10 de novembro de 2017

Uma frase num livro e o alegado motor de Cancellara volta a ser assunto do dia

(Fotografia: Roxanne King/Flickr)
É caso para dizer, lá vamos nós outra vez. Quando Fabian Cancellara terminou a carreira, há um ano, ficou claro que perante um currículo tão brilhante, aquele arranque na Volta a Flandres em 2010 - que deixou Tom Boonen a parecer que estava parado -, nunca deixaria de levantar suspeita sobre um alegado motor na bicicleta. Nem o facto de estar retirado terminou com a desconfiança. E porquê que se volta agora a falar disso? Por causa desta frase escrita num livro: "Quando se vêem as imagens, as acelerações dele não são nada naturais. É como se tivesse problemas em manter os pés nos pedais. Aquele cabrão provavelmente tinha um motor."

Houve direito a ofensa e tudo... O autor é Phil Gaimon, que também colocou um ponto final na carreira em 2016, aos 30 anos. Ao contrário de Cancellara, o seu currículo não o coloca entre os ciclistas mais memoráveis, apesar de algumas classificações interessantes. A sua última equipa foi a Cannondale-Drapac. Gaimon resolveu escrever um livro - o título em inglês é Draft Animals: Living the Pro Cycling Dream (Once in a While) - e não lhe falta publicidade depois de terem sido divulgadas algumas frases, nomeadamente aquela sobre Fabian Cancellara. As suspeitas do americano são sobre a Volta a Flandres e o Paris-Roubaix.

As reacções não se fizeram esperar. Gaimon está a ser alvo de muitas mensagens pouco simpáticas nas redes sociais, segundo o próprio revelou, enquanto a UCI rapidamente veio a público dizer que vai investigar as alegações. O novo presidente, David Lappartient, tem disparado em várias direcções e o doping mecânico não é excepção. O dirigente salientou que, como todos, conhece os rumores e que agora, perante as declarações de Phil Gaimon, há que perceber o que está por detrás delas.

Quanto ao ex-ciclista, já veio a público dizer que não se percebeu onde queria chegar com a afirmação. "Acredito que tenha acontecido algumas vezes naquele ano, mas mal alguém reparou e se tornou numa história [mediática], ninguém o fez novamente", realçou ao Cycling News. Gaimon diz mesmo que ninguém no ciclismo acredita que de facto se vai chegar a alguma conclusão, mesmo com a determinação de Lappartient.

Fabian Cancellara mantém-se em silêncio. Já repetiu tantas vezes que não usou nenhum motor, que desta vez não disse nada publicamente. O suíço sempre se defendeu afirmando que o seu único motor eram as pernas. Já o mecânico que acompanhou Cancellara durante a fase das clássicas em 2010, então na Saxo Bank, considera que era impossível alguém recorrer a tal forma para ganhar vantagem.

"Se houvesse um motor na bicicleta eu teria visto. Não seria possível esconder. As bicicletas do Fabian eram tratadas como todas as outras, por isso era impossível que algo pudesse lá estar escondido", garantiu Rune Kristensen. O mecânico, actualmente ao serviço da Quick-Step Floors, assegura assim também que não havia um tratamento especial para a bicicleta de Cancellara, que, segundo algumas alegações, ficaria à parte das dos colegas de equipa.

Entretanto, o combate ao doping mecânico terá um novo líder: Jean-Christophe Peraud. O antigo ciclista, mais um que acabou a carreira em 2016, irá substituir Mark Barfield, o homem que havia sido escolhido pelo antigo presidente da UCI, Brian Cookson. Apesar das muitas vistorias, nunca nenhum ciclista do pelotão profissional de estrada foi apanhado com um motor. O primeiro caso surgiu nos Mundiais de ciclocross em 2016, na bicicleta da belga Femke Van den Driessche. A ciclista foi suspensa por seis anos, mas optou por terminar a carreira. Desde então, só no ciclismo amador têm surgido alguns casos.

Algumas reportagens têm colocado em causa a forma como a UCI lidera estas vistorias às bicicletas, surgindo alegações que o sistema utilizado, através de um tablet, não é eficaz, ainda mais quando já não se fala apenas de um motor escondido no quadro da bicicleta, mas também com o doping mecânico a já ter chegado às rodas.

Jean-Christophe Peraud, ciclista que representou a AG2R e que foi segundo na Volta a França de 2014, ganha por Vincenzo Nibali, terá muito trabalho pela frente para não só garantir que este doping mecânico não é utilizado no ciclismo, mas também para credibilizar o sistema utilizado na detecção de motores.

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