Uma queda, após choque com uma moto da polícia mal parada, forçou o seu abandono. Continuava por responder a questão se Thomas tinha capacidade para ser líder e discutir ainda mais um Tour. A resposta: sim, tem toda a capacidade e mais alguma. Demonstrou ser sempre o mais forte até que na 11ª e 12ª etapa partiu para duas vitórias, incluindo no mítico Alpe d'Huez. A quinta conquista de Froome teria de esperar. Era o ano do galês e merecidamente. Um excelente triunfo e um Tour até a preferir que, a ter de ser a Sky a ganhar (outra vez), então que fosse Thomas, um ciclista mais afastado de polémicas e com melhor imagem nesta altura.

Na Vuelta, a Sky esteve com uma atitude diferente. Michal Kwiatkowski acusou o esforço de uma longa temporada de muito sucesso. Além do eterno gregário de luxo, venceu a Volta ao Algarve pela segunda vez, o Tirreno-Adriatico e a Volta à Polónia. Já David de la Cruz foi dos poucos ciclistas que até apontou a corrida espanhola como principal objectivo. Teve a oportunidade e desperdiçou-a.


Ranking: 2º (10.213 pontos)
Vitórias: 43 (incluindo Giro, Tour, Critérium du Dauphiné, Tirreno-Adriatico, Volta à Califórnia e Volta ao Algarve)
Ciclista com mais triunfos: Michal Kwiatkowski (10)

Quem não desperdiçou rigorosamente nada foi Egan Bernal, a revelação de 2018 no World Tour. Há muito que um ciclista não entusiasmava tanto logo no seu primeiro ano no principal escalão. Este colombiano de 21 anos tem à sua espera um futuro muito, muito promissor. Começou bem no Tour Down Under e foi sempre a melhorar, até que venceu peremptoriamente a Volta à Califórnia. Foram seis vitórias em 2018. A Sky não esperou mais e levou-o ao Tour, onde foi essencial para garantir que Chris Froome ficasse pelo menos no pódio.

Mas Bernal não é para ficar preso a um papel de gregário e a Sky não só renovou de imediato até 2023, como o irá colocar no próximo Giro. Claro que a duração de contrato poderá ser irrelevante já que a Sky vai deixar de patrocinar a equipa no final de 2019, pelo que ainda são muitas as incertezas quanto ao futuro da estrutura. Arrancou a missão de procurar quem queira dar nome à equipa e, de preferência, mantê-la com um poderio financeiro inigualável. Não será nada fácil encontrar quem esteja disponível a ceder tanto dinheiro.

Bernal - que sofreu duas quedas graves durante a época, mas regressou sempre forte - será dos ciclistas que não se terá de preocupar muito com o continuar ou não na Sky. É já um dos ciclistas mais pretendidos e o seu valor até poderá aumentar (e bem) se 2019 for ao nível do que se espera, com mais umas grandes exibições e vitórias a juntar ao seu currículo. Poderá até ser mais pretendido do que Froome e Thomas, cujas idades terão o seu peso e, no caso do primeiro, o desgaste da imagem com o que aconteceu em 2018 não ajudará, mesmo que vença o quinto Tour e se junte ao grupo de recordistas.

Portanto, se 2018 ficou marcado por muito do que se passou fora das corridas sobre Froome, 2019 também não vai ser mais calmo perante a saída do patrocinador. Ainda assim, ninguém duvida que a equipa vai atrás de mais umas grandes voltas e não só.

Além de Bernal, haverá mais uns jovens que poderão assumir maior protagonismo, começando por Tao Geoghegan Hart, o braço-direito do colombiano na Volta à Califórnia. É um ciclista que encaixa perfeitamente na cultura de gregários da Sky, mas que tem algo mais para mostrar. Pavel Sivakov foi, tal como Bernal, um dos reforços de quem muito se esperava. Foi mais discreto na sua adaptação ao World Tour, mas deixou a promessa que se vai mostrar mais em 2019.

Chega outro colombiano, Iván Ramiro Sosa (Androni Giocattoli-Sidermec), desviado da Trek-Segafredo e para fazer parte do que o director Dave Brailsford pensava ser o futuro próxima da Sky, antes de saber que ficaria sem patrocinador para 2020. Junta-se ainda Jhonatan Narváez, que deixou a Quick-Step Floors para assinar por uma equipa que melhor explora ciclistas com as suas características. Ambos os corredores têm 21 anos.

A renovação da Sky está em curso, mas a grande questão para 2019 será se esta se concretizará, ou se em Agosto o mercado de transferências se tornará num dos mais loucos já visto, com os ciclistas da equipa britânica disponíveis para negociar. Brailsford quer resolver o futuro até antes do Tour. Na estrada, fora dela, esta Sky consegue ser sempre muito falada.

Na estrada, também há questões a responder, sendo a principal como irão Thomas e Froome coincidir na Volta a França. É o objectivo principal da época para ambos, com o galês a ter agora uma vitória para se impor como líder e não ser um plano B. Vem aí uma luta de egos que em nada tem beneficiado outros equipas que apostam em mais do que um líder.

E por falar em egos, Moscon tem um bem grande. É outra grande questão para 2019. Como se vai comportar este italiano? O talento está lá, os resultados também e aos 24 anos apenas se poderia pensar que se estava perante um ciclista que dá garantias de vitórias. Porém, o seu comportamento continua a manchar a sua reputação e credibilidade.

Depois de acusações de comentários racistas, de ter sido desclassificado nos Mundiais de Bergen por ter aproveitado a "boleia" do carro da equipa, desta feita foi expulso do Tour ao agredir um ciclista da Fortuneo-Samsic. Primeiro pediu desculpa, depois veio dizer que não tinha atingido Elie Gesber. Ciclista difícil este Moscon, que se se concentrar apenas em competir, então talvez reconquiste o respeito e siga rumo a uma carreira de sucesso.

Permanências: Chris Froome, Geraint Thomas, Michal Kwiatkowski, Egan Bernal, Jonathan Castroviejo, David de la Cruz, Kenny Elissonde, Tao Geoghegan Hart, Pavel Sivakov, Michal Golas, Sebastián Henao, Kristoffer Halvorsen, Vasil Kiryienka, Christian Knees, Gianni Moscon, Wout Poels, Salvatore Puccio, Diego Rosa, Luke Rowe, Ian Stannard, Dylan van Baarle, Chris Lawless, Owain Doull, Eddie Dunbar e Leonardo Basso.

Contratações: Iván Ramiro Sosa (Androni Giocattoli-Sidermec), Jhonatan Narváez (Quick-Step Floors), Ben Swift (UAE Team Emirates) e Filippo Ganna (UAE Team Emirates).


28 de dezembro de 2018

"Se eu e o João Matias nos entendermos bem, poderemos dar que falar em muitas corridas"

(Fotografia: © João Fonseca/Federação Portuguesa de Ciclismo)
O mês de Outubro estava a terminar quando, no Twitter, Óscar Pelegrí anunciou que não tinha contrato para 2019, destacando como a sua estreia como profissional tinha sido marcada por excelentes resultados, incluindo duas vitórias. Em Espanha, o seu twit teve repercussão, com vários meios de comunicação social a noticiarem o caso de Pelegrí, que não deixava de ser uma surpresa perante o que tinha feito na Rádio Popular-Boavista. Também em Portugal a situação de Pelegrí recebeu atenção e foi de cá que partiu a oportunidade de continuar a competir. Depois de dias difíceis para o corredor, a Vito-Feirense-BlackJack de Joaquim Andrade "agarrou" Pelegrí, que agora só pensa em agradecer a confiança nele depositada com mais bons resultados.

"Foram momentos de susto que não recomendo a nenhum ciclista. Não encontras explicação... Foi complicado", confessou o ciclista espanhol ao Volta ao Ciclismo. Aos 24 anos, Pelegrí teve um 2018 pleno de surpresas. Começou por ir além dos objectivos que tinha com as vitórias na geral do Grande Prémio Abimota e na terceira etapa no Grande Prémio de Portugal Nacional 2. Acabou com a surpresa desagradável de se ver sem equipa. "Sim, fiquei surpreendido. Tinha outras opções mas não estavam seguras, pelo que queria esperar. E por questões de dias, ou de um dia, vi-me na situação de ficar sem equipa", referiu.

Pelegrí explicou que recebeu uma oferta da Rádio Popular-Boavista, mas que devido a "uma série de acontecimentos" a renovação não se concretizou. "A equipa estava completa e quando me decidi, já era tarde." Sem solução à vista, foi então que se virou para o Twitter, a exemplo de outros ciclistas no passado e conseguiu o feedback desejado: "Estou satisfeito por ir para a Vito-Feirense-BlackJack. É uma boa equipa e é uma boa oportunidade. Acho que posso encaixar bem na sua filosofia. Espero ter um bom ano", salientou.

"No início do ano, o meu objectivo era ver-me como profissional, mas nunca pensei que conseguisse a primeira vitória"

A formação de Joaquim Andrade irá perder um dos seus líderes, Edgar Pinto, que vai para  a W52-FC Porto. Abre-se um espaço para outros ciclistas mostrarem mais o seu potencial, a começar por Pelegrí. E o espanhol já só pensa como poderá procurar novos sucessos, ao lado de um ciclista que tem ganho um lugar de cada vez mais destaque no pelotão nacional e com o qual considera ter um perfil idêntico como atleta. "Se eu e o João Matias nos entendermos bem, poderemos dar que falar em muitas corridas", realçou.

Ultrapassada a incerteza quanto ao ter ou não equipa para 2019, Pelegrí consegue agora recordar com maior satisfação a sua estreia como profissional. Este campeão de Espanha de sub-23 em 2016 já tinha passagens pela italiana Amore & Vita e pela espanhola Caja Rural, como estagiário, antes de assinar pela Rádio Popular-Boavista. "Foi uma época muita positiva. Na Amore-Vita e na Caja Rural aprendi muito, sobretudo sobre a forma de correr e de me ver no pelotão internacional. Isso só me ajudou a que a adaptação este ano fosse mais rápida", disse.

"Não esperava conseguir tanto [em 2018]. No início do ano, o meu objectivo era ver-me como profissional, mas nunca pensei que conseguisse a primeira vitória. O objectivo era consegui-la nos dois primeiros anos. E foi um triunfo de etapa e numa Volta. Foi a primeira vez que ganhei uma Volta, pelo que fiquei super contente", acrescentou.

As suas exibições em Portugal foram seguidas com atenção no seu país. Ainda assim, não surgiu a oferta que todos os ciclistas procuram, ou seja, chegar a uma equipa de escalão superior. Nada que preocupe Pelegrí que só agradece ter a Vito-Feirense-BlackJack (futura Vito-Feirense-PNB) para prosseguir com a sua carreira. Depois de um 2018 tão positivo, Pelegrí admite que é ambicioso e que quer mais. Enquanto não arranca a temporada - a 10 de Fevereiro, com a Prova de Abertura Região de Aveiro -, o espanhol vai conciliando na pré-época os treinos de estrada, com a presença na pista: "É uma vertente que gosto muito e penso que entre pista e estrada há um benefício mútuo."

Pelegrí será uma das muitas caras novas na equipa do director desportivo Joaquim Andrade. Filipe Cardoso (Rádio Popular-Boavista), Rui Rodrigues (Aviludo-Louletano-Uli), Jesus del Pino (Efapel), Bjorn Thurau (Holdsworth Pro Racing), João Barbosa (Maia), Pedro Andrade e António Ferreira (promovidos da equipa de juniores) juntam-se ao projecto que continuará a contar com João Matias, Xuban Errazkin, Luís Afonso, João Santos, Bernardo Saavedra.

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27 de dezembro de 2018

Uma Bora-Hansgrohe que não foi só Peter Sagan

(Fotografia: © Ralph Scherzer/Bora-Hansgrohe)
Quando se fala de Bora-Hansgrohe, fala-se de Peter Sagan. Afinal é a super estrela do ciclismo actual, é quem conquista as vitórias mais importantes, mas esta equipa alemã está a começar a ser mais do que Sagan, com outros ciclistas que sabem que é difícil sair da sombra do eslovaco, mas não significa que não tenham o seu lugar ao sol. Dois exemplos: Pascal Ackermann venceu mais do que Sagan e Sam Bennett afirmou-se como sprinter. Por outro lado, o dos voltistas, se Rafal Majka não confirma expectativas, Emanuel Buchmann conquistou o seu espaço e a equipa vai apostar mais neste alemão.

Porém, esta Bora-Hangrohe é Peter Sagan. Foi um ciclista um pouco diferente, com a sua preparação e mesmo parte do seu calendário a ser ligeiramente alterado. Foi pai e quis aproveitar o máximo possível esses momentos, mas na vertente desportiva, concentrou-se mais em treinos de altitude. Muito se falou que estaria a preparar-se para os Mundiais de Innsbruck, mas era uma missão impossível. Contudo, as alterações até tiveram o seu efeito. Sagan apareceu com uma postura diferente e se continua a somar segundos lugares, também somou mais uns grandes triunfos. E finalmente foi rei de Roubaix.

Aos 28 anos até se esperava que Sagan já tivesse uma colecção maior de monumentos. O facto é que entre erros tácticos e adversários de qualidade, o eslovaco vai apenas em dois, mas tem os que mais queria. Depois da Volta a Flandres em 2016, a forma como conquistou este ano o Inferno do Norte foi de um verdadeiro campeão, ao nível de vitórias recentes e para sempre memoráveis como as de Fabian Cancellara e Tom Boonen. A forma como arrancou, desta feita sem se importar se alguém o ajudaria ou não, a determinação, a destreza... Foi um exibição que marcou 2018. E é verdade que até teve um companheiro de ocasião. Silvain Dillier (AG2R) pensou mais no que teria a ganhar ao acompanhar Sagan, do que a ficar apenas na roda. Sagan foi mais forte no sprint, num Roubaix que ficou muito bem entregue a quem parecia destinado a vencê-lo.

Primeiro item da lista do que faltava na carreira de Sagan riscado, por assim dizer. Seguia-se o regresso ao Tour, depois de em 2017 ter sido expulso devido ao incidente com Mark Cavendish. Três etapas e a camisola verde, que teve uns contornos mais épicos devido a uma queda que o deixou em muito mau estado. Sofreu como nunca tinha sofrido na montanha e conseguiu chegar aos Campos Elísios, onde não teve capacidade para tentar mais um triunfo. O seu Tour estava feito e a verdade de quem é o senhor dos pontos em França estava reposta.

Ranking: 3º (9180 pontos)
Vitórias: 33 (incluindo o Paris-Roubaix, três etapas no Giro e três no Tour)
Ciclista com mais triunfos: Pascal Ackermann (9)

As mazelas da queda numa descida no Tour limitaram-no quase até ao fim da temporada, tendo uma Vuelta sem triunfos, mas com três segundos lugares. Ao todo foram oito vitórias e uma subida ao pódio nos Mundiais. É um estrela, com as suas extravagâncias, mas também um senhor. Sagan, que abandonou em Innsbruck, foi ao pódio entregar a medalha de campeão do mundo a Alejandro Valverde, numa passagem de testemunho e num gesto inesperado, de enorme companheirismo e de respeito pela carreira do espanhol.

Peter Sagan continuará a ser a figura desta equipa, que não esperou pelo último ano de contrato com o eslovaco para renovar até 2021. Está também cada vez mais a criar um bloco muito interessante de ajuda ao seu líder, com Daniel Oss a ser uma das melhores contratações e mais vão chegar em 2019. A relação do italiano com Sagan foi perfeita.

Para a próxima temporada, o eslovaco - agora com a camisola de campeão do seu país e não vestido com o arco-íris - quer fechar as contas que tem com uma Milano-Sanremo que lhe teima em escapar e vai também apostar nas Ardenas, regressando à Amstel Gold Race e com estreia marcada para a Liège-Bastogne-Liège, mais um monumento que entra no seu radar. Depois irá atrás de mais uma camisola verde no Tour para ser ele o recordista de vitórias, desempatando com Erik Zabel.

Mas muito se fala de Sagan. Fale-se também de Sam Bennett. Será sempre o sprinter número dois da Bora-Hansgrohe com o eslovaco na equipa, mas foi ao Giro ganhar três etapas, não deixando Elia Viviani (Quick-Step Floors) sem concorrência. Regressou em força na Volta à Turquia para fechar um ano que não esquecerá e que o motiva a querer mais em 2019. Foram sete vitórias e a garantia que a equipa pode contar com ele para aumentar o número de triunfos e da qualidade destes. Aos 28 anos foi a afirmação do irlandês, enquanto Ackermann, aos 24, passou de zero vitórias como profissional para nove! Foi a revelação.

Sim, Sagan venceu um monumento e depois no Tour, mas os triunfos de Ackermann também foram de valor: uma etapa na Volta à Romandia, outra no Critérium du Dauphiné, na clássica Prudential RideLondon-Surrey e duas etapas na Volta à Polónia, só para referir os triunfos em provas do World Tour. Sprinter e homem de clássicas, Ackermann tanto poderá começar a entrar mais no bloco de Sagan, como será inevitável ter as suas próprias oportunidades.

Ackermann e Buchmann foram dois ciclistas que também já renovaram até 2021. Ambos são o futuro próximo da Bora-Hansgrohe. O último tem estado a evoluir para tentar discutir um top dez numa grande volta. Ficou à porta na Vuelta (12º), mas a performance foi convincente, muito mais do que a de Rafal Majka. O polaco não esteve mal, com dois top 20 (Tour e Vuelta), mas deste ciclista a Bora-Hansgrohe exige mais e Majka não atinge o nível esperado. Para 2019 é mais um dos corredores que não coloca o Tour como objectivo, optando pelo Giro e a Vuelta. Buchmann vai atacar o top 10 no Tour.

E para mostrar como a equipa está a construir um bloco interessante de voltistas, houve ainda Davide Formolo, uma das contratações para 2018. O italiano fez 10º no Giro, fechando em 22º na Vuelta. Com 26 anos é mais um ciclista que a Bora-Hansgrohe poderá tentar tirar mais partido. Há ainda um Jay McCarthy de quem muito se espera, mas que tem sido mais discreto na sua evolução.

Em 2019 chegará mais um alemão para as corridas por etapas. Max Schachmann (24 anos) deixa a Quick-Step Floors para assinar por uma equipa que quer apostar mais na geral de grandes voltas do que a belga. Tem tudo para ser um excelente reforço e tornar esta Bora-Hansgrohe bem mais interessante, principalmente para um Giro e Vuelta, já que no Tour, Sagan deverá sempre ser o líder e, logo, com um bloco mais forte na sua protecção, não sobrando muito espaço para os homens da montanha.

Para ajudar o eslovaco chegam Jempy Drucker (BMC) e Oscar Gatto (Astana). O italiano já foi colega de Sagan na Tinkoff. O ciclista está muito contente com os companheiros que terá ao seu lado, considerando que é o bloco mais forte que já teve a apoiá-lo.

Esta Bora-Hansgrohe quer mais e melhor, sem que seja apenas Peter Sagan a estar na ribalta. A equipa está a crescer e a ficar cada vez mais equilibrada e forte.

Permanências: Peter Sagan, Rafal Majka, Emanuel Buchmann, Pascal Ackermann, Sam Bennett, Erik Baska, Cesare Benedetti, Maciej Bodnar,Marcus Burghardt, Davide Formolo, Felix Großschartner, Peter Kennaugh, Leopold König, Patrick Konrad, Jay McCarthy, Gregor Mühlberger, Daniel Oss, Christoph Pfingsten, Pawel Poljanski, Lukas Pöstlberger, Juraj Sagan, Andreas Schillinger, Rüdiger Selig.

Contratações: Maximilian Schachmann (Quick-Step Floors), Jempy Drucker (BMC) e Oscar Gatto (Astana).


26 de dezembro de 2018

BMC em ano de despedida

(Fotografia: Facebook BMC/CCC Team)
Quando uma época começa, passa-se por aquela fase de adaptação a ciclistas em equipas diferentes, mudanças de equipas, de nome... Porém, em 2019, haverá uma mudança mais profunda: não se verá mais os habituais equipamentos vermelhos e pretos com o nome BMC. Vai ser estranho, como aconteceu noutros anos quando icónicos patrocinadores deixaram o pelotão, ou quando uma equipa terminou. 2018 foi o ano do adeus de uma das equipas mais fortes do pelotão, que entrará agora numa nova fase como estrutura polaca: a CCC Team. Da despedida ficaram boas recordações, mas com aquela frustração de mais uma vez não discutir uma grande volta, principalmente o Tour com Richie Porte.

Mas mais do que uma análise a 2018, acaba-se inevitavelmente por escrever sobre o que esta equipa foi. Nasceu da aliança entre um apaixonado pela modalidade Andy Rihs - que morreu este ano - e o antigo ciclista Jim Ochowicz. Rihs ficou desiludido ao ver como a sua Phonak acabaria manchada pelo doping de Floyd Landis, que levou ao fim da equipa em 2006 e a retirada da vitória no Tour. O magnata suíço era também dono da marca de bicicletas BMC e surgiu no ano seguinte com o novo projecto, que se tornaria num de referência no ciclismo.

Os primeiros passos foram dados maioritariamente com ciclistas americanos e alguns suíços. Em 2010, a equipa contrata Cadel Evans, então campeão do mundo e com pódios no Tour e Vuelta. A partir de então, foi sempre a subir. A BMC foi convidada para o Giro e para o Tour (pertencia ao escalão Profissional Continental), com Evans a fechar na quinta posição. Venceu uma etapa, a primeira de 26 em grandes voltas da BMC. Antes, o australiano tinha sido o autor da estreia a ganhar em corridas de categoria World Tour, com a conquista da Flèche Wallonne. Foi também Evans quem deu o triunfo que marca a história da BMC: a Volta a França em 2011, na primeira temporada da equipa no escalão principal.

Tejay van Garderen não conseguiu cumprir as expectativas para substituir Evans e Richie Porte, contratado à Sky, foi perseguido por algum azar, com quedas a marcarem as duas últimas edições no Tour.


Ranking: 4º (8779,97 pontos)
Vitórias: 22 (incluindo uma etapa no Giro, três na na Vuelta)
Ciclista com mais triunfos: Rohan Dennis (6 mais o título mundial de contra-relógio)

Para atacar os monumentos, a aposta foi em mais um homem da belga Lotto. Philippe Gilbert chegou à BMC com três no currículo, mas o ciclista não conseguiu repetir as performances, destacando-se, contudo, o título mundial. Evans vestiu essa camisola, mas tinha vencido quando representava a Lotto, Gilbert deu uma enorme alegria a Rihs e Ochowicz, ainda que não tenha dado muitas mais. Na luta de egos com Greg van Avermaet, seria este a dar o monumento à equipa. Não foi a Volta a Flandres como tanto queria Avermaet, mas conquistou o Inferno do Norte do Paris-Roubaix em 2017.

Pela importância das corridas, estas são vitórias a destacar. Porém, a BMC conseguiu ser uma equipa que tanto lutava por corridas por etapas, como estava na disputa por clássicas. Taylor Phinney, Thor Hushovd, George Hincapie, Steve Cummings, Daniel Oss, Stefan Küng e Alessandro de Marchi foram outros nomes que marcaram esta equipa, seja com vitórias ou por serem alguns dos melhores homens de trabalho. Isto sem esquecer Rohan Dennis. Pode não ter sido (pelo menos na BMC) o voltista que ambicionava, mas o senhor contra-relógio vestiu as camisolas de líder das três grandes voltas e para fechar a história da BMC em grande deu mais um título mundial individual, sem esquecer que esta equipa foi exímia nesta vertente a nível colectivo (foi campeã em 2014 e 2015).


Claro que os títulos mundiais são ganhos ao serviço das selecções, mas a camisola leva o nome do patrocinador da equipa que o ciclista representa, pelo que é sempre um triunfo relevante. Quanto a Dennis vai levar a camisola do arco-íris para a Bahrain-Merida, mas na despedida pela BMC ganhou um contra-relógio no Giro e dois na Vuelta e foi líder em ambas. Venceu ainda no Tirreno-Adriatico e em Abu Dhabi, além de ser campeão nacional. 

De Marchi também venceu uma etapa na Vuelta e é dele a derradeira vitória da BMC no Giro dell'Emilia. Richie Porte conquistou a Volta à Suíça, mas a queda na etapa de Roubaix do Tour, ainda antes de chegar aos sectores de pavé, acabou por marcar a temporada pela negativa. Greg van Avermaet ganhou o Tour de Yorkshire, mas ficou aquém do esperado nas clássicas. 22 triunfos, mais o título mundial de Dennis para fechar uma história que irá agora entrar na fase CCC Team.

Passar grande parte da temporada sem saber se será possível manter a equipa viva, fez com que Ochowicz não pudesse segurar a maior parte das suas estrelas. Aos poucos estas foram assinando por outras equipas, mas não se pode acusar ninguém de não ter estado dedicado a garantir que a BMC alcançasse os seus objectivos, mesmo que fora da estrada estivesse em marcha a procura por garantir o futuro.

Apenas sete ciclistas vão transitar para a CCC Team, com Greg van Avermaet a ser apresentado como o líder, já que as clássicas e a caça por etapas serão os planos para 2019. Ochowicz quer alcançar a marca de 20 vitórias, numa equipa que contará com um português. Amaro Antunes chega ao World Tour, tendo sido um dos ciclistas que sobe da CCC versão Profissional Continental, que não continuará a existir.

2019 será um ano zero, mas com ambição de novamente fazer crescer a equipa de forma a discutir novamente as grandes voltas e contar com mais referências do ciclismo actual. Não foi feito segredo que com o anúncio da saída da Sky como patrocinador, Michal Kwiatkowski passa a ser a escolha número um para 2020, caso a equipa britânica feche portas. O susto de ver a estrutura terminar passou para Ochowicz, mas o trabalho de reconstrução está apenas a começar.

Transitam da BMC: Greg van Avermaet, Alessandro de Marchi, Michael Schär, Patrick Bevin, Joey Rosskopf, Nathan van Hooydonck e Francisco Ventoso.

Transitam da CCC Sprandi Polkowice: Amaro Antunes, Pawel Bernas, Lukasz Owsian, Kamil Gradek e Szymon Sajnok.

Contratações: Laurens ten Dam (Sunweb), Simon Geschke (Sunweb), Serge Paywels (Dimension Data), Will Barta (Hagens Berman Axeon), Lukaz Wisniowski (Sky), Victor de la Parte (Movistar), Gijs van Hoecke (Lotto-Jumbo), Jakub Mareczko (Wilier Triestina-Selle Italia), Guillaume van Keirsbulck (Wanty-Groupe Gobert), Ricardo Zoidl (Felbermayr-Simplon Wels) e Josef Cerny (Elkov-Author Cycling Team).

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