31 de agosto de 2017

Não lhes chamem etapas de transição. Não na Vuelta!

(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Alberto Contador ataca e já se sabe como é capaz de mexer com todos. Começou mal a Volta a Espanha, mas agora tem tendência para deixar todos preocupados. Menos Chris Froome. O britânico da Sky lá deixou o espanhol ir, mas mais uma vez é um ataque de Contador que acaba a fazer estragos em Froome. Não foram grandes, mas numa etapa chamada de transição, caiu duas vezes, teve uma avaria e mesmo assim apenas perdeu uns segundos. Não muitos, mas os suficientes para ver Vincenzo Nibali aproximar-se e para se calhar pensar: "Ainda bem que fui acumulando segundos sempre que consegui nas etapas anteriores."

Os ciclistas não gostam da expressão "etapas de transição". E a 12ª da Vuelta dá-lhes muita razão. Tirando o ataque de Contador, parecia ser um dia calmo, com a Sky no seu habitual e, neste caso, descansado controlo. Uma queda e tudo muda. Uma avaria e o coração de Froome já bate mais rápido. Outra queda e já se está a ver que esta Volta a Espanha vai animar na luta pela geral. Etapas de transição? Só se for para transitar para uma corrida diferente e não para uma que parecia rumar a um resultado: vitória de Froome.

Na Vuelta, mais do que em qualquer outra corrida de três semanas, a incerteza mantém-se etapa após etapa, mesmo quando as distâncias começam a aumentar. É que de repente, tudo muda. Nibali ficou agora a 59 segundos (ganhou 20) e mesmo com os restantes a mais de dois minutos, com a montanha que aí vem só no fim-de-semana - etapa rainha no domingo -, Froome estará um pouco mais preocupado depois do que aconteceu nesta quinta-feira.

Este tipo de incidentes podem ser mais relevantes do que se possa pensar, tendo em conta que o líder da Sky nem perdeu assim tanto tempo. Porém, além das eventuais mazelas físicas (não parecem ser graves), cresce alguma insegurança interior. Froome estava com uma postura de imbatível e duas quedas numa etapa podem fazer crescer algum nervosismo e principalmente algum receio que possa acontecer algo mais de negativo. Claro que quando se fala de um ciclista da qualidade de Froome, também pode assistir-se a uma reacção feroz, para rapidamente recolocar as diferenças como estavam e mesmo ampliá-las.

Ao falar-se de ciclistas deste nível, fala-se de homens com capacidade para recuperar mentalmente destes percalços. No entanto, por mais experiência que se tenha, muitas vezes há sempre algo que fica ali na cabeça a moer (passo à expressão). Compete a Nibali e a quem ainda queira reentrar na luta tirar partido disso. Contador deu o mote: atacar.

Ganhar a etapa era impossível com o grupo da frente a mais de oito minutos quando deixou a companhia de Froome e os restantes candidatos. O espanhol quis deixar uma afirmação que estava a custar acreditar: quer a etapa, é certo, mas algo mais. Se não pode ganhar irá tentar na mesma, nem que seja para estar no pódio na hora do adeus.

Quem mais beneficia é que está a assistir! O Giro foi uma corrida interessante, o Tour teve os seus momentos, mas a esta Vuelta não faltam motivos de interesse praticamente todos os dias. Ainda na quarta-feira Froome tinha ganho tempo substancial a muitos dos rivais e 24 horas depois... Foi o que se viu!

E com tanta acção entre os candidatos, pobre Tomasz Marczynski que quase é esquecido. Venceu pela segunda vez na Vuelta, mas o triunfo acabou por ficar em segundo plano. Aos 33 anos está a viver os seus momentos de glória. O polaco já tinha ganho umas corridas de menor categoria, mas conta no currículo com três títulos nacionais. Inesperadamente está a ser a figura de uma discreta Lotto Soudal, imitando Matteo Trentin (Quick-Step Floors) na repetição de uma vitória na Volta a Espanha.

(Texto continua por baixo de vídeo)


Summary - Stage 12 - La Vuelta 2017 por la_vuelta

Esta sexta-feira a etapa é para os sprinters, em teoria, e tendo em conta que até final da Vuelta é para resolver a questão da geral, é melhor que as equipas dos poucos homens rápidos que resistem trabalhem. Mas por favor, não lhe chamem um etapa de transição!



Vandalismo, "atropelo" e empurrão. Um dia inacreditável

Há coisas que só vistas é que se acredita e hoje foi um daqueles dia estranhos. Tudo começou com o autocarro da Aqua Blue Sport ter ardido parcialmente. O acto de vandalismo resultou para já numa detenção, com a equipa irlandesa a ter de arranjar um autocarro "normal" para continuar na Vuelta. A formação recebeu um convite para estar pela primeira vez numa grande volta e tem estado activa em algumas fugas e na disputa de sprints, por intermédio de Adam Blythe. Apesar da desilusão pelo que aconteceu, a equipa está motivada para continuar na corrida até final e contou com a ajuda das restantes.

Isto foi antes da etapa. Durante tivemos dois insólitos. Enquanto Alberto Contador tentava escapar a Froome, Nibali e companhia, um espectador entusiasmado viu passar o espanhol e lá resolveu atravessar a estrada a correr. Só se "esqueceu" foi de olhar porque é melhor fazê-lo mesmo durante uma prova de ciclismo com a estrada fechada. Vinha uma moto. Acabaram os dois no chão.

Incidente evitável, mas sem danos de maior. Já o que aconteceu com Maxim Belkov foi surreal. O russo da Katusha-Alpecin tentava apenas ultrapassar mais uma subida quando, do nada, sai um espectador que vai direito ao ciclista e o empurra. Já curto de forças e certamente surpreendido, Belkov não conseguiu evitar a queda, tendo ir para ao lado contrário das grades (ver vídeo em baixo). Um polícia no local agarrou de imediato aquela pessoa, enquanto Belkov foi ajudado por adeptos que se quer ver junto à estrada a apoiar os ciclistas. Terminou a etapa, mas até o próprio tem dificuldades em perceber o que aconteceu.

Bianchi revelou a nova máquina da Ferrari

(Fotografia Bianchi/Ferrari)
Ao olhar-se para a bicicleta não há qualquer dúvida do que estamos a ver: o vermelho tão característico da icónica marca de automóveis, uma máquina que promete não passar despercebida quando alguém a levar para um passeio e, claro, o símbolo do cavalinho rampante.  A parceria entre a Ferrari e a Bianchi tem finalmente o seu primeiro resultado, marcado pela mais alta tecnologia na construção dos componentes únicos utilizados nesta máquina.

O quadro de carbono da SF01 pesa apenas 780 gramas e foi criado a pensar em reduzir em 80% as vibrações, segundo a Bianchi, marca italiana que fornece as bicicletas para a equipa Lotto-Jumbo (mas não as Ferrari!). Pintadas à mão, estarão disponíveis duas versões, a Rosso Corse, que é vermelha e preta (na imagem), e a Nero Setoso, que terá as mesmas cores mas invertidas.

É a primeira vez que as duas empresas italianas se juntam para criar uma bicicleta, ainda que a Ferrari já tenha anteriormente criado modelos com a Colnago. A bicicleta de estrada foi desvendada no Eurobike Show, que se está a realizar em Friedrichshafen, na Alemanha, juntamente com um protótipo do que virá a ser uma máquina Ferrari para o triatlo. Mais modelos se seguirão, pois o acordo entre as duas marcas prevê bicicletas para todos os estilos. Quanto a preços, ainda não foram revelados, mas quando foi a união Colnago/Ferrari, a bicicleta de estrada chegava aos 15 mil euros.


30 de agosto de 2017

O dia em que os rivais viram Chris Froome ficar muito (demasiado?) longe

(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Não se esperava tantas diferenças! Chris Froome bem tem se preocupado em ganhar segundos sempre que pode e ainda esta quarta-feira procurou pelo menos os seis de bonificação do segundo lugar, além dos que estava a conquistar na estrada sobre a maioria dos rivais. Porém, pela primeira vez nesta Vuelta, o britânico de Sky ganhou mais de um minuto a quase todos. Só Vincenzo Nibali aguentou, contudo, já tem 1:19 minutos de desvantagem. Johan Esteban Chaves claudicou e ficou a 2:33 minutos (tinha 36 segundos antes da 11ª etapa), Fabio Aru tem quase três de desvantagem e Nicholas Roche, que ainda ontem ficou tão contente por ter ganho 29 segundos e ficado a 36 de Froome, está agora a 4:45, caindo de terceiro para 11º.

Froome só não aguentou o ataque de um Miguel Ángel López que está a regressar ao seu melhor, depois de meses afastado da competição devido a uma fractura numa perna durante um treino. Porém, Froome também não precisava de responder ao colombiano. Seria mais uma vitória de etapa, mas neste momento o britânico já começa a sentir que se nada de muito inesperado acontecer, pode muito bem estar a caminho de finalmente conquistar a Volta a Espanha, depois de três segundos lugares.

Não pode haver festa antecipada quando ainda há metade da corrida por realizar. Ainda assim, todas as indicações que Froome e a Sky têm deixado são de força e de quem tem tudo muito controlado. Ou seja, a forma de correr no Tour desta equipa e que marcou os últimos anos no ciclismo, está a ser replicada na perfeição na Vuelta. Se os ciclistas que tanto tempo andaram a perder até agora ainda tiverem a ambição de tentar chegar-se à frente, então vamos ter etapas muito animadas. Contudo, se preferirem tentar resguardar um top dez ou quanto muito chegar ao pódio, então os ataques serão mais contidos e só terão um teor mais sério se por acaso Froome mostrar fraquezas. Há ainda uma terceira hipótese: um ataque de longe de Contador e que apanhe de surpresa o britânico! Mas a lição de 2016 foi aprendida, certamente!

O que poderá fazer Nibali para ainda tentar impor alguma luta? A Bahrain-Merida até trabalhou na subida ao Observatório Astronómico de Calar Alto, mas com a Sky sempre no controlo. Mais do que a subir, o ataque de terça-feira numa descida pode muito bem ser uma táctica a repetir. O italiano é dos melhores neste aspecto e com o britânico tão confortável a subir, talvez seja necessário obrigar Froome a assumir um risco que Nibali não se importa nada de ter. Froome também não tem receio, mas não é tão rápido e destemido, principalmente se a chuva continuar por Espanha.

Apenas mais uma palavra para Miguel Ángel López. Há um ano, este jovem talento colombiano (mais um) - conhecido como Superman López (Super-Homem) - venceu a Volta a Suíça. Uma queda afastou-o precocemente da Vuelta, quando muito se esperava ver o ciclista da Astana mostrar-se numa corrida de três semanas. A tal queda no treino no final do ano passado, estragou-lhe 2017, ele que até era apontado ao Tour, quando Aru era suposto ir ao Giro. Também uma queda acabaria por mudar os planos do italiano

López só regressou à competição em Junho - não foi ao Tour - e esta vitória na Vuelta é a indicação que aos 23 anos está a caminho da afirmação que a sua equipa tanto aguarda, pois aposta muito forte neste ciclista.


Depois de um dia em que o pelotão se aproximou pela primeira vez dos dois mil metros de altitude, os próximos dois até podem ser mais tranquilos (na Vuelta é sempre perigoso utilizar esta expressão), pois muitos estarão a pensar num difícil fim-de-semana que se aproxima. Com a vantagem de Froome, serão duas etapas importantes para tentar recuperar algum tempo, estando todos proibidos de perder. Há que recordar que na última semana há um contra-relógio de 40 quilómetros que poderá beneficiar o líder, que quererá ter quase tudo definido antes de chegar à penúltima temporada, que marcará o regresso do mítico Angliru à Vuelta. Porém, esta quinta-feira (12ª etapa), é melhor estar com atenção, pois há uma primeira e uma segunda categoria e ainda um final a grande velocidade que podem dar ideias a alguém (Nibali?).

Veja aqui as classificações.


Summary - Stage 11 - La Vuelta 2017 por la_vuelta


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29 de agosto de 2017

Ciclista australiano pediu a nacionalidade russa e foi o próprio Putin quem aceitou

(Fotografia: Nicola/Wikimedia Commons)
Para Shane Perkins é a oportunidade para relançar uma carreira que pensava estar terminada. Para os australianos, o ciclista é um desertor. Pedir uma nacionalidade num país onde não se nasceu não é nada de estranho e muito menos no mundo do desporto. Contudo, optar por representar a Rússia foi tema de muitas conversas, até porque se está a falar de um atleta campeão do mundo de pista (keirin e sprint por equipas), tendo ainda um bronze olímpico no sprint individual (Londres2012). Ao ficar de fora dos Jogos no Rio de Janeiro, Perkins acabou por fazer o que ele próprio considerava impensável: pedir a nacionalidade russa. Vladimir Putin abriu-lhe as portas e assinou o documento.

Perkins é agora um cidadão russo. Foi uma surpresa para os australianos, mais habituados a ver atletas russos pedir a nacionalidade naquele país da Oceânia. A decisão causou ainda mais estranheza porque Perkins não tem qualquer ligação à Rússia. A escolha foi feita por influência de Denis Dmitriev, ciclista também campeão do mundo de pista de sprint. Ambos treinam juntos no Japão há muitos anos e o que começou como uma brincadeira, acabou por se tornar num assunto bem sério.

Quando Perkins ficou de fora dos Mundiais em 2015, a sensação com que ficou é que lhe estavam a dizer para se retirar. Começou a pensar em tornar-se treinador, mas o sonho de regressar aos Jogos Olímpicos falou mais alto. A federação australiana justificou falta de meios económicos para levar Perkins aos Mundiais em Saint-Quentin-en-Yvelines (na zona de Paris) e o ciclista, disposto a tudo, disse que pagaria ele os seus gastos. Ouviu um não e ficou em casa. No ano seguinte viu os Jogos do Rio de longe ao ficar de fora da selecção. Depois de tanto ouvir Dmitriev brincar a dizer que se fosse russo iria ao Rio de Janeiro, Perkins tomou a decisão radical. Porém, assumiu que há pouco mais de um ano nunca pensaria que iria ceder às "provocações" do colega de treino.

No site da presidência russa foi confirmada a informação que o próprio Vladimir Putin assinou o documento que permitiu a Perkins tornar-se um cidadão russo. O ciclista agradeceu de imediato (pois claro) e disse sentir-se tão animado como se tivesse 18 anos e estivesse a começar da carreira.

Com a Rússia a estar envolvida num escândalo de doping organizado, Perkins não esconde que isso preocupou-o. Porém, o programa ciclismo de pista não foi envolvido. É o atletismo que está debaixo de fogo, com o ciclismo de estrada a não escapar a algumas suspeitas, dado os casos positivos em anos recentes.

Perkins vai agora dividir o seu tempo entre Brisbane, Moscovo e irá continuar a treinar também no Japão, onde quer estar em 2020, quando Tóquio for palco dos Jogos Olímpicos. O ciclista diz que a sua escolha foi bem recebida. No entanto, pela Austrália lá se vai lendo que Perkins desertou. O atleta não desarma e salientou que se ganhar uma medalha será para a Rússia, mas também para o país onde nasceu.

Como curiosidade, Yuko Kawaguti (patinagem artística) - recuando a 2008 - trocou o Japão pela Rússia para também assim ter uma oportunidade de estar nos Jogos Olímpicos. Em 2011, o snowboarder americano Vic Wild fez o mesmo, ainda que aqui tenha havido a influência da esposa, Alena Zavarzina. A falta de financiamento para as suas especialidades neste desporto acabou por ser o empurrão final para o pedido de nacionalidade russa. Em 2014 foi campeão olímpico na sua nova casa, ou seja, nos Jogos de Sochi e deverá estar nos de PyeongChang, na Coreia do Sul.

Se formos para o mundo do cinema, então encontramos duas figuras bem conhecidas: Gérard Depardieu e Steven Segal. Ambos também foram recebidos por Putin, têm o passaporte russo, mas não vivem no país. O caso do actor francês foi muito falado em 2013, pois a decisão terá sido tomada para evitar pagar impostos muito altos no seu país.


A vitória espanhola que nunca mais chega

Rojas bem tentou, mas foi mais um espanhol a não conseguir ganhar nesta Vuelta
(Fotografia: Unipublic/Photogomez Sport)
Em Espanha desespera-se. Já não bastava Alberto Contador estar de despedida, Alejandro Valverde se ter lesionado e Movistar não estar a ser uma equipa competitiva numa perspectiva de luta pela geral, os dias passam e não há uma vitória espanhola a registar. A desconfiança para com a nova geração é grande e está a aumentar. Tem qualidade, mas como os grandes resultados demoram a chegar, é quase em pânico que se fala na saída das grandes referências dos últimos anos do ciclismo espanhola e que tanto sucesso deram ao país. Esta terça-feira foi de novo uma grande frustração. José Joaquín Rojas parecia ter feito o trabalho perfeito, mas no final lá foi mais uma vitória para a Quick-Step Floors.

Por Espanha vive-se um ambiente muito idêntico ao do Giro. Na 100ª edição, os italianos só conseguiram uma vitória na 16ª etapa, por intermédio de Vincenzo Nibali. A crise que se vive em Itália - nem equipa tem no principal escalão, por exemplo - é bem maior e preocupante do que a espanhola, que nem se pode chamar crise, apenas alguma (senão muita) falta de confiança nos talentos que podem muito bem despontar a qualquer momento, quem sabe ainda nesta Vuelta. Mas percebe-se a preocupação. Se em Itália se tem verificado de ano para ano uma perda de poderio de uma das nações de referência do ciclismo, já em Espanha há muito que não se sentia esta incerteza.

Recuando aos anos 90, quando um senhor Miguel Indurain dominou a Tour - mas nunca ganhou a Vuelta - a sucessão pode não ter sido fácil, principalmente no que diz respeito à corrida francesa. Contudo, competição espanhola houve sempre um ciclista da casa a mostrar-se e a ganhar. Abraham Olano, Roberto Heras, Aitor Gonzalez, Luis Angel Casero e depois os ainda em actividade Alberto Contador e Alejandro Valverde foram conquistando a Vuelta, tendo-se de juntar à lista um surpreendente Juan Jose Cobo, que venceu em 2011, foi para a Movistar e praticamente desapareceu. E a referência é apenas àqueles que ganharam a corrida, pois houve outros que também iam vencendo etapas.

Um deles foi Joaquim Rodríguez que terminou a carreira no ano passado. Contador segue o exemplo este ano, Valverde ainda vai ficar mais uns anos, apesar de ser o mais velho deste trio. As renovações de gerações têm sempre de acontecer, umas vezes acontecem mais rápido que outras. Marc Soler, David de la Cruz, Ruben Fernández, Jaime Rosón são jovens ciclistas de qualidade, mas ainda a procurar o seu espaço e a sua consistência nos resultados. A pressão começa a ser crescer e não ajudou o anúncio de retirada de Contador. Agora é que se quer um novo campeão e já. Também não ajuda ninguém ganhar na Vuelta, o que apenas alimenta o falatório. O próprio Contador tentou, Soler também, Juan José Lobato procurou surpreender e esta terça-feira, na 10ª etapa, foi a fez de Rojas esforçar-se para depois ver Matteo Trentin ganhar, como tinha acontecido a Lobato. Curiosamente foram dois ciclistas experientes que estiveram mais perto. Mais uma razão para a pressão aumentar nos mais novos.

Enquanto Chris Froome vai controlando a sua liderança, com o passar dos dias vai-se falando de mais uma etapa sem um vencedor espanhol, crescendo também a sensação que terá de ser mesmo Contador a dar o tal último disparo que tanto deseja para um final feliz de carreira e assim dar um triunfo espanhola à Vuelta.

Arrancou a segunda semana na corrida e muito se irá falar de uma Movistar irreconhecível, apesar de ter ciclistas de qualidade até que eventualmente algum espanhol ganhe. A estes talentosos ciclistas falta-lhes a experiência que estão a acumular com o passar dos dias. Terão de saber lidar com a impaciência dos media e de alguns adeptos. Terão de saber lidar com a pressão. Se o fizerem, não só podem de facto ganhar, como ganharão a tal experiência que num futuro próximo os poderá colocar no topo de uma nova geração que Itália, por exemplo, gostaria de ter.

E por falar de italianos, só ganharam uma etapa no Giro, mas já vão em três na Vuelta, por intermédio de Vincenzo Nibali e Matteo Trentin. Este último repete um triunfo e aumenta para quatro os da Quick-Step Floors na Volta a Espanha e para 14 em grandes voltas em 2017 (cinco no Giro, mais cinco no Tour)!


Na geral, o destaque vai para os 29 segundos que Nicholas Roche (BMC) ganhou a Froome. O irlandês está empatado com Johan Esteban Chaves (Orica-Scott), a 36 segundos do britânico da Sky. Nibali ainda atacou na subida de primeira categoria, mas foi apanhado. Roche afastou-se, com Froome a dizer que preferiu manter-se seguro com a equipa durante a descida final, num dia chuvoso, estando a pensar mais na etapa de quarta-feira (gráfico em cima). A chegada é em alto e mesmo com as previsões de mais um dia molhado, poderá haver mais trabalho para Froome.

Serão duas subidas de primeira categoria consecutivas. O Alto de Velefique terá 13,2 quilómetros de extensão, com uma pendente média de 8,6%, enquanto a ascensão ao Observatório Astronómico de Calar Alto terá 15,5 quilómetros e 5,9% de pendente média.


Summary - Stage 10 - La Vuelta 2017 por la_vuelta


Veja aqui as classificações.

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28 de agosto de 2017

Nelson Oliveira fez-nos sonhar na Vuelta (e ainda sonhamos um bocadinho)

(Fotografia: Twitter Nelson Oliveira)
A época não foi a desejada, pelo que Nelson Oliveira chegou à Volta a Espanha ainda com uma maior motivação. Não é ciclista para se deixar abater pelas adversidades e está sempre pronto para lutar por aquilo que lhe pedem. O que não esperaria é que depois de nove dias de corrida fosse o melhor ciclista da Movistar na classificação. Ninguém lhe está a pedir para ganhar a corrida, mas que Oliveira tem uma excelente oportunidade para se testar numa grande volta, sem ter de estar a ajudar um líder, lá isso tem. O próprio sabe e quer saber como o corpo irá reagir.

Na etapa que chegou a Xorret de Catí pode dizer-se que reagiu muito bem. Integrou a fuga e foi quinto nesse dia, subindo a 11º geral e seis segundos do 10º lugar. Logo no dia seguinte, domingo, caiu para 19º. Se calhar não podemos sonhar ver Nelson Oliveira entre os dez melhores, mas vê-lo bater-se por um top 20 e ganhar outra etapa na Vuelta - fê-lo em 2015 - não é de descartar, até porque nesse aspecto, ele e os colegas têm a responsabilidade de salvar a imagem da até agora irreconhecível da Movistar, a única equipa espanhola no World Tour.

Como contra-relogista já se sabe que tem uma enorme qualidade, somando quatro títulos nacionais e top dez num Mundial, Europeus e Jogos Olímpicos. Como voltista reconhece-se a capacidade de ajudar os seus líderes, tanto em etapas mais planas, como de médida montanha. A alta montanha costuma ficar para outros colegas. Não sendo um trepador puro, tem capacidade para seguir com os melhores em determinadas subidas, principalmente se não forem excessivamente longas.

Com Alejandro Valverde (lesionado) e Nairo Quintana (fez o Giro e Tour) de fora e com a Movistar a ver ciclistas que apontaria a poderem debater-se por um lugar honrosa na geral na Vuelta caírem na classificação, Nelson Oliveira está numa posição inédita. De certa forma, sendo o melhor na classificação e tendo em conta que o segundo aparece a cerca de oito minutos, José Joaquín Rojas (também não é um trepador por excelência), o ciclista português é para já o número um da equipa no que diz respeito à geral.

A Movistar não está na Vuelta para ganhar, até quer aproveitar para dar experiência a jovens ciclistas como Marc Soler e Richard Carapaz. No entanto, sendo uma equipa espanhola a correr em casa, também não quer terminar sem ter um dos seus homens entre os melhores. A grande questão é como irá Nelson Olveira aguentar duas semanas em que a montanha aparece praticamente dia após dia.

Aos 28 anos, o ciclista português poderá estar perante uma experiência que lhe influenciará e muito a sua carreira. Não é que se vá tornar num voltista de referência, mas esta oportunidade e esta responsabilidade podem, se aproveitadas, darem uma nova maturidade, que o vão permitir evoluir muito. O resultado desta experiência poderá aparecer em provas mais talhadas para si.

Ao ver Nelson Oliveira no 11º lugar sonhou-se alto (porque não?!), mas se quisermos ser realistas então há que perceber que estamos perante um ciclista que Rui Costa lamentou ter perdido como companheiro na Lampre-Merida e que Nairo Quintana viu como fiel gregário no Tour de 2016, onde tudo correu praticamente mal, menos o trabalho que Oliveira cumpriu. Isto para dizer que a Movistar tem também uma confiança enorme no corredor de Anadia, tendo por isso mesmo renovado o contrato por dois anos, mesmo depois de uma época menos conseguida, devido a uma grave queda no Paris-Roubaix que o afastou da competição durante muito tempo.

Sonhamos mais baixo, mas ainda se espera que Nelson Oliveira consiga uma classificação muito acima do esperado, mas nada acima das suas capacidades, que vão além de um bom gregário. E claro, com 4:50 minutos de desvantagem para Chris Froome, um ataque inteligente, na altura certa e Oliveira ainda pode ganhar uma etapa. E não, não é sonhar alto.

Quanto as restantes portugueses, Rui Costa (UAE Team Emirates) é 22º, a 6:27 minutos de Froome, Ricardo Vilela (Manzana Postobón) ocupa a 57ª posição a 35:36, Rafael Reis (Caja Rural) está a 1:31:44 horas, o que corresponde ao 151º lugar. José Gonçalves (Katusha-Alpecin) sofreu uma queda e abandonou na sexta etapa. (pode ver aqui as classificações)

Não há tempo para poupanças a pensar no fim-de-semana

No sábado e domingo teremos pela frente duas potenciais grandes etapas, mas até lá há muitas subidas que podem animar a corrida. Não há muito tempo para poupanças, até porque Chris Froome vai aos poucos afastando-se e começa a chegar a altura para o testar. Ou seja, os rivais é bom que pensem em atacar se realmente querem tentar ganhar uma Vuelta que o britânico começa a dominar, ainda que sem ter distâncias que lhe garantam seja o que for.


Já esta terça-feira, depois de um dia de descanso, volta-se a ter uma subida onde não se finaliza a etapa, proporcionando mais uma louca descida até à meta. Collado Bermejo não é nenhuma dor de cabeça, com uma pendente média 6,5%. Com as fugas a terem tanto sucesso nesta Vuelta, até é possível que a etapa se resolva novamente assim. A questão é se os candidatos vão mexer-se ou vão esperar por dias mais complicados. Este nervosismo do "ataca ou não ataca" é das razões por que se diz que não haverá descanso. Um piscar de olhos no momento errado e alguém pode tentar recuperar uns segundos.

Porém, é bastante provável que seja na quarta-feira (duas primeiras categorias e uma chegada em alto) que os homens da geral se mexam mais. Mas nesta Vuelta as previsões são muito complicadas de se fazer e é assim que se gosta que se desenrolem as corridas!

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Amaro Antunes e Daniel Mestre nos pré-convocados para os Mundiais

Amaro Antunes  venceu uma etapa e foi rei da montanha na Volta a Portugal

Dos nove ciclistas pré-convocados para os Mundiais de Bergen, dois pertencem ao pelotão nacional. Amaro Antunes e Daniel Mestre estão na lista de José Poeira, que terá de deixar três corredores de fora, pois a selecção nacional só poderá levar seis (as equipas com as quotas maiores podem chamar nove). Para o algarvio da W52-FC Porto é desde já o reconhecimento da excelente temporada que está a realizar, que começou na Volta ao Algarve e pode muito bem não ter terminado na Volta a Portugal, caso consiga entrar no lote final. Já Daniel Mestre é também ele premiado. Pode não ter sido uma temporada muito ganhadora, mas o ciclista da Efapel continua corrida após corrida e demonstrar ser o atleta de enorme qualidade tanto na ajuda a um líder, como quando chega ao momento de ele próprio lutar por uma vitória.

Nesta pré-convocatória, o destaque vai ainda para o regresso de Rui Costa. Há um ano, o ciclista da UAE Team Emirates ficou de fora, pois num percurso completamente plano no Qatar, seria uma missão impossível bater os sprinters. Porém, em Bergen (Noruega), apesar de não ser o percurso mais acidentado, uma da subida poderá beneficiar corredores com as características de Rui Costa, que sabem entrar em fugas e aproveitar esse momento de dificuldade para ganhar vantagem. O ano começou de forma muito positiva com vitórias na Argentina e em Abu Dhabi (etapa e geral). No Giro ficou por duas vezes em segundo. Está actualmente na Vuelta, tendo já sofrido uma queda. Campeão do mundo em 2013, em Florença, Rui Costa tem como um dos seus objectivos da época aparecer bem em Bergen.

José Gonçalves e Tiago Machado (Katusha-Alpecin), José Mendes (Bora-Hansgrohe), Ricardo Vilela (Manzana Postobón), Nelson Oliveira (Movistar) e Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo), o campeão nacional, estão na lista provisória. Dos seis que forem chamados, dois podem também competir no contra-relógio e nesta vertente, um será certamente Oliveira. Domingos Gonçalves, campeão nacional de contra-relógio, ficou de fora das escolhas.

Nos sub-23 estão pré-convocados André Carvalho (Cipollini Iseo Serrature Rime), Francisco Campos (Miranda-Mortágua), Hugo Nunes (Miranda-Mortágua), Ivo Oliveira (Axeon Hagens Berman), José Neves (Liberty Seguros-Carglass) e Tiago Antunes (Sicasal-Constantinos-Delta Cafés). Este último este recentemente a bom nível na Volta a França do Futuro. A equipa será composta por quatro ciclistas.

Nos juniores, Afonso Silva (Sporting-Tavira-Formação Eng. Birto da Mana), Guilherme Mota (Alcobaça CC-Crédito Agrícola), Pedro José Lopes (Alcobaça CC-Crédito Agrícola), Pedro Miguel Lopes (Seissa-KTM Bikeseven-Matias & Araújo-Frulact) e Pedro Teixeira (Maia) estão na lista, mas só três podem ir a Bergen.

Do lado feminino, a junior Maria Martins - que está a realizar uma excelente época tanto na pista como na estrada - foi pré-convocada pelo seleccionador Gabriel Mendes.

Os Mundiais realizam-se entre 16 e 24 de Setembro, pelo que não se terá de esperar muito tempo para se conhecer as escolhas finais.


27 de agosto de 2017

Ciclistas da Cannondale-Drapac correm por um contrato

(Fotografia: Facebook Cannondale-Drapac)
Chris Froome ganhou, confirmou o seu poderio na Vuelta, contudo, um pouco mais atrás vinha um Michael Woods a lutar contra alguns dos melhores do mundo e contra o pensamento que não consegue afastar: a "sua" Cannondale-Dapac está a precisar de um salvador senão acaba. O canadiano admitiu que está a dormir mal, sendo difícil afastar a ansiedade que a notícia criou nos ciclistas. Agora estão todos a correr por um contrato. Ainda não é um caso fechado, mas os responsáveis da formação americana já terão informado os atletas que é altura de começarem a estudar alternativas para 2018. Woods foi terceiro na etapa, subiu a oitavo da geral, prosseguindo assim aquela que poderá ser a melhor temporada da carreira.

O canadiano de 30 anos pode bem ter escolhido a época certa para somar bons resultados. Está em final de contrato, mas esperava renovar. A incerteza da Cannondale-Drapac arrastou-se durante semanas, mas durante a Volta a França foi anunciada a chegada de um novo patrocinador, uma empresa de media, que iria não só ajudar a manter a estrutura, como contribuiria para um aumento do potencial financeiro. Porém, tudo mudou, numa altura em que até já estavam a ser anunciadas algumas renovações, como a de Rigoberto Uran, segundo classificado no Tour.

A Slipstream Sports, dona da equipa, colocou o futuro em espera, mas se a situação não for resolvida rapidamente, a Cannondale-Drapac, mesmo que consiga sobrevier, pode já não ir a tempo de segurar muitos ciclistas. Joe Dombrowski alertou que não é possível ficar a aguardar em demasia pela decisão dos responsáveis, pois com as equipas a estarem  já a contratar para fechar rapidamente os plantéis para 2018, esperar por Outubro ou Novembro poderá significar muitas portas fechadas. Uran terá mesmo dado duas semanas para que a situação seja resolvida. Astana e Trek-Segafredo já estarão a preparar-se para atacar de novo o colombiano, num interesse que existia ainda antes de este renovar com a Cannondale-Drapac. Renovação que agora poderá estar prestes a ficar sem efeito.

Para os ciclistas que estão na Vuelta, ter a necessidade de arranjar um novo contrato tanto funciona como maior motivação, como também aumenta a pressão e nervosismo. Woods não escondeu que está a afectar o seu rendimento, apesar do bom resultado deste domingo.

Esta equipa resultou da fusão entre a Garmin Sharp e a Cannondale (que antes era a Liquigas) em 2015. A marca de bicicletas acabaria por ficar sozinha, até à chegada da Drapac, o que prejudicou o orçamento da formação, que nunca foi dos mais altos. Também nunca foi uma equipa de muitas vitórias e esteve mesmo mais de dois anos sem ganhar em corridas do Wolrd Tour. O jejum terminou no Giro com Pierre Rolland. Rigoberto Uran ganhou também uma etapa na Volta a França e parecia que a actual Cannondale-Drapac estava a entrar numa fase positiva da vida.

No final de 2016, IAM e Tinkov terminaram. Porém, o receio que se viveu do World Tour perder equipas, foi substituído pelo alívio da chegada da Bahrain-Merida e da subida de escalão da Bora-Hansgrohe. A Lampre-Merida também tremeu, mas dos Emirados Árabes Unidos chegou a salvação para a equipa de Rui Costa, depois do investimento chinês não se ter confirmado. A estabilidade do ciclismo continua a ser uma ilusão. Até a toda poderosa Quick-Step Floors abanou e apesar de também já estar a renovar com alguns ciclistas, ainda não foi anunciado como será a equipa em 2018, se se mantém o patrocinador ou se entram novos.

Uran, Dombrowski, Sep Vanmarcke, Dylan van Baarle, Pierre Rolland ou Toms Skujins, para nomear alguns, serão ciclistas que poderão ter interessados, mas o final de uma equipa deixa sempre alguns corredores em dificuldades para encontrarem um lugar para se manterem ao mais alto nível, ainda mais com o anúncio a ser feito já numa fase avançada da época e, pior, ainda nem estar confirmado.

Dia de descanso para recuperar de semana emocionante

Para os ciclistas da Cannondale-Drapac, o dia de descanso na Vuelta poderá ser importante para recuperar psicologicamente, mais do que a nível físico. É preciso ganhar forças para enfrentar duas semanas infernais. Muita montanha, muitos testes que Chris Froome tem pela frente. Finalmente venceu uma etapa este ano e deixou os adversários rendidos à sua forma.

Ainda não conseguiu deixar a concorrência muito longe. Contudo, etapa a etapa, Froome vai ganhando segundos e, principalmente, deixa a mensagem que vão ter de trabalhar muito para lhe escaparem. O britânico da Sky vai para o dia de descanso com 36 segundos de vantagem sobre Johan Esteban Chaves. Todos os outros têm mais de um minuto para recuperar (veja aqui a classificação).

Estes primeiros nove dias de Vuelta ficam marcados pelo regresso daquele Froome dominador, demonstrando que as fraquezas do Tour serviram de lição para aprender mais sobre como o seu corpo reage. Está na posição que mais gosta e agora é altura dos adversários preparem a táctica para tentar bater um ciclista que não tem por hábito perder lideranças. Até agora, esta Volta a Espanha está a confirmar todas as expectativas. E eram grandes!


Summary - Stage 9 - La Vuelta 2017 por la_vuelta


26 de agosto de 2017

Froome apareceu forte na Vuelta e explicou porquê

(Fotografia: Facebook La Vuelta)
A confiança de Chris Froome está mesmo em alta. Está a dar uma grande resposta após algumas dúvidas que surgiram no Tour. Dá-se até ao luxo de dizer que não precisava de atacar na etapa deste sábado, mas como se sentia bem, resolveu tentar. O resultado foram mais uns segundos ganhos, pelo menos 17 para alguns dos rivais, com outros a perderem quase 30, como Adam Yates, Tejay van Garderen e David de la Cruz. Já nem Johan Esteban Chaves aguenta o ritmo de Froome, restando um Alberto Contador que poderá tornar-se num aliado do britânico. Porém, uma forma física tão forte numa segunda grande volta, com cerca de um mês para recuperar após o enorme desgaste no Tour, implica trabalho e Froome mudou o seu treino habitual para aparecer com este nível na Vuelta.

Já são conhecidas as mudanças na preparação para a Volta a França. Viu-se pouco de Froome em competição e estranhamente não soma qualquer vitória de etapa. Passou por dificuldades, mas ganhou a Volta a França, sempre o seu objectivo. Pode dizer que não está obcecado em ganhar a Vuelta, mas veio agora assumir que fez um treino diferente e a pensar em estar mais forte na sua segunda grande volta do ano. Mas então qual foi o segredo? "É a primeira vez que pude focar-me na Volta a Espanha. Foi a primeira vez que fiz treino em altitude antes da Vuelta. Estou muito feliz por o ter feito e está a começar a render", explicou, citado pelo Cycling Weekly. Froome realçou que quis aparecer melhor mais tarde na temporada, em vez de começar cedo a grande ritmo e chegar um pouco cansado a Espanha.

Curiosamente, Chris Froome parece apostar numa táctica que este ano abandonou no Tour: entra forte e depois tenta controlar a corrida, por vezes perdendo algum tempo na última semana. Parte da mudança de treino durante o ano foi para estar melhor na recta final em França, o que acabou por ser decisivo. Em Espanha, todos os segundos estão a contar logo desde a primeira etapa. No entanto, nega que esteja preocupado em perder tempo mais a frente na corrida, salientando que se sente bem e, por isso, tem estado ao ataque. Para um homem acusado de estar sempre a olhar para a sua potência, cadência e todos os dados a quem tem acesso durante a corrida, Froome dá indicações de estar a querer mostrar alguma espontaneidade. "Estou a tentar ganhar a corrida e a competir de uma forma que me dê as melhores hipóteses para o fazer. Não tenho medo da terceira semana. Não estou preocupado que a minha forma vá terminar", afirmou. Mas claro, com a longa experiência que tem em grandes voltas, está consciente que tudo pode mudar de um momento para o outro.

Com todos contra Froome, o britânico poderá ter encontrado um aliado inesperado. Contador não gostou quando o líder da Sky não o ajudou num ataque. Porém, este sábado lá foram os dois outra vez, desta feita com o espanhol na roda. Depois de Andorra ter acabado com as hipóteses de Contador ter um final perfeito de carreira, ganhar uma etapa é o objectivo, mas El Pistolero ainda quer o pódio. Tem de recuperar muito dos 3:10 minutos que tem de desvantagem para Froome. O britânico está desconfiado, pois sabe bem que estando bem, Contador é ciclista para ataques de longe que fazem muitos estragos. Há um ano foi assim que Froome perdeu a Vuelta, ainda que para Nairo Quintana, que foi com Contador no ataque de Formigal, a 100 quilómetros da meta. Contudo, mesmo desconfiado, é possível os dois chegarem a um acordo.

Estão neste momento com objectivos diferentes, mas ambos implicam estar na frente, longe de rivais. Sempre que a Sky terminar o trabalho e chegar a altura de Froome entrar em acção, puxar com um Contador pode tornar-se demasiado para Aru, Chaves, os gémeos Yates, Nibali... Olha que dupla!

O primeiro dia de descanso está aí, mas antes há mais uma etapa com uma rampa para mexer com a geral. Puig Llorença tem uma pendente média de 9,1%, com a máxima a chegar aos 21%, sendo esta parte logo nos primeiros metros dos quatro mil da subida.


As fugas tem tido sucesso e Julian Alaphilippe foi o mais recente ciclista a beneficiar disso. O francês da Quick-Step Floors venceu pela primeira vez numa grande e já são três vitórias para a equipa belga na Vuelta. Faltam duas para igualar as alcançadas no Giro e Tour. Nesta oitava etapa há ainda a destacar Nelson Oliveira. O ciclista português da Movistar também integrou o grupo de fugitivos, foi quinto e ficou à porta do top dez na geral, com apenas seis segundos a separá-lo de Ilnur Zakarin. Tem 2:03 minutos de desvantagem para Chris Froome.


Summary - Stage 8 - La Vuelta 2017 por la_vuelta

Indisciplina e tiques de estrela

(Fotografia: ASO/Bruno Bade)
Há muito que o seu talento é reconhecido. Também há muito que se esperava que finalmente vivesse de acordo com as expectativas criadas quando em 2013 venceu duas etapas na Volta a Espanha, com apenas 21 anos. Um azar aqui, uma queda acolá e Warren Barguil só despontou de vez em 2017. Não o fez por menos. No ano em que Tom Dumoulin venceu o Giro e fez com que a estrutura da Sunweb finalmente começasse a tirar dividendos de anos de trabalho com jovens ciclistas, Barguil chegou ao Tour, venceu duas etapas, foi o rei da montanha e ainda décimo na geral. De corredor que deixava todos cépticos devido a uma curta carreira tão intermitente quanto a resultados, Barguil viu o seu nome aparecer na imprensa, foi destaque na televisão, foi considerado o novo Richard Virenque. A fama chegou e Barguil não demorou a mostrar que tinha gostado do sabor do sucesso. E claro, quer mais.

Ainda com mais um ano de contrato com a Sunweb, Warren Barguil optou por quebrar o vínculo para em 2018 assinar pela Fortuneo-Oscaro, equipa do escalão Profissional Continental. O francês, que completa 26 anos em Outubro, deixou claro que quer ser líder e no Tour. Na Sunweb, esse lugar está destinado a Dumoulin. Porém, o contrato dura 31 de Dezembro de 2017, pelo que Barguil tem de cumpri-lo. Foi chamado à Vuelta e disse logo que não ia para lutar pela geral, mas queria etapas. Wilco Kelderman é o líder e a Sunweb deu ordens que todos os outros ciclistas estejam na protecção ao holandês.

A equipa alemã está cada vez mais próxima do estilo da Sky, não permitindo que haja objectivos pessoais que interfiram com os objectivos pretendidos. Ou seja, não há divisões, todos estão concentrados num só homem. Por isso mesmo deixou sair Marcel Kittel há dois anos e John Degenkolb no final de 2016 porque o plano a médio prazo sempre foi ter um ciclista que lutasse por uma grande volta. Barguil é que não gostou de ter de trabalhar para Kelderman. Queria lutar pelas suas etapas, fazer a sua corrida. Na sexta-feira, quando o seu líder furou, Barguil seguiu caminho e Kelderman perdeu 17 segundos. Segundo relatam alguns media que estão a acompanhar no local a Vuelta, o ciclista terá discutido com os responsáveis da equipa no hotel e a julgar pela decisão, foi grave. Warren Barguil foi excluído pela própria Sunweb da Vuelta. Tendo em conta que mesmo tendo Kelderman como líder, Barguil até era quem estava melhor classificado e aparentava manter o bom momento de forma do Tour, não foi uma decisão feita de ânimo leve.

Em comunicado a equipa começa por escrever "o talentoso ciclista", explicando que este "expressou que não correu de acordo com o objectivo, o que não deixou outra escolha à Sunweb que não esta [exclui-lo]". Lê-se ainda que foi apreciado a forma aberta com que Barguil falou sobre as suas pretensões... É caso para dizer que há que lhe dar crédito por ser frontal e honesto. Mas claro que é difícil esconder que se trata de um caso de indisciplina. Será que a tal teria acontecido se Barguil continuasse na Sunweb em 2018? É algo que não saberemos e fica aberto à especulação.

O francês foi parco em palavras, limitando-se a dizer que foi uma decisão da equipa e que estava desiludido por deixar a Vuelta. Apesar de Kelderman ser o líder, era em Barguil que se centravam as atenções. Por mais que pudesse estar mais forte e por mais que tenha o direito de dar a sua opinião, as melhores equipas de ciclismo destacam-se pelos fortes conjuntos em apoio a um bom líder, seja qual for o objectivo (há excepções, claro, dependendo da corrida e dos ciclistas disponíveis). Barguil é jovem e talvez tenha tido um tique de estrela, isto tendo em conta que só se conhece a versão avançada no comunicado. Tanto poderá ser um alarme para os directores da Fortuneo-Oscaro, como - e certamente que estes responsáveis esperam que seja esta segunda hipótese - pode servir de lição para Barguil: só talento e alguns bons resultados não são suficientes para se comportar como se tivesse acima de todos, ainda não ganhou esse estatuto.

A Sunweb disse que Barguil irá cumprir o calendário que lhe estava destinado depois da Vuelta, mas não seria surpreendente se não se visse mais o francês competir com o equipamento da formação alemã. 2018 será um ano muito importante para a carreira de Barguil, não só pelo risco de ir para uma equipa de escalão inferior, mas também porque depois deste caso na Vuelta, tem mesmo de demonstrar que tem o que é necessário para ser um líder e um líder vencedor de grande corridas.


25 de agosto de 2017

Acidente com moto acaba com etapa de Rafael Reis

Rafael Reis tornou-se a mais recente vítima de um acidente com uma moto durante uma corrida. A Volta a Espanha já tem um historial de casos destes e até com portugueses. Sérgio Paulinho ainda hoje se recorda da violenta queda em 2015. O choque com Rafael Reis não foi tão grave, mas deitou ao chão o ciclista da Caja Rural, que faz a sua estreia em grandes voltas, e acabou ali com as suas hipóteses de ainda tentar reentrar na discussão da etapa.

Faltavam cerca de 15 quilómetros e Rafael Reis tentava não deixar escapar em demasia os ciclistas, companheiros de fuga, que começavam a afastar-se na última subida do dia. O ciclista de 25 anos dirigia-se para o lado direito da estrada, no qual estava uma zona que não era em empedrado. Porém, uma moto também escolheu esse lado para ultrapassar o ciclista. Deu-se o choque e Rafael Reis foi ao chão e por muito pouco não provocou a queda do homem da Manzana Postobón que seguia atrás de si.

Visivelmente chateado com a situação, Reis regressou à corrida e terminou em 14º, a 2:40 do vencedor Matej Mohoric (UAE Team Emirates). Em 2015, Sérgio Paulinho também foi deitado ao chão por uma moto. Levou 17 pontos e acabou por abandonar. Essa edição da Vuelta foi para esquecer para a Tinkov, pois o mesmo aconteceu com Peter Sagan.

Os acidentes com motos têm sido recorrentes nos últimos anos, tendo provocado já casos graves e um acidente foi mesmo mortal (Antoine Demoitié). Muito pressionada para agir, a UCI apertou as regras e principalmente as sanções para motards - e também condutores dos automóveis que estão na caravana das corridas - que as desrespeitem. No entanto, o que aconteceu com Rafael Reis é um alerta que ainda há trabalho a fazer para evitar estes acidentes.

Foi um dia acidentado para os portugueses, pois Rui Costa também caiu, ainda na fase de neutralização. O ciclista da UAE Team Emirates diz que as feridas são profundas, mas que aguenta. José Gonçalves já não está em prova. O corredor da Katusha-Alpecin abandonou na sexta-feira após uma queda.

Etapa acidentada

Rafael Reis não foi o único a ficar envolvido num acidente. Foram vários os que caíram quando encontraram uma bicicleta de BTT na estrada. O campeão americano, Larry Warbasse, diz recordar-se de ver a bicicleta que provocou uma queda colectiva na estrada, tendo o ciclista da Aqua Blue Sport sido um dos casos mais graves. Fracturou a mão direita e ficou bastante mal tratado num braço e perna.

Merhawi Kudus foi outro dos ciclistas afectados. Abandonou e foi transportado para o hospital. Para a Dimension Data está a ser uma Vuelta muito complicada, pois em sete etapas já perdeu quatro ciclistas.

Pesadelo da Movistar continua

(Fotografia: Instagram Carlos Betancur)
O dia começou com a notícia que Carlos Betancur não iria estar à partida em Llíria. O colombiano seguia com Chris Froome, Alberto Contador e Tejay van Garderen, mas o americano caiu e levou consigo Betancur. Garderen retomou a corrida (ainda que tenha voltado a cair), tal como o ciclista da Movistar. Betancur cortou a meta ensanguentado, imagens que têm sido partilhadas nas redes sociais.

No hospital foi confirmado que o ciclista tinha uma fractura no tornozelo e que terá de ser submetido a uma cirugia no rosto. Betancur tinha na Vuelta uma oportunidade para se afirmar na Movistar. A equipa espanhola apostou no ciclista quando este tinha perdido grande parte do crédito por um comportamento pouco profissional quando esteve na AG2R. Este ano parecia que finalmente estava a corresponder melhor ao que é esperado dele. Sem Nairo Quintana e Alejandro Valverde, a porta estava escancarada para Betancur na Volta a Espanha.

Está a ser um pesadelo para a Movistar. Quintana falhou no Giro e no Tour, Valverde caiu na Volta a França e ainda está a recuperar, não podendo cumprir o papel de líder que lhe estava destinado na Vuelta. A equipa espanhola, a única do país no World Tour, resolveu dar a oportunidade a jovens ciclistas de se mostrar, sem ter grandes pretensões à geral. Até foi um veterano que começou melhor. Daniel Moreno (35) parecia dar algumas garantias no início da corrida, mas caiu e caiu também na classificação. Betancur passou a ser o melhor classificado... e agora também caiu. Pior, abandonou e tem pela frente uma paragem para recuperar fisicamente.

Agora é Nelson Oliveira o melhor da Movistar. É 22º, a 3:02 minutos de Chris Froome (Sky). Será interessante ver com o português responde a esta posição. Oliveira já venceu uma etapa na Vuelta, em 2015 e tem aqui a oportunidade para o voltar a fazer, mas também quererá testar-se numa corrida de três semanas sem ser no papel de gregário. Para já, está a ser uma boa corrida do ciclista português.

O regresso da alta-montanha


Depois de três etapas chamadas de "rompe pernas", está de regresso a alta montanha e mais uns testes para os candidatos. As fugas têm estado a ter sucesso, mas com o dia de descanso na segunda-feira, o fim-de-semana poderá servir para tentar perceber se Chris Froome está tão forte como tem parecido. O destaque deste sábado vai para a última subida. O Alto Xorret de Catí é daquelas rampas típicas de uma Vuelta. Curta, não deverá estabelecer grandes diferenças, mas poderá expor fraquezas. Serão cinco quilómetros, com uma pendente média de 9%, com o máximo de 18%. A maior parte até é acima dos 10%, mas o início (2%) e o final (7,8%) acabam por baixar a média.

No entanto, a etapa não acaba quando os ciclistas atingirem o topo. Há ainda uma descida e um último quilómetro que não é plano. Vincenzo Nibali tem falhado nas subidas, mas a descida está a pedir uma demonstração das qualidades de descedor do italiano da Bahrain-Merida. Pelo menos Froome está à espera de dois dias bem animados.


Summary - Stage 7 - La Vuelta 2017 por la_vuelta


Veja aqui as classificações após sete etapas.

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