10 de abril de 2016

Paris-Roubaix: Ganhou Mathew Hayman... Quem?

(Fotografia: Twitter @ORICA_GreenEDGE)
Chama-se Mathew Hayman, tem 37 anos (faz 38 no dia 20), é australiano e pertence à Orica-GreenEDGE. Até hoje era um ciclista com uma carreira de muito trabalho para outros companheiros, mas com oportunidades de liderança em corridas de um dia. Chegou a profissional com a Rabobank, esteve quatro anos na Sky antes de assinar pela Orica em 2014. Tinha uma vitória na carreira, no Paris-Bourges em 2011, somando alguns resultados interessantes em clássicas. Quem é Mathew Hayman? É o homem que surpreendeu tudo e todos (inclusivamente a ele próprio) ao vencer o Paris-Roubaix.

O nome pode ser pouco conhecido e é provável que, com o passar dos anos, vá ficando perdido e esquecido nos registos de vencedores da clássica do "Inferno do Norte". Provável é também que seja muitas vezes referido como aquele que tirou a oportunidade a Tom Boonen de somar a quinta vitória no Paris-Roubaix, que o tornaria no ciclista com mais vitórias na corrida.O seu triunfo pode não ser daqueles que será recordado como se calhar merece, mas nada tirará o mérito com que este australiano venceu.

Hayman até já tinha alcançado um marco de destaque no monumento de hoje: era o ciclista no activo com mais participações, 15 (um top dez). Entrou na fuga inicial e que raramente determina um vencedor em Roubaix. Incidentes não faltaram. Esta corrida por eliminação fez jus a essa denominação. Mas no final, Hayman sobreviveu a tudo, até recuperou quando parecia que já não aguentava o ritmo de Boonen, Vanmarcke, Stannard e Boasson Hagen. No velódromo escolheu a melhor táctica, ao contrário de Boonen, e concluiu a surpresa ao derrotar o belga no sprint.

O rosto sujo de Hayman parecia dizer: "O que aconteceu? Ganhei mesmo?" E não era para menos. "É pura incredulidade. Não consigo acreditar. Parti o meu braço há cinco semanas [na Omloop Het Nieuwsblad] e perdi todas as corridas. Fiz uma em Espanha na semana passada. Os médicos estavam convencidos que a época de clássicas tinha terminado para mim, mas eu só queria recuperar", afirmou o australiano.

Vencer a clássica francesa era um sonho, mas Hayman admitiu que se lhe tivessem dito que ia ganhar este ano, nunca acreditaria. "Esta é a minha corrida favorita, é a corrida que sonhei vencer todos os anos. Este ano nem sequer me atrevi a sonhar [com a vitória]", salientou. Confessou ainda que só pensava em desfrutar da corrida, concentrado em tentar ajudar Jens Keukeleire, caso surgisse a oportunidade do belga lutar pela vitória. Ao ver-se na fuga, mais uma vez disse que só pensava em aproveitar o momento, mas: "Às vezes temos de simplesmente tentar e às vezes coisas boas acontecem."

Hayman é o segundo australiano a ganhar o Paris-Roubaix, depois de Stuart O'Grady em 2007. É o seu momento de glória e pouco importa o que não se fale ou não se escreva sobre Hayman daqui em diante. O ciclista venceu um monumento e aquele troféu de pedra ninguém lhe tira.


Quedas e Tony Martin ajudaram a decidir a corrida

No Paris-Roubaix as quedas e os furos têm uma incidência muito maior do que na maior parte das corridas. Este ano não foi excepção. Foi precisamente uma queda que acabou por ajudar a decidir quando faltavam ainda cerca de 110 quilómetros para o final. Alexander Porsev (Katusha) caiu e "partiu" o grupo que perseguia os ciclistas na fuga. Por essa altura já Tony Martin começava a mostrar que o Paris-Roubaix assenta-lhe bastante bem. Foi para a frente e não mais olhou para trás. Boonen aproveitou a boleia do colega da Etixx, tal como Vanmarcke (Lotto-Jumbo), Luke Rowe e Ian Stannard (ambos da Sky), entre outros.

Já Fabian Cancellara (Trek) e Peter Sagan (Tinkoff) foram apanhados no corte. A desvantagem para o grupo de Boonen chegou a ser de mais de minuto e meio. Cancellara ainda contou com a ajuda de colegas. Sagan ficou sozinho muito cedo, como está habituado. As despesas da perseguição pertencia aos dois, mas mais uma vez uma queda foi decisiva. O suíço caiu, quase levou Sagan consigo - momento de pura técnica do eslovaco para passar por cima da bicicleta de Cancellara -, e perdeu mais de dois minutos. Sagan, sem ajuda, também percebeu que ganhar o Paris-Roubaix teria de esperar. Esta queda terminou ainda com a corrida de Niki Terpstra. O vencedor de 2014 abandonou a prova.

Outras duas quedas aparatosas foram dos elementos da Sky. Eram quatro na fuga até que Gianni Moscon "escorrega" quando faltavam 52 quilómetros. Luke Rowe tenta saltar por cima do colega, mas também cai de forma aparatosa. Moscon nunca mais se viu, Rowe ainda reentrou, mas não teve forças para ir até final. Um quilómetros depois é Salvatore Puccio que vai ao chão e por pouco não fez cair o colega Ian Stannard.

E para completar os azares da Sky, após a corrida soube-se que Elia Viviani foi abalroado, no sector de Arenberg, por uma moto da organização. Mais um incidente do género...


E a quinta vitória ali tão perto

Há muito que não se via Tom Boonen tão bem. O belga prometeu que estaria na luta e cumpriu. Teve em Tony Martin um aliado de luxo. O alemão trabalhou mais de 30 quilómetros, mas quando terminou o trabalho, Boonen viu-se sozinho ainda com quase 70 quilómetros para cumprir. Mas este belga sente-se em casa nesta corrida francesa. Defendeu-se de todos os ataques - e Vanmarcke bem que assustou - atacou e parecia que no sprint dificilmente seria batido. Mas no velódromo escolheu ficar na parte de baixo da pista numa altura em que Hayman e Vanmarcke era os adversários. Mas chegaram Stannard e Boasson Hagen. Boonen ficou "preso" e quando finalmente teve espaço, não teve força para passar o australiano, terminando em segundo.

Aos 35 anos, muito se fala de reforma, mas não será surpresa nenhuma se Boonen fizer pelo menos mais um Roubaix. E certamente que quererá Tony Martin a seu lado. Que grande exibição do alemão.

Despedida amarga

Se o segundo lugar na Volta a Flandres deixou Fabian Cancellara desiludido, a aposta em conquistar um último monumento no Paris-Roubaix acabou da pior maneira. Uma aparatosa queda, a 46 quilómetros do fim, tirou o suíço da equação. Não desistiu, mas não havia tempo nem forças para uma recuperação épica. Terminou no 40º lugar, mas recebeu a ovação que merecia no velódromo.

"Na semana passada foi mais difícil [a despedida na Volta a Flandres]. Hoje estou apenas feliz que tenha terminado", confessou o suíço, que aponta agora ao próximo objectivo: conquistar a maglia rosa no Giro, querendo para isso vencer o contra-relógio inicial.

Oportunidade perdida para Vanmarcke. Sky cada vez mais perto

Vai somando bons resultados, mas Sep Vanmarcke não consegue a procurada vitória. Não por falta de tentativas. O belga fez um ataque que assustou o grupo da frente. Boonen perseguiu, mas só a ajuda de Stannard acabou com a aventura de Vanmarcke. Depois viu Boonen e Hayman afastarem-se. Quando já não se esperava, colou-se ao duo já no velódromo. O sprint era quase missão impossível e acabou em quarto.

Ian Stannard ficou com o último lugar do pódio. O britânico chegou ao Paris-Roubaix com a ideia de tentar a vitória, mesmo tendo Luke Rowe como número um. Os dois estiveram na fuga, mas só Stannard resistiu. De pouco vale fazer o exercício do "e se", mas dá sempre que pensar "e se a Sky tivesse conseguido manter os quatro elementos mais tempo na fuga, o que teria acontecido". Uma coisa é certa, esta Sky quer um monumento este ano.

Boasson Hagen na luta, Cavendish a mostrar serviço

A Dimension Data estará satisfeita com a performance no Paris-Roubaix. Edvald Boasson Hagen confirmou o grande momento de forma com o quinto lugar e Mark Cavendish mostrou grande carácter. Não foi à clássica apenas para picar o ponto. Andou em fuga, ajudou no que pôde e terminou no 30º lugar a 7:12 minutos do vencedor. Para um puro sprinter, dificilmente se podia pedir melhor.

Um outro puro sprinter, André Greipel (Lotto Soudal) também se portou muito bem: 35º a 7:24.

Nelson Oliveira infeliz

O ciclista português da Movistar tinha aspirações a um bom resultado numa corrida que muito aprecia. Motivação parecia não faltar, mesmo depois de na Volta a Flandres ter desistido após uma queda. O azar perseguiu Nelson Oliveira. Voltou a cair a cerca de 152 quilómetros para o final e ficou agarrado ao ombro. A Movistar anunciou no Twitter que amanhã serão feitos exames médicos para se conhecer a gravidade da lesão.

O outros português em prova, Mário Costa (Lampre-Merida), também caiu e não terminou a corrida.

As desilusões

A Lotto Soudal foi das equipas que mais desiludiu, apesar do seu sprinter ter estado novamente bem numa clássica muito difícil. A equipa belga pouco se viu, ainda que tenha colocado um ciclista no top dez, Marcel Sieberg. Uma das suas apostas Jurgen Roelandts terminou a quase 15 minutos de Mathew Hayman, enquanto o jovem Tiesj Benoot foi dos últimos a chegar a mais de 18 minutos do vencedor.

Sem Greg van Avermaet, que caiu na Volta a Flandres, fracturando a clavícula, a BMC mostra não ter plano B para as clássicas. Ainda se esperou que Taylor Phinney agarrasse a oportunidade, mas o norte-americano terminou a mais de 14 minutos de Hayman. O melhor foi Marcus Burghart a 5:48.



Confira os resultados completos do Paris-Roubaix de 2016.

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