29 de novembro de 2017

Nibali cumpriu o mínimo exigido na equipa em que os petrodólares prometiam mais

(Fotografia: Giro d'Italia)
Numa outra situação poder-se-ia dizer que para uma equipa que foi construída do zero para entrar directamente no principal escalão do ciclismo, vencer uma etapa e fazer pódio no Giro, ganhar depois uma tirada na Vuelta e alcançar mais um pódio e ainda terminar a temporada a conquistar um monumento, seria uma época fantástica. E é claro que são excelentes resultados. Tomara a muitas equipas. Contudo, para quem chegou com milhões de petrodólares para entrar de rompante no World Tour, o certo é que a Bahrain-Merida ficou um pouco aquém da grandeza que quis ostentar, ou que pelo menos o seu patrão assim quis passar.

O xeque Nasser bin Hamad Al Khalifa queria uma equipa de ciclismo, aliciou o amigo Vincenzo Nibali a precisar de novos ares, depois de ver a relação com Alexander Vinokourov deteriorar-se na Astana, e contratou o muito experiente director, então na Lampre-Merida, Brett Copeland. Além dos milhões em causa para convencer Nibali a arriscar a carreira num projeto novo, também ajudou ter dado liberdade ao italiano de escolher a maioria dos seus companheiros. Nibali seria sempre o líder indiscutível. Em troca exigiam-se resultados.

Num misto de experiência e juventude, o plantel da Bahrain-Merida apresentou-se interessante: os espanhóis Ion Izagirre (que seria o segundo na hierarquia nas grandes voltas), Javier Moreno, Jon Insausti e o inevitável contingente italiano composto por exemplo por Valerio Agnoli, Manuele Boaro, Enrico Gasparotto, Giovanni Visconti e o veteraníssimo Franco Pellizotti, que cinco anos depois regressou ao World Tour, numa fase em que já pensava mais em terminar a carreira. Nibali levou ainda o irmão Antonio, com Janez Brajkovic, Ramunas Navardauskas, Kanstantsin Siutsou e Luka Pibernik a contribuir para um grupo de qualidade.


Ranking: 14º (5277 pontos)
Vitórias: 12 (incluindo uma etapa no Giro e uma na Vuelta e a Il Lombardia)
Ciclista com mais triunfos: Vincenzo Nibali (4)

Nibali não entrou em loucuras e deixou de parte o Tour (ou seja Chris Froome e a Sky) para estar presente no Giro100, opção perfeitamente justificável, tendo em conta a sua nacionalidade e o percurso passava pela sua Sicília. Chegou a Itália com uma pouco convincente vitória na Volta à Croácia e a Bahrain-Merida tentou apresentar uma união ao estilo Sky, mas também rapidamente se percebeu que era para durar pouco. Não ajudou Javier Moreno ser expulso da corrida por conduta imprópria (empurrou Diego Rosa, da Sky), mas ajudou Pellizotti continuar a ser um ciclista consistente e em boa forma, mesmo aos 39 anos. Foi difícil ver Nibali como verdadeiro candidato, mas ganhou na subida de Bormio, na etapa rainha, e fechou em terceiro. Ainda assim, por mais que se mostrasse feliz, ganhar o Giro era o objectivo e não se viu um ciclista com esse potencial. Claro que quando se recorda 2016... Também parecia a corrida estar mais do que perdida e Nibali acabou com a camisola rosa.

Uma das grandes curiosidades era Ion Izagirre. O espanhol deixou a Movistar para deixar o papel de gregário de Nairo Quintana ou Alejandro Valverde e poder ele ser líder. Ao contrário de Nibali, havia uma elevada expectativa para Izagirre no Tour. Não para ganhar, mas, de resto, tudo parecia possível. Nunca se conseguiu perceber, nem um bocadinho, o que valeria Izagirre como líder. Caiu no contra-relógio inaugural e a época terminou ali, em Dusseldorf, tal como a do antigo companheiro, Valverde.

A responsabilidade recaiu novamente toda em Nibali e em Espanha esteve melhor, mas tanto estava com toda a força, como numa subida mais inclinada e o italiano fraquejava. Ganhou uma etapa e só Chris Froome o bateu. Ainda foi depois até à Lombardia vencer pela segunda vez o último monumento do ano.

O que faltou então à Bahrain-Merida? Faltou mostrar um maior protagonismo e não ficar tanto na expectativa, faltou apostar mais noutras corridas e não centrar-se tanto nas grandes voltas, pois tinha plantel para tal e faltou principalmente estar no Giro ou na Vuelta para ganhar. Apesar dos pódios, Nibali nunca convenceu que poderia bater Tom Dumoulin ou Nairo Quintana em Itália, ou Froome em Espanha. Mantém-se aquele estigma que ganha quando os melhores não estão... Não é justo que tal marque a sua carreira, mas Nibali tem de conseguir bater os grandes nomes da actualidade.

Não fica esquecido uma das estrelas do ano para a equipa: Sonny Colbrelli. Finalmente deu o salto mais do que merecido para o World Tour, depois de muito ajudar a que se falasse da Bardiani-CSF. A etapa no Paris-Nice, prova do principal calendário, foi um momento marcante para o sprinter de 27 anos. Ainda conquistou mais dois triunfos em 2017 e apresentou algumas exibições interessantes. Porém, ficou a sensação que Colbrelli pode fazer mais, mas sofrerá com o facto das atenções centrarem-se em Nibali e depois em Izagirre. Colbrelli tem potencial para estar na luta em algumas clássicas, contudo, terá de desenvolver ainda mais a sua capacidade de trabalhar sozinho pelo melhor posicionamento. Já o fazia na Bardiani-CSF, mas é muito diferente ter de o fazer quando tem pela frente Peter Sagan ou Greg van Avermaet. Nos sprints tem uma missão difícil perante os actuais dominadores da especialidade. Será uma pena (e desperdício) se a Bahrain-Merida não tirar maior partido de Sonny Colbrelli.

Em 2018 chegarão ciclistas que poderão ser importantes para Nibali e para Izagirre, que contará com o seu irmão Gorka. A Movistar perde mais um ciclista de qualidade. Domenico Pozzovivo (AG2R) procura um novo desafio, ainda que vá perder protagonismo, enquanto da Eslovénia chega Kristijan Koren (Cannondale-Drapac) e Matej Mohoric. E este último poderá revelar-se ser uma grande contratação. A UAE Team Emirates abriu os cordões à bolsa para garantir Fabio Aru, Daniel Martin e Alexander Kristoff, mas deixou sair este jovem de 23 anos com um potencial ainda por perceber na totalidade. Venceu uma etapa na Vuelta e andou bem em toda a prova. Como trepador demonstra capacidade para evoluir e tornar-se num caso sério de competitividade, precisando de trabalhar o contra-relógio, onde também revela ter margem de manobra para, pelo menos, se defender bem. Pode ser um ciclista para o futuro se o xeque Nasser bin Hamad Al Khalifa quiser de facto construir um projecto sólido e duradouro.

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