19 de novembro de 2016

A história pouco importa. Quando quem manda decide, acaba e pronto...

O último pódio do Critérium International: Thibaut Pinot (o vencedor, da FDJ),
Pierre Latour (segundo, da AG2R) e o holandês Sam Oomen (Giant-Alpecin)
(Fotografia: Facebook FDJ)
Já se sabe como são as coisas e não importa se estamos a falar de ciclismo ou de outras áreas. A história é cada vez mais desvalorizada, tudo em prol de dinheiro e poder. Quem manda faz o que quer, não se preocupando que uma decisão coloque ponto final a uma longa história que proporcionou uma ligação única com quem a seguiu, mas principalmente com quem a viveu. De um momento para o outro dizem que acabou. Ficamos admirados, sem reacção. Resta-nos as memórias que perdurarão no tempo.

Esta sexta-feira a ASO - que organiza a Volta a França e outras provas importantes - anunciou que não haverá Critérium International em 2017. Assim, sem mais nem menos, é o ponto final de 85 anos de uma corrida que revelou jovens talentos e que teve grandes nomes a vencê-la. Tinha aquele estranho formato de dois dias, com três etapas, com um deles a ter um contra-relógio e a tirada conjunta. Nem sempre foi assim, nem sempre foi para todos os ciclistas. Mas são 85 anos de história que conhecem abruptamente o fim. Talvez se compreenda que já não era a corrida com a importância de outrora. Mas continuava a ser vista como uma forma de preparar a Volta a França, sendo mesmo chamada um "mini Tour" (muito mini mesmo!).

Mas vamos à justificação: "Após sete anos de excelente colaboração de Porto-Vecchio, cidade que recebeu a 100ª edição da Volta a França em 2013, os representantes da Amaury Sport Organisation e da comunidade decidiram não renovar o acordo relativo ao Critérium International. No entanto, as relações desenvolvidas durante este tempo irão continuar a produzir eventos relacionados com o ciclismo. Apesar dos vencedores serem de grande qualidade, o pelotão foi diminuindo dado os vários eventos que se realizam durante esta fase da temporada."

As corridas de um dia Gent-Wevelgem e E3 Harelbeke e a prova por etapas da Volta à Catalunha também se realizam no mesmo fim-de-semana. Portanto, O Critérium International começou a chamar menos estrelas do World Tour, mas por outro lado foi revelando alguns jovens de qualidade, continuando a chamar os principais ciclistas franceses. Nos sete anos referidos no comunicado - que foram os que se realizaram na zona da Córsega - os vencedores foram Pierrick Fredigo, Frank Schleck, Cadel Evans, Chris Froome, Jean-Christophe Peraud (duas vezes) e Thibaut Pinot. O francês da FDJ será assim o último vencedor da competição que em 1932 teve Léon Le Calvez como o primeiro.

Já agora, Tiago Machado soma dois pódios nesses sete anos, tendo sido terceiro em 2010 e 2014. Não há mais portugueses nesta longa lista de 85 pódios.

Tentando resumir 85 anos em poucas palavras. Começou como o Critérium National de la Route, uma corrida de um dia só aberta aos ciclistas franceses. Nem a Segunda Guerra Mundial parou a competição. Entretanto, os estrangeiros que estivessem em equipas francesas também passaram a ser aceitas e o holandês Joop Zoetemelk foi o primeiro não francês a conquistar a prova, em 1979. Dois anos depois a prova recebeu o nome que agora tinha e terminaram as restrições de nacionalidades.

E como qualquer corrida com tanta história, somam-se os grandes nomes que a venceram: Bernard Hinault, Sean Kelly, Miguel Induráin ou Ivan Basso, entre outros e além dos que já foram referidos em cima. Jens Voigt, Raymond Poulidor e Emile Idée foram os que mais vitórias somaram: cinco cada um.

Muitas histórias por contar, muitos momentos do ciclismo mundial que agora farão parte de uma prova que 85 anos depois não sobreviveu à lei do dinheiro, do poder e da vontade (ou falta dela) de uns.

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