15 de janeiro de 2017

Rui Oliveira: "A Axeon Hagens Berman é uma equipa que nos ajudará a todos os níveis para que cheguemos ao patamar mais alto do ciclismo"

Rui Oliveira está no estágio da equipa na Califórnia
(Fotografia: Axeon Hagens Berman)
As expectativas são enormes. E com razão. Os gémeos Oliveira deram um salto de gigante na carreira que os pode colocar no caminho rumo ao mais alto nível do ciclismo. Talento não lhes falta, agora há que continuar o trabalho de adaptação à estrada, depois do sucesso alcançado na pista. Dificilmente poderiam estar numa melhor equipa. A Axeon Hagens Berman tem um historial invejável de colocar ciclistas no World Tour e um dos mais recentes foi precisamente um português. Ruben Guerreiro (Trek-Segafredo) é agora considerado um dos jovens a seguir em 2017. Rui e Ivo Oliveira têm potencial para lá chegar, mas há muito a fazer, principalmente para Rui, que devido a uma queda e uma operação mal feita em 2016, passou parte do ano em recuperação e ainda está a tentar reencontrar-se com a melhor forma. O agora seu director desportivo, Axel Merckx, quer que Rui faça a sua recuperação com calma, o que está a ajudar a dar muito confiança ao jovem, que acredita que escolheu a equipa certa para chegar ao topo.

"Só tenho que lhe agradecer pela compreensão que tem tido comigo. Tem-me dito para não apressar a recuperação e levar as coisas com calma porque a época é longa e tenho muitas corridas pela frente. Isso, obviamente deixa-me mais tranquilo e com vontade de retribuir a confiança", referiu Rui Oliveira ao Volta ao Ciclismo. O ciclista de 20 anos está na Califórnia a realizar o seu primeiro "campo de treino" com a Axeon Hagens Berman, mas em breve poderemos vê-lo em Portugal com a nova equipa, já que poderá participar na Volta ao Alentejo, se estiver em condições físicas para tal.

Para 2017, Rui Oliveira deseja que o ano lhe "traga menos azares". "Tendo a oportunidade de ingressar no estrangeiro, numa das melhores equipas de formação do mundo, quero evoluir o máximo que conseguir, tanto como ciclista, como pessoa", salientou.


"Neste momento só me resta recuperar a 100%. Tenho estado a fazer tudo o que posso para melhorar rapidamente e bem, para quando voltar a correr não me sentir muito mal"

Mas vamos recuar àquele dia de 28 de Maio, no Tour de Gironde, em França e que passados tantos meses continua a marcar a preparação do jovem ciclista. Rui Oliveira não conseguiu desviar-se de uma queda que ocorreu à sua frente, numa descida, em estrada molhada devido à chuva, e embateu "com força o fémur no chão". "Ainda me tentei levantar para seguir, mas não consegui e aí percebi que algo estava mal... Tive que ser operado no dia a seguir em França. Assim foi e voltei passado uns dias para Portugal", recordou. No entanto, o pior não tinha passado: "Cerca de três meses depois continuava a sentir enormes dores na zona da virilha, o que não era normal. Fiz um TAC e os médicos viram que a operação que me fizeram em França não ficou bem feita e só conseguiria ficar bem se fosse operado novamente."

À segunda ficou tudo bem feito e Rui Oliveira agradece à equipa de Espregueira Mendes por ter permitido que pudesse voltar a concentrar-se numa verdadeira recuperação e treinar para estar de novo ao seu melhor. "Neste momento só me resta recuperar a 100%", realçou. Porém, estamos em Janeiro e o ciclista disse ter a "plena noção que a preparação está atrasada e que estes primeiros meses serão difíceis". "Tenho estado a fazer tudo o que posso para melhorar rapidamente e bem, para quando voltar a correr não me sentir muito mal."

Apesar desta situação, Rui Oliveira está muito motivado, afinal está numa equipa que o permite sonhar muito alto e a receber o apoio necessário para ultrapassar uma fase complicada. "Basta ver que alguns dos melhores ciclistas do mundo na actualidade passaram pela 'escola' do Axel [Merckx]. Penso que é uma equipa que nos ajudará a todos os níveis para que cheguemos ao patamar mais alto do ciclismo", salientou.

Passagem da pista para a estrada... mas sem abandonar a pista

Depois dos gémeos Oliveira terem alcançado os melhores resultados na pista para Portugal, o desejo agora é vingar na estrada. Porém, Rui Oliveira afirmou que irá, sempre que possível, continuar a conjugar as duas vertentes e Axel Merckx já havia confirmado que o calendário dos gémeos será dividido entre a pista e a estrada. "Naturalmente que o meu foco principal estará na estrada, mas gostaria de continuar a fazer pista. Não com a regularidade que tenho feito até aqui, mas pelo menos as competições mais importantes, como europeus e mundiais, se assim for compatível, porque adoro mesmo competir na pista a esse nível", confessou.


"Sou uma pessoa que gosta de desafios e de mostrar o meu valor"

Rui Oliveira frisou que se sente preparado para enfrentar outro nível de ciclismo e apostar nesta passagem da pista para a estrada. "Sou uma pessoa que gosta de desafios e de mostrar o meu valor. No ano de 2016 estava muito confiante na estrada - até mais do que na pista - e os resultados estavam a aparecer. Portanto, acredito que tenho o potencial para fazer a passagem para a estrada, sabendo das dificuldades, tendo em conta o que se passou", explicou.

As primeiras pedaladas rumo a um outro nível do ciclismo já começaram na Califórnia e claro que, como qualquer outro jovem ciclista, Rui Oliveira tem os seus sonhos. Estar entre a elite na Volta a Flandres é um dos seus objectivos, mas também fazer a Volta a França. "Esta última mais pelo mediatismo que a envolve." No entanto, ainda está a descobrir-se como ciclista: "Com o passar do tempo irei perceber o que se encaixa melhor nas minhas características, mas do que tenho feito, gosto de fazer corridas por etapas."

A pressão é algo com que Rui terá de viver, mas não parece preocupado, muito pelo contrário, revela confiança. "Sendo esta uma das melhores equipas de formação é normal sentir alguma pressão. Sei que tenho valor e quero demonstrar isso para o Axel e para todos aqueles que acreditam em nós. É normal querer que as coisas resultem da melhor maneira, vamos ver agora como seguirão as coisas", afirmou.


"Ele [Ruben Guerreiro] reforçou que nós estamos bem entregues e que se levarmos tudo a sério as coisas vão correr bem"

Nos últimos dois anos Ruben Guerreiro evoluiu na Axeon Hagens Berman e Rui Oliveira falou com o ciclista que agora está na Trek-Segafredo, equipa que conta com John Degenkolb, Alberto Contador, Bauke Mollema e outro português, André Cardoso. "Ele reforçou que nós estamos bem entregues e que se levarmos tudo a sério as coisas vão correr bem. Disse-me também que é uma equipa com um grande ambiente e com excelentes pessoas, o que torna o nosso trabalho muito mais fácil", referiu.

Rui Oliveira deixou ainda um sentido agradecimento a Ruben Guerreiro: "Agradeço ao Ruben pelo que fez na equipa e pelo que tem feito, porque sendo ele o corredor que é e tendo alcançado o que alcançou na Axeon, abriu de certa forma as portas para mim e para o Ivo."

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