25 de outubro de 2016

Giro: um percurso para o espectáculo e para a incerteza até final. Digno de uma 100ª edição

Um novo logotipo para celebrar uma edição especial
Pedia-se um percurso inesquecível. Um percurso digno de tornar uma 100ª edição memorável, como o número especial assim o exige. E os organizadores da Volta a Itália não desiludiram. A apresentação foi esta terça-feira, mas os perfis das etapas acabaram por ser revelados mais cedo, supostamente sem que estivesse previsto. Mas isso agora pouco importa. Já não valeria a pena andar com secretismos, pois afinal saber que o Mortirolo e o Stelvio fazem parte do percurso, assim como outras montanhas míticas, era o que mais se desejava saber, num Giro difícil e para os grandes trepadores (assim como bons contra-relogistas), mas que terá momentos para os sprinters.

Nesta 100ª edição, o Giro irá passar por 21 das 25 regiões italianas, começando na Sardenha, terra de Fabio Aru (Astana). O italiano mostrou-se satisfeito por ter a possibilidade de iniciar a tentativa de ganhar o seu primeiro Giro em casa. Aru, que se estreou na Volta a França este ano, já assumiu que em 2017 o Giro e a Vuelta (que venceu em 2015) são os objectivos. Porém, o seu rival também terá a possibilidade de pedalar onde nasceu, pois o percurso passa pela Sicília de Vincenzo Nibali. Camisola rosa de 2016 e 2013, o "Tubarão", como é conhecido, vai tentar a terceira vitória, desta feita ao serviço da nova equipa da Bahrain-Merida.

O percurso é para os trepadores, mas haverá etapas para os sprinters, principalmente nos primeiros dias. Poderá acontecer como no ano passado que a meio do Giro acabam por começar a abandonar dada as dificuldades que não são de todo para as características dos homens mais rápidos do pelotão. Mas falemos dos contra-relógios. Temos um na 10ª etapa de 39,2 quilómetros, praticamente plano e em 2017 não há etapa de consagração (algo que não é inédito no Giro), pois mais um contra-relógio individual poderá decidir o vencedor no último dia. São 28 quilómetros a terminar em Milão, mais uma vez planos. Desta feita não há crono-escalada e o contra-relógio por equipas volta a não figurar nesta competição de três semanas.

Mesmo sem falar da montanha, percebe-se porque razão Chris Froome reagiu muito bem ao percurso da Volta a Itália, o que terá deixado o director da corrida, Mauro Vegni, muito satisfeito. Claro que elogiar é uma coisa, estar no Giro será outra, mas o britânico lá vai deixando umas dicas que não é impossível... Falta saber se a Sky deixará o seu líder arriscar fazer o Giro e o Tour no mesmo ano. Recorde-se que desde 1998 que ninguém consegue o feito de vencer as duas corridas no mesmo ano, então alcançado por Marco Pantani.

Mas regressando ao percurso, logo na quarta etapa teremos a primeira das cinco chegadas em alto, no Etna. Porém, algumas das etapas de montanha terminam com descidas, algo sempre ao jeito de Vincenzo Nibali. Sete etapas ultrapassam os 200 quilómetros, uma outra tem 199, mas depois há tiradas curtas, mas duras. Porém, recordando um pouco o que aconteceu este ano, as Dolomitas voltam a estar no centro das atenções. Vão receber a etapa rainha, que começa em Moena e termina em Ortisei/St. Ulrich. Serão 137 quilómetros, com cinco subidas, três das quais acima dos dois mil metros de altitude.




A última semana será diabólica, pois na 16ª etapa, por exemplo, serão 227 quilómetros com este perfil:




E até ao contra-relógio final não haverá descanso, pelo que a expectativa é grande e o desafio aliciante para os ciclistas. O percurso é entusiasmante, ao contrário da Volta a França, que apesar de algumas novidades, como a aposta em algumas subidas curtas, mas difíceis, a verdade é que o Tour é um pouco mais conservador. O Giro mantém o seu perfil de dureza e será quase impensável não se assistir novamente a um grande espectáculo.

Esta Volta a Itália fará também algumas homenagens ao passar por locais que estão ligados a grandes nomes do ciclismo, como a aldeia onde nasceu e onde está sepultado Fausto Coppi, ou então a terra de Gino Bartali, ou o local de uma das grandes exibições de Marco Pantani, entre outros exemplos.

Falta saber se o percurso do Giro irá convencer os grandes nomes da modalidade actualmente. A organização ambicionava ter Chris Froome, Alberto Contador e Nairo Quintana. Os últimos dois estão obcecados pela Volta a França, o britânico... vamos ver. De recordar que Froome venceu a 100ª edição do Tour e seria algo histórico e único se vencesse a 100ª edição do Giro.


Giro d'Italia 2017 - Il Percorso (The Route) por giroditalia


Alejandro Valverde é possível que volte depois do pódio deste ano, Steven Kruijswijk - que deixou a vitória fugir em 2016 devido a uma queda - será um nome a ter em conta. Daniel Martin ameaça fazer uma época diferente, o que poderá significar trocar o Tour pelo Giro. Há dúvidas quanto aos planos da Orica-BikeExchange. Depois do segundo lugar de Johan Esteban Chaves no Giro e o terceiro na Vuelta, não está definido se a equipa australiana vai apostar forte na Volta a França, lançando o colombiano e os irmãos Yates, ou se divide as "tropas" e tentará ter uma bom conjunto de ciclistas em Itália. Também falta saber se Ilnur Zakarin regressará à Volta à Itália, ou se agora, sem Joaquim Rodríguez na Katusha, o russo poderá ser resguardado para atacar o Tour.

E se as palavras de Froome terão deixado Mauro Vegni a pensar que poderá concretizar pelo menos um dos seus objectivos, já a FDJ e AG2R não estiveram nada de acordo com as ideias de Thibaut Pinot e Romain Bardet em estar no Giro. As equipas francesas querem que os seus líderes franceses estejam na mais importante competição do ano... que é em França!

Muitas dúvidas e ainda se terá de esperar um pouco para serem dissipadas. Mas que este percurso pede a presença dos melhores, isso é uma verdade (veja aqui todas o perfil de todas as etapas).

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