28 de fevereiro de 2016

Calma jovens: este ainda é o ano para os veteranos. Cuidado veteranos: os jovens não vão ter calma

Cancellara e Boonen em 2012 (Foto: Filip Bossuyt)
Começou a época das clássicas. Março e Abril são, provavelmente, os dois meses em que menos se fala da Volta a França. Durante este tempo, Froome e Contador passam para segundo ou terceiro plano nos media e na atenção dos fãs. Agora é a vez das provas de um dia, com olho nos monumentos que se aproximam e que este ano têm um interesse extra: Fabian Cancellara cumpre a última temporada. Além do ciclista suíço, também já muito se fala de um possível adeus de Tom Boonen, ainda que o belga apenas diga que não vai parar quando terminarem as clássicas. São os dois grandes nomes da última década nas clássicas e a agora já se vai olhando para as potenciais estrelas em ascensão.

Não será fácil tão cedo aparecer alguém com capacidade para conseguir as vitórias que Cancellara (34 anos) e Boonen (35) alcançaram. O suíço venceu três vezes o Paris-Roubaix, outras três a Volta a Flandres e uma a Milano-San Remo. O belga ganhou quatro Paris-Roubaix e três Voltas a Flandres. E apenas se está a referir vitórias em monumentos.

Com uma geração nova de talento a ameaçar roubar o protagonismo aos veteranos, em 2016 ainda é para Cancellara e Boonen que se olha com atenção, atribuindo-lhes o favoritismo para os monumentos (e não só). Portanto, calma Benoot, Stybar, Stuyven, Roelandts ou Theuns, este ainda é o ano para os reis das clássicas.

Mas calma é algo que a nova geração não vai ter, certamente. O primeiro fim-de-semana de clássicas comprovou isso mesmo. Tiejs Benoot (Lotto Soudal) foi terceiro na Omloop Het Nieuwsblad e Jasper Stuyven (Trek-Segafredo) venceu a Kuurne-Bruxelles-Kuurne, deixando para trás precisamente um Boonen que até confessou que achou que o jovem ciclista belga tinha feito um ataque "de doidos" quando o viu afastar-se do grupo que liderava a corrida.


E claro que depois temos Peter Sagan (Tinkoff - 26 anos), segundo no sábado, e Alexander Kristoff (Katusha - 28) que ficou nessa posição este domingo. O norueguês já conta com dois monumentos (Milan-San Remo e Volta a Flandres), enquanto Sagan começa a desesperar pelo seu primeiro. Se a nova geração está aí para conquistar o seu espaço, estes dois ciclistas já atingiram um elevado nível de experiência e profissionalismo e os dois vão ser os principais alvos a abater. Até mais do que Cancellara e Boonen.

Há mais candidatos, naturalmente, a brilharem em 2016. Degenkolb está de fora este ano, mas atenção a Greg van Avermaet. Aos 30 anos, o belga parece apresentar-se não só em excelente forma, mas mentalmente muito mais forte e confiante. Venceu na Omloop Het Nieuwsblad, na sua primeira vitória em clássicas belgas. Uma motivação extra para um ciclista que também já se esperaria ter o seu monumento, mas que é conhecido por ficar perto das vitórias (uma espécie de estigma do segundo lugar que agora vai atingindo Peter Sagan). Mas perante o que o belga da BMC tem evoluído nos últimos anos, 2016 promete.


Fica uma dúvida: Philippe Gilbert, vamos voltar a ver no seu melhor, ou pelo menos melhor do que nos últimos anos? Agora com 33 anos, o belga parecia estar a caminho de se tornar num dos melhores ciclistas de clássicas de sempre no início da década. Duas Voltas à Lombardia e uma Liège-Bastogne-Liège. Estava num ritmo de uma clássica por ano (2009, 2010 e 2011), foi contratado pela BMC em 2012 e nunca mais se viu o super Gilbert que vencia quase tudo o que metia na cabeça que ia ganhar quando representava a então Omega Pharma-Lotto. O tempo escasseia para o belga e a ver vamos como a equipa irá gerir a dupla Gilbert/Avermaet.

Muitos nomes a ter em atenção. Mas o centro dela será para Fabian Cancellara e Tom Boonen. Um está de despedida e outro também não deverá tardar muito e fica o (pouco) secreto desejo de os ver ganhar pelo menos mais um monumento cada para preencher uma carreira que os coloca entre os melhores de sempre nas clássicas.

27 de fevereiro de 2016

Volta do Algarve vs Ruta del Sol

Continuando com os "versus", Volta ao Algarve e Ruta del Sol (Volta à Andaluzia) coincidiram no calendário e ambas terminaram no domingo com uma etapa com chegada em alto. E não podiam ser mais diferentes. A Volta ao Algarve pode não chamar tantas pessoas à estrada como a Volta a Portugal, mas ainda assim, as curvas e contra-curvas do Malhão tiveram muitas pessoas a ver. Já na Ruta del Sol parecia que nem se estava em Espanha, que costuma ter um público muito efusivo, mas desta vez ficou em casa... Ora veja:

Volta ao Algarve

Volta ao Algarve 2016 - Stage 5 Highlights
Melhores momentos da última etapa.The best moments of the last stage.#valgarve2016
Publicado por Volta ao Algarve em Domingo, 21 de Fevereiro de 2016

Ruta del Sol


Volta ao Algarve vs Volta a Portugal

Pode parecer difícil perceber como é que a Volta a Portugal continua a ser a grande prova do ciclismo nacional quando é a Volta ao Algarve que tem os ciclistas mais importantes a nível mundial. Sendo uma prova com 42 edições, a competição algarvia evoluiu para níveis que se calhar poucos acreditavam há alguns anos. No entanto, no ciclismo há algo que claramente continua a ser importante: a tradição. E essa, naturalmente que não falta na Volta a Portugal.

Ao se assistir in loco a etapas das duas voltas é óbvio que o que as une é a procura pelo convívio na berma da estrada. Porém, o ambiente que envolve as etapas é bastante distinto, ainda mais quando se trata de etapas em linha. Na Volta ao Algarve, o público mais velho procura a melhor posição para ver o pelotão passar, alguns trazem os petiscos e umas bebidas "refrescantes", enquanto o público mais novo, armado com o poderoso telemóvel, tudo faz para conseguir as fotografias dos grandes ídolos. E não se pense que os autógrafos passaram de moda. Não se podem colocar logo no Facebook, mas o papel e a caneta ainda se vêem nas mãos dos mais novos.

Já na Volta a Portugal, o público mais velho procura a melhor posição para ver o pelotão, discute as possibilidades de um português ganhar e fá-lo acompanhado, quase que obrigatoriamente, de petiscos e as tais bebidas "refrescantes". E este ano deverão certamente voltar as discussões clubísticas. O público mais novo, procura os jogos e brindes que alguns patrocinadores disponibilizam. Bom, os mais velhos também acabam por não resistir a levar uns brindes.

Por muito mais do que isto, a Volta a Portugal é de facto uma festa da primeira à última etapa e claro que se junta a vantagem de ser no verão, tempo de férias, tempo de muitos emigrantes que regressam ao país. O ciclismo torna-se uma desculpa para juntar família e amigos, esperar horas pela rápida passagem dos ciclistas, para depois conviver mais um pouco. Senhora da Graça e Serra da Estrela são a prova mais visível e mediática disso mesmo, mas todas as etapas têm a sua festa muito particular, imagem de um país que não esquece como o ciclismo já foi um dos desportos mais relevantes. E sim, todos gostariam que o pelotão fosse mais competitivo, mas isso são outras conversas. Para já o regresso do FC Porto e do Sporting já trarão de volta um pouco dos bons velhos tempos do ciclismo nacional, pelo menos para o tal ambiente da Volta.

À Volta ao Algarve falta-lhe um pouco deste lado festivo e tradicional - ainda que no Alto do Malhão foram muitos e muitos os que assistiram à subida - mas traz ao país um lado competitivo que durante o ano só se vê na televisão e para isso conta também ela com a vantagem temporal, ou seja, o mês de Fevereiro é perfeito para as grandes equipas prepararem a temporada. Caso para dizer que perante as diferenças, as duas provas como que se complementam, pois proporcionam o melhor do ciclismo a Portugal.

18 de fevereiro de 2016

Contador e a difícil decisão

Quando no ano passado Alberto Contador fez o surpreendente anúncio que terminaria a carreira no final de 2016, o seu discurso não foi completamente convincente. Em 2015, o ciclista espanhol apostou em fazer o que tão pouco conseguiram: vencer duas grandes voltas num ano, neste caso o Giro e o Tour. Cumpriu o primeiro objectivo, falhou o segundo, demonstrando estar muito longe da forma de Chris Froome ou Nairo Quintana (os dois apostaram apenas na Volta a França). Este ano o Tour é o grande - para não dizer único - objectivo de Contador. A despedida em grande? Pois parece que não. Afinal o espanhol poderá não estar ainda preparado para deixar de competir.

Recentemente, antes de começar a Volta ao Algarve, Contador admitiu que a possibilidade de continuar em 2017 é de 50%. E para tal, o ciclista espanhol até sonha comandar a sua própria equipa, através da fundação que lidera e dá nome. O próprio admite que é difícil, pois ao contrário de Bradley Wiggins - que formou uma equipa a pensar em lançar jovens enquanto o britânico aproveita para ir preparando a sua temporada de pista com vista ao Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro -, Contador quer continuar ao mais alto nível. Diz precisar de qualquer coisa como 15 milhões de euros para construir uma equipa competitiva, com nível World Tour.

A acabar contrato com a Tinkoff, a decisão de afinal adiar a reforma poderá (e deverá) ser afectada pelo o que acontecer no Tour, afinal tem "contas a ajustar" depois daquela estranha acusação de doping que lhe retirou uma das vitórias. 

"Tenho duas opções na minha cabeça: Uma é continuar se sofrer um percalço no Tour, como em 2014 [ano em que desistiu devido a uma queda], a outra é lançar a minha própria equipa", disse, citado pelo Cycling News.

A ideia mais forte que fica das declarações é que começa mesmo a parecer que aos 33 anos, um dos nomes que ficará na história do ciclismo, quer afinal escrever mais algumas páginas. Ao anunciar o abandono da carreira, a idade foi precisamente um dos pormenores mais falados. Nesta modalidade, aos 33 anos ainda é notório que muitos ciclistas estão em grande forma, para não dizer, no caso de alguns, no topo da sua forma. E Contador ainda tem muito para dar. Isso é certo.

Vai ser preciso esperar mais uns meses, mas para os fãs de Contador cresce a esperança que o "Pistoleiro" vai continuar na estrada e para a modalidade seria excelente. Tal só mostrará que aquele discurso de um adeus anunciado em 2015 tinha razão para ter um tom tão pouco convincente. Mas o ano ainda vai no início e o melhor é aproveitar para ver Contador, não vá o espanhol surpreender (ainda que não completamente) e acabar a carreira.

14 de fevereiro de 2016

Esta inacreditável Volta ao Algarve

Por mais que se olhe para a lista de ciclistas da Volta ao Algarve é difícil afastar o sentimento de que nem parece verdade. Várias equipas do World Tour voltam a marcar presença - até aí nada de novo - mas os nomes escolhidos mais parecem de uma das grandes provas do calendário internacional. Mas talvez seja injusto dizer isso, pois quando se consegue reunir um grupo de ciclistas que regularmente compete no Giro, Tour e Vuelta, nos cinco monumentos, ou em qualquer outra prova de renome, então provavelmente também já se poderá dizer que é uma das grandes provas do calendário internacional. E o crescimento nos últimos anos da Volta ao Algarve já lhe concede esse estatuto. Mesmo não sendo uma corrida de World Tour, é uma corrida para o World Tour e a prova está no espantoso leque de ciclistas que vão estar nas estradas algarvias.

Salvo alguma mudança de última hora, pode dizer-se que para tornar esta volta perfeita, só faltam Chris Froome, Peter Sagan e Alejandro Valverde, isto tendo em conta que as suas equipas vão cá estar. Rui Costa será uma das ausências mais notadas para os portugueses, mas a Lampre nem presença marca. O mesmo acontece com a BMC, ou seja não haverá Tejay van Garderen ou Philippe Gilbert. E claro que se poderiam referir mais nomes.

Mas o que interessa é quem cá está e o difícil é escolher quem destacar. Mais fácil (e mais curto) é dizer que se terá nomes para todo o tipo de batalhas. No sprint teremos Marcel Kittel (que recentemente venceu a Volta ao Dubai) e André Greipel (que também já tem vitórias este ano), naquele que será o primeiro confronto entre os alemães em 2016; teremos os dois maiores especialistas em clássicas dos últimos anos, Tom Boonen e Fabian Cancellara; e claro os grandes trepadores Alberto Contador, Joaquim Rodríguez, Fabio Aru e Thibaut Pinot. Ficam muitos nomes de fora neste texto, pelo que o melhor é mesmo confirmar no site da Volta ao Algarve.

Um dos grande atractivos da prova algarvia é que poderá ser a última oportunidade para se ver in loco dois dos melhores ciclistas da última década: Contador e Cancellara. Ambos anunciaram que vão terminar as carreiras no final deste ano.

Uma palavra para as equipas portugueses, afinal são elas que muito podem ganhar com uma competição de nível tão elevado, algo que dificilmente terão durante 2016. Num ano em que se espera que possa ser de mudança tendo em conta as mais recentes apostas do Sporting e FC Porto, poder pedalar ao lado dos melhores do mundo é a grande oportunidade para as equipas se mostrarem, já para não falar de alguns ciclistas. Caso, por exemplo, de Joni Brandão. O ciclista da Efapel permaneceu na equipa em 2016, mas é um dos principais nomes apontados como o próximo português a sair para uma equipa estrangeira.

Será de esperar que qualquer um dos conjuntos portugueses esteja desejoso de conquistar uma vitória o que animará certamente a Volta ao Algarve. E espera-se também, que com tanto nome importante, não estejam cá todos para apenas "rodar" a pensar noutras provas. A julgar por alguns discursos dos principais ciclistas, a Volta ao Algarve promete e quem sabe teremos um português em grande, pois André Cardoso e Tiago Machado aparecem como o dorsal 1 da Cannondale e Katusha, respectivamente, e Bruno Pires quererá mostrar-se na sua nova equipa, Roth.

Outro aspecto inacreditável da Volta ao Algarve, mas pelo lado negativo, é a ausência de transmissão televisiva. Ficou no ar a possibilidade de talvez no próximo ano. No entanto, pode encarar-se esta questão de outra forma: o melhor é mesmo ir para a estrada e ver de perto o melhor do ciclismo mundial.

9 de fevereiro de 2016

A vitória do plástico


Será certamente uma das imagens do ano. Stijn Vandenbergh alcançou uma vitória que por si só já seria espectacular pela forma como fugiu ao pelotão na última etapa da Volta à Comunidade Valenciana, no domingo. No entanto, foi um saco de plástico que deu outro mediatismo ao triunfo.

O ciclista belga da Etixx-QuickStep estava num esforço solitário para fugir a um pelotão que tinha um Nacer Bouhanni desejoso vencer e com uma Cofidis a trabalhar para isso, quando a poucos quilómetros do fim um plástico ficou preso na sua bicicleta. O forte vento que se fazia sentir no circuito final já não estava a facilitar as coisas, mas com um plástico a ameaçar estragar o esforço de uma etapa, Vanderbergh até pareceu pedir a quem ia na moto de televisão para lhe dar uma ajuda. Mas o belga teve mesmo de fazer os últimos quilómetros a desejar que não só o pelotão não o apanhasse, como também que um plástico não lhe retirasse a oportunidade de conquistar uma vitória, algo raro na sua carreira (há nove anos que não vencia, desde a Volta à Irlanda).

Mas mesmo com o azar de ter um plástico preso na bicicleta, Vanderbergh até pode dizer que teve sorte: não prendeu a roda e ficou preso do lado esquerdo, ou seja, não atrapalhou as mudanças.

Mais do que o triunfo do ciclista, será aquele saco plástico que ficará como um dos momentos insólitos do ano.

8 de fevereiro de 2016

Marcel Kittel está de volta

Kittel esteve em grande no Dubai (Foto: Etixx-QuickStep)

Era um regresso mais do que esperado e desejado. Depois de um ano quase completamente afastado da competição e de uma muito surpreendente mudança de equipa, Marcel Kittel está de volta. O grande sprinter alemão venceu e convenceu na Volta ao Dubai: duas etapas e a vitória na geral. Melhor começo era impossível.

Ao vencer a primeira etapa e de forma bastante categórica, Kittel deixou logo a ideia que 2015 faz parte do passado. Depois fez aquela fabulosa subida em Hatta Dam, onde surpreendeu ao chegar com o grupo principal. E terminou como melhor sabe, mais um sprint avassalador. Deixou Mark Cavendish a ver as suas costas e só Viviani ainda tentou dar algum tipo de luta (pouca).

Mesmo um ano afastado do seu melhor - foi afectado por um vírus logo no início de 2015 que lhe estragou a época - Kittel nunca deixou de ser falado, o que por si só demonstra como mesmo longe da competição é visto como um dos melhores do mundo. Eis que volta, fortíssimo, o que deixa antever uma temporada em grande e principalmente com grandes duelos com os seus rivais. Para já, Mark Cavendish deixou a imagem que ainda há muito trabalho a fazer, tanto na sua preparação, como na preparação do "comboio" da Dimension Data, a sua nova equipa.

Já a Etixx-QuickStep começa o ano com a lição muito bem estudada. Mudou o protagonista (deixou sair Cavendish e pagou à Giant para contratar Kittel), mas as vitórias e o domínio do trabalho de equipa estão aí. Aliás, há um ano, a equipa belga venceu no Dubai com o sprinter britânico, mas Kittel parece que dá mesmo garantias de mais vitórias.

Perante este regresso fantástico de Kittel, fica a questão: quem será capaz de fazer frente ao alemão? Andre Greipel também está a começar bem o ano e já se espera com ansiedade por um confronto entre os dois. Viviani apareceu bem no Dubai (venceu a segunda etapa, ainda que não tenha medido forças com Kittel, pois o alemão ficou para trás devido a uma queda de um ciclista da Trek) e está com um discurso ambicioso, principalmente tendo em conta que está numa equipa, a Sky, mais preocupada com outros terrenos do que o sprint: em 2016 quer conquistar dez vitórias.

Estamos apenas em Fevereiro e ficam por referir muitos outros sprinters que não devem ser subestimados. Mas independentemente dos nomes há um que fica desde já como o grande favorito, aquele que sempre que estiver uma prova será o que todos querem bater: Marcel Kittel. O gigante alemão está volta.