28 de fevereiro de 2017

"Eu sou um benjamim no meio de tanta gente experiente"

2016 estava quase a terminar quando chegou a confirmação: a Movistar tinha contratado Nuno Bico, um dos ciclistas portugueses de maior talento da nova geração. Aos 22 anos, o corredor de Viseu ia tornar-se no quarto português a estrear-se no World Tour em 2017, juntamente com Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo), José Gonçalves (Katusha-Alpecin) e José Mendes (Bora-Hansgrohe). Dois meses depois do início da nova fase da carreira, Nuno Bico sente-se completamente integrado na equipa espanhola, não hesitando dizer o quanto está a adorar a experiência: "Agora quero aproveitar e aprender ao máximo porque, ao fim e ao cabo, sou um benjamim no meio de tanta gente experiente."

A Movistar está a preparar calma e minuciosamente Nuno Bico para voos mais altos. Fez a estreia nas corridas do Challenge de Maiorca, marcando depois presença na Volta ao Algarve e na Volta ao Alentejo. Porém, ainda este ano deveremos ver o português nas clássicas do pavé e também nas Ardenas. "[A presença] depende de como recuperar fisicamente", explicou o ciclista ao Volta ao Ciclismo. Confessou que a preferida é a Liège-Bastogne-Liège, mas Nuno Bico revela ter os pés bem assentes na terra e não tem pressa de estar já nas principais corridas: "A equipa tem um lote de ciclistas muito forte, pelo que um lugar nesse monumento é muito difícil. Um passo de cada vez. Se não for este ano será para o ano ou no próximo."


"Eles [responsáveis da Movistar] querem apenas que me integre, que faça o trabalho que me peçam e que, acima de tudo, me sinta bem, me sinta em casa!"

É nas corridas de um dia que Nuno Bico sempre demonstrou ter mais talento e o jovem não esconde que são as suas favoritas. "Todas as corridas têm o seu encanto, mas as clássicas têm uma magia inexplicável", realçou. E foi precisamente numa prova deste género que o ciclista provavelmente convenceu de vez a Movistar. Nos Mundiais do Qatar, Nuno Bico foi uma das principais figuras da corrida de sub-23. Esteve na fuga e foi quem mais trabalhou, sendo apenas alcançado já com poucos quilómetros para o fim. "Os Mundiais foram uma ajuda, sem dúvida", confirmou. Naquela altura, o corredor já sabia que não poderia continuar na Klein Constantia, pois a equipa satélite da então Etixx-QuickStep ia fechar portas no final do ano. Não ia subir à equipa belga do World Tour, pelo que tinha de encontrar uma alternativa. "Houve algum interesse da Movistar logo em Outubro, mas não se confirmou, nem se negou. Fui correndo e felizmente fechou-se um contrato e aqui estou eu pronto para enfrentar este desafio", afirmou.

Tudo o que está a viver desde Janeiro "é um mundo novo" para Nuno Bico. "São os melhores do mundo", salientou, acrescentando que considera que tem "de melhorar em tudo" como ciclista. "Há que aprender ao máximo com eles e tentar ver o que eles fazem todos os dias e absorver todos esses ensinamentos", referiu. E conta com uma ajuda preciosa: a de Nelson Oliveira. que está na equipa desde 2016, mas já tem uma experiência de seis anos no World Tour. "Temos um bom relacionamento e como ele já está integrado no grupo, torna tudo muito mais fácil", admitiu.

Apesar das muitas diferenças que encontrou ao chegar ao mais alto nível do ciclismo, Nuno Bico realçou que a experiência que teve na Klein Constantia "ajudou muito": "Agora estamos a falar de uma equipa onde há uma hierarquia muito bem definida. Tem os seus líderes e nós temos de desenvolver o nosso trabalho em prol de outros. No ano passado, no escalão de sub-23, as corridas eram muito mais desorganizadas e no World Tour não é assim. Claro que é necessário fazer uma adaptação, mas está a correr tudo muito bem."

Naturalmente que existe pressão, mas a Movistar está a oferecer muita tranquilidade ao jovem português: "Eles [responsáveis] querem apenas que me integre, que faça o trabalho que me peçam e que, acima de tudo, me sinta bem, me sinta em casa!" E é assim que Nuno Bico se sente, em casa e cada vez mais confiante.


27 de fevereiro de 2017

Quick-Step Floors vai acabar? Lefevere estabelece data limite para encontrar patrocinador

(Fotografia: Quick-Step Floors)
Imaginar o World Tour sem uma equipa orientada por Patrick Lefevere parece impossível. Porém, depois de mais de três décadas como um dos mais icónicos directores desportivos, o belga admite que poderá estar a chegar o momento de retirar-se. Perante a incerteza da Quick-Step e mesmo que o patrocinador se mantenha será necessário encontrar mais alguém, Lefevere diz já estar à procura de garantir o futuro da equipa, mas deixa uma data limite para o conseguir: se até ao início da Volta a França não existirem garantias, será o fim da linha para Lefevere e para um dos conjuntos mais importantes do pelotão internacional.

Portanto, a 1 de Julho o ciclismo poderá enfrentar uma notícia que, apesar das palavras do director desportivo, continua a parecer impossível. Patrick Lefevere explica que não irá arrastar a situação, pois se não conseguir garantir bons ciclistas, prefere deixar a função. Em entrevista ao jornal belga Het Nieuwsblad, citado pelo site Ciclo21, o responsável salienta que os empresários dos ciclistas estão a começar a ficar nervosos. Já em 2016 Lefevere teve problemas para fazer garantir novos corredores, pois não pôde oferecer mais do que um ano de contrato. Marcel Kittel, Julian Alaphilippe e Fernando Gaviria são apenas alguns dos grandes nomes que compõem o plantel de uma das melhores equipas do pelotão. Não terão falta de interessados e a 1 de Agosto podem começar a oficializar novos contratos, daí o prazo estabelecido por Lefevere.

"Estou a negociar com muito boa fé com a Quick-Step, mas eles não querem decidir-se em breve e isso não é uma opção para mim. Gostaria de poder esperar tranquilamente até à Volta a França, mas se o faço, fico sem ciclistas. Os empresários já estão nervosos", afirmou Lefevere, considerando que mesmo que a empresa continue, não será justo que suporte sozinha os elevados custos de uma equipa com um dos maiores orçamentos. O belga recorda que sempre teve patrocinadores locais - nasceu na Flandres -, mas está receptivo a outro tipo de investidores: "Não sou cego e sei que isto [ciclismo] cresceu imenso e que o ciclismo é um exemplo claro da globalização da economia. Já vimos como os chineses compraram metade de África e como os árabes se apropriaram de metade do futebol. Por mim, o novo patrocinador pode ser um simpático chinês."

Lefevere diz que apesar da incerteza que a equipa atravessa, está tranquilo e até tenta manter alguma boa disposição quando pensa no futuro além ciclismo: "Uma vida fora do ciclismo seria muito difícil para mim. Que faria? Provavelmente escrever textos de opinião a quem me pagar mais!"

A entrevista é publicada numa altura em que arrancou a época do ano em que Lefevere costuma apostar muito forte. As equipas do belga sempre se destacaram nas provas de um dia e em 2017 o director desportivo quer que os seus ciclistas se mantenham concentrados e avisa que não admitirá que alguém tente pensar só nos resultados pessoais. Se tal acontecer, não chamará esses ciclistas para outras corridas. A formação tem vários potenciais líderes, mas até dia 9 de Abril, dia de Paris-Roubaix, todos estarão ao serviço de Tom Boonen, que se prepara para terminar a carreira.

As 12 vitórias que a Quick-Step Floors já soma são um bom cartão de visita para eventuais negociações, mas mais do que os triunfos de 2017, o historial de grande sucesso de ciclistas orientados por Lefevere conferem ao belga um enorme prestígio. Porém, aos 62 anos, o director desportivo enfrenta um dos momentos mais difíceis da sua carreira. Mario Cipollini, Paolo Bettini e Richard Virenque foram três dos grandes nomes que orientou e, mais recentemente, Tom Boonen, Mark Cavendish, Tony Martin e há que incluir na lista Michal Kwiatkowski, que foi o último campeão do mundo de estrada de uma equipa de Lefevere.

A actual estrutura foi criada em 2002. Teve vários nomes, mas a Quick-Step foi uma constante. Antes tinha orientado uma forte Mapei e a MG-GB. Como ciclista, Lefevere era um especialista em clássicas, ainda que não tenha somado muitas vitórias. Venceu uma Kuurne-Brussels-Kuurne em 1978, no mesmo ano em que conquistou uma etapa na Volta a Espanha. Foi como director desportivo que se destacou, sendo há muito um dos melhores na captação de jovens ciclistas, principalmente os que demonstram qualidades para corridas de um dia.

»»Marcel Kittel foi agredido durante etapa e pede pena máxima para Andrei Grivko««

»»Para a Quick-Step Floors só existe uma forma de encarar as corridas: é para vencer, vencer, vencer««

»»Tom Boonen, o senhor relações públicas... depois do Paris-Roubaix««

Rinaldo Nocentini lidera ranking nacional

Rinaldo Nocentini venceu a primeira etapa da Volta ao Alentejo
(Fotografia: ©João Fonseca Photographer)
Aos 39 anos, Rinaldo Nocentini está a realizar um início de temporada fulgurante. O ciclista do Sporting-Tavira esteve bem na Volta ao Algarve e ainda melhor na Volta ao Alentejo. Na Algarvia o italiano terminou na nona posição, depois de um quinto lugar no Alto da Fóia e um sexto no Malhão. Já na Alentejana venceu a primeira etapa e só na segunda ficou fora do top dez. Com estes resultados não surpreende que Nocentini seja o primeiro líder do ano no ranking nacional.

No segundo lugar está Amaro Antunes. O ciclista da W52-FC Porto venceu a etapa do Malhão, na Volta ao Algarve na qual foi quinto na geral, terceiro na montanha e segundo na classificação por pontos. Segue-se outro português a começar muito bem 2017. Edgar Pinto está de regresso ao pelotão nacional e fez top dez no Algarve e no Alentejo.

O melhor sub-23 é Francisco Campos (Miranda-Mortágua). O ciclista de Penafiel, 19 anos, surpreendeu a elite ao vencer a prova de Abertura Região de Aveiro. Foi o mais forte ao sprint e lidera o Troféu Liberty Seguros, que terá ainda mais duas corridas: Clássica da Arrábida (5 de Março) e Clássica Aldeias do Xisto (12 de Março).

Quanto ao ranking por equipas, o Sporting-Tavira começa na frente, seguido pela W52-FC Porto e a nova equipa LA Alumínios-Metalusa-BlackJack. A formação Miranda-Mortágua é a melhor entre as de sub-23, beneficiando da vitória de Francisco Campos em Ovar.

Ranking individual:

1º Rinaldo Nocentini (Sporting-Tavira) - 370 pontos 
2º Amaro Antunes (W52-FC Porto) - 245 
3º Edgar Pinto (LA Alumínios-Metalusa-BlackJack) - 148 
4º Francisco Campos (Miranda-Mortágua) - 70 
5º Vicente García de Mateos (Louletano-Hospital de Loulé) - 60 
6º Alejandro Marque (Sporting-Tavira) - 55 
7º César Martingil (Liberty Seguros-Carglass) - 50 
8º Fábio Silvestre (Sporting-Tavira) - 35 
9º Rafael Silva (Efapel) - 35 
10º Ivo Oliveira (Axeon Hagens Berman) - 30

Equipas:

1º Sporting-Tavira - 460 pontos
2º W52-FC Porto - 255 
3º LA Alumínios-Metalusa-BlackJack - 153 
4º Louletano-Hospital de Loulé - 116 
5º Miranda-Mortágua - 70


26 de fevereiro de 2017

W52-FC Porto em modo internacional; Sporting-Tavira muito mais forte; Nocentini com ambição renovada; Edgar Pinto com regresso prometedor

Terminou a fase mais internacional do calendário português, digamos assim. A aposta de juntar a Volta ao Alentejo à Volta ao Algarve foi uma ideia proveitosa, com a presença (e vitória) da Movistar a ser um forte contributo para o aumento de prestígio da Alentejana. A partir de agora as equipas portuguesas voltam a ser os principais destaques nas corridas a começar já no próximo domingo na primeira edição da Clássica da Arrábida, uma prova com um potencial enorme para rapidamente se tornar uma referência nas provas de um dia. Apesar de nas últimas duas semanas as atenções se terem centrado principalmente nas figuras estrangeiras que pedalaram pelas estradas a sul do país, a verdade é que já foi possível perceber o que se pode esperar das seis formações de elite lusas. As expectativas criadas antes do arranque da temporada em Aveiro deverão mesmo ser confirmadas: estamos perante um dos melhores pelotões dos últimos anos e haverá espectáculo em 2017.

Naturalmente que o grande destaque vai para Amaro Antunes e para a W52-FC Porto. O ciclista algarvio conquistou uma brilhante vitória no Malhão na Volta ao Algarve, derrotando corredores do World Tour. Resultado que aconteceu pouco depois de também se destacar na Volta à Comunidade Valenciana. É uma aposta no calendário internacional por parte da formação de Nuno Ribeiro. A equipa tem mais competições agendadas para Espanha e não se incomodou por apresentar-se em Aveiro com menos ciclistas, pois quase todos os principais estiveram na corrida espanhola. Não nos podemos esquecer que o director desportivo tem a ambição de subir ao escalão Profissional Continental no próximo ano, pelo que depois de dominar em Portugal, quer mostrar-se bem no estrangeiro. No entanto, não significa que não veremos a melhor W52-FC Porto por cá. Muito pelo contrário. A formação azul e branca quer continuar a demonstrar a sua superioridade em Portugal.

No entanto, terá uma concorrência bem maior. Nas últimas temporadas só a Efapel se tem conseguido aproximar e dar alguma luta. Em 2017 ressurge um Tavira renovado em ciclistas e ambição. No segundo ano de parceria com o Sporting, a preparação e as contratações foram feitas com tempo. Foi a equipa que mais se reforçou, com destaques para Joni Brandão, Fábio Silvestre e Alejandro Marque. O primeiro é considerado o grande candidato para a Volta a Portugal, mas, para já, é também o mais discreto. Alejandro Marque mostrou-se a grande nível na Volta ao Algarve, terminando na 13ª posição. Fábio Silvestre vai ganhando forma, faltando-lhe agora, talvez, uma vitória para que comece a destacar-se nos sprints.

A grande figura é, contudo, Rinaldo Nocentini. O líder surpresa de 2016 parece ter resolvido responder a todos os que insistentemente dizem que está velho (tem 39 anos) e que Joni Brandão é que será o número um, com Alejandro Marque como plano B. O italiano foi nono na Volta ao Algarve, venceu a primeira etapa da Volta ao Alentejo, subindo ao pódio no final, pois ficou a 16 segundos do vencedor, o espanhol da Movistar, Carlos Barbero. Nocentini, que no ano passado venceu o Troféu Joaquim Agostinho, mas desiludiu na Volta a Portugal, aparece mais ambicioso e gerou curiosidade para ver o que poderá fazer na restante temporada. Uma coisa é certa, o Sporting-Tavira está mais forte e será uma equipa com capacidade para discutir qualquer corrida em 2017.

Quanto à Efapel, Américo Silva arriscou apostar em Sérgio Paulinho, estando em curso o trabalho de transformar um gregário por excelência, num líder que possa discutir a Volta a Portugal e não só. O ciclista português, medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 2004 e um dos homens de confiança de Alberto Contador durante muitos anos, demonstrou que vontade não lhe falta para cumprir o que é desejado dele, mas é notório que ainda há muito trabalho a fazer. Entretanto, a Efapel tem Daniel Mestre e Rafael Silva a tentar garantir resultados. Até estavam a fazer uma boa Volta ao Alentejo, mas uma queda na penúltima etapa e uma decisão da organização em não dar o tempo do vencedor apesar do incidente ter acontecido nos últimos três quilómetros, pode muito bem ter custado um pódio, onde estava Daniel Mestre antes de cair. A Efapel irá encarar 2017 entre a confiança em ciclistas que estão habituados a conquistar vitórias e a incógnita do que poderá render Sérgio Paulinho.

O Louletano-Hospital de Loulé é uma equipa que, para já, deixa a ideia que pode conquistar bons resultados, como pode passar mais discreta nas corridas. Luís Mendonça e o líder Vicente Garcia de Mateos estiveram bem na Volta ao Algarve. O espanhol foi segundo no Malhão. Porém é preciso descer ao 20º lugar para encontrar o primeiro ciclista da equipa algarvia na Volta ao Alentejo: David de la Fuente. É verdade que a formação de Loulé não tem uma tradição de ter temporadas de grandes vitórias, mas também não passa ao lado de bons momentos. Consistência tem sido a palavra de ordem, pelo que deverá manter essa rota.

Quanto à Rádio Popular-Boavista, José Santos apostou na contratação de ciclistas de ataque, como João Benta, Filipe Cardoso e Domingos Gonçalves. Ainda não se viram muito, mas é de esperar que com o evoluir da época, os resultados comecem a aparecer. Mas, até agora, pouco se viu da equipa. Há tempo...

Para terminar fica um dos grandes destaques deste início de temporada: Edgar Pinto. O ciclista português regressou ao pelotão nacional para liderar um projecto que tem o seu pai como um dos mentores. A LA Alumínios-Metalusa-BlackJack pode não ter um plantel muito forte, mas a verdade é que está a mostrar-se suficiente para ajudar o seu líder a conquistar bons resultados neste arranque de 2017. Edgar Pinto e o director desportivo, José Augusto Silva, avisaram que a formação não estaria só a pensar na Volta a Portugal e tentaria lutar em todas as corridas. Edgar Pinto foi 10º na Algarvia e 7º na Alentejana, dois excelentes resultados. No primeiro caso por ser um top dez entre ciclistas do World Tour, no segundo por ser uma corrida para ciclistas com características mais de" roladores" e sprinters. É desde já um candidato forte para a Clássica da Arrábida, mesmo que tenha de enfrentar empedrado e terra batida.

Depois de duas corridas a sul e uma pela região de Aveiro, será altura de começar a andar por terreno bem mais "acidentado" (sem esquecer que já se subiu à Fóia e ao Malhão) e sem equipas do World Tour. A Clássica da Arrábida e a Clássica Aldeias do Xisto (12 de Março) irão atribuir o primeiro troféu do ano. Francisco Campos, o sub-23 da equipa Miranda-Mortágua, venceu surpreendentemente a primeira corrida do Troféu Liberty Seguros, a prova de abertura Região de Aveiro, liderando a competição.

Relativamente à Volta ao Alentejo, uma nota de destaque: a Alentejana subiu de categoria para 2.1 e pela primeira vez em 35 edições teve um ciclista a repetir um triunfo. Carlos Barbero assinou este ano pela Movistar e começa a mostrar serviço, depois de em 2014, então ao serviço da Euskadi, ter conquistado pela primeira vez a Volta ao Alentejo.

Veja aqui as classificações finais da Volta ao Alentejo.

»»O jovem que surpreendeu a elite em Ovar: "Ainda estou em choque!"««

»»Desculpa Roglic, mas vamos falar de Amaro Antunes««

»»Vidal Fitas: "Tenho um plantel equilibrado, com bastantes opções e de qualidade. Estou satisfeito"««

Volta a Abu Dhabi: uma aposta ganha pela organização e por Rui Costa

(Fotografia: Facebook Volta a Abu Dhabi)
Foram apenas precisas duas edições para que a Volta a Abu Dhabi mostrasse à UCI que tinha lugar entre o calendário World Tour. A terceira realizou-se poucos meses depois da última, pois em 2016 a corrida realizou-se em Outubro, com o Emirado a receber também a gala de fim de temporada. O pouco tempo para preparar a prova não foi um problema e passar a realizar-se em Fevereiro só trouxe benefícios para todos. Sprinters e trepadores têm mais uma oportunidade para preparar a temporada num local com uma meteorologia mais simpática. Bom... quase sempre: este domingo um dilúvio marcou a última etapa. Um pelotão de luxo esteve em Abu Dhabi e estamos a falar de um conjunto de ciclistas que dificilmente se juntam numa grande volta, já que acabam por se dividir entre Giro, Tour e Vuelta. O resultado foi uma corrida que gerou muito interesse, teve uma grande exposição mediática, o que faz com que seja um exemplo de sucesso de uma nova prova do calendário World Tour, depois da Volta ao Qatar ter sido cancelada, a Volta a Turquia ter sido adiada, enquanto outras organizações estão a queixar-se do investimento que poderá não ser recompensado.

E claro, para os portugueses a Volta a Abu Dhabi também ficará para história do ciclismo. A terceira edição fica marcada pelo regresso do campeão do mundo de 2013 às vitórias no World Tour e à conquista de uma prova por etapas. Rui Costa está de regresso ao seu melhor e numa altura perfeita. Venceu na casa da sua equipa (a UAE Team Emirates), do novo patrocinador que salvou a formação de um final abrupto depois do investidor chinês não ter concretizado o apoio prometido.

O ciclista português teve de enfrentar um dia de muita chuva no circuito Yas Marina, onde se realiza o Grande Prémio de Fórmula 1, mas ninguém tentou ameaçar a liderança de Rui Costa. Depois dos 4 Dias de Dunkerque (2009) e de três Voltas à Suíça (2012/13/14), o poveiro volta a conquistar uma corrida por etapas, naquela que é a terceira vitória do ano, depois das etapas rainhas na Volta a San Juan e na de precisamente em Abu Dhabi.

Voltando à organização. As novas competições do World Tour não são de presença obrigatória para as equipas do principal escalão, ao contrário do que acontece com as mais antigas. No entanto, têm de garantir no mínimo dez formações para assegurar a continuidade no calendário em 2018. Das 18 equipas, só a FDJ e a Cannondale Drapac não marcaram presença e das 16 que competiram, só a Sky não apresentou nenhum líder. Aliás, só foram seis dos oito ciclistas que deveriam compor a equipa.

Coincidindo com o início da época das clássicas, pode-se dizer que a Volta a Abu Dhabi foi um estrondoso sucesso. Não contou, naturalmente, com classicistas, nem com contra-relogistas, já que não conta com uma etapa de esforço individual. Mas tendo em conta os ciclistas que lá estiveram... Não será uma preocupação. A ASO, que organiza a Volta a França, encontrou o equilíbrio perfeito para mais uma competição. Mesmo obrigando as equipas a uma deslocação longa ao Médio Oriente, as formações vêem vantagens nessa viagem. Abu Dhabi chegou ao World Tour para ficar e a primeira vitória da corrida ao mais alto nível será sempre recordada como sendo de Rui Costa. Já agora, os anteriores vencedores foram Johan Esteban Chaves e Tanel Kangert.

Classificação final da Volta a Abu Dhabi.


Sagan e Ewan aprenderam rapidamente com os erros

Ewan já ia festejar quando Kittel o ultrapassou, no sprint da 2ª etapa em Abu Dhabi
(Fotografia: Facebook Volta a Abu Dhabi)
Mesmo os mais experientes fazem erros. Faz parte de qualquer profissão, de qualquer atleta de alta competição. Por outro lado, quando ainda se está numa fase de desenvolvimento, há lições que podem ser muito dolorosas e a forma como se as "encaixa" e como as colocam em prática, pode ser a diferença entre um atleta se tornar num vencedor, ou ficar a ver os outros vencerem. Quando já se tem alguma experiência, é preciso saber admitir que não se é invencível e que se está sempre a aprender. Este domingo assistimos aos dois casos. O primeiro refere-se a Caleb Ewan, o segundo a Peter Sagan. Ambos conquistaram vitórias depois de dois erros quase de principiantes em dias anteriores. Sagan já se sabe que é um ganhador, mas pode ser ainda mais se começar a assimilar melhor algumas lições. Quanto a Ewan, a juventude e a emoção pregaram-lhe uma dura partida, mas o australiano está agora pronto para se impor entre a elite dos sprinters.

Comecemos por Caleb Ewan. O australiano tem apenas 22 anos, mas desde 2014 que a Orica-Scott acredita que está perante um talentoso sprinter. No ano seguinte foi à Volta a Espanha conquistar uma etapa, mas 2016 não foi exactamente o ano de afirmação que se esperava. No que diz respeito em debater-se com os melhores, Ewan mostrou na época passada ainda não estar preparado. Começou 2017 em grande no seu país: quatro vitórias no Tour Down Under, mais a classificação por pontos. Porém, continuava a faltar aquele triunfo em frente dos grandes nomes. O momento parecia ter chegado na segunda etapa da Volta a Abu Dhabi. Tudo bem feito pela Orica-Scott e Ewan já levantava os braços quando Marcel Kittel o passou. Mais do que um erro de principiante, é um daqueles humilhantes e que é preciso estofo para recuperar. Dois dias depois, chegou a redenção e a prova que Ewan tem o que é necessário para se debater com os melhores, tanto física, como psicologicamente.



Foi com autoridade que bateu Mark Cavendish e André Greipel e o pequeno australiano, -que sprinta de forma tão estranha, deitado no guiador - admitiu publicamente o erro de festejo precoce, mostrando que custou, mas que foi uma lição que perdurará para o resto da carreira. E se era preciso mais provas, desta feita até teve tempo para festejar antes de cortar a meta, mas só o fez depois! Pelo sim, pelo não! Há que não esquecer, tem apenas 22 anos. É pequeno e com umas constituição física bem diferente de sprinters como Kittel e Greipel, mas Ewan, assim como Fernando Gaviria (Quick-Step Floors), são desde já os líderes de uma nova geração de sprinters que está preparada para se impor nos grandes momentos da temporada.

Quanto a Peter Sagan, com tantos segundos lugares seria de esperar que já tivesse a fórmula certa para não cometer erros básicos. Porém, isto é ciclismo e uma decisão mal feita num segundo e estraga-se horas de trabalho. Foi o que aconteceu no sábado na Omloop Het Nieuwsblad. A forma como quis controlar Avermaet no sprint final, abrindo espaço na curva, deixando caminho aberto para o belga foi algo estranho de se ver. Depois faltaram pernas para apanhar Avermaet. Sagan foi ainda criticado por ter trabalho durante muitos quilómetros antes da formação do trio que disputaria a vitória. Porém, é a forma de Sagan correr e se é certo que tem de se resguardar um pouco mais, também é verdade que é quase contranatura ver Sagan jogar à defesa.

Peter Sagan conquistou a primeira vitória de 2017
(Fotografia: ©BORA-hansgrohe/Stiehl Photography)
Na Kuurne-Bruxelles-Kuurne, Sagan não deixou de trabalhar bastante, ainda que teve mais ajuda, até porque o grupo era composto por cinco ciclistas. Porém, o factor decisivo foi a forma como encarou a última curva antes da recta da meta. Preocupou-se em ficar bem colocado e não em ver como estavam os outros. Depois foi esperar pelo momento certo para atacar. Quase parece fácil quando se vê Sagan ganhar assim. E desta vez não houve Avermaet para estragar a festa do eslovaco. A "besta negra" do campeão do mundo ficou para trás quando Jasper Stuyven atacou e não foi atrás de Sagan quando o ciclista da Bora-Hansgrohe resolveu ir para a frente da corrida.

Por falar em Bora-Hansgrohe, certamente que os responsáveis estarão mais tranquilos. A sua grande estrela mostrou que aprende rápido e conquistou a primeira vitória da equipa desde que a formação alemã - que conta com o campeão nacional José Mendes - chegou ao escalão World Tour. Ainda assim, é um pouco preocupante ver que ninguém consegue acompanhar Sagan para o ajudar em momentos importantes das corridas. O eslovaco está habituado, é certo - teve uma grande escola na Tinkoff -, e há muito que se "desenrasca" sozinho. Mas ainda assim, esperava-se mais da Bora-Hansgrohe como equipa.

Veja aqui os resultados da clássica belga.

Lições aprendidas e vitórias conquistadas. Para Ewan foi a primeira frente aos melhores, para Sagan a primeira de 2017. Tanto um como outro certamente que terão oportunidade para mais festejos. É muito provavelmente uma questão de começar a contar e, para Sagan, o difícil costuma ser conquistar a primeira vitória, depois... engata!

»»Clássicas. Tudo começou com um cenário bem conhecido: Avermaet a bater Sagan. Mas será que vão ser desqualificados?««

»»Sagan, Avermaet, Boonen... A época das clássicas vai começar««

»»Mais sectores de pavé para alimentar a lenda do Paris-Roubaix««

25 de fevereiro de 2017

Triunfo de Rui Costa em Abu Dhabi é muito mais do que uma "simples" vitória

Momento da vitória em Jebel Hafeet (Fotografia: Facebook Volta a Abu Dhabi)
Qualquer vitória conquistada ao mais alto nível no ciclismo nada tem de simples. A utilização desta palavra prende-se com o facto de o triunfo de Rui Costa na etapa rainha da Volta a Abu Dhabi não ser apenas mais uma na sua carreira. As implicações são importantes para o ciclista português e para o futuro da equipa. Mas para começar, ser o primeiro em Jebel Hafeet confirma um sensacional início de temporada. Também venceu a etapa rainha na Volta a San Juan e foi segundo na geral na Volta a Omã.

Primeira grande diferença desta vitória em Abu Dhabi: a corrida pertence este ano ao calendário World Tour. Logo muitos pontos e também muito prestígio, neste último caso reforçado pelo facto de estarmos a falar de um pelotão que nem nas grandes voltas se vê. Basicamente, só a Sky, FDJ e Cannondale-Drapac "faltaram à chamada". No caso da equipa britânica só levou seis dos oito ciclistas que compõem as equipas. Já as formações francesa e americana nem viajaram para o Médio Oriente. Nairo Quintana, Alberto Contador, Vincenzo Nibali, Fabio Aru, Bauke Mollema, Ilnur Zakarin... praticamente todos os principais candidatos a vencer ou a top dez de uma grande volta este ano estão em Abu Dhabi. E se alguns casos a preparação está numa fase inicial, outros estão já em bons momentos, pois estão a preparar a Volta a Itália.

O que é que isto tudo quer dizer? Rui Costa bateu os melhores e bateu-os num jogo táctico perfeito. O próprio admite que a vitória foi mais com a cabeça do que com as pernas. O grupo de luxo que ficou para discutir o subida final contava com os grandes nomes. As atenções estavam, naturalmente, em Quintana e Contador. E foi aqui que Rui Costa demonstrou porque é um dos ciclistas mais inteligentes do pelotão. O português sabia que teria dificuldades em aguentar prováveis ataques e contra-ataques, por isso, atacou ele e aproveitando a cerrada marcação entre o colombiano e o espanhol e com os restantes ciclistas na expectativa, foi-se embora. Primeiro teve dois ciclistas a tentarem acompanhá-lo, mas seria com Ilnur Zakarin (Katusha-Alpecin) que formaria uma aliança para levar o esforço até final.

Contador resolveu que iria apostar em manter-se na roda de Quintana. O colombiano ainda atacou, mas com o espanhol apenas a segui-lo, resolveu não ser ele a puxar o adversário. Enquanto Rui Costa e Zakarin entendiam-se às mil maravilhas, outros começaram a perceber que não podiam esperar pela dupla maravilha de Abu Dhabi. Foram atacando, mas já era tarde. O timing é tudo numa corrida tão táctica e com tantos corredores de qualidade. Rui Costa e depois Zakarin foram perfeitos.

Ao resistir a umas tentativas de aumentar de ritmo de Zakarin, ao sprint o russo não teve hipóteses, como já sabia. Rui Costa venceu, saltou para a liderança e será preciso algo muito anormal para lhe tirar a vitória na geral de Abu Dhabi, já que a etapa de domingo volta a ser plana.



Vamos então às implicações da vitória. Para Rui Costa é a confirmação que é o líder da equipa. Com a Lampre-Merida a relação não correu de feição, mas a mudança de dono e apesar da estrutura ser a mesma, a verdade é que o português reencontrou a melhor forma e o caminho das vitórias. Este é um Rui Costa motivado, alegre e confiante, como há muito não se via. De recordar que antes da etapa de San Juan, não vencia desde os Campeonatos Nacionais de 2015. A nível de corridas do World Tour, a última conquista foi também em 2015, quando a 12 de Junho venceu uma etapa no Critérium du Dauphiné.

Louis Meintjes ganhou o estatuto de líder para a Volta a França que Rui Costa sempre preparou a época em redor. Diego Ulissi era aposta para as provas de um dia e a contratação de Ben Swift trouxe à equipa mais um homem que não veio apenas para ajudar os outros. Com este início de temporada, Rui Costa dá garantias desde cedo que é a escolha certa para se apostar nas corridas em que participar. E este ano há objectivos diferentes definidos, principalmente na estreia agendada para a Volta a Itália, a que se juntará a grande ambição que tem em ganhar a Liège-Bastogne-Liège. Se vai ao Giro para tentar um top dez ou para ganhar etapas ainda não se sabe, mas com esta forma de correr e como parece que tomou novamente o gosto pelo triunfos, é muito provável que Rui Costa vá ao ataque de conquistar etapas.

Abu Dhabi é a terra natal da sua equipa. Aliás, até ao início desta semana, a formação chamava-se UAE Abu Dhabi. Porém, garantiu um patrocinador de peso, a companhia aérea Fly Emirates, e passou a chamar-se UAE Team Emirates. Certamente que havia pressão para fazer um bom resultado "em casa". A vitória? Desejar certamente que os responsáveis desejavam, mas com o pelotão presente era vista como complicada, mas, claramente, não impossível.

A felicidade do patrão Matar Suhail Al Yabhouni Al Dhaheri pode traduzir-se numa aposta cada vez maior neste projecto. Afinal, foi chegar e vencer graças ao português. E claro, ter este resultado mal entrou a Fly Emirates é algo que deixará os directores desportivos muito mais tranquilos e confiantes para a restante temporada. O dinheiro está a entrar e os resultados a aparecerem. É uma vitória que não poderá ficar por aqui. Vão sempre ser exigidas mais. Contudo, Rui Costa deu vida a uma equipa que esteve perto de fechar portas quando o patrocinador chinês não apareceu com o investimento prometido. Rui Costa demonstrou que a UAE Team Emirates oferece condições para se lutar por triunfos e que não está no World Tour apenas como uma aposta momentânea de um investidor.

Aos 30 anos, Rui Costa está a sentir-se um líder vencedor, como queria quando deixou a Movistar no final de 2013, poucos meses depois de se ter sagrado campeão do mundo. Se conseguir manter este nível, o português tem garantindo um lugar de destaque numa estrutura que precisava de líder ganhador, mas falta saber se a outra parte irá também aparecer: ciclistas que o apoiem incondicionalmente. Em Abu Dhabi, não se viu, até porque Diego Ulissi e Louis Meintjes não só têm as suas agendas, como ainda estão muitos furos abaixo da forma de Rui Costa.

"Estou satisfeitíssimo com o meu início de época", escreveu Rui Costa no seu blog. E não é para menos. Foi uma travessia no deserto, mas o português está de volta ao seu melhor e com estas vitórias, as expectativas são enormes. Mais pressão? Nunca pareceu ser algo que o preocupasse ou o influenciasse. E agora que voltou às vitórias, a confiança e motivação que precisava estão em alta.

Veja aqui os resultados da terceira etapa da Volta a Abu Dhabi, ganha por Rui Costa.

»»Equipa de Rui Costa com novo patrocinador de peso««

»»A longa espera terminou. Rui Costa voltou às vitórias e bem ao seu estilo««

Clássicas. Tudo começou com um cenário bem conhecido: Avermaet a bater Sagan. Mas será que vão ser desqualificados?

Pódio da primeira clássica do ano (Fotografia: Twitter Omloop Het Nieuwsblad)
A corrida que abriu a época das clássicas não desiludiu. Nenhum dos principais ciclistas esteve na Omloop Het Nieuwsblad com outro pensamento que não fosse lutar pela vitória. Pavé, vento e uma queda foram os ingredientes de uma prova emocionante e que viu três dos melhores homens de corridas de um dia encetarem uma fuga de luxo, que nem um grupo com a Sky e Quick-Step Floors conseguiu apanhar: Greg van Avermaet, Peter Sagan e Sep Vanmarcke. Que trio! No entanto, há quem peça a desqualificação dos três. Mas já lá vamos.

Uma queda a cerca de 60 quilómetros da meta acabou por ser decisiva, pois ajudou a definir a frente da corrida e tirou dela alguns candidatos. Aconteceu no meio do pelotão, arrastando um elevado número de ciclistas. Entre eles Tom Boonen, Alexander Kristoff e Tiesj Benoot. O emaranhado de bicicletas, algumas delas ficaram fora de acção, e as mazelas com que ficaram fez com que a perda de tempo acabasse por ser demasiado grande. Os três não terminaram a corrida. Tom Boonen irá acabar a carreira sem nunca ter conquistado esta prova belga.

Naquela altura a corrida estava mais do que lançada na perseguição aos fugitivos. Peter Sagan foi o impulsionador do ataque que acabaria por resultar no trio já referido. Outros tentaram acompanhar, mas à medida que foram passando os sectores de pavé, ninguém conseguia acompanhar o ritmo de loucos dos três ciclistas.

Até final a corrida ficou marcada por um entendimento entre Sagan, Avermaet e Vanmarcke e por uma perseguição que não resultou, pois não houve união de esforços. E dada a qualidade que ia na frente, só assim seria possível apanhar o trio. Seria uma surpresa ver Vanmarcke bater ao sprint Avermaet e Sagan, pelo, apesar de ter atacado primeiro, a luta foi entre os dois habituais suspeitos. E foi aí que Sagan cometeu um erro incompreensível para alguém com a sua experiência. Na curva que antecedia a meta, o eslovaco abriu, dando espaço para Avermaet passar e ganhar vantagem. Demasiada vantagem. Não houve pernas para apanhar o belga e Sagan lá assistiu a mais uma vitória do rival. Este cenário foi exactamente o mesmo na Omloop Het Nieuwsblad de 2016... e de outras corridas.

As clássicas começam como há um ano. Greg van Avermaet deixou definitivamente para trás o estigma do eterno segundo. É um ciclista que enfrenta as corridas com uma confiança ganhadora e é dos poucos que não teme nem um bocadinho o poderio de Sagan, pois parece ter a receita para derrotar o bi-campeão do mundo. Foi a 11ª vitória do ano para a BMC, que está a realizar um fortíssimo início de temporada.

Para Peter Sagan foi a posição habitual. Já são quatro segundos lugares em 2017. Já se sabe que o eslovaco tem uma forma muito particular de enfrentar um mau momento: começa logo a pensar na próxima corrida e em ganhá-la. Sagan não se deixa abater, contudo, o erro que cometeu terá de servir de lição. Tanto quis controlar Avermaet que o deixou escapar. Se calhar as derrotas para o belga começam a ter algum peso na consciência de Sagan. Para a Bora-Hansgrohe fica alguma frustração. Ainda não foi desta que conquistou a primeira vitória como equipa World Tour.

Quanto a Sep Vanmarcke, também foi mais do mesmo. Está na luta, mas não consegue ter aquela ponta final que precisa para vencer. O ciclista da Cannondale-Drapac até já conquistou a Omloop Het Nieuwsblad em 2012, depois somou pódios noutras clássicas. Mas não consegue as vitórias que eram esperadas.


Porém, não há tempo para lamentações. Este domingo praticamente o mesmo pelotão estará novamente na estrada, agora na Kuurne-Bruxelles-Kuurne. Serão 200,7 quilómetros de mais espectáculo... pelo menos assim se espera.

Veja aqui a lista de inscritos.

Pedem a desqualificação dos três primeiros

A questão surgiu logo após o final da corrida e foi ganhando força nas horas seguintes, com alguns directores desportivos e ciclistas a questionarem a quebra de uma regra por parte dos fugitivos. Em causa está a utilização de um passeio para fugir a uma parte de pavé, algo que a organização tinha proibido e avisado as equipas que quem o fizesse seria desqualificado.

Ora as imagens demonstram como alguns ciclistas optaram pelo passeio para escapar ao pavé, incluindo Greg van Avermaet, Peter Sagan e Sep Vanmarcke. A polémica subiu de tom porque, apercebendo-se da situação, foi colocada uma moto da organização a impedir a utilização do passeio pelos grupos que seguiam na perseguição. Estes ciclistas tiveram de pedalar pelo pavé.

Jaspert Stuyven (Lotto Soudal), Luke Rowe (Sky) e Edward Theuns (Trek-Segafredo) foram alguns dos corredores que levantaram a questão. Todos eles salientam o facto da organização ter avisado que seriam desqualificados se utilizassem os passeios.
Os comissários foram abordados por directores desportivos que se queixaram do desrespeito da regra por parte dos ciclistas que terminaram no pódio. Greg van Avermaet foi questionado sobre a utilização dos passeios e o belga respondeu ao Cycling News que "é fácil tomar uma decisão [de proibição], mas em corridas como esta não é possível [respeitá-la]". Avermaet salientou que quando se está a correr é necessário sair da estrada para conseguir recuperar posições ou para escapar a quedas. "Não é possível controlar", afirmou.

Para já só há queixas. Se houvesse desqualificação, o vencedor seria Fabio Felline, italiano da Trek-Segafredo que terminou a 45 segundos do trio que subiu ao pódio.


24 de fevereiro de 2017

Sagan, Avermaet, Boonen... A época das clássicas vai começar

(Fotografia: Facebook Volta a Flandres)
Antes das atenções se virarem para as competições de três semanas, chega uma altura do ano muito especial do ciclismo: a das clássicas. É a emoção das corridas de um dia com enorme tradição principalmente em terras belgas e francesas. O pavé que faz parte de algumas das mais icónicas corridas, ao que se junta muitas vezes o mau tempo que torna as provas nuns desafios infernais para os ciclistas e num espectáculo admirado por muitos fãs. Chegou o momento de grandes estrelas entrarem em acção, a maior de todas Peter Sagan, ainda sem vitórias este ano, mas já com uns segundos lugares, outra tradição (mais recente) do ciclismo! No entanto, se há um ano o eslovaco dividiu as atenções com Fabian Cancellara, que estava a fazer a despedida, em 2017 irá fazê-lo com outro dos maiores classicistas de sempre: Tom Boonen está mesmo na recta final, pois a 9 de Abril, no Paris-Roubaix, terminará uma carreira de sucesso invejável. E claro, Greg van Avermaet tem contas pendentes a ajustar, pois quando finalmente venceu uma clássica na Bélgica e parecia encaminhado para lutar pelos monumentos da Volta a Flandres e Paris-Roubaix, sofreu uma queda no primeiro e teve de assistir pela televisão à restante época das clássicas em 2016.

Tudo começa este sábado com a Omloop Het Nieuwsblad. A corrida belga irá fazer a sua estreia no calendário World Tour, uma subida que limita-se a confirmar a importância que já tinha. Em 71 edições contou com grandes vencedores e sempre foram muitos os ciclistas de renome que fizeram questão de estar presente na corrida. Em 2016, Greg van Avermaet finalmente venceu uma prova de um dia no seu país, confirmando a sua alcunha de "besta negra de Sagan", pois deixou, como já o fez noutras ocasiões, o eslovaco na segunda posição. No domingo, será a vez de outra clássica histórica. A Kuurne-Bruxelles-Kuurne é de categoria 1.HC, mas contará praticamente com o mesmo pelotão que estará na Omloop Het Nieuwsblad.

Durante os próximos dois meses haverá muita acção para se assistir. Aqui fica uma lista de ciclistas a seguir.

Tom Boonen (36 anos, Quick-Step Floors)
(Fotografia: Quick-Step Floors)
É uma questão de respeito começar pelo belga. Afinal estamos a falar de um dos grandes especialistas do ciclismo neste tipo de corrida que anunciou que chegou o momento de se retirar. Os últimos anos não têm sido fáceis para Tom Boonen. Ou não conseguia apresentar-se na melhor forma, ou uma queda acabava por lhe estragar a fase do ano que mais gosta. É preciso não esquecer que até se destacou como sprinter no início da carreira, mas foi nas clássicas que construiu o seu maior legado. Inevitavelmente as quatro vitórias no Paris-Roubaix e as três na Volta a Flandres são os seus maiores feitos, ao lado dos Mundiais em 2005. 2012 foi um ano memorável para Boonen, sendo quase imbatível nas clássicas, tendo conquistado pela última vez os dois monumentos. O objectivo de 2017 é terminar a carreira com uma vitória no Paris-Roubaix, depois de no ano passado ter sido surpreendido por Mathew Hayman. Mas até lá quer mais uns triunfos. E a julgar pelas provas que já realizou este ano, Boonen deverá apresentar-se em boa forma e nada melhor que começar as clássicas com uma conquista que falta no seu currículo: a Omloop Het Nieuwsblad.

Peter Sagan (27 anos, Bora-Hansgrohe)
(Fotografia: Bora-Hansgrohe)
É o maior especialista da actualidade. Porém, ainda só conta com um monumento, conquistado precisamente no ano passado, na Volta a Flandres. Em qualquer clássica que Sagan participe dificilmente (e estranhamente) não será considerado o principal favorito. No entanto, tem uma tendência em somar segundos lugares. Claro que isso significa que está na luta pelas vitórias e o próprio não se deixa abater por tal, preferindo de imediato pensar em ganhar a próxima corrida. Contudo, depois de dois Mundiais conquistados, cinco classificações por pontos do Tour e 89 vitórias como profissional aos 27 anos, o eslovaco quererá definitivamente afirmar-se como o rei das clássicas, sendo apontado como o ciclista que tem todas as qualidades para conquistar os cinco monumentos, ainda que a Lombardia não seja uma corrida que aprecie muito. A sua inteligência, a sua potência, o seu estilo de ataque tornaram-no numa referência. Agora é altura de consolidar um currículo que tem tudo para ser um dos mais impressionantes do ciclismo. Boonen, por exemplo, tem 113 vitórias como profissional.

Greg van Avermaet (31 anos, BMC)
(Fotografia: BMC)
2016 só não foi perfeito porque a queda com elementos da sua equipa na Volta a Flandres retirou-lhe a possibilidade de lutar por essa corrida e depois pelo Paris-Roubaix. No entanto, depois de anos a ver da primeira fila outros ganharem, Avermaet começou a somar triunfos e no ano passado venceu finalmente uma corrida na Bélgica. Apesar da queda, o ano teve tudo para ser memorável por boas razões. Venceu o Tirreno-Adriatico (bateu Sagan, pois claro), venceu uma etapa no Tour e vestiu a camisola amarela e foi campeão olímpico. O belga conquistou o seu espaço na BMC, que não se preocupou em tentar segurar Philippe Gilbert. Avermaet será o único líder da equipa para esta altura do ano e estando no seu melhor momento da carreira, é de esperar vê-lo sempre entre os primeiros... se não mesmo em primeiro.

Philippe Gilbert (34 anos, Quick-Step Floors)
(Fotografia: Quick-Step Floors)
O belga tenta reencontrar-se com as vitórias. Depois de dominar no início da década, a passagem pela BMC acabou por ser um pouco aziaga. Parecia que Gilbert tinha tudo para se transformar num dos grandes classicistas da história. Porém, depois de três monumentos em outros tantos anos (duas Lombardias e uma Liège-Bastogne-Liège), a última grande vitória numa clássica data de 2014, quando conquistou a sua terceira Amstel Gold Race. Na Quick-Step Floors, o ciclista espera recuperar algum dos prestígio perdido. Nesta primeira fase das clássicas estará mais no apoio a Boonen - algo que não o incomodará muito, pois não é um fã do pavé -, mas depois do Paris-Roubaix, terá caminho aberto para liderar a equipa, ainda que Niki Terpstra terá também sempre a sua oportunidade para lutar por vitórias.

John Degenkolb (28 anos, Trek-Segafredo)
(Fotografia: Trek-Segafredo)
Depois de um 2016 para esquecer - foi atropelado na pré-época e quase perdeu um dedo -, Degenkolb mudou de ares. Deixou a Giant-Alpecin e assinou pela Trek-Segafredo, que acredita que o alemão tem tudo para ocupar o lugar deixado vago por Fabian Cancellara. Em 2015 conquistou a Milano-Sanremo e o Paris-Roubaix e Degenkolb quer construir um grande currículo nas clássicas. As indicações de início do ano são muito animadoras. Conta com uma vitória e na Volta ao Dubai, tendo estado na luta nos sprints nessa corrida e também na Volta ao Algarve. Degenkolb está a recuperar as melhores sensações como ciclista e é um dos nomes a ter em conta. No entanto, não o vamos ver este fim-de-semana. Não está inscrito para a Omloop Het Nieuwsblad e não aparece na lista de pré-inscritos da Kuurne-Bruxelles-Kuurne. Irá ao Paris-Nice antes de atacar os três monumentos: Milano-Sanremo, Volta a Flandres e Paris-Roubaix.

Jasper Stuyven (24 anos) e Edward Theuns (25)
(Fotografias: Trek-Segafredo)
A Trek-Segafredo apresenta-se com um lote muito forte de ciclistas para as clássicas. Se não há John Degenkolb, então a equipa americana joga com dois jovens de grande talento. Jasper Stuyven já comprovou que é homem para estas corridas, principalmente no inferno do pavé. Em 2010 venceu o Paris-Roubaix no escalão de juniores e no ano passado conquistou a Kuurne-Bruxelles-Kuurne. Stuyven - vencedor da Volta ao Alentejo em 2013 - é uma das grandes esperanças da Trek-Segafredo, assim como Theuns. Porém, neste caso, há uma incógnita: Theuns sofreu uma queda muito grave no contra-relógio da Volta a França. A lesão nas costas fê-lo temer que o seu primeiro ano no World Tour seria o último. Recuperou, mas falta saber se conseguirá regressar ao seu melhor, para assim continuar a evoluir. Talento tem, agora é uma questão de perceber se o corpo está 100% recuperado e se mentalmente Theuns está pronto para enfrentar situações perigosas como as descidas, pois foi numa que caiu no Tour.

Tiesj Benoot (22 anos, Lotto Soudal)
(Fotografia: Lotto Soudal)
É um diamante em bruto. É muito jovem, pelo que poderemos ter de esperar algum tempo para o ver ganhar uma grande clássica. Ou talvez não... Benoot já tem resultados de nota nestas corridas, pelo que pode não ser um dos favoritos, mas é um candidato. No ano passado foi terceiro na Omloop Het Nieuwsblad e em 2015 foi quinto na Volta a Flandres. O recente vencedor da classificação da juventude na Volta ao Algarve tem tudo para se tornar na próxima referência belga nas clássicas, numa altura que Boonen vai dizer adeus e Gilbert e Avermaet já têm mais de 30 anos. A idade poderá traí-lo no que diz respeito à experiência que pode ser muito importante para corridas tão imprevisíveis como são as do pavé, por exemplo. Porém, a inteligência com que corre, revela maturidade para os apenas 22 anos que tem. É um corredor a seguir com atenção e os grandes nomes sabem que não o podem perder de vista.

Sep Vanmarcke (28 anos, Cannondale-Drapac)
(Fotografia:
Cannondale-Drapac)
O belga regressou a uma estrutura que já conhecia para tentar desbloquear a situação de ficar perto de ganhar, mas não conseguir a vitória. Sofre de uma espécie de síndroma de Avermaet. Soma pódios no Paris-Roubaix e Volta a Flandres e mais uns top dez em clássicas. Venceu em 2012 a Omloop Het Nieuwsblad, mas fica sempre perto de fazer algo mais. Porém, falta aquele bocadinho... É um ciclista feito para as corrida do pavé. Tem a estrutura física, a resistência e a inteligência necessária para triunfar. O que falta a Vanmarcke? Pode-se sempre dizer que lhe falta sorte, mas a verdade é que no momento da verdade, o belga não consegue dar a machada final, acabando por ver outros vencer. Na Cannondale-Drapac, Vanmarcke sabe que é o líder indiscutível para as clássicas. Não que não o fosse na Lotto-Jumbo, mas a formação holandesa tinha outros ciclistas também com as mesmas pretensões. A Cannondale-Drapac não hesitou em recuperar o belga, pois bem que precisa de alguém que lhe traga vitórias. A ver vamos se a união resulta.

Alexander Kristoff (29 anos, Katusha-Alpecin)
(Fotografia: Katusha-Alpecin)
Do norueguês nunca se sabe bem o que esperar. Nos três últimos anos foi capaz do melhor e do pior. Já tem uma Milano-Sanremo e uma Volta a Flandres. Porém, em 2016 ambicionou a muito, mas passou ao lado de praticamente todos os grandes momentos. Esta temporada não começou mal. Soma três vitórias em etapas e duas classificações por pontos. A Katusha-Alpecin de José Azevedo deu um voto de confiança muito forte a Kristoff ao contratar ciclistas para o ajudarem e não foram uns corredores quaisquer. Tony Martin estará ao lado do norueguês e depois do que fez em 2016 na Etixx-QuickStep nas clássicas do pavé (algo que até surpreendeu), Martin, poderá ser o verdadeiro gregário de luxo que Kristoff precisa para regressar aos bons velhos tempos... Não foram há muito, mas Kristoff já sente a pressão de precisar de voltar a conquistar grandes vitórias, ainda mais em ano de Mundiais no seu país.

E há muito mais...
Claro que estes são apenas alguns dos destaques. A lista de ciclistas a ter em conta é de respeito, o que apenas torna as corridas ainda mais interessantes. Niki Terpstra (Quick-Step Floors), Arnaud Démare (FDJ) - o primeiro conta com o Paris-Roubaix, o segundo com uma Milano-Sanremo -, Ryan Anderson (Direct Energie), Adam Blythe (Aqua Blue Sport), Stijn Vanderbergh (AG2R), Luke Rowe (Sky), Jurgen Roelandts (Lotto Soudal) e Lars Boom (Lotto-Jumbo) são outros ciclistas a seguir. E estamos a falar dos chamados classicistas, que aparecem já nas corridas de pavé, porque quando chegarmos à semana das Ardenas, outros nomes se juntarão, casos de Alejandro Valverde (Movistar) e de Rui Costa (UAE Team Emirates), por exemplo.

No que diz respeito a portugueses, o campeão do mundo de 2013 voltará a apostar forte na Liège-Bastogne-Liège, depois de no ano passado Wout Poels (Sky), lhe ter "tirado" a vitória. Já Nelson Oliveira (Movistar) está escalado para a Volta a Flandres e para o Paris-Roubaix, corrida que no ano passado não lhe correu bem. Caiu e foi obrigado a estar um tempo longe da competição.

Nem na Omloop Het Nieuwsblad (198,3 quilómetros), nem na Kuurne-Bruxelles-Kuurne (200,7) haverá portugueses, mas não faltam motivos de interesse. A começar que a meteorologia não estará nada simpática, algo que da perspectiva de quem assiste descansado no sofá às corridas é sempre mais uma razão para esperar espectáculo. Ambas as corridas têm transmissão em directo no Eurosport.

Veja aqui a lista de inscritos para a Omloop Het Niewsblad.

»»Mais sectores de pavé para alimentar a lenda do Paris-Roubaix««

»»Theuns entre a motivação de mostrar a sua qualidade e o medo de não conseguir voltar a estar ao melhor nível««