23 de agosto de 2017

Tácticas, golpes perfeitos e algum bluff

(Fotografia: Facebook La Vuelta)
Estipulam-se objectivos, planeiam-se tácticas e faz-se as adaptações às circunstâncias de uma corrida que muito pode mudar ao longo de três semanas. E no que diz respeito à Vuelta, tal não podia ser mais verdade. Até a Sky tem dificuldades em manter um plano do princípio ao fim, como tanto gosta de fazer no Tour. Porém, até ao momento, é a táctica da equipa britânica que está a ter o melhor resultado. Dá-se até ao luxo de fazer bluff, só para no final deixar quase todos os rivais de Chris Froome para trás. Já não há dúvidas que o britânico está com tudo para ganhar finalmente a Vuelta e em Espanha vive-se um ambiente idêntico aos últimos anos no Tour: todos querem descobrir qual é a táctica para bater Froome e a Sky.

Em 2016, Alberto Contador e Nairo Quintana perceberam que era preciso arriscar e principalmente surpreender. Era preciso ser o golpe perfeito e assim foi. Froome perdeu a Vuelta quando os dois se uniram, com uma ajuda de outros ciclistas, incluindo colegas do colombiano da Movistar. Táctica idêntica será difícil em 2017. A Sky terá aprendido com o erro colossal da etapa de Formigal.

Com a demonstração de força de Froome logo nos primeiros dias da Vuelta, as equipas rivais adoptaram a postura de expectativa. O britânico já lidera, pelo que será a sua equipa a controlar as etapas. Mais uma vez, na quinta etapa, o plano delineado foi cumprido com enorme sucesso. Só Johan Esteban Chaves continua a ser aquele que não quebra.

Com as diferenças tão curtas, questionava-se se Froome poderia largar a liderança para assim libertar a equipa da responsabilidade de liderar em todas as etapas. Com uma fuga que chegou a ter mais de sete minutos de vantagem, a Manzana Postobón (de Ricardo Vilela) parecia que poderia viver um sonho. Jetse Bol chegou a ser camisola vermelha virtual. Táctica ideal? A Sky dava a liderança a um ciclista que não entra para as contas, para certamente a ir buscar quando considerasse o momento certo. Evitaria desta forma que um dos rivais fosse o líder e assim dar aquele factor de motivação a quem a Sky quer garantir que continue ansioso por descobrir como há-de bater Froome.

Bluff! Na derradeira subida do dia, em Alcossebre, que chegou a ter 20% de inclinação, já Alexey Lutsenko (Astana) festejava a sua primeira vitória numa grande volta quando Froome jogou a sua cartada. Porém, há que recuar uns quilómetros. Depois de muitos cumpridos a um ritmo mais calmo, deu-se a aceleração, com a BMC a fazer o previsível. Com Nicholas Roche e Tejay van Garderen a dois segundos de Froome, a equipa americana queria recuperar a camisola vermelha que Rohan Dennis vestiu na primeira etapa. Froome esperou pelo momento certo, aumentou a velocidade na subida e foi o "ai Jesus" no grupo que já não era grande naquela fase. Que não fiquem dúvidas, a Sky tinha tudo controlado e Froome rematou a etapa novamente com sucesso.

Só um renascido Alberto Contador (Trek-Segafredo), Michael Woods (Cannondale-Drapac) e Chaves conseguiram aguentar o ritmo. Contador até se meteu na frente de Froome, como que a passar a mensagem que ainda tem algo para dar nesta Vuelta, pelo menos para lutar por uma etapa. Van Garderen perdeu oito segundos, Adam Yates, Roche, Zakarin e Fabio Aru 11, David de la Cruz 21 e Vincenzo Nibali 26. Sempre que o terreno tem subido um pouco mais, o italiano da Bahrain-Merida cede e como desta vez não houve descida para o salvar - até venceu uma etapa já por causa disso -, Nibali começa a alimentar dúvidas se pode realmente ser um adversário temível para Froome.

Chaves é nesta fase inicial a dor de cabeça de Froome. A única diferença feita (11 segundos) foi no contra-relógio colecivo e nas bonificações que o britânico já conseguiu. Para a Orica-Scott é excelente ver o seu colombiano de volta às boas exibições depois de um ano marcado por uma lesão no joelho, que o manteve afastado das corridas a maior parte da temporada. Fez pódio em 2016 no Giro e na Vuelta e se quer melhor terá de encontrar uma forma de ganhar tempo, pois no contra-relógio de 40 quilómetros, não terá hipótese contra Froome. Ou seja, Chaves tem-se mantido na roda do líder da Sky. A paciência pode ser uma virtude. Não mostra o jogo, mas mostra que pode jogar forte. Aqui entra a táctica da Orica-Scott. Quando será o momento para Chaves atacar?

O colombiano irá evitar ser previsível. Tem os gémeos Yates para baralhar a Sky e quem também ainda está na luta (e são vários apesar deste domínio inicial de Froome). A Orica-Scott não irá entrar em bluffs, pois procurará o tal golpe perfeito para bater Froome.

Ainda é cedo para reduzir a Vuelta a Froome e Chaves, mas já se espera com ansiedade pelas etapas de alta montanha do fim-de-semana. Até lá, mais umas de "rompe pernas".


Resumen - Etapa 5 - La Vuelta 2017 por la_vuelta


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