24 de outubro de 2016

"Achei que deveria mudar e procurar uma equipa onde tivesse mais liberdade. O Boavista foi a melhor opção"

Uma das últimas fotografias como ciclista da Efapel. Em 2017 as cores serão outras
É uma das transferências do ano no ciclismo nacional. Depois de seis anos na Efapel, Filipe Cardoso considerou que estava na altura de mudar e, com alguma influência do amigo Rui Sousa, optou por assinar pela Rádio Popular-Boavista, onde espera ter outro tipo de liberdade nas corridas. "Não prometi vitórias ao Boavista, nem o Boavista me exigiu nada. A única coisa que lhes disse foi que continuaria a ser o ciclista que fui nos últimos anos e eles estavam precisamente interessados nesse Filipe", salientou ao Volta ao Ciclismo. Sendo um dos ciclistas mais acarinhados do pelotão, a sua mudança foi muito bem recebida pelo adeptos axadrezados e a equipa terá agora dois dos ciclistas que muito gostam de mexer nas corridas. "O Rui tem uma forma de correr de ataque e eu também não gosto muito de ir parado na corrida. Portanto, é uma equipa que tem tudo para dar espectáculo."

Além de Rui Sousa - que adiou a "reforma" - e Filipe Cardoso, a Rádio Popular-Boavista garantiu o regresso de João Benta e tem assegurado um conjunto de jovens interessantes. "Parece-me ser uma equipa capaz de estar na luta em praticamente todas as corridas", referiu Filipe Cardoso. Mas afinal, o que o fez terminar uma longa relação com a Efapel? "Foi um conjunto de factores. O que acontece nas equipas, na maneira como eu vejo as coisas, ficam nas equipas. Ficas as coisas boas e as menos boas. Ao fim de seis anos achei simplesmente a proposta do Boavista mais aliciante, não só os números, mas também as condições e a forma como poderei gerir a minha época", explicou. "Achei que deveria mudar e procurar uma equipa onde tivesse alguma liberdade. O Boavista é a melhor opção", acrescentou.

Aos 32 anos, Filipe Cardoso inicia assim uma nova fase na carreira e com uma grande ambição, pois espera que essa liberdade se traduza em estar em condições para lutar por mais vitórias e, claro, a pensar na Volta a Portugal. "Uma equipa na Volta a Portugal que tem um líder forte acaba por estar influenciada por isso. Este ano procurei uma com líderes com menos responsabilidade na Volta e, por consequência, a equipa tem menos trabalho, digamos assim. Mas isto é tudo teoria. Pode acontecer chegar à Volta e um ciclista do Boavista ser líder logo nos primeiros dias. Se tiver de trabalhar, isso não será problema nenhum", afirmou.

"Foram três quedas em duas etapas e uma delas violentas. Acabei por partir costelas, deslocar um ombro, tive de ser cozido em muitas partes do corpo, tive um derrame na coxa e 25 dias de cama"

E Filipe Cardoso tem "contas a ajustar" com a Volta a Portugal. A de este ano é descrita pelo ciclista como "dolorosa" e eis as razões: "Foram três quedas em duas etapas e uma delas violenta. Acabei por partir costelas, deslocar um ombro, tive de ser cozido em muitas partes do corpo, tive um derrame na coxa e 25 dias de cama." Escusado será dizer, que a Volta a Portugal não correu nada como o esperado, mas "o ciclismo é assim", disse Filipe Cardoso, que, no entanto, realça que a época não foi toda má. "O meu objectivo inicial era ganhar uma corrida antes da Volta. Ganhei uma etapa no [Grande Prémio] Abimota e a geral, portanto essa parte ficou arrumada. A partir daí a concentração e os objectivos eram apenas a Volta a Portugal. Penso que estava bem fisicamente, mas depois aconteceu o que se sabe..."

A relação com as redes sociais e os seus fãs

Filipe Cardoso é dos ciclistas portugueses mais activos nas redes sociais. Partilha vários momentos da sua vida e, por exemplo, a longa recuperação depois das quedas na Volta a Portugal, foi mostrada com vários pormenores e também com um toque de humor. Porém, o ciclista disse que não o faz como uma forma de gerir a sua imagem: "O que faço não é para ter esse retorno. Aquilo que eu coloco nas redes sociais ou a maneira como lido com as pessoas que gostam de ciclismo, é a forma como eu, como amante da modalidade, iria gostar de ver, gostar de saber. O ciclismo sem o público não é nada."

"É mesmo muito bom receber esse apoio. Se não for por isso também não faria sentido andar feito maluco a fazer corridas de bicicleta!"

Admitiu que nem sabe quantas pessoas o seguem no Facebook. São mais de 16 mil. "A minha vida pessoal é uma coisa e a minha vida de atleta outra. Eu vou partilhando o que posso. Mas, sinceramente, a minha vida pessoal e de atleta acabam por se fundir e eu sou assim!" Filipe releva um grande respeito pelos adeptos que pelas estradas do país o apoiam intensamente e até não hesitou em dizer: "É mesmo muito bom receber esse apoio. Se não for por isso também não faria sentido andar feito maluco a fazer corridas de bicicleta!" A forma que encontra para retribuir esse apoio é "dar o máximo de atenção que possa e retribuir aquilo" que lhe dão na estrada.

Não esquece um metro da vitória na Senhora da Graça

"Vencer na Volta a Portugal é inesquecível. Vencer numa etapa mítica é ainda mais." Filipe Cardoso não esquece a vitória de 2015 na Senhora da Graça. Uma tirada para a história e que representa em muito quem é o ciclista. Fez mais de 30 quilómetros sozinho e aguentou até à meta, já com a concorrência (um deles o colega Joni Brandão) bem próxima. "Claro que me lembro perfeitamente desse dia... de cada metro que foi decisivo e do que sofri. Lembro-me dos últimos 30/40 quilómetros em que fui sozinho... lembro-me perfeitamente de todo o filme desse dia..."

O amigo Rui Sousa

Quando se tornou profissional, Filipe Cardoso começou ao lado de Rui Sousa, foram colegas de equipa, colegas de quarto e tornaram-se amigos. Entre encontros e desencontros em algumas formações, voltam agora a estar juntos na Rádio Popular-Boavista. "Uma grande parte de eu ter assinado pela equipa foi devido a algumas conversas que tive com o meu amigo Rui Sousa. Ele fez um pressing muito grande para eu ir para o Boavista e explicou-me como as coisas funcionam lá. Teve peso na minha decisão", confessou.

"Só acredito que é o último ano [do Rui Sousa] quando ele realmente deixar"

Filipe Cardoso começou a carreira ao lado de Rui Sousa e agora Rui Sousa pode acabar a sua ao lado de Filipe Cardoso, depois de ter adiado a retirada que tinha planeado para este ano. "Só acredito que é o último ano quando ele realmente deixar. Por isso, vamos esperar pela Volta a Portugal, pelo fim da época para saber, qual será a opção dele."

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