2 de outubro de 2016

Rampa de Palmela não era para brincadeiras e os eleitos para o Mundial não deram hipótese

José Gonçalves venceu o Campeonato Nacional de Rampa em Palmela
No miradouro ao lado do Castelo de Palmela a paisagem é de tirar a respiração. Ali no topo, junto às muralhas, só as placas dos 100 metros e 50 metros indicavam que algo se ia passar. Sobe-se um pouco mais. Junto à meta montava-se o pódio, afinal era dia de receber o Campeonato Nacional de Rampa. Não há o reboliço de uma Volta a Portugal ou Volta ao Algarve. Muito longe disso. A calma é total entre habitantes e os próprios ciclistas. Bom... talvez os noivos que se preparavam para dar o nó pudessem ser os únicos um pouco nervosos.

Descendo a rua, já com as instruções de como chegar ao centro, onde estarão os ciclistas, começa um percurso grande parte em empedrado. Em certos momentos, cuidado. Sapatos errados e lá vai uma escorregadela. E é melhor nem pensar como será quando chove! Faz-se uma paragem e olha-se para cima. "Quantos pratos de massa terão comido os corredores para subir isto?", questiona-se, mentalmente, meio a brincar, meio a sério. A caminhada no empedrado é cerca de um quilómetro até ao centro, mas a partida ainda está a mais um de distância. Nesta prova é sempre a subir. Não é para todos e claramente foi pouco atractiva para as principais equipas portuguesas, ainda mais no final de uma temporada que já vai longa. Só o Sporting-Tavira apareceu em peso com ciclistas de vários escalões. Entre os nove atletas de elite que se inscreveram, três eram da equipa algarvia.

Neste sábado, até podiam ter levado toda a equipa e mesmo assim o nome que mais se ouviria em Palmela seria o de Rafael Reis (W52-FC Porto). O ciclista da casa, foi cumprimentado por muitos e falado por quase todos. Quando se voltou a fazer a caminhada rampa acima, a pergunta que mais se ouvia era: "Quando parte o Rafael?" Mas houve um bónus nesta prova. E que bónus. Os gémeos Gonçalves apareceram e escusado será dizer se Rafael era o mais aguardado, quando os equipamentos verdes da Caja Rural se viam, os aplausos foram muitos, comprovando a popularidade de José e Domingos. Ninguém arriscava muito tentar dizer um nome, é que lado a lado já não é fácil distingui-los, equipados é quase impossível se não se souber o dorsal!

José desistiu na 11ª etapa da Vuelta e depois só fez os Europeus, pelo que tenta fazer quilómetros a pensar na presença nos Mundiais do Qatar. Domingos acompanha o irmão e também já não compete desde 17 de Setembro, quando não completou o Memorial Marco Pantani. E para Domingos ainda há a questão de estar em final de contrato e sem futuro definido.

Mas em Palmela não se falava em contratos, falava-se... "Para a direita, para a direita, é mais fácil!" iam-se ouvindo os conselhos de quem conhece aquelas ruas como a palma da mão e tentava ajudar indicando onde o empedrado era menos agressivo. Diga-se que, ainda assim, ser menos agressivo era relativo, numa subida que tinha 8,6% de pendente média, mas claramente com zonas a ultrapassar, e bem, os 10%.

Quando os ciclistas entravam naquelas ruas acolhedoras já vinham com mais de um quilómetro em esforço intenso. Podia-se gritar para a direita ou para a esquerda o mais alto que se conseguisse, mas o rosto de muitos não conseguia esconder o sofrimento. Alguns nem pareciam aperceber-se de quem os tentava apoiar.

Junto às portas, nas janelas, numa ou outra esplanada, houve quem saísse à rua para aplaudir. Não foram muitos. Talvez por ter sido a primeira vez. Aproveitava-se aqui e ali para falar de ciclismo que afinal pode não competir com o futebol, mas continua a mover muitas paixões. E a verdade é que esta rampa de Palmela tem um potencial atractivo muito interessante e há que esperar que a competição até possa ser explorada através de melhor marketing para chamar mais adeptos, o que ajudará, naturalmente, se aparecerem mais nomes fortes do pelotão nacional. Tudo a seu a tempo, talvez...

Para quem assistiu foi uma tarde calma, em que pode ver de perto os ciclistas. Poucos, mas dedicados. Para os corredores foi um dia com algum sofrimento, principalmente para os mais novos, pois na elite a descontracção de final de temporada era mais do que notória.

Homens do pódio: José Gonçalves, Luís Mendonça (elite)
e os juniores Daniel Viegas e João Almeida
O homem da casa, Rafael Reis, não faltou à chamada - foi o único da sua equipa - mas não estando a 100% fisicamente, mesmo sendo um especialista no contra-relógio e conhecendo como ninguém aquelas ruas, apenas foi sexto a 26 segundos do vencedor José Gonçalves, que completou os 2,22 quilómetros em 4:29 minutos. Luís Mendonça (Sicasal/Constantinos/UDO) foi segundo a sete segundos - o ciclista participou na Volta a Portugal pela equipa brasileira da Funvic Soul Cycles-Carrefour - e a fechar o pódio esteve um dos homens do Sporting-Tavira, Valter Pereira, a 17 segundos.

Nos sub-23 e nos juniores também se destacaram ciclistas que vão estar nos Mundiais do Qatars. César Martingil ganhou com 4:41 minutos nos sub-23, enquanto nos juniores João Almeida (Bairrada) venceu com 4:48 seguindo-se o colega e também parceiro de viagem até ao Médio Oriente, Daniel Viegas, que ficou a 19 segundos.

O pódio dos campeões em Palmela
A prova era aberta a quem quisesse tentar a sua sorte, distribuídos pela categorias de Masters 30, 40, 50 e 60. Paulo Simões (Viveiros Vítor Lourenço/Sintra) com 5:04 minutos, Alberto Almaral (Batotas/Ponte de Lima) com 4:58,  Vítor Lourenço (Viveiros Vítor Lourenço/Sintra) com 5:31 e Manuel Domingos (Casa do Benfica em Almodôvar) com 6:41 foram os vencedores nas respectivas categorias.

Só as senhoras não tiveram direito a camisolas de campeãs nacionais, pois apenas duas aparecerem. Fátima Vida (ProRebordosa/Garrafeira Gome) completou a distância em 9:14 minutos e ficou com a medalha na elite e Marta Branco (ASC/Focus Team-Vila do Conde) com o tempo 6:36 venceu em juniores.

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