4 de maio de 2016

Regresso a casa à procura da redenção... e da motivação

(Imagem: Twitter @giroditalia)
Vincenzo Nibali está de volta ao Giro depois de dois anos em que apostou no Tour. Este regresso é encarado oficialmente como uma tentativa do italiano recuperar a motivação perdida depois de um 2015 quase para esquecer. Fabio Aru pelo contrário teve um ano excelente, ultrapassando Nibali na hierarquia da Astana. O discurso oficial é que foi uma opção pessoal, mas a presença na Volta a Itália não deixa de ser uma espécie de despromoção.

Depois da vitória no Tour em 2014, num ano em que Froome e Contador desistiram, Nibali sabia que apesar desse triunfo teria de demonstrar que era capaz de competir com o britânico da Sky e com o espanhol da Tinkoff. As coisas dificilmente podiam ter corrido pior. Nibali nunca teve capacidade para acompanhar os favoritos. Terminou em quarto, sem nunca ter sido um verdadeiro candidato. Venceu uma etapa para limpar um pouco a imagem. Seguiu-se a Vuelta e aquele autêntico disparate de ser puxado por um carro da equipa para recuperar terreno, depois de ter ficado num corte do pelotão. Foi expulso e severamente criticado... Nibali parecia cair em desgraça e refugiou-se na sua nativa Sicília.

A vitória na Volta à Lombardia foi o início de um longo percurso rumo à redenção e que Nibali apostará agora no Giro para quase o concluir. Quase, porque o italiano só deverá sentir que cumpriu o seu objectivo caso vença os Jogos Olímpicos, um dos principais objectivos do ano.

O italiano está em final de contrato com a Astana e ficar não é opção (seria uma surpresa se tal acontecesse). Aos 31 anos, Nibali já vai preparando uma nova mudança e certamente que uns bons resultados seriam bem-vindos para ajudar nas negociações. Rumores vão dando conta da possibilidade de aceitar liderar uma nova equipa que surgirá no Bahrein.

Mas para já é o Giro que está na sua mira. Venceu em 2013 e aparece como um dos principais candidatos, ao lado de Mikel Landa (Sky). O percurso até lhe assenta na perfeição. As subidas conhece-as bem, mas mais importante são as longas descidas que tanto gosta e onde pode fazer a diferença, visto ser um dos melhores a descer do pelotão.

Porém, a preparação até à Volta a Itália deixa muitas dúvidas sobre a forma do italiano. Exibições minimamente convincentes nem vê-las. Nas duas grandes provas de preparação, Nibali ainda foi sexto no Tirreno-Adriático, mas no Giro del Trentino foi apenas 21º. Landa venceu esta competição.

Talvez mais do que a redenção, Nibali precisa urgentemente de encontrar a motivação claramente perdida. O director desportivo da Astana, Alexander Vinokourov, tenta garantir que o italiano estará bem, pois o último treino em altitude terá sido decisivo para o apuramento da condição física. Numa das suas raras entrevistas, ao site Cycling News, o cazaque afirma que foi Nibali quem decidiu vir ao Giro depois daquele 2015 para esquecer. "Tenho a certeza que o Nibali pode ganhar o Giro outra vez", assegurou Vinokourov, que deixa em aberto a possibilidade do italiano ajudar Aru na Volta a França. Tendo em conta que é público que os dois têm uma relação mais próxima da rivalidade do que da amizade, só uma vitória no Giro poderá livrar Nibali de ter de ser o ajudante de Aru.

Conhecido como o Tubarão do Estreito - por ter nascido em Messina -, Nibali pertence ao restrito grupo de ciclistas que venceu as três grandes voltas, além de contar com um monumento, o mais importante para um italiano, já que triunfou "em casa" na Lombardia. Ainda assim, Nibali não se consegue livrar das desconfianças que ganha quando a concorrência é mais fraca. O incidente da Volta a Espanha manchou a sua reputação e Nibali precisa de aparecer ao seu melhor rapidamente. Procura a redenção, a motivação... e também de conquistar um respeito que o currículo por si só não lhe está a dar. Giro e Jogos Olímpicos são as oportunidades perfeitas.

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