1 de outubro de 2017

"Tomei a decisão correcta. Numa equipa World Tour não seria líder"

Amaro Antunes está com a motivação em alta para começar a nova temporada. No dia 5 de Outubro, quinta-feira, ainda irá competir no tradicional Festival de Pista em Tavira pela W52-FC Porto, mas à sua espera está um contrato de dois anos com a CCC Sprandi Polkowice. Depois de um sensacional 2017, a expectativa era grande para ver o algarvio chegar ao World Tour. Houve conversas, admitiu, mas Amaro Antunes considerou que passar primeiro pelo escalão Profissional Continental era a decisão correcta: "Prefiro subir um degrau de cada vez, do que subir mais e depois ter de descer."

Para o ciclista de 26 anos, não havia dúvidas sobre o que pretendia para o seu futuro imediato e a formação polaca proporcionará as condições que procurava. "A minha escolha baseia-se no facto de ser uma equipa que faz o calendário internacional, que inclui corridas importantes e dar-me-ão liberdade para as tentar disputar", explicou Amaro Antunes ao Volta ao Ciclismo. Mas a ambição vai, naturalmente, mais longe, e poderá incluir a presença no Giro. "Foi um dos pormenores que pesou na minha decisão, tanto participar numa grande volta, como perceber como o meu corpo vai reagir, já que será a minha primeira corrida de três semanas", referiu. A CCC recebeu um convite este ano e é algo que poderá acontecer novamente em 2018, já que a Polónia é hipótese para receber o início do Giro numa próxima edição.

Tomada a decisão, Amaro Antunes garantiu estar tranquilo com a experiência que se preparar para viver. O desafio será grande e o corredor salientou que será um ano para aprender e evoluir. Um dos aspectos a trabalhar será o contra-relógio: "Não sou um especialista, mas posso aplicar-me e tentar melhorar para nas corridas me conseguir defender. Na equipa querem fazer esse trabalho específico e isso é muito positivo."

"Nunca escondi que a vitória no Alto do Malhão há-de marcar-me para sempre pela grandeza da corrida, dos atletas que lá estavam, mas, acima de tudo, pelo ambiente que vivi naquela subida"

Na estrada vemos o algarvio exibir-se de forma destemida, mas quanto à sua carreira, frisou que gosta "de ser cauteloso". "Tomei a decisão correcta. A nível de calendário vou poder estar em grande parte das corridas do World Tour. Numa equipa World Tour não seria líder e, se calhar, não poderia fazer uma grande volta", afirmou, justificando porque optou por não seguir para o principal escalão do ciclismo.

No dia 17 começará o seu primeiro estágio com a CCC e ficará a conhecer melhor o seu calendário. Porém, adiantou que irá estar na Volta à Comunidade Valenciana - onde este ano fez um brilhante terceiro lugar, numa etapa ganha por Nairo Quintana -  e na "sua" Volta ao Algarve. O pensamento começa a estar no que irá enfrentar na próxima fase da sua carreira, contudo, Amaro Antunes não esquecerá o que viveu ao serviço da W52-FC Porto. Foi apenas um ano na equipa do Sobrado, mas... "Foi excepcional", realçou. "Consegui ter uma performance bastante boa desde o início do ano. O ranking nacional [primeiro classificado] reflecte isso mesmo. Estar numa equipa unida e forte também foi fundamental", acrescentou.

O dia que marcou a carreira, até ao momento, de Amaro Antunes,
a vitória no Alto do Malhão, na última etapa da Volta ao Algarve
Ganhou a etapa da Torre, foi rei da montanha e segundo classificado na Volta a Portugal. Venceu o Troféu Joaquim Agostinho e a etapa no Alto de Montejunto e no início da temporada conquistou a Clássica da Arrábida. Vitórias especiais, sem dúvida, mas há uma que o marcou mais: "Nunca escondi que a vitória no Alto do Malhão há-de marcar-me para sempre pela grandeza da corrida, dos atletas que lá estavam, mas, acima de tudo, pelo ambiente que vivi naquela subida. Todas aquelas pessoas, todo o carinho que senti na subida e na Volta ao Algarve em geral... Ainda hoje vejo alguns vídeos para recordar aquele momento. Foi algo que me marcou."

Com a CCC espera regressar à Algarvia em boa forma, mas recusa falar em lutar por objectivos maiores, apesar de, sem surpresa, ser o seu desejo. "Vou com o intuito de fazer uma boa corrida, mas não quero subir demasiado a fasquia. Irei trabalhar arduamente para estar bem", disse. Já a Volta a Portugal estará fora das contas do ciclista, já que a Volta à Polónia é numa data muito próxima e será um dos objectivos da temporada da sua nova equipa. Porém, confessou: "Certamente que sentirei saudades quando vir a Volta a Portugal e não estiver lá. Estava na altura de experimentar novos voos."

Esta saudade estende-se aos seus actuais companheiros e restantes membros da actual equipa. "A experiência e aprendizagem que levo [da W52-FC Porto] são bastante benéficas. A forma de correr, alguns aspectos tácticos, a união de grupo são factores que levarei comigo e que serão muito úteis no futuro", referiu. Amaro Antunes afirmou que cresceu como atleta na formação orientada por Nuno Ribeiro. Agora só espera e acredita que a W52-FC Porto irá continuar na sua senda vencedora, apesar da sua saída e da possível mudança também de Raúl Alarcón, ciclista espanhol que conquistou a Volta a Portugal com a preciosa ajuda do algarvio. Alarcón tem vários convites, um deles da Movistar.

"Se estivesse no escalão Profissional Continental [a W52-FC Porto] daria cartas e espero que seja uma realidade em 2019. Seria também algo importante para o ciclismo português"

"Creio que é uma equipa com uma espinha dorsal bastante forte e tenho a certeza que o Nuno irá conseguir fazer com que não se desmonte. Creio que continuará a lutar por vitórias." Fica ainda o desejo de ver esta estrutura subir de categoria: "Merece isso. Se estivesse no escalão Profissional Continental daria cartas e espero que seja uma realidade em 2019. Seria também algo importante para o ciclismo português."

Mas afinal como é que se gere uma equipa com tantos ciclistas com potencial para liderar e alcançar vitórias? "Temos a felicidade de ter um grande director desportivo e também grandes [ciclistas] profissionais. Sabíamos o que tínhamos de fazer. Mais dia, menos dia teríamos a nossa oportunidade e só tínhamos de a agarrar. O Nuno dá essas oportunidades e muitos dos ciclistas da equipa conseguiram triunfar."

Agora é tempo de desfrutar dos últimos momentos com a camisola da W52-FC Porto, mas Amaro Antunes não pensa só na CCC. Pensa ainda em ajudar crianças a dar as primeiras pedaladas na modalidade. O ciclista criou um clube de formação, tendo a colaboração dos companheiros de equipa Ricardo Mestre e Samuel Caldeira, também eles algarvios. "Tentaremos sempre que possível transmitir a nossa experiência. Será algo benéfico para os mais jovens poderem contar com três atletas profissionais. Recordo-me que quando era mais novo, se me cruzava com um ciclista profissional ficava encantado", contou.

Vila Nova de Cacela será o palco desta escola para infantis e iniciados (dos nove aos 12 anos), de portas abertas para receber rapazes e raparigas que sonhem com um futuro no ciclismo. Amaro Antunes está a viver esse sonho e agora é esperar para vê-lo entre os melhores. Já não poderá estar com o corredor que tanto admira, Alberto Contador - chegou a medir forças com o espanhol na Volta ao Algarve, com Contador a levar a melhor no Malhão em 2015 -, mas à sua espera estão outros grandes nomes da actualidade. Chris Froome, Tom Dumoulin, Fabio Aru... "São coisas em que se vai pensando, mas não vou meter fasquias altas. Vou simplesmente dar o meu melhor."

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