30 de setembro de 2016

De autor de uma recuperação milagrosa a azarado do ano

(Fotografia: Facebook de Adriano Malori)
Quando a 9 de Setembro Adriano Malori começou o Grande Prémio do Quebéque, estava-se perante um feito para o ciclista da Movistar, mas também perante um exemplo de superação física e mental. Oito meses depois de uma queda cujas consequências obrigaram os médicos a colocá-lo em coma induzido, o italiano tinha completado uma recuperação milagrosa - nas suas próprias palavras - e voltava a ser um atleta de alta competição. Porém, Malori parece perseguido por azar, pois 19 dias, uma nova queda, clavícula partida e mais uma recuperação pela frente.

A história de Adriano Malori começou a 22 de Janeiro no Tour de San Luis, na Argentina. Esse dia mudou a vida do italiano. Malori confessou que agora encara tudo de forma diferente. As prioridades mudaram aos 28 anos. Mas voltando àquele dia. O ciclista da Movistar apenas se recorda que tinha falado com Vincenzo Nibali (Astana) para tentar fugir. A partir daí, foi o colega Francisco Ventoso que lhe contou o que aconteceu. Iam a cerca de 65 quilómetros de hora quando Malori passou por um buraco. A queda dificilmente poderia ter sido mais aparatosa. Foi com o rosto ao chão. "O cérebro moveu-se, roçou sobre o meu crânio e devido a isso fiquei com um hematoma", explicou Malori na conferência em que anunciou o seu regresso à competição. "Por causa do acidente tenho quase metade da cara de titânio!"



Em coma induzido durante alguns dias, dos primeiros em que esteve acordado pouco se recorda, mas sabe que a namorada Elisa viajou de imediato para a Argentina para o acompanhar e nunca mais deixou de estar ao seu lado. A 16 de Fevereiro, Malori estava finalmente estável para viajar para Espanha, ingressando numa clínica em Pamplona. Então estava plenamente convencido que seria operado ao ombro -já começava a mover a perna - e que voltaria rapidamente aos treinos para em Março estar novamente a competir. Mas o seu mundo desabou quando o médico lhe explicou que não seria operado ao ombro. "O problema que tens no teu ombro é que o teu cérebro desconectou-se da parte direita do corpo", disse-lhe o médico. Malori reagiu com desespero: "Estive a chorar durante mais de uma hora sem parar, até à exaustão, depois de ouvir aquelas palavras."

Era o momento da verdade para Adriano Malori. O italiano sabia que ou reagia ou a sua carreira podia muito bem terminar ali se se deixasse derrotar pelo negativismo. Com 16 vitórias como profissional, Malori é um especialista do contra-relógio e um dos homens de confiança da Movistar desde 2014.

A 25 de Fevereiro, o italiano, com parte do corpo paralizado, ingressou no centro especializado para recuperações de casos neurológicos. A 28 de Abril saiu pelo próprio pé e até andou um pouco de bicicletas dias antes. Regressou a Itália, procurando o conforto caseiro, mas cedo percebeu que o centro onde estava a continuar a sua recuperação não era o mais adequado. "Ali trabalham casos mais extremos, de pessoas que não podem aspirar a uma recuperação total, mas 'apenas' querem ser pessoas normais. Eu já tinha voltado a sê-lo. O que eu queria voltar a ser era um desportista profissional", salientou. A opção foi voltar a Espanha, passando duas semanas nesse país e uma em casa.

Apesar da vontade de recuperar, nem tudo foi fácil. Malori admitiu que não conseguiu ver uma etapa do Giro e do Tour. Disse que nessas alturas nem parecia que era o seu desporto. Uma boa parte do dia passava em reabilitação e no Verão casou com Elisa.

A grande surpresa foi quando no final de Agosto Malori anunciava que estava de volta e o italiano espera que a sua história de superação possa ser um exemplo para outros: "Que alguém passe o que eu passei e em oito meses volte a competir, não a treinar, mas a competir... é uma coisa extraordinária, é um milagre. Tinha de contar a toda a gente."

A história de Malori atravessou fronteiras. Um exemplo de como a vontade e a dedicação podem contrariar diagnósticos. Porém, o ciclismo pode ser bastante ingrato e foi o que aconteceu. Nas cinco corridas em que participou não completou nenhuma, mas não era isso que se pedia. Malori apenas tentava recuperar a sensação de ser um ciclista. No entanto, na Milano-Torino, um buraco voltaria a obrigá-lo a uma ida ao hospital. Desta vez foi um colega Rubén Fernández quem o atingiu, provocando a queda de Malori e também a Michele Scarponi (Astana). Malori ficou ali, estendido no chão, provavelmente a pensar como o azar o persegue.

Ao regressar à competição Malori garantiu que não sentia medo, algo comum nos ciclistas quando são vítimas de quedas aparatosas e com danos tão graves como a do italiano. Psicologicamente há sempre algo que pode ser difícil de recuperar. Malori parecia estar a conseguir o impossível. Uma clavícula partida, resultado deste último acidente, é das lesões que mais acontecem no ciclismo, mas muito mais do que mais uma recuperação física, a questão é se o italiano vai não só demonstrar força de vontade para uma nova recuperação, mas também se nas corridas as poderá encarar sem ser perseguido por um 2016 que tanto foi azarado, como o ano de uma das histórias incríveis do desporto.

Ladrões com pouco jeito ou boas fechaduras. Duas equipas quase ficaram sem bicicletas

Bicicletas da equipa sul-africana  Dimension Data
Roubos de bicicletas de equipas profissionais não são inéditos. Afinal valem milhares de euros, o que faz um roubo ser potencialmente bastante rentável. Só em 2013, a Lampre foi vítima de um assalto, a selecção dinamarquesa ficou sem 30 bicicletas durante os Mundiais de Florença, a Rússia também não escapou. Mais tarde foi a Cannondale que teve um prejuízo de 100 mil euros em equipamentos roubados e no ano passado Sonny Colbrelli ficou sem uma bicicleta que tinha na sua garagem.

Escusado será dizer que no que diz respeito à segurança, as equipas apostam forte, ainda mais as do World Tour, pois uma bicicleta de determinada equipa ou ciclista tem um valor que vai muito além daquilo que se compra no mercado. Quanto valerá uma bicicleta que pertença a Mark Cavendish, por exemplo?

A Lotto-Jumbo e a Dimension Data estarão bastante satisfeitas com o sistema de segurança que escolheram para os seus camiões. Na noite de quinta-feira, dia 22 - durante o Eneco Tour - as equipas estavam no mesmo hotel, a sul de Maastricht, quando os ladrões atacaram ambos os camiões, tentando forçar as fechaduras e assim ter acesso às bicicletas e ao restante equipamento de milhares de euros. A equipa holandesa confirmou ao Cycling News a tentativa de roubo e os media holandeses dão conta que também a formação sul-africana se apercebeu que teve sorte.

Ladrões com pouco jeito ou boas fechaduras... Para as duas equipas foi certamente um respirar de alívio, pois mesmo com bons orçamentos, ninguém quer ter prejuízos como aquele que um roubo pode infligir. 

29 de setembro de 2016

Um monumento para se batalhar pela vitória e pelos pontos da sobrevivência

É o último monumento. Mas Il Lombardia é este ano muito mais do que isso, muito mais do que uma corrida pela glória. É também uma corrida pela sobrevivência. Com as mudanças anunciadas pela UCI para 2017, nomeadamente quanto às licenças World Tour, nesta derradeira prova com pontos em jogo, Dimension Data, Giant-Alpecin, AG2R e mesmo a própria Lampre-Merida vão procurar somar os que lhe permitam ficar um pouco mais confortáveis no momento da atribuição das 17 licenças para os próximos dois anos, sabendo que são 18 equipas à procura do bilhete dourado. Mais do que uma vitória, neste sábado alguns ciclistas sabem que terão a responsabilidade de somar pontos e para tal terão de terminar nos dez primeiros.

Será portanto uma luta dentro da habitual luta pela conquista do quinto monumento do ano. Alberto Contador, Fabio Aru, Rigoberto Uran, Johan Esteban Chaves e Joaquim Rodríguez - que adiou a reforma para participar na corrida que conquistou em 2012 e 2013 - serão homens com ambição à vitória e perante o difícil percurso que terão pela frente, prevê-se espectáculo para os 241 quilómetros, entre Como e Bergamo (uma inversão relativamente à rota do ano passado).

Nairo Quintana e Chris Froome são as grandes ausências, já tendo ambos colocado um ponto final na temporada. Agradeceu Peter Sagan que assim tem garantido o primeiro lugar do ranking World Tour. Porém, a Lombardia atraiu grandes trepadores. Daniel Martin procura a sua segunda vitória e terá uma Etixx-QuickStep de luxo a acompanhá-lo e com mais cartas para jogar, como David de la Cruz - fez uma excelente Volta a Espanha, vencendo uma etapa - Gianluca Brambilla (ganhou etapas no Giro e Vuelta) e a estrela em ascensão Julian Alaphilippe.

Romain Bardet tem a responsabilidade de dar pontos que poderão ser importantes para a AG2R, sendo também um candidato à vitória, depois uma uma boa temporada que teve como prémio o segundo lugar no Tour. Outro francês, Warren Barguil está pressionado a terminar no top dez. O ciclista da Giant-Alpecin não teve a época desejada, mas parece estar em o boa forma nesta recta final, com um 25º lugar na Tre Valli Varesine e 10º na Milano-Torino, duas corridas vistas como preparação para a Lombardia.

Jarlinson Pantano (IAM) está em alta desde a Volta a França. Já tem um contrato garantido com a Trek-Segafredo, tem-se mostrado um lutador e será de esperar ver o colombiano ao ataque. Bauke Mollema (Trek-Segafredo), Robert Gesink (Lotto-Jumbo), Andrey Amador (Movistar) e John Darwin Atapuma (BMC) são outros nomes a ter em conta.

E depois temos a Sky. Mesmo sem Froome, Peter Kennaugh é hipótese, mas a equipa tem ainda Mikel Landa, Mikel Nieve, Leopold König e Nicolas Roche, todos ciclistas com características que podem assentar bem nesta corrida. E claro, Wout Poels, o gregário de luxo de Froome no Tour e que este ano deu o primeiro monumento à Sky na Liège-Bastogne-Liège. O holandês não se importaria nada de fazer uma dobradinha histórica para a equipa.

Quanto a antigos vencedores, além de Rodríguez e Daniel Martin, estarão presentes o suíço Oliver Zaugg (IAM) - ganhou em 2011 então pela Leopard Trek - Philippe Gilbert (BMC) - venceu em 2009 e 2010, na sua era de ouro na Lotto - e Damiano Cunego. O veterano ciclista italiano, 35 anos, soma três vitórias em 2004 (ano em que venceu também o Giro), 2007 e 2008, triunfos divididos entre a Saeco e a Lampre. Porém, há muito que Cunego está afastado do seu melhor, tendo reaparecido este ano na luta pela classificação da montanha na Volta a Itália. Agora na Nippo-Vini Fantini, nunca se sabe como esta corrida poderá mexer emocionalmente com Cunego e o italiano até poderá aparecer na luta. Vincenzo Nibali (Astana) não estará presente para tentar repetir o triunfo de 2016.

Ainda regressando à luta pelos pontos das equipas, enquanto umas batalham pela sobrevivência, a Tinkoff vai tentar fazer o pleno. Neste momento é a Movistar que lidera com 1431 pontos, mais 70 do que a formação russa. O primeiro lugar no ranking World Tour - e depois de garantido o individual por Sagan - seria uma despedida mais interessante, depois de ter falhado nas três grandes voltas, ainda que o eslovaco tenha dado a Oleg Tinkov um monumento: a Volta a Flandres.

Os portugueses

André Cardoso e Rui Costa estarão presentes

(Fotografia: Facebook Rui Costa)
Serão cinco, mas é em Rui Costa que se centram as atenções. O homem da Lampre-Merida entra no grupo daqueles com responsabilidade para somar pontos para a equipa e tendo em conta que já terminou em terceiro lugar, em 2014, Rui Costa é também ele candidato a um bom resultado. Sabe-se que tem um gosto especial pela Liège-Bastogne-Liège, mas a Lombardia é uma corrida que o pode favorecer.

Nelson Oliveira (Movistar), Tiago Machado (Katusha), Sérgio Paulinho (Tinkoff) e André Cardoso (Cannondale-Drapac) terão as habituais missões em apoiar os respectivos líderes.

O percurso

Este ano o pelotão começa com a belíssima vista do Lago Como e irá até Bergamo. Terá oito subidas pela frente, a maioria novas na competição. Uma inovação para refrescar uma prova que celebra a 110ª edição e talvez seja marcada por um pouco de chuva. Destaque para a ascensão a Valcava, com 11,6 quilómetros, com pendente média de 8%, mas com vários metros a mais de 10%. Algumas subidas serão curtas mas com pendentes complicadas. E atenção à curta subida já em Bergamo que será feita em pavé e que em 2015 foi onde Daniel Martin fugiu para conquistar a vitória à frente de Alejandro Valverde e Rui Costa.

A título de curiosidade, este ano não haverá a habitual "apresentação" do novo campeão do mundo, como aconteceu em edições anteriores. Devido à escolha de Doha como país anfitrião dos Mundiais, a prova foi adiada para Outubro, em vez de se realizar em Setembro, na tentativa dos ciclistas apanharem temperaturas mais amenas (na perspectiva do Qatar).

Il Lombardia poderá ser visto no Eurosport a partir das 14:45.


28 de setembro de 2016

Mundiais: Sem sprinters, Portugal vai lutar com as (boas) armas que tem

José Gonçalves terá a oportunidade para se mostrar
nos Mundiais do Qatar antes da estreia no World Tour em 2017
Demorou, mas finalmente José Poeira anunciou quem vai levar aos Mundiais do Qatar (9 a 16 de Outubro). A missão para escolher apenas três ciclistas não era fácil perante um percurso plano, feito para sprinters e o próprio seleccionador já havia confessado ao Volta ao Ciclismo que "o Mundial não era muito bom" para a equipa portuguesa. Com uma "crise" de sprinters no país, José Poeira optou por uma equipa de luta, destacando-se nesse perfil José Gonçalves. Nelson Oliveira é um bom rolador e também poderá entrar numa fuga e Sérgio Paulinho será a voz da experiência, que poderá ser muito importante numa prova em que a selecção nacional parte com o objectivo de fazer o melhor que for possível num pelotão preenchido com os melhores sprinters do mundo, ávidos de conquistar um título numa competição que desde 2011 não tinha um percurso tão perfeito para eles e tão cedo não deverá voltar a ter.

Com o final precoce da carreira de Manuel Cardoso, Portugal perdeu a sua principal referência no sprint nos últimos anos. Daniel Mestre (Efapel) tem sido um dos homens que se tem destacado nos sprints, mas o próprio admite não ser um sprinter puro e quando se fala numa competição onde estarão Mark Cavendish, André Greipel, Marcel Kittel, Elia Viviani, Peter Sagan (presença ainda não confirmada), Tom Boonen ou os jovens Caleb Ewan e Fernando Gaviria, é compreensível que a aposta mais correcta seja enviar homens com experiência internacional e que podem tentar criar alguma surpresa.

Será estranho não ver Rui Costa, campeão do mundo em 2013, mas a verdade é que o ciclista da Lampre-Merida não teria um papel muito determinante, ainda mais numa temporada que já vai longa. Com os Mundiais a serem mais tarde do que o costume e com temperaturas que podem chegar aos 40 graus, além do percurso plano... Qatar não era lugar para Rui Costa. Certamente que Bergen, na Noruega, será um alvo mais apetecível em 2017 para o ciclista português.

Mas o que importa é quem lá vai estar e o destaque vai para José Gonçalves. O homem da Caja Rural não escondeu o desalento quando ficou de fora dos eleitos para os Jogos Olímpicos. Foi ao Europeus e agora tem a oportunidade para estar nos Mundiais. Uma coisa não compensa a outra. Os Jogos realizam-se de quatro em quatro anos e o percurso no Rio de Janeiro até era um que certamente José Gonçalves gostaria de ter competido. No Qatar, o português terá de recorrer ao seu espírito lutador e à qualidade de bom rolador. É ciclista que sabe sprintar, mas voltamos à conversa de que estamos a falar dos melhores do mundo em busca da camisola do arco-íris.

José Gonçalves (27 anos) é uma escolha óbvia, porque se há alguém que não se vai deixar intimidar pelos nomes que estarão no pelotão, esse alguém é este ciclista. O único senão é que Gonçalves não está a realizar um final de temporada muito animador. Abandonou a Volta a Espanha na 11ª etapa devido a cansaço e nos Europeus cumpriu o seu papel de apoio a Rui Costa, terminando na 68ª posição. Porém, estamos a falar de um ciclista com provas dadas, que este ano venceu a Volta a Turquia (além de um triunfo numa etapa na Volta a Portugal) e tem contrato garantido para em 2017 entrar no World Tour, representando a Katusha. Só se poderá esperar que José Gonçalves além de estar bem fisicamente, esteja também com aquela motivação que o tornou conhecido no ciclismo, pois quando resolve tentar ganhar, é certo que vai dar trabalho às equipas e muito espectáculo.

(Fotografia: Facebook Federação Portuguesa de Ciclismo)
Nelson Oliveira (27) teve um primeiro ano de Movistar muito positivo e afirmou-se definitivamente com um dos melhores contra-relogistas do pelotão internacional com o terceiro lugar num dos esforços individuais no Tour, o sétimo nos Jogos Olímpicos e o quarto nos Europeus. A principal aposta do português será precisamente no contra-relógio, onde será o único representante luso na categoria de elite, e claro que se espera que possa pelo menos repetir um top dez, ainda que também aqui é um pouco prejudicado por ser um percurso plano. Na prova de estrada, Nelson Oliveira poderá integrar alguma fuga ou então aliar-se a José Gonçalves tentando ajudar o colega a surpreender os sprinters. E já se sabe que no que diz respeito em defender um líder, Nelson é exímio, mesmo quando se trata de um percurso que não dá grande ambição à equipa portuguesa.

(Foto:Facebook Federação Portuguesa de Ciclismo)
A chamada de Sérgio Paulinho é claramente a necessidade de ter um homem experiente, com grande capacidade para analisar a corrida, algo que poderá ser importante para José Gonçalves, que por vezes é um pouco impulsivo e poderá beneficiar da inteligência do medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. Aos 36 anos, o ciclista que durante tantos anos foi um dos homens de confiança de Alberto Contador, vive agora uma fase de indefinição na sua carreira com o final da Tinkoff, não tendo ainda contrato para 2017, ainda que esta quarta-feira tenham surgido notícias do possível interesse da Movistar. Nos Europeus em Plumelec, França, Sérgio Paulinho foi simplesmente fenomenal no trabalho para Rui Costa, demonstrando que tem muito para dar. Revelou também apresentar-se em boa forma nesta fase final de temporada, algo também importante quando se irá enfrentar condições tão adversas.

Em Doha espera os ciclistas um percurso de 257,5 quilómetros, 151 dos quais serão pedalados através do deserto, com um circuito de 15,2 quilómetros (sete voltas) a concluir a prova. Desde que Rui Costa ganhou a camisola do arco-íris em 2013, que em Portugal sempre se ambiciona alto e mesmo sem sprinters é de esperar que as cores nacionais sejam, no mínimo, bem representadas e no contra-relógio... nunca se sabe.

Nos restantes escalões, Portugal estará representado nos sub-23 por César Martingil (Liberty Seguros/Carglass), Ivo Oliveira (Liberty Seguros/Carglass) e Nuno Bico (Klein Constantia), enquanto nos juniores os eleitos foram Daniel Viegas (Bairrada), João Almeida (Bairrada) e Pedro Teixeira (ACDC Trofa). Tal como Nelson Oliveira, Ivo Oliveira e os juniores Daniel Viegas e João Almeida vão competir na prova de fundo e no contra-relógio.



E se Peter Sagan decidir não ir aos Mundiais?

Sagan está a divertir-se perante a dúvida que lançou sobre a sua
eventual ausência dos Mundiais do Qatar
(Fotografia: Facebook Peter Sagan)
Uma brincadeira de Peter Sagan? Ou mais uma decisão surpresa do campeão do Mundo e Europa? O eslovaco resolveu deixar os jornalistas na dúvida alegando que poderá não marcar presença nos Mundiais do Qatar no próximo mês. Seria certamente uma escolha mais do que surpreendente, chocante. Muito mais do que quando resolveu não ir à prova de estrada dos Jogos Olímpicos e participar antes na prova de BTT. 

Sagan lançou a confusão ainda durante o Eneco Tour e continua a alimentá-la nas redes sociais. É difícil acreditar que o eslovaco não vá tentar manter a camisola arco-íris, ainda mais depois dos sprints que fez na semana passada. No entanto, o que seria os Mundiais sem a grande estrela do ciclismo mundial?

Peter Sagan é um sucesso desportivo e monetário. A sua ausência da competição no Qatar faria com que desde logo se perdesse um dos ciclistas mais lutadores e com talento para o espectáculo. Iria passar-se uma boa parte do tempo a falar-se da ausência do eslovaco e a tentar perceber porque é que alguém com tanta ambição decidiu não defender o título conquistado há um ano. Monetariamente, muitos patrocinadores não ficariam nada agradados e estamos a falar em receitas directas das marcas que se juntam à competição e claro às receitas de publicidade nas transmissões televisivas. Sagan tem uma importância tal para afectar tudo isso.

Porém, o mais provável é que os patrocinadores estejam mais do que satisfeitos com toda esta situação. É que esta alegada indefinição de Sagan fez com que se falasse ainda mais do ciclista e da competição. E todos esperam por ele em Doha.

Recuando um pouco, o caso começou quando numa conferência durante o Eneco Tour Sagan disse: "Não sei se vou ao Qatar, ainda tenho de decidir." Um jornalista, admirado, perguntou-lhe na brincadeira se não queria ganhar cinco camisolas do arco-íris consecutivas. Resposta: "Tenho a de campeão da Europa, por isso..." Outro repórter adoptou um tom mais sério: "Há hipótese de não ir?" "Sim", respondeu o eslovaco.

Segundo as descrições dessa conferência de imprensa, os jornalistas ficaram divididos quanto à possibilidade de tudo não passar de uma brincadeira de Peter Sagan ou de as afirmações serem sérias. Claro que Sagan adora este tipo de atenção e já depois de terminar o Eneco Tour no terceiro lugar e garantir o primeiro lugar do ranking World Tour pela primeira vez na carreira, o ciclista publicou um vídeo para alimentar a dúvida.
Após os dois sprints de Sagan no Eneco Tour (vídeos em baixo) ninguém acredita que o campeão do mundo não vá à luta. Mesmo não sendo um sprinter puro, com o eslovaco tudo é possível e chega a esta altura do ano em grande forma, mesmo depois de 72 dias de competição que se traduziram em quase 12 mil quilómetros.

Etapa 3




Etapa 4




Uma coisa certa, propositadamente ou não, estas afirmações de Peter Sagan tornaram-se num excelente golpe de marketing... a não ser que resolva mesmo não ir ao Qatar!

»»As camisolas de Peter Sagan, "o melhor desta geração"««

»»O homem dos seis milhões««

27 de setembro de 2016

Dúvida desfeita: Greipel lidera Alemanha, Kittel livre para lutar pela vitória. Agora entendam-se na estrada

Greipel pode respirar de alívio, pois conseguiu ser o líder da selecção alemã
A federação alemã tentou solucionar o problema da forma menos polémica possível. Porém, a ver vamos se não se limitou a adiá-la e se não poderá custar um título mundial que a Alemanha não conquista desde 1966, então por Rudi Altig. André Greipel e Marcel Kittel vão os dois aos Mundiais do Qatar, O primeiro será o líder da equipa, enquanto o homem da Etixx-Quick-Step terá liberdade para tentar também vencer. Dois ciclistas ambiciosos, dois dos melhores sprinters da actualidade, dois egos enormes numa equipa que apenas terá seis homens. Ou seja, quatro estarão, alegadamente, a ajudar Greipel, faltando saber como se irá comportar Kittel.

A tensão entre os dois ciclistas tornou-se pública há cerca de um mês. Primeiro foi André Greipel quem chamou a atenção da necessidade da federação decidir quem seria o líder a equipa, com Kittel a reagir - com discurso idêntico - pouco tempo depois. As expectativas era que um acabaria por ficar de fora das escolhas para evitar divisões na equipa, ainda mais tendo em conta que a Alemanha apenas pode levar seis ciclistas, ao contrário das outras selecções mais fortes, que serão constituídas por nove.

Greipel agradeceu a confiança e deixou desde logo um recado: "Com apenas seis homens não somos favoritos, mas se todos puxarmos juntos, temos uma boa hipótese." O "Gorila", como é conhecido, da Lotto Soudal tem 34 anos, 136 vitórias como profissional, 21 das quais nas grandes voltas (11 no Tour, seis no Giro e quatro na Vuelta). Um currículo impressionante para quem foi lançador de Mark Cavendish e só em 2012 optou seguir o seu próprio caminho. Em 2016 soma dez vitórias, incluindo o campeonato nacional, três etapas na Volta a Itália e o triunfo nos Campos Elísios no Tour.

Kittel não contará com apoio nos Mundiais (Fotografia: Facebook Marcel Kittel)
Marcel Kittel tem 28 anos e é a estrela maior do ciclismo alemão. Depois de um 2015 para esquecer devido a doença (só conquistou uma vitória na Volta à Polónia), quebrou contrato com a Giant-Alpecin e foi para a Etixx-QuickStep e teve uma primeira fase de temporada fantástica, mas a partir da Volta a França perdeu fulgor. Soma 11 vitórias, mais a vitória na geral e por pontos na Volta ao Dubai e também a dos pontos na Volta ao Algarve. No Giro conquistou duas etapas e vestiu a camisola rosa e no Tour só conseguiu um triunfo. Tem 72 vitórias como profissional, 13 nas grandes voltas.

Com currículos destes seria difícil deixar de fora um deles. São grandes sprinters, mas mais do que nunca será preciso coesão se a Alemanha quer voltar ter um ciclista com a camisola do arco-íris, mas corre um sério risco de ver uma divisão estragar a grande oportunidade, que poderá não surgir tão cedo para os sprinters, tendo em conta as cidades que já foram escolhidas para os próximos Mundiais (Bergen na Noruega e Innsbruck na Áustria) e as que são favoritas para 2019 e 2020 (Yorkshire no Reino Unido e Boyacá na Colômbia).

Tudo poderá depender do comportamento de Marcel Kittel. Habituado a ter "comboios" a preparar os seus sprints, o alemão saberá que isso não vai acontecer e Kittel não é muito forte em tentar encontrar caminho sem ajuda. E será que Kittel está disposto a ajudar Greipel? A história desta participação alemã nos Mundiais do próximo mês no Qatar ainda terá mais alguns capítulos.

Na tentativa de criar um ambiente pacífico na equipa estarão os quatro que irão trabalhar, supostamente, para Greipel. A escolha será feita entre estes cinco nomes: John Degenkolb, Tony Martin, Marcel Sieberg, Nils Politt e Jasha Sütterlin.


26 de setembro de 2016

"Desde o início da Volta a Portugal que as pessoas me diziam 'mais um ano, mais um ano'"

Ao fim de 19 anos como profissional Rui Sousa considerou que era altura de abandonar a competição. Era esse o seu plano, mas o ciclista não resistiu a um pedido da equipa e também ao apelo de centenas de pessoas que nas estradas por onde passou a Volta a Portugal foram pedindo para que ficasse mais um ano.

"Desde o início da Volta que as pessoas me pediam 'mais um ano, mais um ano, mais um ano'. E não eram duas ou três, eram dezenas... centenas...", recordou Rui Sousa numa curta conversa com o Volta ao Ciclismo, pois preparava-se começar um dos circuitos que fecham a temporada em Portugal. Para o veterano ciclista, este pedido "tem a ver com a longevidade". "As pessoas habituaram-se a ver-me durante tantos anos... é um carinho muito especial e para mim é uma mais valia e que, naturalmente, me deu força para continuar mais um ano", salientou.

"A Volta a Portugal mexe mesmo comigo. É a corrida onde consigo ter uma motivação extra"

E Rui Sousa é mesmo uma referência entre o público. A sua forma de correr sempre lhe valeu o respeito e admiração dos adeptos. Para Rui Sousa não existe impossível e destacou-se vezes sem conta pela forma como lutou por vitórias de etapa... pela vitória na sua querida Volta a Portugal. Nunca conseguiu. Subiu cinco vezes ao pódio e terminou 14 vezes no top dez, inclusivamente este ano. "A Volta mexe mesmo comigo. É a corrida onde consigo ter uma motivação extra. Não é que nas outras não esteja motivado, mas a Volta dá uma motivação extra para treinar, para trabalhar cada vez mais e fazer ali o melhor possível", confessou.

O ciclista reforçou que se sente "perfeitamente bem" na Volta a Portugal, que lhe dá "um ânimo muito grande" e, por isso, podemos esperar novamente um Rui Sousa a tentar dar o seu melhor em 2017, apesar de então já contar 41 anos. Mas na Volta é como se rejuvenescesse.

Nono na edição deste ano, a 6:44 do vencedor Rui Vinhas (W52-FC Porto), Rui Sousa afirmou estar satisfeito com o que fez em 2016: "Sendo eu um ciclista com uma idade bastante alta e atendendo ao que foi a temporada, acho que estive bem em dois ou três momentos. E quando a equipa me pediu para estar melhor, encontrei-me bem. Mas perante a fortaleza dos adversários... foi o possível e estou satisfeito com a minha temporada."

Garantiu que 2017 será mesmo o último ano, referindo que foi durante a Volta a Portugal que surgiu o convite da Rádio Popular-Boavista para não terminar a carreira como estava a planear. E um dos objectivos será ajudar os mais jovens a evoluir. Sendo Rui Sousa não só a voz da experiência do pelotão nacional, mas também uma voz de liderança, muito se tem a aprender com um dos ciclistas mais acarinhados pelo público português e dos mais respeitados no ciclismo.

Mundiais: Bélgica aposta na experiência, França aposta numa grande dor de cabeça

Nacer Bouhanni e Arnaud Démare, uma rivalidade francesa
(Fotografia: Jérémy-Günther-Heinz Jähnick/Wikimedia Commons)
Aos poucos vão sendo conhecidas as escolhas dos seleccionadores para os Mundiais do Qatar. E se se continua à espera da revelação mais desejada - André Greipel ou Marcel Kittel a liderar a Alemanha - hoje ficou-se a saber que a França apostou numa potencial enorme dor de cabeça. Nacer Bouhanni e Arnaud Démare foram os dois convocados, mas o líder só será escolhido já em Doha. Dada a rivalidade entre os dois ciclistas, Bernard Bourreau assumiu um elevado risco. Já na Bélgica é tudo mais pacífico. Tom Boonen vai liderar a selecção, mas o campeão olímpico Greg van Avermaet terá liberdade para tentar aproveitar alguma oportunidade que surja no percurso plano de 257 quilómetros.

Bouhanni e Démare estiveram cinco anos na FDJ e enquanto iam revelando-se como dois potenciais fortes sprinters, a rivalidade foi crescendo. Em 2014 tornou-se insuportável os dois continuarem na equipa, principalmente quando Bouhanni foi preterido na escolha da equipa para a Volta a França, depois de ter ganho três etapas no Giro. Démare não conquistou numa tirada no Tour, enquanto Bouhanni foi depois à Vuelta ganhar duas. Tornou-se óbvio que a FDJ teria de escolher e foi Bouhanni quem bateu com a porta, preferindo assinar por uma equipa Profissional Continental, a Cofidis, mas garantir que seria líder e que estaria no Tour.

Bouhanni (26 anos) tem sido mais ganhador, mas também tem sido um problema para a equipa devido a sua personalidade. Sprints irregulares custaram-lhe triunfos, um murro num homem que fazia barulho num hotel custou-lhe a presença na Volta a França. Ainda assim, como sprinter, Bouhanni apresenta nove vitórias em etapas em 2016, Démare (25) soma cinco, ainda em que algumas competições a concorrência tenha sido quase nula. Porém, Bernard Bourreau explicou a escolha, pois uma das vitórias do ciclista da FDJ foi no monumento Milano-Sanremo, o que para o seleccionador é significado de um atleta com capacidade para provas duras de um dia... Bouhanni foi quarto e ficou fora do sprint devido a um problema mecânico. Démare tem ainda no currículo um título mundial em sub-23.

A acompanhar a dupla estarão ciclistas da Cofidis e da FDJ: Christophe Laporte, Geoffrey Soupe, Cyril Lemoine e Yoann Offredo, William Bonet, Marc Sarreau. Uma equipa divida. Um risco enorme que será muito interessante ver como e se será possível gerir. Démare a apoiar Bouhanni ou vice-versa, parece ser impossível. Apostar nos dois ciclistas poderá não resultar frente a outras equipas unidas em torno de um homem. De fora ficou, como se esperava, Bryan Coquard (24 anos). Mesmo com 11 vitórias, nenhuma de World Tour, o sprinter da Direct Energie está apenas na lista de suplentes, mas terá de esperar por outra oportunidade.

(Fotografia: Facebook Etixx-QuickStep)
Já na Bélgica deverá ser tudo mais pacífico. Tom Boonen tem feito um final de temporada apontando a uns últimos Mundiais. O belga vai retirar-se depois do Paris-Roubaix em 2017, mas vai procurar a segunda camisola arco-íris, 11 anos depois de ter vencido a prova em Madrid. Aos 35 anos Boonen está longe de ser um favorito perante a concorrência, mas as vitórias na RideLondon e na clássica de Bruxelas motivaram o ciclista. Uma queda no Eneco Tour ainda assustou, mas os médicos garantiram que estava tudo bem e Boonen está concentrado em preparar os Mundiais.

(Fotografia: Facebook Greg van Avermaet)
Quanto a Greg van Avermaet (31 anos), pode não ser um puro sprinter, mas consegue defender-se em algumas situações e depois da temporada que teve era quase um crime deixá-lo de fora ou obrigá-lo a trabalhar apenas para Boonen. Na Milano-Sanremo, monumento considerado como a corrida para os sprinters, Avermaet foi quinto, mostrando que consegue debater-se com os melhores. Mas foram sete as vitórias em 2016, incluindo a sua primeira clássica na Bélgica, uma etapa na Volta a França (vestiu ainda a camisola amarela) e, claro, a medalha de ouro olímpica. Avermaet terá luz verde para tentar procurar uma oportunidade para surpreender uns sprinters ávidos em vestir a camisola do arco-íris.

Philippe Gilbert foi o último belga campeão do Mundo em 2012, mas o ciclista da BMC afirmou que não iria ao Qatar, um circuito que considerou não ser para as suas características. Sep Vanmarcke também ficou de fora assim como Gianni Meersman, que terá sonhado com uma chamada após vencer duas etapas na Vuelta.

A apoiar Boonen e Avermaet estarão Oliver Naesen (segundo no Eneco Tour), Jens Keukeliere (vencedor de uma etapa na Vuelta), Jasper Stuyven (ganhou a Kuurne-Brussels-Kuurne), Iljo Keisse, Nikolas Maes, Jens Debusscherre e Jurgen Roelandts.

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25 de setembro de 2016

Acenar com um bom cheque para garantir desesperadamente pontos a pensar na licença World Tour

Joaquim Rodíguez recebeu uma bicicleta especial depois de anunciar
o final da carreira (Fotografia: Facebook Team Katusha)

A batalha dos pontos entre a Bahrain-Merida, Bora-Hansgrohe e a Dimension Data está a provocar um aumento no valor dos contratos de ciclistas que tenham somado pontos durante 2016. O desespero das formações é tal, que até quem anunciou a reforma poderá não resistir a um regresso, mesmo que curto, para assim amealhar uns milhares de euros, podendo ser decisivo para uma equipa conseguir a desejada licença World Tour.

Com as duas primeiras equipas a tentar entrar no principal escalão e a revelar um potencial monetário muito interessante para os ciclistas que têm assinado por elas, a sul-africana Dimension Data começa a ver que é cada vez o elo mais fraco, recusando entrar nesta desenfreada procura por contratar atletas pelos pontos. Este domingo Edvald Boasson Hagen até ganhou a última etapa do Eneco Tour para a Dimension Data, mas também foi revelado que Joaquim Rodríguez poderá estar tentado a adiar por uns meses o fim da carreira, aliciado por um cheque chorudo da Bahrain-Merida.

Com os 1290 pontos do espanhol, a equipa do Médio Oriente ficaria numa boa posição para conseguir a tal licença. De recordar que são 18 equipas atrás de 17 licenças para os próximos dois anos, a serem atribuídas pela UCI. A TJ Sport-Lampre ainda chegou a ser colocada como mais uma das formações a correr o risco de ficar fora, mas o projecto chinês que comprou a equipa italiana, começa a ganhar forma e além de manter alguns dos principais ciclistas também já fez duas contratações de peso: Ben Swift (Sky) e John Darwin Atapuma (BMC). Tudo indica que a luta será mesmo entre as três equipas mencionadas em cima.

Segundo a Gazzetta dello Sport, Joaquim Rodríguez terá sido abordado para assinar pela nova equipa Bahrain-Merida - que terá Vincenzo Nibali como líder - mas o seu contrato será um pouco diferente. O espanhol terá de participar no Tour Down Under, na Austrália, primeira prova do World Tour, de forma a "accionar" os pontos. Depois, o veterano ciclista terá liberdade para gerir o resto do ano. O jornal italiano escreve ainda que Joaquim Rodríguez poderá depois assumir um cargo na estrutura da equipa.

A Bahran-Merida tem sido nas últimas semanas muito agressiva nas contratações. Já não procura apenas ciclistas em final de contrato. Fala-se na mudança de Ion Izaguirre da Movistar para a formação do Médio Oriente. O espanhol tem mais um ano de contrato, mas a Bahrain-Merida estará disposta a indemnizar a Movistar e garantir assim mais 1845 pontos, os que Izaguirre tem até ao momento somados. Também terá feito uma abordagem a Mikel Landa, mas a missão em tirar o ciclista à Sky tem contornos de impossível, pois até o espanhol afirmar querer ficar no conjunto britânico.

Joaquim Rodríguez, 37 anos, surpreendeu quando durante a Volta a França anunciou a retirada. Depois deixou os adeptos espanhóis em choque quando optou por já nem sequer fazer uma última tentativa na Vuelta. Porém, a Katusha acabou por tirar Purito da reforma antecipada e o espanhol irá participar nas três provas de um dia desta semana em Itália, terminando então a carreira no último monumento do ano, o Giro di Lombardia, prova que conquistou em 2012 e 2013.



24 de setembro de 2016

Voeckler prepara abandono... e a Volta a França não será mais a mesma

(Fotografia: Facebook Direct Energie)
Lutador, um pouco irascível, um estilo inconfundível a pedalar e a língua de fora. Thomas Voeckler tornou-se uma das imagens da Volta a França. Foram 15 anos em que o francês tornou-se num daqueles ciclistas que se está sempre à espera de o ver fazer algo no Tour. A competição marcou a sua carreira e, por isso mesmo, o veterano ciclista decidiu que o momento certo para a sua retirada aproxima-se e será quando cortar a meta nos Campos Elísios em 2017.

Ainda nem houve tempo para nos habituarmos que no próximo ano Fabian Cancellara, Joaquim Rodríguez, Frank Schleck, Jean-Christophe Péraud ou Ryder Hesjedal já não estarão no pelotão e, no entanto, começaram a surgir os anúncios de abandono no próximo ano. Tom Boonen arruma a bicicleta depois do Paris-Roubaix, Voeckler considera que aos 38 anos é uma boa altura para deixar a competição. E ainda nem terminámos 2016...

"A Volta a França deu-me tudo, portanto vou terminar onde tudo começou", afirmou Thomas Voeckler numa entrevista ao jornal L'Equipe. "Foi uma decisão difícil de tomar. Estava a dormir mal por causa disto. E então, um dia, tornou-se tudo claro. Disse a mim mesmo: 'Fazes uma última Volta a França e depois acabas", acrescentou.

Assinou o primeiro contrato profissional em 2001, com a então Bonjour, e pode não ter sido um ciclistas de inúmeras vitórias, mas deixou a sua marca na maior competição de três semanas. E para um francês, Voeckler deixará o ciclismo sentido-se realizado, mesmo que nunca tenha vencido a geral e o pódio lhe ter escapado naquele memorável ano de 2011.

2011 marcou a carreira de Voeckler quando vestiu a camisola
amarela durante nove dias na Volta a França
Nenhuma das três etapas que conquistou no Tour foi vencida naquele ano. Porém, em 2011, Voeckler demonstrou uma resiliência que entrou para a história. Naquela edição repetiu-se a frase "hoje Voeckler deverá perder a camisola amarela" tantas vezes que a certa altura já se começava a acreditar numa surpresa. Tudo começou quando na nona etapa a fuga triunfou, com Voeckler a ser segundo, atrás de Luis Leon Sanchez, com quase quatro minutos de vantagem para o pelotão. Seguiram-se nove dias de camisola amarela, de esforço, de sacrifício, de uma luta intensa e de recuperações impressionantes quando parecia que o francês estava a ceder. Suportou todos os ataques, até que o Alpe d'Huez o vergou e nem no pódio o deixou ficar. Cadel Evans seria o vencedor em 2011, com os irmãos Schleck, Andy e Frank, a ficarem em segundo e terceiro, respectivamente. Voeckler foi quarto a 3:20 minutos de Evans e a um minuto de conseguir pelo menos o último lugar no pódio.

Em 2012 conseguiria estar no desejado pódio como vencedor da classificação da montanha, mas desde então Voeckler não tem assumido a liderança da equipa como noutros anos. O francês prefere um papel de atacante, procurando etapas, dando espectáculo com aquela inconfundível forma de pedalar e claro, a língua de fora. Quando o faz, temos a certeza que Voeckler está a dar tudo o que tem. Faz o que quer, quando quer.

Foi um ciclista que tanto conquistou fãs como cultivou alguns ódios de estimação, muito por culpa de ser uma daquelas pessoas que considera o politicamente correcto desnecessário. Se tem uma opinião, não tem problema em expressá-la.

A imagem de marca de Thomas Voeckler
Talvez por isso nunca tenha tido uma carreira ao mais alto nível. Só em 2014 esteve no World Tour, quando a Europcar por lá passou. Foi fiel à formação francesa, ali é senhor do seu destino e nunca abdicou dessa condição. Aliás, quando a equipa correu o risco de terminar por falta de patrocinador, Voeckler até sugeriu que o seu ordenado fosse reduzido para ajudar a continuidade da formação e a sua, mas lá apareceu a Direct Energie.

O futuro? Director desportivo parece não entusiasmar Thomas Voeckler, mas ser um dos treinadores da selecção francesa é algo que o ciclista se vê a fazer. Mas para já, o francês quer então preparar o final da sua carreira e depois descobrir o seu caminho.

Gostem ou odeiem, a verdade é que a Volta a França não será a mesma sem o ciclista da língua da fora que sempre teve dificuldade em perceber o significado de desistir. E quem ganhou com isso foi o espectáculo.

23 de setembro de 2016

André Cardoso vai estar ao lado de Alberto Contador

Ciclista português representou a Cannondale (antiga Garmin) durante
quatro anos (Fotografia: Facebook André Cardoso)
Depois de José Mendes confirmar que em 2017 estará ao lado de um dos melhores ciclistas do mundo, Peter Sagan, na futura Bora-Hansgrohe (actual Bora-Argon 18), agora é outro português que no próximo ano estará com outra das grandes referências do ciclismo: André Cardoso vai juntar-se a Alberto Contador na Trek-Segafredo. E claro, será também companheiro do jovem Ruben Guerreiro (Axeon-Hagens Berman), que vai dar o salto para o World Tour.

A equipa americana continua a reforçar-se com vista em tornar-se numa das mais fortes tanto na época das clássicas como para as provas de três semanas. Jarlinson Pantano (IAM), Michal Gogl (Tinkoff), Jesús Hernández (Tinkoff), Matthias Brändle (IAM), Koen de Kort (Giant-Alpecin) e John Degenkolb (Giant-Alpecin) são fortes apostas de uma Trek-Segafredo muito activa no mercado, numa altura em que se prepara para perder a sua grande estrela Fabian Cancellara. O suíço vai abandonar o ciclismo no final desta temporada.

Os rumores que André Cardoso preparava-se para deixar a Cannondale-Drapac - equipa que representa há quatro anos quando foi contratado pela então Garmin - surgiram durante a Volta a Espanha. Estranhamente o português não foi um dos eleitos da equipa para a competição, depois de ter feito o Giro, mas não ter estado no Tour. Esperava-se que  André Cardoso fosse um dos homens de trabalho para Andrew Talansky, mas acabou excluído. A Trek-Segafredo surgiu desde logo como a provável equipa interessada em contratar o português de 32 anos.

André Cardoso construiu uma carreira como um gregário de respeito, mas também como um ciclista de alcançar bons resultados, pois mesmo a trabalhar para o um líder, consegue terminar no top-20 de grandes voltas, como aconteceu por duas vezes na Vuelta e este ano no Giro. Só com Rigoberto Uran a equipa esteve perto de ganhar uma Volta a Itália, mas André Cardoso foi conquistando o seu lugar no pelotão internacional.
Em 2012 André Cardoso deixou o Tavira para tentar uma carreira no estrangeiro e como tantos outros compatriotas, foi a espanhola Caja Rural que lhe proporcionou essa oportunidade. Durante os três anos captou a atenção de equipas do World Tour e acabou na Garmin, que em 2015 juntou-se à Cannondale, numa fusão de duas equipas do principal escalão.

A Trek-Segafredo sabe que contará a partir de Janeiro com um ciclista dedicado, leal, trabalhador e que poderá ser muito importante ao lado seja de Alberto Contador ou de Bauke Mollema, os dois líderes para as grandes voltas. É um passo importante na carreira de André Cardoso, ainda mais se conseguir ajudar Contador a conquistar a muito desejada Volta a França. E atenção, não se poderá esquecer que na Cannondale raramente teve a oportunidade de lutar por vitórias, mas tem capacidade para tal e já merece vencer pela primeira vez no World Tour (como profissional conta com uma vitória de etapa na Volta a Portugal em 2011.

Mas o ciclista será o primeiro a dizer que está na Trek para trabalhar, para se sacrificar. Porém, ao lado de Contador a notoriedade será bem diferente. A responsabilidade também. "Estou muito contente com este novo desafio. Está claro que a Trek quer dar um salto de qualidade no próximo ano. Tenho muita vontade de trabalhar para grandes ciclistas como Contador ou Mollema. Precisamos de ser uma equipa que assuma a responsabilidade nas corridas, o que requer uma excelente preparação", afirmou André Cardoso num comunicado publicado no site da equipa.

O director da formação americana, Luca Guercilena, não poupou elogios ao português, destacando os top 20 que o ciclista alcançou em grandes voltas. "As suas performances constantes a este nível fazem dele um excelente apoio para Contador e Mollema. Estou confiante que o seu apoio nas montanhas será muito valioso para eles e para a equipa como um todo", destacou.

Durante anos foi Sérgio Paulinho o português que acompanhou, e muito bem, Alberto Contador. Agora será a vez de André Cardoso de assumir essa função com o espanhol a ter a certeza que terá um ciclista forte para o apoiar nas montanhas. Mais uma grande transferência de um ciclista português.

Confira as principais mexidas no mercado desde que abriu a 1 de Agosto.

Nairo Quintana sonha ser campeão do Mundo... em 2020

Quintana foi recebido por milhares de pessoas em Bogotá e Boyacá
depois de vencer a Vuelta (Fotografia: Facebook Movistar Team)
Nairo Quintana juntou-se a representantes da Federação Colombiana de Ciclismo para uma campanha ambiciosa. A grande figura do ciclismo da Colômbia quer ver os Mundiais em Boyacá em 2020 e assim tentar conquistar a camisola do arco-íris na sua terra natal.

O recente vencedor da Volta a Espanha e também do Giro (em 2014) junta assim mais um sonho ao já conhecido "sueño amarillo", ou seja, o desejo de ganhar a Volta a França, a única grande volta que, aos 26 anos, lhe falta conquistar. O Tour é mesmo a sua obsessão de carreira, mas não é de admirar que Quintana gostasse que Boyacá recebesse os Mundiais. Seria uma oportunidade única para ser campeão do Mundo, pois poucos ciclistas profissionais conhecerão aquelas estradas como Quintana.

O colombiano nasceu numa das aldeias de Boyacá, que continua a ser o seu local de eleição para treinar. Quintana regressa à casa sempre que pode para fazer treinos em altitude, o que lhe permite também estar perto da família, um apoio muito importante na vida do ciclista. Estamos a falar de subidas que chegam aos três mil metros de altitude. Não há dúvidas, se este ano o Qatar preparou um percurso perfeito para sprinters, em Boyacá, seria o ideal para os grandes trepadores.

O director-geral da federação, Jorge Ovidio González, afirmou em comunicado que já houve uma reunião com as autoridades regionais para que "o processo comece a andar", salientando que não vão desistir da ambição de receber os Mundiais em 2020. A acontecer, será a segunda vez na história da competição que Boyacá receberá a competição, depois de Duitama (uma das regiões de Boyacá), ter visto o espanhol Abraham Olano sagrar-se campeão do Mundo, com dois grandes nomes do ciclismo a completar o pódio: Miguel Induráin e Marco Pantani. Nairo Quintana tinha então cinco anos.

Nos próximos dois anos os Mundiais vão regressar à Europa, depois de no ano passado Richmond (EUA) ter recebido as competições e com Doha a ser o palco em 2016. Bergen, na Noruega, foi a cidade escolhida para 2017 e no ano seguinte será Innsbruck, na Áustria, a receber os Mundiais. Para 2019 ainda não está confirmado, mas Yorkshire, no Reino Unido, é a favorita para garantir a organização.



22 de setembro de 2016

Até Oleg Tinkov considera demasiado caro viajar para o Qatar

(Fotografia: Tinkoff)
Depois da Lotto Soudal ter confirmado que não irá participar no contra-relógio por equipas dos Mundiais do Qatar, segue-se agora a Tinkoff. A equipa russa, que se prepara para fechar portas, não fará uma tentativa de se despedir com um título mundial (difícil, mas não impossível), pois até o magnata Oleg Tinkov considera que é demasiado caro viajar com toda a logística necessária para o Qatar.

As equipas ameaçaram boicotar o contra-relógio o que obrigou a UCI a reagir. O organismo tornou facultativa a presença das formações em Doha. A prova também não terá pontos em disputa para o ranking, ao contrário de outros anos. Pelo menos dez equipas do World Tour deverão marcar presença e eventualmente alguma Profissional Continental, segundo a UCI. Porém, os equipamentos amarelos da Tinkoff não farão uma última corrida nos Mundiais. A despedida deverá acontecer... em Abu Dhabi.

Oleg Tinkov gastou milhões desde que comprou a equipa. Sempre disse ser um fã do ciclismo e que não se importava de investir muito dinheiro para ter os melhores ciclistas, a melhor equipa. Porém, este ano anunciou o fim. Tinkov sempre foi um defensor de mudanças na modalidade, mas as suas sugestões nunca surtiram efeito junto da UCI. Agora já não quer investir mais e gastar 40 a 50 mil euros para competir numa prova de 40 quilómetros não é um bom negócio.

"A equipa vai desaparecer no final da presente temporada, pelo que acreditamos que ir lá não seria o mais indicado. Custa muito dinheiro transportar todos os ciclistas, material e pessoal até ao Qatar", afirmou um responsável da Tinkoff, citado por vários jornais belgas.

Do World Tour são esperadas para competir nos Mundiais em Doha a BMC (campeã do mundo em título), a Sky, Movistar, Orica-BikeExchange, Giant-Alpecin, Katusha, Etixx-QuickStep, AG2R, Astana e a Lotto-Jumbo.

Apesar destas presenças, se se confirmarem, a polémica sobre o contra-relógio e principalmente por um Mundial num local tão longínquo, tão dispendioso e com condições climatéricas que prometem dificultar e muito os objectivos dos ciclistas, não irá desaparecer e ainda promete novos capítulos.

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