23 de abril de 2017

A vitória pouco convincente de Nibali na Croácia

(Fotografia: Facebook Bahrain-Merida)
Estamos a menos duas semanas do início da 100ª edição da Volta a Itália e com o fim da fase das clássicas, vai começar a época em que as atenções começam a centrar-se nos candidatos à primeira grande volta do ano. Enquanto Peter Sagan, Greg van Avermaet, Philippe Gilbert, Tom Boonen e na última semana Alejandro Valverde tiveram uma maior projecção nas provas de um dia, pelo meio foram realizando-se corridas por etapas, que foram deixando indicações de como se pode vir a encontrar alguns dos que pretendem lutar pela vitória no Giro. Um dos mais discretos tem sido, curiosamente, a principal figura do ciclismo italiano, Vincenzo Nibali. Pode até partilhar um pouco esse mediatismo com Fabio Aru, mas os currículos são ainda bem diferentes e como o ciclista da Astana não vai estar na corrida, é em Nibali que os tifosi colocam toda a esperança.

O ciclista optou por liderar um novo projecto financiado pelo petrodólares do Médio Oriente. Na Bahrain-Merida, Vincenzo Nibali é mais do que o chefe de fila, pois teve liberdade para escolher quem queria ao seu lado, tomando também as decisões das provas em que quer participar. Vencedor das três grandes voltas, Nibali faz-se valer desse estatuto, algo que na Astana não tinha possibilidade. Alexandre Vinoukorov deixou sempre bem claro que ele é o director e ele é quem manda.

Nibali tem tido um 2017 calmo, escolheu as corridas que considerou indicadas para a preparação para o Giro e com a excepção do Tirreno-Adriatico (foi 26º) e da Volta a Abu Dhabi (16º), evitou os confrontos com os ciclistas que irá encontrar na Volta a Itália. Exemplo disso foi a escolha da Volta à Croácia em detrimento da Volta aos Alpes. Vincenzo Nibali acabou por ganhar a corrida, mas nem se pode dizer que tenha sido muito superior. A concorrência não era muito forte e Nibali acabou por se valer da sua experiência e de alguma ingenuidade da Caja Rural para conquistar a sua primeira vitória do ano.

Olhando para o top dez da Volta à Croácia percebe-se bem porque não se pode considerar com base no que fez na nesta prova que Nibali está forte na chegada ao Giro. Atrás do italiano ficaram Jaime Rosón (Caja Rural, a oito segundos), Jan Hirt (CCC, a 23), Felix Grosschartner (CCC, 35), Jan Polanc (UAE Team Emirates, 40), Kanstantsin Siutsou (Bahrain-Merida, 59), Michal Schlegel (CCC, 1:23), James Knox (Team Wiggins, 1:27), Jesper Hansen (Astana, 1:38) e Oscar Eduardo Sanchez (Bicicletas Strongman, a 1:45). Com todo o respeito pelos ciclistas, alguns de qualidade comprovada e outros que são corredores a ter em conta no futuro próximo - casos do espanhol Rosón e do britânico Knox -, a verdade é que mesmo aqueles que também estarão no Giro, não são propriamente candidatos a muita coisa.

Nesta mesma semana realizou-se a Volta aos Alpes, considerada o último grande teste antes do Giro. A corrida foi ganha por Geraint Thomas (Sky) e mais uma vez basta ver o top dez para se ver como foi possível ver alguns dos candidatos que defrontaram os potenciais rivais: Thibaut Pinot (FDJ, a 7 segundos), Domenico Pozzovivo (AG2R, a 20), Michele Scarponi (Astana, 27), Mikel Landa (Sky, 42), Pierre Rolland (Cannondale-Drapac, 52), Emanuel Buchmann (Bora-Hansgrohe, 54), Danilo Celano (Itália, 54), Egan Arley Bernal (Androni Giocattoli, 1:02) e Rodolfo Torres (Androni Giocattoli, 1:16). Não se pode dizer que tenha sido um pelotão de luxo, mas os principais nomes estiveram na disputa pela vitória até final. Dos seis primeiros temos, infelizmente, de tirar Scarponi (morreu este sábado, atropelado por uma carrinha durante um treino), mas os restantes vão para o Giro com grandes pretensões.

Muito do sucesso do projecto da Bahrain-Merida é suposto passar por Vincenzo Nibali. Sonny Colbrelli tem sido o abono da equipa nesta primeira fase da temporada, mas agora é a altura de Nibali se mostrar e um bom resultado no Giro passa quase totalmente pela vitória, sendo que talvez o pódio não seja uma completa desilusão. No entanto, irá colocar alguma pressão no italiano, que se verá obrigado a compensar com uma grande vitória ou na Vuelta, se decidir ir, ou então na Lombardia, por exemplo.

Para já a desconfiança é grande, sendo que a verdadeira condição de Nibali só será conhecida durante a Volta a Itália. Se está realmente a esconder o jogo, então é um bluff fenomenal, mas se não, então a condição do italiano é um pouco preocupante. Este Nibali é capaz do melhor e do pior, mas mesmo tendo liberdade para controlar uma equipa do World Tour, tem de corresponder com vitórias se não quer ver a carreira a entrar de repente numa espiral descendente.

Quem agradeceu a presença de Nibali foi certamente a organização da Volta à Croácia. Apenas na terceira edição, a corrida tem crescido de ano para ano e ter agora um vencedor das três grandes voltas é, naturalmente, prestigiante para a competição. O polaco Matiej Paterski e o croata Matija Kvasina venceram em 2015 e 2016, respectivamente.

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