4 de outubro de 2017

"Não descarto ficar aqui onde me sinto valorizado"

(Fotografia: Podium/Volta a Portugal)
Raúl Alarcón é um dos rostos do sucesso de uma W52-FC Porto que não se limitou apenas a somar vitórias durante a temporada, mas a dominar por completo a Volta a Portugal e ainda a mostrar-se por Espanha. O ciclista admite que está a viver uma segunda vida na modalidade e terá agora de tomar uma importante decisão quanto ao seu futuro. 

As exibições em 2017 despertaram o interesse de equipas como a Movistar, formação do World Tour. Porém, Alarcón sente-se muito bem em Portugal e perante a perspectiva de subida de escalão por parte da W52-FC Porto talvez em 2019 e pelo facto de poder continuar a ser líder, o espanhol está indeciso quanto ao próximo passo a dar na carreira.

"Estou a falar com mais equipas [além da Movistar], mas não descarto ficar aqui onde me sinto valorizado e muito querido pela equipa e pelos adeptos. Há que ter isso em conta", salientou Alarcón ao Volta ao Ciclismo. "Esta é uma equipa que quer crescer, que quer subir de escalão e eu gostaria de estar com ela", acrescentou. Uma das tentações para eventualmente sair é a Volta a Espanha, um sonho do ciclista que ainda muito jovem chegou ao World Tour, mas depois de alguns corredores da formação onde estava terem sido apanhados nas malhas do doping, tudo se tornou num pesadelo. Alarcón foi obrigado a descer de categoria, chegando mesmo a regressar ao estatuto amador. Em Portugal, reencontrou o profissionalismo.

"Portugal encanta-me. Passei aqui muitos anos da minha carreira e, por isso, tenho muitas dúvidas em sair"

Com a Movistar, estar na Vuelta é uma possibilidade bem real, mas... "Há outras equipas com quem posso fazer a Volta a Espanha. No entanto, posso não ter as oportunidades que tenho aqui", disse o ciclista, explicando quais alguns dos pontos importantes a ter em conta nesta decisão: "Quero ter a confiança da equipa para vencer e não apenas para fazer trabalho para um líder. Posso dar muito mais." Aos 31 anos, Alarcón está finalmente a mostrar todo o potencial que há dez demonstrava ter, tendo agora as condições para tal. Além da Volta a Portugal, também ganhou a o Grande Prémio Jornal de Notícias e a Volta às Astúrias, ficando muito perto de conquistar ainda a Volta à Comunidade de Madrid.

Portugal não se tornou apenas num local de trabalho, tornou-se uma casa. "São muitos anos cá. Portugal encanta-me. Passei aqui muitos anos da minha carreira e, por isso, tenho muitas dúvidas em sair", afirmou. Está por cá desde 2011, quando assinou pela então Barbot-Efapel, tendo passado pelo Louletano antes de assinar pela actual equipa em 2015.

A conversa que mudou o seu estatuto

Alarcón tem sido um fiel homem de trabalho de Gustavo Veloso, tendo de vez em quando as suas oportunidades. Em 2017 o seu papel dentro da equipa mudou e os resultados estão à vista. "No princípio do ano o Nuno Ribeiro [director desportivo da da W52-FC Porto] falou comigo e disse-me que tinha de pensar um pouco mais como líder esta temporada. Nas corridas em Espanha teria de tentar fazer o melhor possível. Se pudesse vencer, melhor. Então, preparei-me bem, com treinos em altitude e tudo foi saindo bem", contou.

Apesar deste seu estatuto mais relevante na equipa, reforçado com a conquista da Volta a Portugal, além do desejo de se manter como líder, Alarcón está preparado para também fazer o trabalho de ajuda àquele que tem sido o número um até agora na estrutura: Gustavo Veloso. Quando o espanhol passou mal na Serra da Estrela, Alarcón referiu como a situação o deixou triste, mesmo estando ele de amarelo e com toda a possibilidade de conquistar a Volta. E não hesita em dizer que Veloso "tem condições para ganhar novamente a Volta". "Às vezes o corpo não responde como queremos. Um dia passamos mal e perdemos a Volta. O Gustavo no dia seguinte ganhou o contra-relógio..."

"[Amaro Antunes] é um grande ciclista. Tem tudo para evoluir e ser um dos melhores do mundo"

E claro, quando o assunto é a Volta a Portugal, há um sorriso enorme que toma conta do seu rosto. "Estive nas nuvens [quando ganhou]! Foi muito importante para mim ganhar a Volta. Passou mais de um mês e continuo a ver vídeos", admitiu. Não tem dúvidas em dizer que é a competição mais importante que ganhou e que teve um sabor especial extra: fê-lo um ano depois do grande amigo Rui Vinhas também ter alcançado a surpreendente vitória. "Somos como irmãos. Ganhar as Voltas de forma consecutiva foi de facto especial."

Alarcón deixou ainda um enorme elogio ao ciclista que esteve ao seu lado durante a Volta a Portugal e que ao seu lado terminou: Amaro Antunes, segundo classificado e rei da montanha. O algarvio vai em 2018 para a formação polaca da CCC Sprandi Polkowice, do escalão Profissional Continental e o espanhol frisou: "É um grande ciclista. Tem tudo para evoluir e ser um dos melhores do mundo. Desejo-lhe o melhor. Pode ser um dos melhores do mundo e já o demonstrou."

Considerou que a escolha de Amaro Antunes "é boa", ainda mais tendo a possibilidade de ir à Volta a Itália. "É um ciclista jovem e com um nível espectacular. Penso que pode fazer boas corridas internacionais", realçou. Mas claro, "será uma baixa no pelotão nacional".

Agora é esperar para ver se Alarcón acompanha Amaro Antunes num salto idêntico de escalão ou ainda maior, ou se deixará Nuno Ribeiro e os adeptos da W52-FC Porto muito felizes permanecendo na equipa portuguesa.


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