28 de novembro de 2017

Um ano com Scarponi no pensamento e com as vitórias a escassearem

(Fotografia: Facebook Astana)
Em tempos foi uma toda poderosa equipa. Mas os tempos são outros e mesmo sendo uma estrutura com um orçamento bem folgado, a Astana vive uma fase de algum descrédito. As grandes figuras não querem ficar, outras não querem ir para lá. Ainda assim, entrou em 2017 com um conjunto de ciclistas preparados a lutar por corridas. Fabio Aru estava determinado em ganhar o Giro100, Miguel Ángel López passou grande parte da temporada a recuperar de uma fractura na perna feita no final de 2016, mas apontava nem que fosse à Vuelta. Jakob Fuglsang teria a oportunidade de liderar no Tour e depois haveria um Dario Cataldo, um Oscar Gatto, Tanel Kangert, Luis Leon Sanchez e Alexey Lutsenko, entre outros, que poderiam sempre conquistar alguns triunfos. Porém, cedo ser percebeu que esta Astana teria dificuldade em impor-se como outrora, mas esse acabou por ser o menor dos problemas.

A época começou difícil, teve o pior momento possível em Abril e apesar de umas poucas alegrias, acabou novamente mal. O arranque não poderia ser mais desesperante, os meses passaram e vitórias... nem vê-las. O foco estava no Giro100 e em Aru, até que o líder caiu durante um treino e a recuperação ia ser demorada. Alexander Vinokourov, director da equipa, bem podia levar as mãos à cabeça. Nestes momentos sabe sempre bem ter um ciclista como Michele Scarponi. Apesar da veterania, era claro que a experiência poderia ser uma mais valia e Scarpa deu a resposta ao vencer na primeira etapa da Volta aos Alpes. Estávamos a 17 de Abril. Um pequeno suspiro de alívio por parte da Astana. Estaria a época a compor-se? Cinco dias mais tarde o ciclismo sofreu uma perda enorme. Scarponi foi atropelado ao treinar perto de casa. Morreu e deixou um vazio no pelotão. E deixou uma Astana sem rumo para a Volta a Itália.

Entre lágrimas e vontade de homenagear o seu companheiro, os ciclistas da Astana partiram para o Giro apenas com a responsabilidade de tentar aquela vitória de etapa que pudessem dedicar a Scarponi. Foram só oito corredores, pois Vinokourov não quis substituir o líder. O número um da equipa era para Scarpa e para Scarpa ficou. Muito lutaram os homens da Astana, mas o triunfo desejado só chegaria a 9 de Junho no Critérium du Dauphiné. Jakob Fuglsang aparecia num momento crucial: venceu duas etapas e a geral da competição vista como a que dá as indicações para o Tour. Não só libertou a equipa da pressão da falta de vitórias, como finalmente era feita a homenagem a Scarponi. E finalmente a Astana entrou um pouco mais nos eixos.


Ranking: 15º (5018 pontos)
Vitórias: 18 (incluindo uma etapa no Tour, três na Vuelta, duas e a geral no Critérium du Dauphiné)
Ciclista com mais triunfos: Jakob Fuglsang e Miguel Ángel Lopez (4)

A emoção da ausência de Scarponi esteve sempre presente. Era inevitável. No entanto, surgiram outros problemas devido à mudança de calendário de Aru. Falhando o Giro, passou para o Tour, onde o dinamarquês tinha recebido garantias que seria líder. Fuglsang (32 anos) reagiu conquistando o Critérium du Dauphiné e falou-se de uma liderança partilhada com o italiano. Naturalmente que ninguém acreditou. Na estrada o dinamarquês tentou manter-se junto dos candidatos, mas acabaria por abandonar. Entretanto, Aru ganhou uma etapa e até andou de amarelo. Problemas de saúde prejudicaram o seu final na Volta a França e nem ao pódio conseguiu subir. Ainda assim, o quinto lugar foi positivo. Já o 13º na Vuelta, nem por isso.

Mas não foi grave, pois em Espanha reapareceu Miguel Ángel López. O pequeno colombiano, que tanto está a entusiasmar pela forma aguerrida de competir, ganhou duas etapas. Foi oitavo na geral e agora espera-se que evite acidentes na pré-temporada para que apareça em grande em 2018. É que a Astana bem precisa. Lutsenko também venceu uma etapa.

A felicidade de concluir a última grande volta com algum destaque esfumou-se bastante rápido. Depois de Vincenzo Nibali sair no final de 2016, foi Fabio Aru quem bateu com a porta. Era um desfecho mais do que anunciado, mas Vinokourov disse que foi apanhado de surpresa e até ameaçou processar o italiano. Defende que ficou sem alternativas para contratar porque Aru avisou tarde que não renovaria, o que prejudica a equipa para 2018. E de facto a equipa fica orfã de um líder. Falou-se de Nairo Quintana, mas este não quebrou contrato com a Movistar, Mikel Landa não quis regressar e Rigoberto Uran preferiu continuar na Cannondale-Drapac, futura EF Education First-Drapac powered by Cannondale.

Restou ao responsável cazaque admitir o óbvio: aos 23 anos, Superman López, como é conhecido, vai mesmo assumir papel de líder, com Fuglsang a ter uma nova oportunidade, só não se sabe em qual das três grandes voltas. Porém, o dinamarquês poderá ver um Jan Hirt passar-lhe rapidamente na hierarquia, já que é um ciclista que poderá em pouco tempo alcançar bons resultados, tendo em conta o que fez no Giro ao serviço da CCC Sprandi Polkowice. Omar Fraile (Dimension Data) será um homem com características para lutar por etapas e talvez uma ajuda interessante ao jovem López. Davide Villella (Cannondale-Drapac) será uma opção forte para as clássicas, Magnus Cort Nielsen (Orica-Scott) é ciclista para mexer com corridas e procurar surpreender. Espera-se ainda que após um ano a adaptar-se ao World Tour, o espanhol Pello Bilbao possa começar a ser uma opção mais séria para lutar pela geral das provas por etapas.

Certo, é que a Astana não poderá continuar a um nível tão baixo. O Critérium du Dauphiné, as etapas no Tour e Vuelta são sempre triunfos importantes. Mas para quem sempre assumiu querer ganhar as mais importantes corridas, passar meses sem vitórias e passar quase ao lado da discussão de algumas das principais provas... É normal que Vinokourov se sinta frustrado e vai exigir (e de que maneira) muito mais aos seus ciclistas em 2018.

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