3 de abril de 2016

Vénia ao campeão do mundo

(Fotografia: Twitter @petosagan)
Há momentos especiais que estão reservados para os ciclistas especiais. Parecia ser de Fabian Cancellara, mas em vez da Volta a Flandres encontrar o seu rei na 100ª edição e no ano da despedida do suíço, o que aconteceu foi a confirmação do que há muito se esperava: Peter Sagan conquistou, finalmente, o primeiro monumento. E o trono tem um novo pretendente.

Com as atenções centradas num último embate entre Cancellara e Tom Boonen nesta corrida, na expectativa de ver se um deles conquistava a quarta vitória na Volta a Flandres - o que lhes garantia a distinção do ciclista com mais triunfos na clássica belga -, era certo que convinha não perder Peter Sagan de vista. O eslovaco já desesperava pelo primeiro monumento e a vitória chegou no momento perfeito.

A 100ª edição tem sempre uma importância extra. Quase que se exigia uma corrida inesquecível. E assim foi. Sagan, o campeão do mundo, mudou a táctica. Desta vez não se limitou a trabalhar com outros ciclistas e deixar a decisão para os últimos metros. Até parecia que estava novamente a cometer o erro de "puxar" em demasia, perdendo forças que lhe poderiam fazer falta num eventual sprint. Mas não. Sagan ganhou à Cancellara: atacou na última dificuldade, deixou todos para trás e fez um contra-relógio perfeito de mais de dez quilómetros.

Cancellara sabe bem como é ganhar assim. No entanto, desta vez cometeu um erro táctico. Não respondeu quando o eslovaco seguiu com Michal Kwiatkowski (Sep Vanmarcke juntou-se pouco depois). O suíço ainda tentou recuperar. Por breves instantes parecia que Cancellara iria registar mais uma épica recuperação. Mas não. Sagan tinha a lição bem estudada e a forma física para garantir que cumpria o objectivo.


Quase que parece uma passagem de testemunho. Mas Cancellara irá pensar durante muito tempo por que razão não reagiu no que acabou por ser o momento chave da corrida. "Perguntem-me amanhã... Neste momento não sei", afirmou, desanimado pelo resultado. Subiu ao pódio. Vanmarcke prestou-lhe a derradeira homenagem em Flandres: não se fez ao sprint, deixou o suíço ter o seu momento de despedida.

Talvez o triunfo de Cancellara fosse visto como o resultado ideal para a 100ª edição. Mas talvez o de Sagan também o seja. Em vez de se falar deste ano como a despedida perfeita, falar-se-á, possivelmente, como o início de um ciclo de vitórias em monumentos. Pelo menos assim parece prometer este sensacional ciclista eslovaco, que só tem 26 anos.

E esta foi de facto uma 100ª edição perfeita: ganhou um campeão do mundo adorado por muitos e que somou o primeiro monumento; em segundo ficou um dos ciclistas mais acarinhados e que marcou uma era nas clássicas; em terceiro terminou um belga, para satisfação do público. E claro, foi um grande espectáculo de ciclismo.




Etixx - QuickStep, a grande derrotada

A equipa belga podia ter Tom Boonen como o líder, mas o veterano ciclista não chegou à Volta a Flandres numa forma convincente e, por isso, a Etixx tinha um plano B e C, ou seja, Stybar e Terpstra (que já ganhou um Paris-Roubaix). Jogou em três frentes e o melhor que conseguiu foi um 8º e um 10º lugar, respectivamente. Boonen, e citando um comentador do Eurosport, esteve "perdido na Flandres". Ainda acabou em 15º, mas nunca se viu, nunca se mostrou. Rapidamente se percebeu que não haveria o derradeiro embate com Cancellara (talvez no Paris-Roubaix?). A Etixx já soma 20 vitórias este ano, mas não vencer um monumento será uma derrota para a equipa. Perder em "casa" tendo uma das equipas mais fortes terá causado grande frustração.

As lágrimas de Van Avermaet

É uma das imagens que marcou a Volta a Flandres de 2016. Com pouco mais de 100 quilómetros para o final, a BMC sofre uma queda colectiva (cinco dos oito ciclistas caíram). Greg van Avermaet chegou a esta altura do ano naquela que era, muito provavelmente, a melhor forma da sua carreira. A queda foi aparatosa, o resultado uma clavícula partida. O belga chorou, sentado no passeio. O momento tão esperado de conquistar um monumento terá de esperar mais um tempo. Também Arnaud Démare, da FDJ, foi forçado a desistir, perdendo a hipótese de lutar pela segundo monumento em 2016, depois de vencer a Milan-San Remo.

Nelson Oliveira foi outra das vítimas de uma queda. O único português a participar na Volta a Flandres não chegou ao fim. Mas no próximo domingo estará com ambições no Paris-Roubaix.


Sky cada vez mais perto de conquistar um monumento

A equipa britânica já não é claramente aquela que surgiu com o objectivo de se concentrar em provas de três semanas, principalmente a Volta a França. Com Michal Kwiatkowski como líder promissor, ainda mais depois do triunfo em Harelbeke, com a ambição sem limites de Geraint Thomas, mais o jovem talento Luke Rowe (que foi o melhor ao terminar em quinto) e a experiência de Ian Stannard, a Sky teve várias possibilidades (Salvatore Puccio é também um corredor a ter em conta). Ainda não foi desta, mas a Sky está preparada para atacar as corridas de um dia como nunca se viu.

O luto da Wanty

Pelas piores razões a equipa belga acabou por ser um dos destaques da corrida. A trágica morte de Antoine Demoitié, há uma semana, fez com que os colegas quisessem o quase impossível: uma vitória. E Dimitri Claeys bem tentou, tentando ficar na fuga o máximo tempo possível. Mas o dia era de Sagan que, porém, não se esqueceu de Demoitié, nas declarações após a vitória.

Lizzie Armitstead venceu "em directo" a competição feminina


Também nas mulheres a campeã do mundo conquistou o triunfo. A britânica bateu ao sprint a sueca Emma Johansson. É de realçar que foi possível assistir a esta vitória, pois a realização belga foi interrompendo a transmissão da corrida masculina para mostrar alguns momentos chaves da prova feminina e mostrou em directo os últimos quilómetros.

Confira os resultados da corrida masculina e feminina.

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